The Fall of Gondolin | A Tolkien Fanfic escrita por Ovigi4online


Capítulo 12
Capítulo 12




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O Reino Oculto

 

Tuor já não se lembrava de quanto tempo haviam passado no ermo, em busca do reino oculto. Era inverno quando alcançaram as fontes do Narog, e lá ficaram até a noite. Voronwë olhou desolado para a destruição que assolava aquela terra, outrora verde e alegre. O belo lago Ivril, do qual toda a beleza tirava sua vida, agora nada mais era que um pântano infértil. As árvores estavam queimadas ou desenraizadas e a margem do lago destruída, esparramando a água em uma bagunça de lama, pedras e galhos.

— O mal chegou até mesmo aqui... — Murmurou Voronwë. — Será que não há nada que possa ficar longe do alcance das sombras?

— É bem como Ulmo me falou — , disse Tuor: — As fontes estão envenenadas e meu poder retrai-se das águas da terra.

— Não é só isso... Aqui esteve um mal ainda maior que os orcs.

E acenou para Tuor, que ao chegar viu uma fenda, como um enorme sulco que se estendia para o sul, e de ambos os lados, ora indistintos, ora solidificados com nitidez pela geada, havia sinais de grandes pés com garras.

— Céus...

— A Serpe de Angband. — Explicou Voronwë. — Não faz muito tempo que esteve aqui. Temos que nos apressar.

Eles se viraram para fugir, mas um grito agudo interrompeu. Tuor parou no meio do caminho e suspirou, ouvindo atentamente, o que a seus ouvidos não parecia serem vozes inimigas. O tom era belo, quase como o de um primogênito, ou o de um segundo filho. Então Voronwë lhe apontou alguém que vinha correndo do outro lado do campo, chamando em voz alta e triste, como se buscasse por algo ou alguém. O Homem era alto e trajava uma armadura negra, tal como a lâmina de sua espada. Os olhos de Tuor ficaram muito tempo pousados sobre aquela lâmina, antes de serem novamente atraídos para o rosto triste do homem. O pesar estava gravado em sua face e tornou-se ainda mais profundo ao contemplar a ruína de Ivrin.

— Uma sina terrível acompanha os passos deste homem. — Comentou Voronwë.

Tuor abriu a boca para perguntar "porquê daquilo" ou "como ele sabia tal coisa". Mas o chamado angustiado do homem chegou a eles novamente.

— Ivrin, Faelivrin! Gwindor e Beleg! Aqui certa vez fui curado. Mas agora nunca mais hei de beber o gole da paz.

Então apressou seus passos para o Norte, como alguém que busca alguma coisa e ou ouviram gritar com voz estrangulada e forte nomes que Tuor não conhecia, até que sua voz e a lâmina negra desaparecessem de sua visão.

Tuor não sabia por quê, mas seu coração doeu com o sofrimento daquele desconhecido. Ele seguiu Voronwë em silêncio. Sua missão era urgente e não poderiam esperar mais. Eu o ajudaria, se pudesse... Disse silenciosamente, então sua mente vagou para o passado e para todas as vezes em que pensara o mesmo sobre outras pessoas, em situações até mesmo mais miseráveis.

— Está me ouvindo? — A voz de Voronwë tirou-o de seus pensamentos.

Tuor encolheu-se sentindo o vento gelado contra sua pele. Quão ao Norte eles haviam ido? Com o passar do dia, escureceu e caiu uma grande nevasca e a noite trouxe um gelo esmagador. Depois disso a neve e o gelo não deram mais descanso, e por cinco meses o Inverno Cruel, lembrado por muito tempo, manteve o Norte em seus grilhões.

—  Estamos na direção certa — Agora Tuor e Voronwë eram atormentados pelo frio e temiam ser revelados pela neve aos inimigos caçadores ou cair em perigos traiçoeiramente ocultos. Por nove dias persistiram, de forma cada vez mais lenta e dolorosa, e Voronwë voltou-se um pouco para o norte, até que tivessem atravessado as três nascentes do Teiglin; e depois seguiu novamente para o leste, deixando as montanhas, e avançou cauteloso, até passarem o Glithui e chegarem à torrente do Malduin, e ela estava congelada e negra. — Esse inverno acabará me matando. E a você também.

— Sim... Bem, que coisa! — Murmurou Voronwë. Algo que não era comum a ele. — Há tempo não encontramos alimento. E duvido que possamos fazê-lo agora.

— Quanto ainda temos do pão de viagem élfico?

Voronwë mexeu nos bolsos e revirou, tornando a olhá-lo.

— Muito pouco. Eu, no entanto, ainda posso me sustentar por alguns dias sem alimento. — Tuor jogou-se na neve e olhou desolado para o céu nublado. — Terrível é ser apanhado entre a Sentença dos Valar e a Malícia do Inimigo.

— Que distância ainda temos que percorrer? — O elfo não respondeu, então Tuor o olhou seriamente. — Estamos viajando para o norte incansavelmente. Se eu tiver que gastar minhas últimas forças nessa viagem, gostaria de saber para quê?

— Estamos indo para Gondolin. E eu te conduzi o mais direto que a segurança nos permitiu. Turgon ainda habita na terra dos Eldar, embora se acredite que ele a tenha abandonado. Estamos próximos.

— Quão próximos? — Insistiu Tuor e sem resposta, jogou-se novamente na neve, bufando, cansado demais para discutir. — Eu me considerava o mais forte dos homens.

Voronwë não respondeu a este devaneio. E vencido, Tuor virou o rosto e olhou para além daquela colina, pensando ter visto algo tremeluzir entre a névoa. Ele deitou-se de bruços e arrastou-se até a beirada, de onde conseguiam ver um acampamento pequeno de orcs em torno de uma fogueira.

— Temos que ir. — Sussurrou Voronwë.

— Olhe! — Tuor apontou. Claro, o elfo já havia visto aquilo, apenas ignorou. — Arriscaria a morte para conseguir aquele fogo e até mesmo a carne dos orcs seria uma boa presa.

Voronwë fez uma careta.

— Você ficou louco? Esse bando não está sozinho no ermo: tua visão mortal não consegue enxergar a chama distante de outros postos ao norte e ao sul? Um tumulto trará um exército sobre nós. — Tuor fixou os olhos no acampamento, sem tornar a prestar atenção em seu guia. — Ouça-me! — Voronwë o arrastou de volta para longe da borda. — Deves desistir do fogo ou de Turgon. É contra a lei do Reino Oculto que ninguém se aproxime dos portões com inimigos em seu encalço, e não desrespeitarei essa lei, nem a pedido de Ulmo, nem para escapar à morte.

Tuor bufou e levantou-se, seguindo-o.

— Está bem. Mas que eu viva para o dia em que não tenha que me esconder de um punhado de orcs como um cão assustado.

Voronwë revirou os olhos e riu. "Homens...". Precisavam partir se não pretendiam morrer congelados alí. Estavam se aproximando do reino oculto. Mais alguns dias de cautelosa caminhada e poderiam avistar as montanhas circundantes. Tuor ficara boa parte em silêncio, evitando gastar muita energia, uma vez que o último suprimento do pão de viagem Élfico havia finalmente chegado ao fim. Ao chegarem perto de Himlad, puderam encontrar alguns coelhos, mas nada mais. E Voronwë não queria demorar muito alí, pois era domínio dos filhos de Fëanor, a quem ele com frequência chamava de “Fratricidas”.

— Muitos de nosso povo ainda sofrem as consequências do que eles fizeram em Alqualondë. — Murmurou o elfo. — Os Teleri eram nossos irmãos, nossos parentes. Você consegue pensar em alguém tão ruim que possa matar cruelmente sua própria família? Seu próprio povo?

Tuor ouvia em silêncio. As imagens dos acampamentos lestenses passaram rapidamente por sua mente. As crianças que alí eram massacradas, famílias inteiras... Ele respirou pesadamente e assentiu.

— Os homens.

Voronwë o olhou com pesar.

— Sinto muito, Tuor.

— O mesmo para você. — Respondeu ele. — Mas acho que somos mais do nosso povo. Somos filhos de Ilúvatar, não?

— Você tem um ponto. — O elfo sorriu. E lhe apontou uma cadeia de montanhas no horizonte, dizendo: — Veja! As montanhas circundantes. Gondolin está próxima. Nós finalmente a alcançamos!

Desceram rápido por uma longa encosta, e passaram sobre um rio seco. Do outro lado do vau, chegaram a uma ravina, como se fosse o leito de um antigo rio, onde já não corria água, porém outrora uma torrente havia escavado seu fundo canal, descendo do norte. Então seguiram pela ravina e, à medida que essa se voltava para o norte e as encostas da região subiam íngremes, também suas margens se erguiam de ambos os lados e Tuor seguia trôpego na luz débil entre as pedras que atulhavam seu leito irregular.

— O caminho pode ser cruel, Tuor. Mas é nossa única estrada.

— Então... — Tuor olhou para os lados. — Me preocupa que seja tão pouco vigiada.

Voronwë deu de ombros.

— Um grande número de guardas chama muita atenção. De qualquer maneira, ninguém nunca pensou nisso como uma estrada. Não é usada há mais de trezentos anos. — Ele fez uma pausa e então olhou sugestivamente para o céu, onde vultos alados rodeavam o sol. — E não está sem vigilância.

Tuor parou por um momento, mas logo voltou a segui-lo, ignorando os pensamentos de que sua pequena excursão não estivesse passando despercebida ao Supremo Rei dos Noldor. Mas por fim, com grande esforço tendo chegado ao próprio sopé do penhasco, encontraram uma abertura, como se fosse a boca de um túnel escavado na dura rocha por águas que tivessem fluído do coração das montanhas. Entraram, e lá dentro não havia luz, mas Voronwë avançava com constância, enquanto Tuor seguia com a mão em seu ombro, um pouco encurvado, pois o teto era baixo. Assim, durante algum tempo prosseguiram às cegas, passo a passo, até que  finalmente sentiram o chão sob seus pés tornar-se plano e livre de pedras soltas. Então detiveram-se e respiraram fundo, parados a escutar. O ar parecia fresco e saudável, e eles se deram conta de um grande espaço à sua volta e acima deles, mas o silêncio era total e nem mesmo o pingar da água se podia ouvir.

— Chegamos ao portão? — Questionou Tuor.

— Não. Mas acho estranho não ter ninguém por...

Então alguns ecos foram ouvidos no escuro e se multiplicaram, enchendo o túnel. Tuor ouviu-os discutir algo na estranha língua dos Noldor, mas ao referir-se a eles, a voz que ainda não possuía dono falou-lhes na língua comum.

— Fiquem onde estão! Ou morrereis.

Voronwë se adiantou, minimamente para não desobedecer à voz, que provavelmente lhe era conhecida.

— Somos amigos.

— Nós decidimos se são. — A voz lhe disse arrogantemente.

Voronwë e Tuor ficaram imóveis, e pareceu que muitos minutos haviam se passado. O coração de Tuor disparou e ele ouviu passos ecoarem em sua direção. Um elfo surgiu diante deles com uma lâmpada fria e os examinou.

— Você não sabe quem sou eu? — Voronwë perguntou ao ver a surpresa no rosto de seu compatriota. — Sou Voronwë, filho de Aranwë. Da Casa de Fingolfin. Ou estou esquecido em minha própria terra? Sei que estive alguns anos fora, mas ainda me lembro de sua voz Elemmakil.

O elfo recuou e olhou-o com seriedade.

— Então, provavelmente você também deve se lembrar de nossas leis. Nenhum estranho deve ser trago a Gondolin. E por seu feito, seu direito é nulo. Você será levado ao julgamento do rei, pois é um dos de sua casa. — Então olhou para Tuor. — Quanto ao prisioneiro, há de ser morto ou mantido em cativeiro conforme o julgamento da Guarda.

Que ótima ideia! Murmurou Tuor a si mesmo, enquanto era conduzido à presença dos guardas. Muitos Noldor, trajando cota de malha e armados, saíram da escuridão e os cercaram com espadas desembainhadas. E Elemmakil, capitão da Guarda, que trazia a lanterna luminosa, os olhou longamente e de perto.

— Um homem... — Murmurou, voltando-se para Voronwë. — Isso é estranho de tua parte.

— Muitas coisas estranhas aconteceram no caminho, acredite. — Disse Voronwë. — Mas você realmente precisa ouvir o que este homem tem a dizer.

Então Tuor finalmente disse:

— Venho com Voronwë, porque ele foi designado pelo Senhor das Águas para ser meu guia. Com esse fim, foi salvo da ira do Mar e da Sentença dos Valar. Pois trago um mandado de Ulmo para o filho de Fingolfin, e a ele vou dizê-lo.

Os guardas recuaram ao ouvir o nome de Ulmo e a forma imponente como Tuor lhes falava. A essas palavras Elemmakil fitou Tuor com espanto.

— Quem é você?

— Sou Tuor, filho de Huor da Casa de Hador e da família de Húrin, e estes nomes, segundo me disseram, não são desconhecidos no Reino Oculto. De Nevrast eu vim e muitos perigos atravessei para buscá-lo.

— Nevrast... — Mesmo na escuridão o rosto de Elemmakil empalideceu, e ele afastou-se, murmurou algo aos guardas e saiu rapidamente sem dizer qualquer coisa aos viajantes.


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