Construindo meu futuro - HARMIONE escrita por LadyPotterBlack


Capítulo 20
18 - "We're not, no, we're not friends Nor have we ever been" parte 1


Notas iniciais do capítulo

Música para o capítulo "We're not, no, we're not friends Nor have we ever been", Ed Sheeran



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[HOGWARTS - SALA DE TRANSFIGURAÇÃO.]

Naquele dia o tempo estava de mau-humor. O sol fez suas malas e foi embora, assim, sem dar nenhuma explicação, não deu um aviso prévio, também não deixou um bilhete explicando seus motivos. Apenas foi embora, deixando para ocupar seu lugar a tempestade impiedosa que castigava o enorme castelo de Hogwarts. Era uma manhã chuvosa naquele dia, os pingos de chuva açoitavam incansavelmente as janelas da sala de aula, fazendo um pequeno murmúrio que se misturava às vozes dos alunos que conversavam enquanto a aula não tinha seu início.

Estavam todos sentados em suas carteiras, cada qual com seu agasalho conforme a cor de sua casa, por esse motivo, a sala de transfiguração era uma grande mistura de vermelho, azul, amarelo e verde.

Aquela manhã estava sendo particularmente atípica em Hogwarts. Naquela aurora, James não se sentou ao lado de Sirius, como mandava o costume, e Lily, por sua vez, não se sentou com Marlene como faziam rotineiramente. Não, eles não se sentaram com suas respectivas duplas.

Não, eles se sentaram juntos! Compartilhando a carteira e olhares cúmplices.

Não houve um acordo. Não houve um combinado. Não houve uma conversa prévia. Eles apenas se olharam, abriram um sorriso e tiveram a plena certeza de que não poderiam ficar longe. Já haviam ficado separados por muito tempo.

Por esse motivo, os burburinhos corriam à solta. Hogwarts não estava preparada para aquilo, ou pelo menos Severus Snape não estava preparado para aquilo.

Não poderia descrever o que sentira ao ver Evans, sua Lily, sua melhor amiga, ou bem, sua ex-melhor amiga, sentando-se ao lado de alguém tão intragável, repugnante e desagradável como o Potter.

Pelos boatos que ouvira, e por não ser cego, ele sabia que Evans estava cada vez mais próxima daquela trupe de idiotas que se auto intitulavam "Os Marotos". Mas por Merlin, nada o havia preparado para ver aquela cena. A sensação de repulsa desceu amarga por sua garganta, queimando seu peito e alojando-se entre todos os seus músculos, tornando difícil até mesmo respirar.

Queria poder ir até ela e questionar se ela havia enlouquecido e precisava ser internada na ala psiquiátrica do St.Mungus, se havia bebido alguma poção ou se havia sido enfeitiçada. Por que, para Severus, aquele seria o único motivo cabível para Evans estar ali, sentada ao lado de Potter, o olhando e sorrindo como se gostasse dele, ou até mesmo como se estivesse apaixonada por ele.

Mas Snape não fez nada disso. Não caminhou até Evans, não conversou com ela e muito menos foi o foco de seu olhar.

O motivo?

Severus Snape não tinha mais esse direito. Ele não tinha mais o direito de se encaminhar até onde Evans estava. Não tinha mais o direito de conversar com ela, não era merecedor de sua atenção. Tudo por causa do maldito dia em que aquele termo horrendo lhe escapara. Tudo culpa do abominável Potter!

Mas nada disso o impedia de se importar com Evans.

A vida é marcada pelos primeiros acontecimentos. Pelo primeiro tintilar dos cílios - o primeiro abrir de olhos - a primeira respiração, o primeiro choro, o primeiro toque de nossa mãe em nossa pele, o primeiro sorriso, a primeira palavra, os primeiros passos...

Assim como o primeiro amor.

Nesta vida, não há nada mais esplêndido, avassalador e aterrorizante do que se apaixonar pela primeira vez!

O momento em que você percebe que aquela pessoa que torna a sua vida que era pacata e cinza, em algo colorido, esplêndido, aquela pessoa que faz seu coração martelar contra o peito, parecendo estar prestes a explodir a qualquer momento, esperando apenas um olhar para dizer adeus a este mundo cruel e partir em busca da felicidade perdida que está entremeada naquele par de olhos, aquela pessoa que acelera a sua respiração, te faz revirar nos lençóis a noite toda porque não sai do seu pensamento... E aquelas malditas borboletas no estômago que parecemos sentir ao estar na presença do alvo de nossa paixão. Quando percebemos que essa pessoa - a pessoa que desencadeia todo esse furacão de sentimentos e sensações em nosso corpo - está ali, bem do nosso lado... Há, não há nada mais eletrizante do que se apaixonar pela primeira vez!

No entanto, a paixão não vem acompanhada com um manual de instruções e uma poção caso o seu coração seja partido. E nesta vida, não há nada mais cruel, brutal e devastador do que um amor não correspondido.

Você irá sentir o seu peito apertar em uma dor profunda e silenciosa, como se alguém estivesse esmagando o seu coração, você vai perder a fome, o sono e talvez até uma parte de si mesmo. Você vai tornar a sua vida em uma missão maníaca e desesperada para tentar fazer a outra pessoa corresponder aos seus sentimentos... Essa... talvez seria a melhor descrição de ter um amor não correspondido.

E quando nos apaixonamos por alguém e não somos correspondidos, nos sentimos traídos.

Sentimo-nos traídos, porque concedemos àquela pessoa um lugar tão especial, tão importante e tão precioso em nossa vida, geramos um sentimento tão extraordinário, genuíno e tão único e a pessoa simplesmente diz não para tudo aquilo. Estamos ali com nosso coração escancarado, totalmente indefesos, vulneráveis, totalmente expostos, e a pessoa simplesmente ignora tudo aquilo, nos dá as costas e saí andando como se não tivesse acabado de partir nosso coração em milhões de pedaços, pedaços tão pequenos que, às vezes, mal percebemos que há um falha.

O problema dos amores não correspondidos é a rejeição. Não sabemos lidar com a falta de reciprocidade. Nosso coração dispara e a mente não para, ela fica buscando, buscando... procurando, procurando. Nossa mente tenta desesperadamente encontrar um motivo, uma razão.

Não somos o suficiente, é isso?

Não servimos para manter alguém em nossa vida?

Não somos bons o bastante?

E assim entramos em um círculo vicioso... um ciclo que é preciso muito esforço e coragem para romper... mas é necessário, porque se ficarmos nesse círculo vicioso, ficamos obcecados pela pessoa alvo de nossa paixão. Obcecados ao ponto de achar normal não conseguir romper os pensamentos sobre ela, não conseguir cortar aquele fiapo de esperança ao qual nos agarramos desesperadamente, na esperança de que a pessoa retribua nosso sentimento... não conseguir cortar o vínculo com a pessoa, ser incapaz de deixá-la ir.

E bem... Snape jamais teve a coragem para romper aquele círculo vicioso que Evans era em sua vida.

Mas ele não era o único observando atentamente a interação daqueles dois.

— Ei, — Hermione murmurou assim que se sentou ao lado de Harry, esparramando seus livros sobre a mesa — você acredita que aconteceu algo entre os dois? — Perguntou indicando sutilmente com sua cabeça, Lily e James.

Harry sorriu ao perceber que Hermione estava ao seu lado.

— Bom dia para você também, Mione. — Ele a cumprimentou enquanto ajeitava seu corpo para o lado, de modo a olhá-la nos olhos. — Sim, eu dormi muito bem, — começou a responder perguntas que haviam sido negligenciadas por Hermione — obrigada por perguntar. — Complementou com um sorriso sarcástico.

Hermione revirou os olhos e deu um tapinha no ombro esquerdo de Harry, acertando seu agasalho do time de quadribol da Grifinória, deixando-o torto.

— Pare com isso, — resmungou — você sabe que eu me importo com você. — Confessou e, ajeitando um cacho teimoso atrás de sua orelha, ela tornou a perguntar. — Vamos, me diga, você acredita que aconteceu algo entre eles?

— Está óbvio que algo aconteceu. — Respondeu Harry com um amplo sorriso no rosto.

— Isso significa que a nossa intervenção deu certo! — Hermione exclamou animada, então abaixou seu tom de voz, de modo que só Harry poderia ouvir as próximas palavras que saltariam por seus lábios. — O que você pensa que ocorreu entre eles?

Harry fez uma careta exacerbada enquanto ajeitava seu casaco.

— Nós podemos, por favor, não falar sobre o que meus pais fizeram ou deixaram de fazer ontem a noite. — Pediu. — Quero dizer, isso é meio perturbador. — Ele murmurou baixinho de volta para Hermione. Um arrepio cruzando seu corpo ao imaginar seus pais aos amassos na noite anterior.

Hermione fez uma careta.

— Eu não havia pensado por este lado. — Estremeceu ao imaginar seus pais no lugar de James e Lily. — Por Morgana, eu não saberia como agir se estivesse no seu lugar.

Harry riu.

— Que bom que a senhorita se solidariza com o meu sofrimento. — Murmurou enquanto alcançava a mão de Hermione, que descansava em cima da mesa, de modo a entrelaçar seus dedos. Como a temperatura havia caído naquela manhã, o calor que emanava de suas mãos unidas, era muito bem-vindo. E, no fundo, eles justificariam que aquele calor que sentiram, era culpa da temperatura amena naquela manhã. — Obrigada por estar nessa comigo. — Murmurou baixinho o agradecimento genuíno.

Hermione sorriu e apertou a mão de Harry.

— Tenho quase a certeza absoluta de que já lhe disse isso uma vez... sempre admirei sua coragem, Harry. Mas às vezes, pode ser muito tolo. — Disse, recordando-se das palavras que o dissera antes de partirem em busca das horcruxes. — Não acredito que você sequer cogitou que eu pudesse estar em qualquer lugar deste mundo que não fosse ao seu lado, garoto problema. — Murmurou baixinho e exibiu um sorriso enorme ao mencionar o apelido que inventara na tarde anterior.

— Que alma caridosa você é, sabidinha! — Ironizou enquanto, com a mão que não estava junto a dela, lhe deu um pequeno peteleco no nariz.

Hermione estava prontíssima para retrucar e Harry quase podia ouvir a resposta espertinha saltando por aqueles lábios avermelhados. Mas então, a professora Minerva McGonagall adentrou a sala. Semicerrando os olhos, Hermione soltou sua mão de Harry e endireitou seu corpo, de modo a prestar atenção em todos os movimentos feitos pela professora.

As conversas foram morrendo à medida que Minerva avançava com passos firmes e certeiros em direção à mesa. Deixando cuidadosamente seus materiais em cima de sua mesa, McGonagall, virou-se para a turma.

Naquele momento, se um grampo se soltasse do coque meticulosamente organizado de Minerva, provavelmente seria possível ouvir o tintinar dele contra o piso da sala de aula. Era impressionante o modo como Minerva dominava o ambiente. A autoridade que exalava de seu corpo em ondas, sem se fazer necessário que uma palavra sequer saltasse por seus lábios. Era admirável o modo como até o mais ufanista dos Sonserinos, não ousava desafiar a autoridade da chefe da casa de Grifinória.

Colocando-se à frente da turma, Minerva iniciou sua aula.

— Bom dia! — Ela cumprimentou. — Como todos aqui sabem, vocês estão no sétimo ano. Acredito não precisar mencionar a importância da dedicação necessária nessa reta final. — Minerva fez uma pausa, lançando a todos os alunos seu clássico olhar severo por cima dos óculos, que, para os que soubessem interpretar muito bem, viriam a preocupação e o zelo muito bem escondidos.— Como estão na reta final dos seus estudos sobre magia, isso significa que vocês prestarão no final do ano letivo os NIEMs — ela tornou a dizer. — Níveis incrivelmente exaustivos de magia! — Suspirou. — Por isso creio ser de suma importância revisarmos alguns dos principais assuntos da matéria de transfiguração.

Com um aceno de sua varinha, ela fez a palavra "Animagia" brilhar no quadro.

Uma onda eletrizante de excitação percorreu a sala de aula.

Aquele era um assunto muito complexo e extremamente interessante dentro da transfiguração.

Harry pode perceber como os olhos dos Marotos brilharam ao ver aquela palavrinha escrita no quadro negro.

Ele queria saber o motivo daquela excitação que exalava de seus corpos.

Por que eles pareciam tão entretidos em discutir sobre animagia?

Quer dizer, eles não dominavam o assunto?

Harry presumiu que, por serem animagos ilegais desde o quinto ano, os Marotos iriam estar até mesmo desinteressados. Quer dizer, qual é a graça em estudar sobre um assunto que você já domina?

Ao seu ver aquilo parecia muito entediante, mas uma coisa Harry tinha que admitir, estava bastante curioso e grato por ter a oportunidade de revisar Animagia. Não por causa dos NIEMs, que se dane os NIEMs, ele não precisava mesmo daqueles testes.

Harry estava empolgado por ter a oportunidade de estudar aquilo novamente porque, a primeira vez que o termo Animagia lhe foi apresentado, ele tinha algumas questões mais importantes com que se preocupar, digamos assim.

Como uma professora predizendo sua morte aos quatro cantos da escola, com direito a sinistro e tudo mais. Um louco que havia conseguido escapar de Azkaban, a prisão mais segura do mundo bruxo, que, até então, jamais havia perdido um prisioneiro, um louco em questão que, por sinal, era tido como o mais fiel dos seguidores de Voldemort... e como esquecer de mencionar, que o maníaco aparentemente estava querendo arrancar a sua vida.

Digamos que o terceiro ano de Harry foi um pouquinho agitado.

Desviando seu olhar de seu pai, ele voltou a prestar atenção no que era dito pela professora.

— Iremos começar pelo básico. — Anunciou. — Animagia é o ramo da magia que possibilita um bruxo a se transformar em um animal sem o uso da varinha. — Conforme Minerva dizia, as palavras apareciam magicamente no quadro negro firmado na parede. — Apenas uma pequena parte da população bruxa é animaga, pois conseguir a transformação perfeita em um animal requer muito estudo e prática. — Lançando um último olhar sob seus óculos para a turma, ela prosseguiu. — Agora peço que me elenquem aspectos importantes dentro do que acabei de dizer.

James foi o primeiro a erguer sua mão.

— Pois não, senhor Potter.

— O bruxo não escolhe o animal em que irá se transformar. — Disse, recordando-se dos inúmeros animais que, antes de realmente se transformar em animago, cogitou que poderia se transfigurar. — O animal somente lhe é revelado na primeira transformação.

Minerva não se espantou ou se questionou sobre a especificidade nas palavras de James. Potter era excelente em transfiguração e sempre demonstrou um desejo no campo da animagia.

— Muito bem, senhor Potter. — Ela o parabenizou. — 05 pontos para a Grifinória. — Anunciou, então pediu: — Agora, peço mais aspectos.

Ao lado de Potter, Evans sorriu e lhe murmurou um "meus parabéns!" acompanhado por um sorriso amplo e genuíno, o qual James respondeu com uma piscadinha charmosa.

Sentado a duas cadeiras atrás de James e Lily, ao lado de Remus, Sirius preguiçosamente ergueu sua mão.

— Pois não, senhor Black. — Minerva lhe concedeu a palavra.

— Para se tornar um animago é necessário um cadastro no Ministério da Magia — Sirius revirou os olhos ao se lembrar daquela regra estúpida — devido a todas as vantagens de ser um animago lhe permite em relação aos demais bruxos que não dominam a arte da Animagia. Mas se me permite, isso não passa de uma tremenda baboseira, quem precisa de registros? — Ele teimosamente pergunta.

— Modos, senhor Black! — McGonagall ralhou. — Lembre-se, isto ainda é uma sala de aula.

Manejando sua mão e lançando um sorriso inocente à professora, Sirius prosseguiu.

— Desculpe, tia Minnie — ele pediu e, não dando tempo para que ela brigasse pelo uso do apelido, prosseguiu. — Se um animago ilegal for capturado, ele receberá uma bela passagem para Azkaban.

Minerva também não estranhou a resposta detalhada de Sirius, porque o garoto até poderia ser uma peste, mas era brilhante, ela tinha que admitir.

— Muito bem, senhor Black. Mais 05 pontos para a Grifinória.

Um bufo de um aluno pode ser ouvido, Minerva novamente estava dando pontos a Grifinória, aquele pequeno ruído chamou sua atenção e, aproveitando-se que o olhar da professora não estava mais voltado para si, Sirius virou-se para Remus.

— Aposto 10 galeões que se eu fosse preso em Azkaban eu iria conseguir escapar, Aluado. — Ele disse, estendendo sua mão em uma oferta de aposta.

Remus ignorou a mão estendida de Sirius, focando-se apenas no absurdo que ele acabara de dizer.

— Você tem noção de que Azkaban é simplesmente a prisão mais vigiada do mundo bruxo, não tem, Almofadinhas?

Sirius concordou com a cabeça, seu olhar não demonstrava medo ou perturbação pelas palavras que o amigo dissera.

— E você tem noção de que são os dementadores, aquelas criaturas horrendas, que guardam Azkaban, não tem? — Remus continuou, incrédulo com a completa falta de bom senso do amigo.

Sirius revirou os olhos.

— Não seria isso que iria me impedir de dar o fora de lá.

— Algum problema senhor Black e senhor Lupin? — Minerva perguntou em alto e bom som para toda a classe ouvir.

Como Remus ainda encontrava-se em estado de estupor pelas palavras incabíveis ditas por um de seus melhores amigos, foi Sirius quem respondeu.

— Sem problemas.

Com um olhar desconfiado, McGonagall tornou a falar.

— Eu só gostaria de incluir que o registro e a supervisão do Ministério da Magia são extremamente necessários porque tornar-se animago é um processo muito trabalhoso e extremamente detalhado. Um mínimo erro e o bruxo poderá andar por aí com uma parte de seu corpo transfigurada em um animal. — Ela acrescentou, para então tornar a pedir. — Mais aspectos.

Dessa vez foi Peter quem ergueu sua mão.

— Senhor Pettigrew. — Ela o concedeu a palavra com um aceno de cabeça.

— A primeira transformação pode ser muito dolorosa, mas eu diria que não é especificamente dor, está mais para um desconforto bem grande. — Rabicho disse, recordando-se de sua primeira transformação. O pânico e a angústia que o tomara, a sensação da pele formigando, os cabelos dando lugar a pelos...

Para Minerva, aquela resposta sim, foi curiosa.

Não pelas informações, mas sim pelo fato dele ter realmente erguido sua mão e respondido.

Na maioria das vezes, Peter não escolhe os holofotes, não, ele prefere não ser o alvo da atenção. Ele prefere deixar isso para o restante de seus amigos.

— Muito bem, senhor Pettigrew. — Minerva o parabenizou. — Mais 05 pontos para a Grifinória. Alguém tem algo a mais para contribuir?

Imediatamente Hermione ergueu sua mão, louca para poder contribuir também.

— Pois não, senhorita Morning.

— Um animago difere de um bruxo transfigurado em animal por diversos pontos: o animago mantém a consciência humana, podendo raciocinar como humano. Já humanos transfigurados em animais se transformam em animais por inteiro, pois perdem a consciência de terem sido bruxos, e precisam de alguém para o transfigurar de volta em um humano.

Sem a sua permissão, um pequeno sorriso tomou conta dos lábios de Minerva.

— Muito bem, mais 10 pontos para a Grifinória por sua excelente resposta, senhorita Morning.

Ao seu lado, Harry exibiu um sorriso orgulhoso e aproximando-se ele sussurrou.

— Muito bem, sabidinha. — Ele a parabenizou, para, então, plantar um singelo e demorado beijo na bochecha de Hermione, quase, roçando perigosamente, a região de seus lábios avermelhados.

Hermione sorriu como uma boba e, quando o olhar dele não estava mais voltado para si, elevou seus dedos, levemente trêmulos, até tocar o ponto em que sua bochecha havia recebido um sussurro de um beijo. Podia sentir o calor espalhando por sua barriga e queimando lentamente o seu coração, mas não o repreendeu.

Com sua visão periférica, ela pôde perceber que Lily os observava atentamente, com um sorriso carinhoso emoldurando seus lábios. Sentiu suas bochechas esquentando, assim como o restante de seu rosto, e tratou de retirar rapidamente seus dedos de seu rosto.

 

Não somos, nós não somos amigos, e nunca fomos

Nós só tentamos manter esse segredo em uma mentira

E se eles descobrirem, será que vai dar tudo errado?

E só Deus sabe, ninguém quer que isso aconteça.

 

Ignorando o olhar de Lily e empurrando a parte de seu cérebro que gritava que aquela era a mãe do garoto que havia acabado de beijar seu rosto, Hermione forçou-se a prestar atenção em McGonagall.

— Creio serem essas as informações mais importantes dentro do assunto. Então partiremos para os questionamentos. Alguém gostaria de começar?

"Essa é a oportunidade perfeita". — James pensou.

Desde que o período letivo havia tido início, James vinha sentindo aquelas coisas, aquela espécie de sentido de Pontas. Aquela era a oportunidade perfeita de perguntar o que diabos aquilo significa. O problema seria, como perguntar de uma forma que soasse impessoal?

Sem pensar muito no que iria dizer e muito menos nas consequências, James ergueu sua mão.

— Professora, as personas animagas possuem sentidos, "instintos" animais?

A duas carteiras de distância, Almofadinhas se surpreendeu. Aquela era a pergunta que Sirius vinha se fazendo há um bom tempo. Em algumas noites pensara estar enlouquecendo, chegara até mesmo a se transformar em Almofadinhas, só para garantir que realmente estava tudo bem com sua forma animaga.

Mas ali estava sua resposta.

Pontas também estava daquela forma. Então, pela lógica, Peter também estava vivenciando o mesmo dilema. Certo?

Aquilo de certa forma tranquilizava a mente de Sirius. Não chegava a resolver a problemática, mas havia uma coisa que Black havia aprendido há muito tempo. Se os Marotos estivessem unidos, não haveria problema que eles não conseguiriam resolver, tudo o que bastava era estarem juntos.

Minerva franziu o cenho, suas sobrancelhas se unindo em confusão ao ouvir o questionamento vindo de Potter.

O que diabos?

— Bom, creio estar se referindo na forma animaga, senhor Potter, então sim, quando o bruxo está transfigurado ele experimenta sensações zoomórficas.

— Não é isso que o Pontas está querendo saber! — Sirius disse ansioso, interrompendo o diálogo entre McGonagall e Potter, passando a mão por seus cabelos ele tenta expor melhor a pergunta. Sirius realmente precisa entender o que estava acontecendo com eles. — O que Pontas quer saber é, quando o bruxo, sendo animago, está em sua forma humana, ou seja, ele ainda não está transfigurado...

McGonagall sutilmente revirou seus olhos e pigarreou.

— Senhor Black, eu não sou uma criança que precisa de tudo explicado nos mínimos detalhes. — Resmungou.

Sirius ignorou o comentário da professora e continuou expondo seu questionamento.

— Enfim, quando o bruxo, que é animago, está em sua forma humana, ele consegue ter esse "instinto" de seu lado animal?

Minerva não saberia dizer o que, mas algo lhe dizia que aquilo não era uma pergunta com fins puramente acadêmicos. Sua suspeita comprovou-se certeira quando Peter entrou no questionamento.

— Seria possível, professora, o lado animago tentar,... tentar alertar o bruxo, ou algo assim?

Era como se existisse uma pequena sineta e toda vez que os Marotos estavam aprontando algo, o cordão daquela sineta tintilava, querendo alertar Minerva de que algo estava acontecendo. E, naquele momento, o cordão não tintilava, ele balançava freneticamente.

Certamente tinha algo ali.

— Eu certamente não irei querer saber o motivo — Minerva disse suspirando, já sabendo que uma tremenda dor de cabeça estava por vir. Quando aqueles meninos se juntavam, grandes feitos certamente estavam por vir, mas o problema era: Quantas regras eles quebrariam para tal? — Mas porque o tamanho interesse em instintos animagos?

— Curiosidade.

— Para fins puramente acadêmicos.

— Para revolucionar o futuro da animagia.

Naquele momento, Minerva quase podia ouvir o barulho da sineta soando por seus ouvidos, lhe alertando de que aquelas pestes estavam aprontando.

Suspirando e tendo plena consciência de que aqueles três não iriam lhe contar o verdadeiro motivo, McGonagall desistiu de insistir e se contentou em responder, afinal, ela ainda era uma professora e isso incluía responder perguntas inusitadas.

— Certo, devo confessar que esses questionamentos são um tanto inusitados para mim. Não me recordo de ouvir algum relato sobre tais instintos de sua persona animaga, enquanto o bruxo ainda está em sua forma humana, mas creio que seja possível, de certa forma, e não creio que seja algo ruim, ou algo com que o bruxo em questão deva se preocupar.

Um pequeno ruído de alívio pode ser ouvido saltar dos lábios dos garotos. Estava tudo bem.

— Alguma outra questão a ser pontuada? — Minerva perguntou, virando-se para o restante da turma e se forçando a ignorar aquela voz em sua mente que lhe dizia que aqueles três haviam feito algo perigoso. — Por favor — ela suspirou — algo menos inusitado desta vez.

Harry repassou em sua mente tudo o que ele já havia aprendido sobre animagos, todas as transformações que ele já havia presenciado de Sirius, como ele sempre se surpreendia e ficava maravilhado ao ver a figura de seu padrinho dando lugar a forma daquele imenso cachorro negro.

Nos jardins da memória, uma recordação em especial chamou sua atenção, a noite em seu terceiro ano, quando Sirius se transformou em Almofadinhas para tentar conter a fúria implacável de Aluado.

Aquela fora uma noite e tanto, Harry não gostava de pensar muito sobre ela, em geral, ele sempre se martirizava por conceder a piedade a um traidor como o Rabicho.

Mas naquela noite não haviam só memórias ruins, haviam também recordações importantes, como aquele patrono. Aquele lindo patrono de cervo. Aquele patrono que ele pensara ter sido seu próprio pai a conjurar.

A professora McGonagall estava finalizando uma resposta quando Harry começou um pequeno debate interno. O patrono de seu pai era um cervo, sua forma animaga também era um cervo. A forma animaga de Sirius era um cachorro, seu patrono também assumia a forma de cachorro. Minerva em sua forma animaga era um gato, seu patrono também era um gato...

Aquilo era uma regra?

Bom, ele estava em uma sala de aula, com uma sábia professora disposta a solucionar todas as suas dúvidas, não haveria problemas em questionar sobre aquilo, certo?

Sem pensar muito no que realmente irá dizer ou nas consequências, Harry ergueu a sua mão.

— Pois não, senhor Star. — Minerva disse, sua voz calma assim como seus olhos.

— A forma animaga que um bruxo assume é a mesma de seu patrono? — Harry perguntou de uma forma um tanto confusa.

Minerva o olhou por cima dos óculos apoiando uma de suas mãos sobre a barriga.

— O senhor não está confundindo animagia com defesa contra as artes das trevas, está? — Perguntou um tanto incrédula.

Um pequeno riso vindo de um sonserino pode ser ouvido.

Harry bufou.

— Claro que não estou misturando as duas coisas. — Ele suspirou, elevando uma mão até seus cabelos, puxando-os. — É só que meu pai era um animago, e sua forma animaga era idêntica ao seu patrono, a mesma coisa com meu padrinho.... Apenas fiquei curioso, — ela dá de ombros, para então perguntar novamente — quer dizer, funciona dessa forma para todos?

Enquanto falava, Harry não percebeu que havia dito as seguintes informações: "Meu pai era um animago, meu padrinho também!"

Mas para a mente sagaz de Minerva, aquelas informações não passaram despercebidas.

Sua mente não parava tentando desesperadamente ligar os pontos. As respostas e as perguntas específicas demais de James e Sirius... A revelação feita, sem a menor intenção, por Harry, filho de James...

"Não pode ser!" — Minerva pensou em estado de negação.

Aqueles meninos eram pestes, inquietos, muitas vezes irresponsáveis, mas não chegariam ao ponto de infringir as leis. Certo? E além disso, o processo para se tornar animago era complexo demais e, por mais brilhantes que fossem, eles ainda eram apenas alunos.

McGonagall tentava a todo custo se convencer de que aquelas pragas não tentaram algo como tornar-se animagos sem a mínima supervisão. Até que o sinal que indicava o término da aula irrompeu por seus ouvidos.

— Estão todos liberados. — Minerva disse à turma, antes de pontuar. — Senhor Star, gostaria que ficasse.

Hermione o olhou levemente preocupada.

"O que houve?" — Ela perguntou através de seu olhar.

Ele deu de ombros, respondendo um "não faço a mínima ideia", através do pequeno gesto.

Um arrepio percorreu a coluna de Harry ao ouvir a voz da professora pedindo para que ele ficasse por mais tempo na sala de aula.

Sua mente rapidamente vasculhou por alguma informação. Será que tinha feito algo de errado? Bom... ao que se lembrava, não.

Mas, então por que Minerva o encarava com aquele olhar severo que era capaz de lhe causar arrepios?

O que diabos?

A confusão não durou muito tempo, uma vez que Minerva logo desatou a falar, fazendo o coração de Harry se apertar.

— Creio não haver motivos para procrastinar e não ir direto ao assunto, Sr.Potter. — Ela disse seriamente — Então serei a mais clara e a mais objetiva possível. — Os olhos verdes e severos de Minerva não abandonaram Harry nem por um segundo sequer quando ela soltou a pergunta. — Me responda com clareza e sinceridade — ela pediu — por que o Senhor James Potter, que gostaria de deixar claro ser seu pai, — ela enfatizou — e o Senhor Sirius Black, o qual imagino ser seu padrinho ou algo assim, tendo em mente a relação de Potter e Black — Minerva devaneou e Harry viu ali uma oportunidade para tentar acalmar sua respiração que se encontrava totalmente descompassada. — Enfim — Minerva disse em um suspiro, para então jogar a pergunta que fizera a mente de Harry explodir. — Por que os dois estavam me fazendo perguntas tão específicas e que não teria como um aluno, mesmo que do nível daqueles dois, fazerem sobre animagia. Por que tamanho interesse em animagos?

"Merda" — Harry praguejou mentalmente.

Só então ele percebeu ter dito coisas demais.

— Creio não entender onde a senhora quer chegar com isso, professora McGonagall. — Ele disse em uma tentativa de ganhar tempo, para então pensar em alguma desculpa esfarrapada.

Minerva suspirou.

O tempo lá fora pareceu perceber que algo de errado estava acontecendo, pois naquele momento começou a cair uma verdadeira tempestade. Trovões e relâmpagos podiam ser ouvidos.

— Por favor, vamos direto ao ponto. — Ela pediu novamente, elevando sua voz, na tentativa de encobrir o barulho da chuva que batia latentemente contra a janela. — O senhor mesmo afirmou durante a aula que seu pai, que gostaria de novamente ressaltar ser James Potter, foi um animago.

— Ele foi. — Harry disse, ele sabia que o melhor a se fazer naquele momento era sustentar o que dissera, ele procurou em sua mente e constatou que não afirmou quando seu pai se tornou um animago. Então está tudo bem. Tudo o que ele precisava era tentar se acalmar, concentrar em sua respiração e não falar nenhuma besteira.

Minerva respirou fundo ao constatar que o garoto herdara a teimosia de Evans.

— Só estou pedindo que me conte se aqueles garotos fizeram algo que possa comprometer o futuro deles. — Minerva pediu uma segunda vez, se amaldiçoando ao notar que expressara preocupação em seu tom de voz.

Harry tratou de empurrar aquela partezinha de seu cérebro que esbravejava que Minerva era confiável, como ela se preocupava, ou pelo em sua linha temporal, com ele.

Aquele não era um segredo seu para sair contando por aí. E, de qualquer forma, ele jamais iria contar um segredo dos Marotos.

A simples ideia de traí-los faz seu estômago dar voltas e voltas, sua magia começou a agitar-se.

Ele tratou de se concentrar, tentar se acalmar de alguma maneira, e colocar amarras em volta de sua magia, não poderia perder o controle, não agoranão durante uma conversa tão importante como aquela. Sutilmente, Harry respirou fundo e ergueu seu escudo mental na tentativa de aliviar um pouco a necessidade de usar sua magia.

— Novamente não estou entendendo onde a senhora quer chegar. — Harry disse, sua voz transparecendo uma falsa neutralidade, uma falsa calma.

Controlar seu poder nunca lhe pareceu tão difícil como naquele momento, Harry conseguia sentir a magia correndo por suas veias, deixando um rastro latente de brasa por onde passava, arrepiando os curtos fios de cabelos de seus braços, pedindo, implorando e suplicando para ser usada. Para ela ser jogada no mundo, para castigar quem o perturbava. Para fazer como a tempestade que caía do lado de fora do castelo, descarregar seu mau-humor por aí.

Soltando o ar pelo nariz, ela tentou outra vez.

— Peço que me diga. — Ela insistiu.

Aquele pedido, a ideia de contar um segredo tão profundo e tão primordial dos Marotos, a ideia de traí-los, rompeu a fina amarra que segurava, que mantinha presa, a fúria e o poder dele. Não aguentando mais, não suportando a ideia de ser um traidor, a magia de Harry irrompeu.

O efeito foi imediato, as luzes da sala começaram a tremeluzir com a magia que irradiava do corpo de Harry, algumas carteiras até começaram a levitar do chão.

Minerva espantou-se, não com o aparente descontrole do garoto, mas sim com a magia tão palpável que irradiava em espécies de ondas do corpo dele.

— Senhor Potter... — Ela começou, seu tom de voz o mais contido possível, mas naquela altura, Harry não estava com o melhor dos humores e não estava tão afim de papo.

Um raio cortou a tempestade, iluminando toda a sala de aula, querendo alertar Harry para não ir longe demais, no entanto, a teoria do caos já havia iniciado, a borboleta já havia batido suas asas, a senhora já havia atravessado a rua e Harry já havia mandado seu bom senso e autocontrole para o inferno.

— Sempre ressaltei à senhora que não sou como meu pai em diversos aspectos. — Ele a relembrou, sua voz exaltando-se, elevando-se, saindo mais alta do que o barulho da tempestade que açoitava incansavelmente a janela da sala de aula. As cadeiras começam a subir mais e mais rápido. — Mas gostaria de deixar uma coisa bem clara. A qualidade que mais prezo, valorizo e admiro em meu pai, eu herdei. — Naquela altura, Harry não estava falando. Ele estava esbravejando. — Herdei sua lealdade!

Harry deu às costas à Minerva McGonagall. Ele já estava farto daquela conversa interminável.

 Senhor Potter! — Ela tentou impedi-lo de sair da sala de aula, mas ele já estava atravessando a porta quando ela o chamou.

— Não espere que eu apareça mais em alguma aula! — Ele esbravejou já de costas, para ela, e para quem quisesse ouvir naquele corredor lotado de alunos que os observavam com os olhos arregalados. Nenhum aluno tinha audácia para desrespeitar McGonagall, muito menos um grifinório.

Quando Harry saiu da sala de aula, as cadeiras se espatifaram no chão e as velas caíram dos lustres, rompendo-se, partindo ao encontrarem o piso.

Ele caminhou em passos decididos, ignorando todos os olhares abismados que estavam sendo dirigidos a ele. Infelizmente, Harry já estava acostumado com aquilo. E tudo o que ele precisava naquele momento era ficar sozinho e controlar seu bendito poder, por isso, ele caminhou em passos firmes para dar o fora daquele castelo o mais rápido possível.

Naquela manhã, Minerva obteve algumas revelações.

Primeira: Os marotos possuíam um grande segredo.

Segunda: Harry Potter tinha herdado o temperamento de Evans e o jeito explosivo de Potter. E o poder de ambos combinados.

E terceiro: Talvez não seja uma boa ideia deixar Evans e Potter conceber, compartilhar sua genética em um indivíduo.

*

*

A ansiedade era como o zumbido de asinhas em seu ouvido no silêncio, como uma vespa petulante. Ela tentou tomá-lo, tentou incansavelmente tomar o controle dele, enquanto ele caminhou em direção aos jardins, em meio a chuva deixando um rastro pungente de magia por onde passou, e se jogou na grama encharcada, torcendo para a água aliviar seus pensamentos e domar seu poder. Estava ficando mais difícil ignorar a sensação de que perdeu o controle e de que fez uma merda muito grande da qual ele provavelmente iria se arrepender quando afundasse sua cabeça em seus travesseiros a noite.

Sua mente disparou pensando em tudo o que acabara de ocorrer.

— Maldição! — Harry rouquejou.

Uma pequena partezinha do cérebro de Harry torcia para que a água escorrendo por seus cabelos e encharcando suas roupas o ajudasse a acalmar seus pensamentos, controlar sua ansiedade que, naquele momento, ameaça consumi-lo e, principalmente, que controlasse seu poder - sua magia. Mas com o seu humor, culminado com sua sorte, era mais provável que Harry fosse atingido por um raio.

"Talvez até seja melhor!" — Ele pensou ironicamente.

Inferno!

Tudo o que Harry queria naquele momento era botar fogo em si mesmo, mas ele não podia deixar que ninguém o visse queimar. Já era ruim o suficiente ser o descontrolado que surtou com Minerva.

Inferno!

Harry sabia como a rede de burburinhos funcionava, a essa altura todo o colégio de Hogwarts já devia saber sobre o que havia acontecido na sala de transfiguração.

Afundando as mãos em seu rosto, Harry gemeu em frustração.

Seu ímpeto sempre foi seu ponto fraco, sempre fora difícil controlar aquela parte de sua personalidade, principalmente quando dizia respeito a sua família.

Harry não queria ser um ingrato e gritar com Minerva, ele era muito grato por tudo o que ela já havia feito por ele, Harry sabia que ela se preocupava muito com ele, em alguns pesadelos ele ainda era perturbado pelo grito que escapulira pelos lábios de McGonagall quando ela pensou que ele estava morto. O problema é que tudo aconteceu muito rápido... em um momento ele estava tirando uma dúvida sobre patronos e animagos e no outro momento estava deixando um rastro de magia por onde passava.

— Inferno! — Ele praguejou novamente.

— Parece que alguém não está tendo um bom dia. — Harry escutou uma voz ao seu lado murmurar.

Ao retirar as mãos que cobriam seu rosto, Harry percebeu que Regulus estava ao seu lado, segurando em uma mão um grande guarda-chuva, nas cores verde e prata, e na outra um pequeno potinho que continha, dentro de si, uma pequena chama azul que irradiava labaredas azuis brilhantes, impermeáveis, irradiando calor.

— O que faz aqui? — Harry perguntou enquanto voltava a cobrir seu rosto.

Regulus deu um meio sorriso enquanto se ajeitava na grama molhada ao lado de Harry, mas ao invés de responder, Regulus preferiu conjurar uma pequena chama azul para Harry também.

— Você irá congelar ou pegar um tremendo resfriado se ficar exposto na chuva desta maneira. — Regulus disse, sua voz não indicava que ele estava julgando Harry, apenas demonstrava a preocupação genuína de um amigo. Com um aceno de sua varinha, Regulus levitou o guarda-chuva, de modo que ele pudesse cobrir os dois.

— Veja que lindo, você está se preocupando comigo. Que admirável! — Harry debochou com todo o seu bom humor embebido em sua voz. Realmente seu humor estava uma merda naquela manhã.

Regulus suspirou. Ele sabia exatamente como era estar bravo, chateado e irritado com o mundo. E Regulus estava disposto a ser a pessoa em que Tiago iria descontar um pouco de sua frustração, bom... Tiago já foi a pessoa em que ele descontou um pouco de sua própria frustração.

Regulus soltou um pequeno riso ao constatar o quão absurdo e improvável era aquela suposta amizade entre os dois.

Harry suspirou.

— Foi mal... eu só — por um momento ele se atrapalhou com as palavras, comprimindo os lábios em um pequeno aperto, ele tentou se expressar melhor — problemas. — Harry suspirou, já sabendo que naquela altura Regulus sabia muito bem o que havia acontecido naquela manhã e o motivo para ele estar ali longe de todos.

— Eu... hm, — Regulus comprimiu os lábios, um tanto desconfortável — posso ter ouvido alguma coisa.

— Me diga o que foi. — Harry disse imediatamente.

— Era, na verdade, um rumor... — Regulus parecia um tanto sem graça em contar o que havia escutado, por isso preferiu não olhar para Harry enquanto falava, preferiu manter seus olhos em seu casaco da Sonserina e brincar com alguns botões da vestimenta

Harry suspirou e descobriu o seu rosto.

— Eu já sei que estão falando sobre mim. — Ele tentou de alguma forma aliviar o desconforto de Regulus.

Black arqueou a sobrancelha, uma clara pergunta se formando "como você sabe?"

Harry revirou os olhos.

— Acredite em mim, eu sei muito bem como funciona a rede de burburinhos de Hogwarts. — Harry bufou. Ele odeia aquilo! Harry puxou com força um punhado de cabelos tentando se acalmar, então pediu novamente. — Vamos me diga o que houve. — Dessa vez seu tom de voz não estava tão calmo, estava inclinado a irritação.

— Tudo bem, vamos direto ao ponto então, já que prefere dessa maneira, Senhor Mau-humor. — Regulus não resistiu em zombar um pouquinho com a cara dele, antes de realmente contar o que ouviu. — Enfim — ele suspirou — o boato que chegou aos meus ouvidos é que um aluno atrevido da Grifinória estava aos berros com McGonagall na sala de aula e saiu parecendo furacão de magia revolta no corredor.

Harry fechou com força seus olhos e puxou mais ainda seus cabelos.

Inferno! Mil vezes inferno!

Então ele estava novamente sendo consumido por sua ansiedade. O ar se tornou sufocante, respirar nunca pareceu tão difícil, ele buscava o ar, mas não o encontrava e, quando o encontrava, doía... parecia que não era ar que estava enchendo seus pulmões, parecia ser pequenos alfinetes que desencadeavam uma dor tremenda.

Regulus percebeu que Tiago estava à beira de um profundo ataque de ansiedade. Regulus não era muito bom em conversas e nesse lance de ajudar... mas ele conseguia se lembrar das vezes em que Sirius o ajudava, quando ele estava a beira de um ataque de ansiedade e seu irmão mais velho aparecia, tranquilizando, o trazendo de volta.

Regulus respirou fundo. Ele podia fazer isso!

— Ei, — ele murmurou baixinho — tenho certeza de que não foi tão ruim assim.

Harry sabia que ele estava falando, ele conseguia ver os lábios de Regulus se mexendo, formando palavras, mas Harry não conseguia entender nada do que saía da boca dele.

— Ei, foque na sua respiração, ok? — Regulus pediu, sua fala saiu tranquila, mas, por dentro, o medo de não conseguir ser o suficiente naquele momento o consumia.

Após três tentativas, Harry conseguiu.

As palavras de Regulus naquele momento eram como o sopro de ar puro, era como se Harry estivesse se afogando e aquelas palavras seriam o fiapo que o salvaria. Ele só precisava acreditar.

— Obrigada. — Harry agradeceu um tanto sem fôlego assim que se recuperou.

Regulus sorriu feliz por ter conseguido ajudar.

— Não desperdice seu tempo e seu fôlego pensando nas coisas idiotas que gente idiota faz. — Essa foi a forma que Regulus encontrou para dizer "Hey, cara, não tem pelo o que se desculpar"

Harry jogou sua cabeça para trás e soltou uma risada alta.

Nesta vida, abrace aqueles com que você se importa. Sorria para um estranho. Ajude uma pessoa que precisa. Escolha a bondade! O máximo que pode acontecer... é alguém retribuir.

Eles ficaram em um silêncio confortável até Harry se dar conta de uma coisa.

— Você disse que ouviu um rumor sobre um garoto da Grifinória. Não sobre Tiago Star. Como soube que é sobre mim que todos estão falando?

Os olhos de Regulus lampejaram em pura diversão enquanto ele abria um imenso sorriso.

— Eu aprendi que você tem um certo desprezo pelas regras.

Harry jogou sua cabeça para trás soltando uma gargalhada.

— Acredite, não é a primeira vez que escuto algo do tipo. — Harry comentou observando que a chuva abrandou. — Certo, não irá me perguntar sobre o que ocorreu com Minerva?

Regulus dá de ombros.

— Acredito que não queira falar sobre isso.

— Realmente não quero. Mas vamos ficar aqui olhando para o nada?

Regulus deu um meio sorriso, então retirou sua bolsa de livros, que Harry mal percebeu estar ali.

— Eu não sei você, mas eu tenho uma lição de história da magia para fazer.

Harry resmungou.

— Odeio a história da magia.

— Bom você pode ficar aqui e me ajudar, ou — Regulus abriu um sorriso irônico — pode ir até o castelo.

Harry balançou a cabeça.

— História da magia. Eu prefiro isso a ter que voltar para o castelo agora.

*

*

*

— Eu não compreendo! — Regulus resmungou afastando seus livros de seu colo.

— O que foi? — Harry questionou arqueando uma de suas sobrancelhas.

Já se aproximava do horário do almoço, não chovia mais, o céu estava tranquilo e limpo, assim como o humor de Harry. Nenhum dos dois havia percebido a hora passar, estavam muito entretidos com o dever de Regulus.

— Os trouxas! — Black bufou.

— Como assim?

— Oras, veja — Regulus empurrou seu exemplar de história de magia para Harry, apontando para uma figura de uma "caça às bruxas". No retrato havia vários trouxas ateando fogo em uma centena de troncos, uma bruxa estava amarrada, berrando, suplicando liberdade.

Os olhos de Potter lampejaram em humor.

— Você sabe que essas bruxas não queimavam de verdade, não sabe? — Ele perguntou empurrando o livro de volta para seu dono.

Regulus bufou.

— Eu não sou um idiota! — Resmungou. — Claro, claro... A bruxa ou bruxo executaria um feitiço básico de congelamento de chamas e fingiria gritar de dor enquanto desfrutava de uma sensação suave e agradável. — Regulus recitou os versos escritos em seu livro e então revirou seus olhos. — Mas isso não muda nada!

— O que você quer dizer com isso? — Harry perguntou não entendendo onde diabos ele queria chegar com tudo aquilo.

— Os trouxas fizeram isso com a gente, com nós bruxos. Eles nos perseguiram durante séculos e séculos, destruíram povoados, famílias, atearam fogo... Droga, eles literalmente nos caçavam! — Regulus estava indignado. — Veja! — Ele exclamou. — Até o fantasma de sua própria casa, Sr. Nick quase-sem-cabeça, sabe o que ele fez de errado, o que fez para quererem arrancar sua cabeça? — Ele perguntou, sua voz estava exaltada. — Ele tentou endireitar os dentes de uma mulher, uma trouxa, mas então deu errado e a dama saiu com presas ao invés de dentes alinhados. E adivinha? Deram ordem para decapitá-lo. Muito justo, não acha? — Regulus perguntou irónico.

Harry fez uma careta. A ideia de ser decapitado várias e várias vezes e, mesmo assim, permanecer com sua cabeça em seu pescoço ligado por um pequeno rastro de pele não lhe soava nada agradável.

— Realmente não me parece muito justo!

Regulus ergueu suas mãos para o alto.

— Por Morgana, até que enfim alguém com consciência!

— Mas — Harry o interrompeu — os trouxas não são todos assim.

Regulus o enviou um olhar acusador.

— Os trouxas usam o termo "bruxo e bruxa" no sentido pejorativo, por causa deles, devido aos trouxas, nós somos forçados a viver na sombra. Temos que nos esconder porque se não, adivinha? O Estatuto Internacional da Magia irá lhe notificar e adivinha o que acontece com notificações múltiplas? Bingo, Azkaban!

O rosto de Harry se contorceu em mais uma careta.

— Você não é fã dos trouxas, não é?

Regulus parecia ultrajado.

— A questão não é sobre eu não ser "fã dos trouxas", acontece que... que — ele buscou palavras, mas não as encontrou.

— Você já teve algum contato real com um trouxa? — Harry perguntou um tanto divertido enquanto enrugava seu nariz.

— Na verdade, não. — Regulus admitiu a contra gosto.

Claro, oportunidades não lhe faltaram. Sirius vivia escapando para o mundo trouxa, indo a boates e vielas, mas Regulus era muito jovem para acompanhá-lo e, além disso, Regulus morria de medo de ser descoberto... ele jamais se esqueceria da noite em que seu pai encontrou Sirius no ato de mais uma de suas famosas "escapadas". Não se esqueceria da forma como seu pai açoitara seu irmão por ele estar se misturando com aquela espécie, com a escória do mundo, envergonhando o prestigioso nome da família Black. Nas noites em que não conseguia dormir, Regulus conseguia ouvir os gritos de Sirius o assombrando, das costas escorrendo sangue...

Também havia o marido de sua prima Andrômeda, Ted Tonks. Ele sabia que sua prima havia se casado com um trouxa, mas ela havia sido deserdada da família Black, então ele não chegou a conhecer Ted.

Regulus cresceu em uma casa que construiu um santuário para Gellert Grindelwald. Uma casa onde o nome de Albus Dumbledore não podia ser dito em voz alta, porque ele havia traído a comunidade bruxa ao deter o herói que os guiaria para um futuro em que jamais teriam que se esconder dos trouxas. Cresceu com uma família que passou a apoiar o mais novo Lorde das Trevas - Voldemort. Regulus foi criado em uma família em que o maior pesadelo, o maior pavor, dos pais não seria vivenciar o horror de perder um filho, a maior desgraça que poderia lhes acontecer seria ver um de seus herdeiros se afeiçoando por uma trouxa, jogando na lama o nome da tão antiga e nobre família Black.

Então, não, Regulus, até então, jamais havia tido contato com trouxas.

Harry soltou um pequeno riso nasalado.

— Claro, imaginei.

Regulus o enviou um olhar especulativo.

"O que diabos ele queria dizer com aquilo?"

— Bom — era a vez de Harry parecer desconfortável ao entrar em um assunto — eu posso, hm, ter escutado uma coisa ou outra sobre a família Black. — Ele disse, mas em nenhum momento ele olhou nos olhos de Regulus enquanto falava, não, ele preferiu brincar com a armação de seus óculos.

Regulus soltou uma risada amarga.

— É claro, Sirius deve ter lhe dito tudo sobre a desprezível casa dos Black 's. — Mais um riso embebido em amargura saiu pelos lábios dele. — É a cara do meu querido irmão fazer isso. Ele adora nos maldizer, adora nos colocar como os vilões da história.

Merda!

Harry dito demais e, ainda por cima, havia entrado em um assunto extremamente delicado.

Mil vezes merda!

— Eu não lembro de ter dito que Sirius mencionou algo sobre os Black 's. — Harry disse, cutucando Regulus com seu ombro, na tentativa de aliviar o clima tenso que havia se formado.

Regulus soltou um riso incrédulo.

— Você é inacreditável!

Harry sorriu.

— Vamos deixar o assunto família de lado, então? — Ele propôs e Regulus rapidamente assentiu, aquele era um assunto muito delicado para Regulus e ele ainda não se sentia confortável para enfrentá-lo.

A realidade é que uma pessoa que guarda tudo o que sente, aquilo que lhe machuca, a perturba, aquilo que a faz chorar sozinha quando todos os outros vão se deitar... para si mesmo, quando essa pessoa decide enfrentar todo esse redemoinho de emoções, ela irá desabar, ela irá se sentir frágil e vulnerável, vai sentir que o seu coração está exposto, porquê ela não está acostumada a colocar tudo o que sente para fora. Ela irá sentir que está desenterrando tudo aquilo que já a machucou um dia e tudo aquilo que ainda a machuca.

E Regulus Arcturus Black ainda não estava pronto para enfrentar tudo aquilo que ele vinha guardando a anos e anos dentro de si.

Eles dizem "você tem que deixar o seu passado para trás!"

Mas a verdade que ninguém lhe conta é que enfrentar seu passado não é uma tarefa fácil. Aceitar quem você é e os motivos que o tornaram assim, não é uma lição agradável. Não é como se você acordasse em uma bela manhã e decidisse "hey, não irei mais ser atormentado por algo que aconteceu quando eu ainda era uma criança."

O passado pode doer. Mas sempre há uma escolha, sempre. Você pode fugir dele ou aprender com ele.

O processo de cura é algo demorado, algo lento, que exige coragem, mas também exige compreensão. Não se martirize pelas escolhas que o trouxeram até aqui. Ao invés disso, aprenda com elas.

Sua história pode não ter tido um começo muito feliz, mas ela não define quem você é, e você jamais pode desistir de uma história devido a um capítulo ruim. Definir quem você é, é uma tarefa importante, difícil, mas fascinante . Somente você pode definir quem você é. Ninguém mais tem esse direito.

— Os trouxas não nos detestam. — Harry tornou a dizer, Regulus estava pronto para contestá-lo, mas Harry foi mais rápido e continuou a falar. — Na verdade eles possuem medo de nós, da comunidade bruxa.

Os ombros de Regulus tremeram com o bufo que saltou por seus lábios.

— Os trouxas não pareciam estar com medo quando nos perseguiram durante os séculos. — Regulus era teimoso, cabeça-dura, e não dava o seu braço a torcer.

Harry suspirou e jogou a sua cabeça para trás.

"É só a forma que ele foi criado!" — Uma voz no fundo da mente de Harry saiu em defesa de Regulus.

Ele sabia, ele verdadeiramente sabia, que Regulus tinha salvação. Então ele podia ser um cabeça-dura tremendo, mas Harry não iria desistir dele.

Harry sabia que a melhor forma para fazer alguém abaixar a sua guarda era abaixando a sua própria guarda primeiro. Então nada de meias-verdades ou histórias inventadas.

— Mamãe era uma nascida trouxa. — Harry disse, sua cabeça ainda estava suspensa. Ele sabia que Regulus foi criado em uma família que diria que sua mãe, por ser uma nascida trouxa, não deveria ter tido a oportunidade de aprender magia. Então, por isso, ele não olhou nos olhos de Regulus. Harry sabia que seu ímpeto falaria mais alto se ele visse um lampejo de descriminação no olhar do garoto. — Ela tinha uma irmã — acrescentou — minha tia e minha mãe eram grandes amigas até mamãe descobrir que era uma bruxa.

— O que houve depois disso? — Regulus perguntou suavemente e tratou de empurrar aquela voz que o perturbava " O que seus pais diriam se o vissem sentado com um mestiço imundo?". Ele gostava de Tiago então que se dane a pureza de sangue!

Harry deu um pequeno sorriso ao notar que Regulus não se incomodou por ele ser mestiço.

— Bom, titia ficou chateada e furiosa.

— Por que?

— Porque mamãe era especial e ela não. — Harry sorriu pensando em como sua mãe é extraordinária. — Mamãe conseguia fazer coisas que titia não conseguia fazer. Por isso, titia passou a ter medo da mamãe.

 Isso é injusto! — Regulus resmungou.

Harry deu outro pequeno sorriso. Veja, Regulus já está defendendo uma nascida trouxa!

— Não é justo — ele concordou — mas o mundo não é justo. — Ele deu um pequeno suspiro antes de continuar a contar. — Enfim, titia tinha medo do que mamãe conseguia fazer, então a forma que ela encontrou para lidar com o seu medo foi: Seria ela quem iria atacar primeiro. Ela era rude com a mamãe, a chamava de aberração e a fazia sentir-se mal por ela ser uma bruxa.

— Me desculpe, mas sua tia é uma vaca. — Regulus se pegou dizendo em voz alta. Por Morgana, que tipo de irmã trata a outra assim?

Harry riu.

— Tia Petúnia com certeza não é a pessoa mais gentil que eu conheci. Mas não pense que esse tratamento era exclusivo para minha mãe.

— Ela lhe tratou assim também? — Regulus perguntou, seu estômago dava voltas e voltas. Não era possível que aquele garoto que estava sentado à sua frente havia sido tratado daquela maneira por uma trouxa e, mesmo assim, estava defendendo os trouxas.

Harry abriu um sorriso triste.

— Bom, titia era assim com a mamãe, foi assim com meu pai, por que seria diferente comigo? — Ele perguntou. — Seu passatempo predileto era me chamar de "aberração".

— Filha de um trasgo! — Regulus murmurou. Mas então ele percebeu algo. — E seus pais, eles não faziam nada? — Regulus podia não ter o melhor exemplo de "como criar seus filhos" e nem o melhor exemplo de amor paterno e materno. Mas de uma coisa ele sabia, ninguém, ninguém nesse mundo falaria dessa forma de um filho seu, seja bruxo, mestiço ou trouxa!

Harry lhe ofereceu mais um sorriso triste.

— Nem se quisessem eles poderiam. — Ele respondeu de forma evasiva. Mas então lembrou que, ao iniciar essa conversa, havia prometido a si mesmo que seria franco. Harry respirou fundo. — Mamãe e papai foram mortos.

A boca de Regulus despencou.

Fora assim que seu amigo havia sido criado?!

Aquele menino gentil havia crescido escutando que era uma aberração?

"O mundo realmente não é justo!" — Ele pensou.

— Como... como eles foram mortos? — Regulus se viu perguntando em voz alta. Quando percebeu sua falta de delicadeza e a invasão na pergunta, ele balançou a cabeça. — Não precisa me dizer se não quiser.

"Nada de meias-verdades!" — Harry repetiu a si mesmo.

— Voldemort! — Ele disparou. Suspirando, Harry percebeu não ter sido claro. — Papai e mamãe lutaram contra Voldemort, o enfrentaram três vezes... — ele disse lembrando-se da profecia "...nascido dos que o desafiaram três vezes...". — Mas não obtiveram tanto êxito na quarta vez.

O efeito daquela confissão foi imediato.

O estômago de Regulus despencou, o ar ficou preso em seus pulmões.

Voldemort era um herói! Ele queria libertar os bruxos dos trouxas!

Ele, o herói de Regulus, não poderia fazer isso. Ele não mataria dois bruxos e deixaria um pequeno bruxo, droga, um pequeno bebê órfão.

Regulus queria acreditar, ele verdadeiramente queria acreditar que Lorde Voldemort jamais faria uma coisa daquelas. Mas, então, ele se deu conta de uma coisa, não haveria motivos para Tiago inventar uma história daquelas e, além disso, Regulus conseguia ver a tristeza embebida no olhar dele ao contar sua história.

Então era verdade, seu herói, não era alguém justo. Era um monstro, um assassino.

A bile subiu pela garganta de Regulus, ele queria vomitar. Seu pulso estava acelerado. A vergonha e a culpa disparavam a todo vapor em seu sangue, deixando-o tonto, não havia um canto de seu corpo que Regulus não sentia que estava sujo, manchado. Manchado por suas escolhas, por sua burrice, por sua ingenuidade em acreditar que Voldemort era um herói.

"Talvez não seja só Voldemort o monstro dessa história!" — Uma voz amarga murmurou na mente de Regulus.

Seu estômago deu outra pirueta, a amargura e vergonha ardiam como brasa em seu corpo.

Ele também era um monstro! Não é da noite para o dia que você começa a apoiar um lunático assassino. Não, as grandes decisões, nosso caráter, nossa opinião, é formado gradualmente, um passo de cada vez.

Então, um passo de cada vez, Regulus foi perdendo sua lucidez. Um passo de cada vez, ele achou normal derramar o sangue dos trouxas. Um passo de cada vez, ele se afastou de todos os que tentaram alertá-lo. Droga, ele afastou-se de seu irmão!

— Mas bem, concordamos que iríamos deixar o assunto família de lado.

— Eu sinto muito. — Regulus murmurou baixinho, ainda se sentindo um monstro, como se ele tivesse culpa dos pais de Tiago estarem mortos.

Harry abriu um sorriso.

— Não sinta muito. Meus pais foram heróis! — Ele disse orgulhoso. — Eles lutaram e morreram por aquilo que acreditaram.

Por um momento Regulus considerou suas palavras. Ele nunca havia pensado em como gostaria de partir deste mundo, mas morrer lutando por aquilo que ele acredita não lhe parecia um final trágico. Parecia uma partida triunfante.

— Hey, — Harry retomou sua atenção — acredito que já está mais que na hora de você aprender um pouco sobre mestiços e trouxas.

— Você sabe que existe uma matéria chamada "estudo dos trouxas", não sabe?

Harry revirou os olhos.

— Não é a mesma coisa, Reg.

Regulus estava pronto para dizer que é sim. Mas, então, algo naquela frase chamou sua atenção: "Reg.". Só havia uma pessoa que lhe chamava daquela forma, uma pessoa que fazia muito tempo que ele não falava. Seu estômago se contorceu ao pensar nas vezes em que seu irmão lhe chamara daquela forma.

Sua mente disparou pensando em seu irmão mais velho. Sirius sempre fora um rebelde nato. Ele não esperava pelas coisas. Não perdia tempo daquela forma, não fazia o que mandavam. Fazia aquilo que acreditava. Nunca ligou para o legado da família ou para a pureza de sangue, ele sempre se misturou com todos os tipos de pessoas. Sirius sempre defendeu aquilo que acreditava!

"No que eu acredito?" — Regulus se perguntou..

Antes daquela conversa que tivera com Tiago, Regulus tinha certeza absoluta de que o certo a se fazer era seguir com os desejos de seus pais. Deixá-los orgulhosos. Tentar um lugar ao lado do Lorde das trevas. Lutar para que os bruxos tivessem a liberdade, para que eles jamais tivessem que viver nas sombras novamente.

Mas então, as palavras de Tiago vieram como um balaço direto em seu peito. Os pais dele, dois bruxos, haviam morrido na mão do Lorde das trevas e aquilo não lhe parecia justo.

Regulus abasteceu seus pulmões de ar.

Regulus sabia, ele sentia no fundo, de sua alma, que ele estava na ponta de um precipício. Ele tinha duas opções: voltar, sair correndo dali, e voltar a ser o que era antes de Tiago entrar em sua vida. Ele podia tornar a andar com os projetos de comensais da morte que o rodeavam, ele até pode se tornar um deles. Afinal, aquele sempre foi seu destino, sua sina, não foi?

Ele podia voltar para sua antiga vida e não se importar com nada e ninguém além da supremacia bruxa.

Ou então ele podia se jogar daquele precipício. Se lançar naquilo que ele não sabia o que era e não sabia onde iria dar. Ele podia ir em direção ao desconhecido, podia se deixar guiar por Tiago.

O problema era que se jogar de precipícios nunca foi o seu lance. Não, Regulus não era assim. Regulus não agia por impulso! Ele gostava de pensar detalhadamente sobre suas ações e sobre as consequências que seriam desencadeadas a partir delas.

Mas, então, Regulus se deu conta de uma coisa. Ele estava diante de um penhasco muito alto e perigoso, sem nenhuma intenção de recuar.

Ele não queria ser um covarde, ele não queria deixar que os outros, seus pais, selassem seu destino.

O ar ficou tenso. As folhas começaram a se mover lentamente, as nuvens pareciam estar congeladas no céu, até a borboleta batia suas asas lentamente no jardim. O tempo ficou em silêncio. Quieto. Apenas aguardando. O destino naquele momento parecia um caos, estava caótico, não sabia qual direção seguir, qual caminho tomar.

— Me mostre tudo o que você sabe sobre os trouxas. — Regulus afirmou com confiança. Suas palavras cortaram o vento e a linha do tempo. O mundo pareceu tremer, o destino ficou silencioso por um minuto inteiro, absorvendo a ousadia para mudar tudo, que o Black mais novo apresentava.

Às vezes você só tem que se jogar e torcer para que não haja um penhasco. Ou, se houver, que você esteja rodeado de pessoas que você confia. Que o motivo para a sua queda seja algo que você se orgulhe. Algo digno.

Harry abriu um sorriso imenso. Regulus estava junto. Ele estava disposto a mudar a merda do futuro!

— Vamos, se levante. — Ele disse enquanto se erguia da grama.

— Para aonde vamos? — Regulus perguntou enquanto eles começaram a caminhar.

— Bom, nós iremos aprender sobre trouxas e mestiços. Então nossa primeira parada será a cabana do Hagrid.

— Por que ele?

Harry soltou uma risada.

— Por que você acha que ele é daquele tamanho? — Harry soltou sem nem perceber o impacto de suas palavras.

A mente de Regulus foi rápida em entender o que aquilo significava.

— Eu sabia! — Ele exclamou. — Eu sempre soube que ele é um meio-gigante! — Regulus exclamou triunfante.

Os passos de Harry congelaram. Ele havia acabado de revelar um segredo que não lhe pertencia!

— Conte isso a alguém e essas serão suas últimas palavras! — Harry disse olhando no fundo dos olhos de Regulus.

Regulus soltou um pequeno riso.

— Você ficaria fascinado ao descobrir que eu não tenho tantas pessoas para quem contar.

*

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