Samsara - Loop Aeternus escrita por Casty Maat


Capítulo 1
Prólogo




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Não me lembro quando, mas a ira dos céus resolveu cair sobre as sete nações. A passagem daquele Viajante por todo o continente escancarou verdades e o interminável Samsara que reiniciava infinitamente.

Mas não poderíamos deixar que toda a nossa vida fosse em vão e não por acaso cada alógene das nações entrou na luta do Viajante, cada qual em sua terra.

Muitos de nós foram caindo, alguns eu vi com meus próprios olhos, outros apenas o resultado.

Eu também tombei, eu não vi o resultado da guerra. Claro, não cai de forma inútil ou tola, mas nas proporções que a peleja atingiu, mais que força ou inteligência, a sorte era mais que crucial.

O sono da morte é quieto e sublime, mas logo a luz me envolveu e então eu soube que havia renascido.

Eu não vi o resultado da guerra, mas esse novo corpo tão pequeno e frágil estava colhendo dos frutos da vitória da humanidade.

 

E por algum motivo, eu ainda me lembrava de tudo.

 

A era dos humanos, com prédios altos e tão pouco com personalidade (Kaveh provavelmente praguejaria) era separado por séculos e séculos da minha era de origem. Eu retornei a Sumeru e encontrei uma situação curiosa: as sete nações sobreviveram, mas algumas trocaram de nome pelos séculos, novas surgiram de desmembramentos.

Tão logo aprendi o novo idioma e escrita, mergulhei em preencher as lacunas entre quando morri e essa nova existência. Poucas divindades restaram, mas nunca especificaram quais. Meu nome e de outros que caíram se registraram quase que como lendas. As visões, antes tão desejadas, hoje eram tidas como um mito, uma ideia infantil.

 

Eu recebi um novo nome, o qual eu sinceramente, não sentia que fazia parte de mim. Eu só o tolerava por razões onde demonstrar o meu real eu poderia causar complicações, já minha aparência… era como se eu tivesse rejuvenescido. Meus olhos, a textura e cor de meus cabelos, até minha voz. De diferença, apenas que meus ouvidos não doíam como antes, mas ainda preferia o conforto que um fone me proporcionava.

 

Algo que notei a medida que crescia nessa nova Sumeru era a inexistência das raças como os Valuka Shuuna, todos os não-humanos lentamente foram se extinguindo, se misturando aos humanos. E também que era capaz de reconhecer um "velho conhecido" de minha antiga vida.

A nova Sumeru era recheada deles. Mas somente eu lembrava de tudo. Era solitário.

Ah, sim, eu tanto gostava de estar só, mas diante das circunstâncias, esse atual "estar só" era incômodo.

 

Eu procurava também, entre os rostos dia a dia, por Kaveh. Mas não o via.

Ele teria voltado antes e já partido? Ou o contrário? Sentia meu coração doer.

 

Naquela batalha, Kaveh foi o primeiro de nós quatro a cair. Haviam conversas, debates que nunca foram concluídos, sentimentos que nunca passaram a limpo. Eu não sei como ele se sentiu, mas em mim causava um peso. Mas segui silenciosamente até meu próprio fim, como o terceiro e último de nós a tombar. Segundo os poucos registros daquela época, entre nós quatro, Tighnari fora o sobrevivente, ajudando a reconstruir a nação, transmitindo seu sangue até o desaparecimento de sua espécie.

 

Os anos foram se passando, as memórias nunca foram se desvanecendo. A exceção do novo nome e de ocultar minhas lembranças, a adaptação a essa nova era sem Celestia, arcontes, apenas restando um uso elemental extraído de criaturas de pura energia, como os slimes, um lembrete de meus velhos tempos.

 

Diferente de meu tempo, hoje existia um ensino formal antes da Academia. Sumeru assina é referência em estudos, se rivalizando com Espoir, o novo nome de Fontaine.

Os dois países universitários disputavam alunos.

E não era incomum realizarem feiras vocacionais para atrair a atenção de todas as demais nações.

 

Diferente de meu tempo, os antigos darshans se tornaram departamentos e não mais cadeiras. Dentro de cada darshan haviam diversos cursos, com diversas atuações e durações.

 

Hoje se iniciaria mais uma dessas feiras e eu, agora no último ano antes de poder retornar a Academia, iria poder retornar. 

Havia uma caravana de alunos vindo de Amun, nosso país vizinho e antigo "deserto de Sumeru". Assim como todas as nações, Amun não era mais frágeis vilarejos nascidos de ruínas como a vila Aaru, sua capital atualmente. Eles souberam crescer e se modernizar sem abandonar as ruínas deixadas pelo rei Deshret, as preservando como parte de sua história e o homenageando no nome do novo país.

 

Estava num canto isolado, lendo um livro é ouvindo música, enquanto via os alunos amunitas descendo dos ônibus, mas não sem notar que outro veículo vinha trazendo alunos de Espoir.

 

Ah, sim, apesar da rivalidade no ramo educacional, Espoir não impedia que seus filhos conhecessem a Academia. Haviam cursos que só nosso país tinha, assim como outros só Espoir tinha.

 

Eu estava de guarda baixa quando fui perto pela surpresa: descendo do ônibus azulado e platinado, a figura loira, rodeado de amigos, que eu tanto buscava… apareceu.

 

Kaveh também estava nesse mundo. Seu rosto reluzente e inocente me deu a impressão de, enfim, nessa vida nada de ruim lhe ocorreu. Mas também claramente ele não se lembrava de tudo.

 

Saber que ele estava bem me bastava. Meu eu covarde não queria atrapalhar a vida que enfim parecia abençoada com remorsos de um passado de séculos. 

 

E ao mesmo tempo que meu coração e mente estavam nessa dualidade, me senti observado. E quando discretamente observei, olhos da cor de mel, cabelos brancos e pele bronzeada.

 

Cyno.

 

O segundo de nós a tombar. Agora era um aluno vindo de Amun.

 

O arrepio que sentia me deixava claro um aviso:

 

"Eu me lembro de tudo".

 

Mas antes que minha indecisão motivada por permanência acelerados fizesse uma escolha, algo fez sombra sobre meu livro e uma saudosa voz animada ressoou por meus tímpanos, mesmo cobertos pelo fone.

 

— Uau! Livro físico! E parece antigo…!

 

Olhei para cima e lá estava Kaveh.

 

De novo ele puxando o assunto. Realmente vencemos o Samsara?

 

Kaveh parecia dar algum sinal para seus amigos seguirem sem ele e voltou sua atenção a mim.

 

— Desculpe, estou te atrapalhando?

 

— Não. - minha voz soou apática demais pra minha surpresa. 

 

Ele sem cerimônia se sentou ao meu lado, curioso.

 

— Parece antigo. As letras são bem bonitas.

 

— É o antigo alfabeto do dialeto já morto que havia aqui a cerca de 800 anos atrás. 

 

— Eh?! Você consegue ler isso?! - ele estava genuinamente surpreso. - Que demais! 

 

Eu senti meu coração acelerar, Kaveh ainda me causava o mesmo efeito e eu continuava com as mesmas reações covardes. Mas não seria justo, ainda que fosse a mesma alma, ele não era meu Kaveh, eu não deveria projetar meus remorsos e saudades nesse novo garoto.

 

— Esse uniforme, você é daqui mesmo, né? Você não tem nenhum amigo?

 

— Não. Não tenho nenhum amigo. Você parece ter muitos. - oh não, a voz minha soou ciumenta demais. 

 

— Nah, só ficam me rodeando por sei lá o que. Não sinto nenhuma amizade sincera vindo dali, mas as vezes pra sobreviver é preciso certa pompa. - ele deu de ombros - Mas logo isso acaba e eu estarei voltando pra Sumeru. 

 

Eu torcia que minha expressão não me entregasse. "Voltando para Sumeru"? Esse Kaveh também nascera aqui?

 

— Parece surpreso… minha mãe é de Espoir e meu pai é daqui. Nasci aqui e fui muito pequeno pra lá. Mas quero fazer arquitetura aqui em Sumeru.

 

Senti meu coração se rachar. Mesmo sem lembranças, a essência artística dele ainda estava ali dentro. O quanto do "meu" Kaveh ainda estava ali?

 

— Você também é do pré ensino superior?

 

— Ah… sim… - respondi, rapidamente disfarçando meus sentimentos. 

 

— Bom, eu não conheço ninguém aqui, eu poderia ser seu amigo?

 

Eu o olhei, no fundo dos olhos carmesim. Eu simplesmente não fui capaz de evitar.

 

— Porque eu…?

 

— Você não tem amigos e eu não tenho nenhum aqui. Porque não unir o útil ao agradável? - ele me estendeu a mão. - Eu me chamo Aslan, como se chama?

 

Eu hesitei por alguns segundos, mas o modo automático simplesmente se ativou e me fez segurar suas mãos. Continuavam a ser do mesmo calor de antes.

 

— Zahid. - quando na verdade eu queria dizer "Alhaitam".

 

Aslan continuou a conversar. A ele não interessava a feira em si pois já sabia o que queria, assim como eu. Trocamos números de telefone e eu simplesmente era levado aos assuntos.

 

Era confortável estar com Kaveh de novo, mesmo sobre essa face de Aslan. Eu senti falta disso.

 

— Zahid… o memorial aos heróis da tal guerra contra os céus é longe daqui?

 

Ah sim, o memorial. Ao final da guerra cada falecido teve seu funeral de acordo com os costumes de cada família ou espécie. Mas com as modernizações, com muitos cemitérios sendo mexidos e em respeito a memória daqueles que tombaram protegendo a humanidade, foi feito um túmulo coletivo, já que a altura tudo que restaram eram fragmentos de ossos, colocados em pequenas urnas e então sepultados debaixo de um monumento. Placas com seus nomes no antigo e novo alfabeto completavam a decoração.

 

Por muitas vezes eu ia até lá quando já sabia andar por mim, às vezes escapando de casa quando atuar como "Zahid" me sufocava. Lá diante dos meus antigos ossos, dos ossos de Kaveh e de Cyno eu podia ser eu de novo, de novo Alhaitam.

 

— É até que perto. Dá pra ir andando.

 

— Poderia me levar até lá?

 

Eu não resisti e simplesmente assenti. Diante das estátuas representando os povos de Sumeru e Amun, as placas reluzindo, eu estava diante de mim e ao lado de quem eu mais buscava.

 

Aslan ficou um tempo admirando.

 

— Eu só vi em fotos nos livros escolares e na internet…! É tão bonito.

 

Eu o vi se aproximar e fazer algo que parecia ser algum tipo de prece, talvez algum costume de Espoir. Conscientemente ou não, seus dedos pousaram nas placas que continuam nossos nomes e que estavam lado a lado.

 

— Reminiscências?

 

Escutei uma voz murmurar ao meu lado e quando me dei conta vi o estudante amunita que senti ser Cyno.

 

— É… é uma benção que ele não se recorde. Estar diante de si mesmo e não saber. 

 

Ah, sim… ele realmente sabia que era Cyno.

 

— Eu queria ter vindo antes. - ele suspirou. - Mas está sendo bom ver você e ele. E suas habilidades de atuação caíram, não me olhe assim de rabo de olho.

 

— Eu não disse nada. - respondi.

 

— Por favor, me passe seu número. Eu não quero atrapalhar vocês dois. Eu sei o quão atordoado você ficou naquela época e o quanto no fundo esses momentos de agora estão sendo um conforto.

 

Sem muita escolha eu passei. Ele salvou meu contato rapidamente. E logo me enviou uma mensagem. 

 

E então passou a fingir ser só um visitante qualquer para que quando Aslan se virasse, nada soasse estranho.

 

================

 

Diante da brilhante árvore que surgia da janela de sua residência subterrânea, a antiga arconte observava a Irminsul pensativa. Ao longo dos séculos após a revolta dos humanos, ela pouco mudou, apenas crescendo um pouco. 

 

Sua sobrevivência a ira de Celestia e dos homens se deu por sua ligação com o núcleo desse mundo, a frondosa árvore mística a sua frente.

 

Ela podia ir e vir de sua mansão, claro, mas com o passar do tempo, a humanidade se afetava da devoção não de um modo ruim como fora durante seu antigo cárcere, apenas como um caminhar normal que Celestia impedia. Nahida voluntariamente optou por existir ali, junto do Andarilho, protegendo a árvore e os tesouros da antiga era.

 

As visões de todos, alguns artefatos… Em seu coração algo murmurava ser necessário.

 

Com o tempo e o renascimento de vários de seus amigos e outros portadores de visão, era comum o mesmo ser trazido aqui quando as memórias afloravam e a eles era ofertado sua antiga visão. Muitos optavam pelo objeto, que após seu dono falecer novamente, ele não mais ficava na superfície, retornando misteriosamente para o grande salão. Outros diziam viver a vida nova e tratar as lembranças como um sonho curioso.

 

O ir e vir de pessoas fazia parte das quebras de rotina. Nahida continuava silenciosamente a observar e cuidar da humanidade.

 

Mas após tantos séculos da grande guerra, o tanto de portadores que retornaram parecia exceder o usual. Muitas visões, antes apagadas, estavam brilhando, chamando por seus antigos donos.

 

Isso, claro, nunca escapou dos olhos atentos da antiga arconte e seu fiel assistente, preso a aparência adolescente e que usava agora roupas modernas.

 

— Eu localizei três, mas apenas um não se lembrou. - ele disse, tirando a pequena de seus pensamentos.

 

— Irá trazer os dois que localizou?

 

— Se for de seu desejo. - ele fez uma pequena pausa - está preocupada que tantas visões estão despertas de novo?

 

— Ah…

 

Uma pequena interjeição era resposta suficiente.

 

— Mesmo tudo estando tranquilo, sem nada anormal, algo ainda inquieta meu coração. As atitudes que tomamos naquela época parecem ter escrito algumas regras e leis. É claro que a natureza do mundo mudou, as visões hoje descansam aqui e apenas retornam a seus antigos donos em seus novos corpos. Mas será que é por ter desejado guardar as visões dos meus amigos que caíram e o mundo achou que eu seria uma boa guardiã?

 

— Se nem você tem essa resposta, eu não teria. - o Andarilho suspirou. Os séculos que se passaram tornaram o arredio em alguém mais tranquilo e maleável. - mas eu compartilho das dúvidas e desconfianças. 

 

Ele também pousou seus olhos na árvore. E então se virou.

 

— Vou trazer eles.

 

— Quem você localizou? Alguém da antiga Sumeru ou outra nação?

 

— Seus cavaleiros de cabelo claro. - resmungou saindo sob risos da menor. Sim, ela já havia entendido.

 

Ela sentia quando alguém voltava, sabia quem, mas sua localização e nomes atuais lhe pareciam vetados. Andarilho então se tornava seus olhos no mundo exterior através de suas dicas e informações. 

 

Nahida sorriu pra si mesma em saudades. Alhaitam e Cyno estavam aqui. E então pequenas e silenciosas lágrimas caíram, junto daquela alegria.

 

Foram 800 anos para rever eles.

 

===================

 

Eu já havia saído do banho e jantado, ao retornar ao meu quarto o celular estava apitando. Cyno havia enviando uma mensagem.

 

Desde que eu e Aslan/Kaveh havíamos nos despedido do pequeno passeio, ele retornando para a pousada que os alunos vindo de Espoir estavam e eu para casa, ambos ficaram me enviando mensagens.

 

As mensagens do meu antigo colega de casa eram inocentes e bobas, mas eu conseguia enxergar seu antigo eu facilmente ali. A intensidade, a paixão, a criatividade…

 

Mas as com Cyno eram mais sérias, densas. Afinal, éramos dois adultos em mente presos em corpos de adolescentes prestes a se tornarem adultos. Seu nome nessa vida era Aziz, mas eu poderia chamar ele pelo antigo nome desde que não estivéssemos rodeados pelos demais.

 

Sim, ele também tinha os mesmos cuidados que eu. Assim também dei a mesma permissão.

 

Ele me perguntou se as habilidades físicas daquela época ainda estavam comigo. Ora, ele queria algum tipo de revanche? Mas não, eu entendi… "uma pequena fuga na madrugada para uma conversa segura".

 

E foi o que se seguiu na madrugada.

 

A antiga cidade central de Sumeru era preservada como ruínas. A antiga academia e o Santuário de Surastana haviam sido danificadas, mas se mantinham em pé. Mas o resto, como minha antiga casa ou os comércios, não. Sumeru era um país de baixíssima criminalidade, então não era incomum locais como ruínas serem não vigiados.

 

E foi em minha antiga sala como escriba que encontrei Cyno com moletom escuro com orelhas longas.

 

— Noite.

 

— Noite. - respondi retirando o capuz do meu próprio moletom.

 

Cyno mantinha seu mesmo rosto com poucas expressões como usual. 

 

Ele tinha trazidos alguns salgadinhos de Amun e latas de refrigerante daqui mesmo, sentamos no chão mesmo para dividir o lanche.

 

— É estranho ver tudo isso aqui vazio e escuro. Mas ainda sim é bem nostálgico.

 

— Só restou esses dois prédios e o Palácio que Kaveh construiu. O resto são ruínas disformes ou completamente engolidos pelo tempo. - respondi. Sabia disso pois com alguma frequência eu ia até o Palácio como forma de me sentir mais perto de Kaveh.

 

Ele ficaria triste ao saber que com o passar dos séculos, perdas de registros, sua magnum opus se tornou apenas "o bonito Palácio perdido na floresta". 

 

— Porque lembramos e Kaveh não? Candance também não se lembra. - suspirou desanimado o menor.

 

— Candance também retornou?

 

— Ah… mesma sala que eu lá em Amun. Tirando a casca, sua personalidade é totalmente diferente. Ah, quando voltei pro grupo da minha excursão eu avistei Tighnari, mas não tive como chegar perto e ter certeza se lembra. - ele fez uma careta. - é estranho ver ele sem orelhas de Valuka Shuna.

 

— Então ele está em Sumeru? Não me recordo de ter visto.

 

— Talvez ele seja de outra escola ou até seja mais velho que nós dessa vez. Dessa vez três de nós tem a mesma idade. 

 

— Ah, tem razão. - disse e em seguida tomei um gole do refrigerante.

 

— Lambad ainda existe?

 

— Não. Mas o Café Puspa sim, em outro local, mas a mesma família conseguiu continuar gerindo.

 

— Uau! 800 anos na mesma família!? - ele ficou surpreso. - Isso é incrível!

 

Dividimos algumas pesquisas que fizemos, tentando preencher as lacunas dos 800 anos da guerra até aqui. Não que houvesse muito a inserir, mas ajudou a melhorar um pouco nossa linha do tempo mental.

 

— E sobre Kaveh, Alhaitam? Ele realmente não tem lembranças?

 

— Não. Seu nome é Aslan, nasceu aqui mas foi criado em Espoir, a antiga Fontaine. Mas ainda há muito do Kaveh ali. Arrisco dizer que Aslan é o Kaveh sem os traumas e as culpas. Sem seu… comportamento autodestrutivo e baixa estima.

 

Senti Cyno me observar com atenção, mas eu não tinha coragem de olhar pra ele.

 

— Você o amava naquela vida, não é?

 

— Eu ainda o amo. Mas não quero ser injusto e projetar meus sentimentos por Kaveh nesse Aslan. 

 

— Mesmo se Aslan se lembrar algum dia? 

 

— Pelo bem dele, é melhor que fique assim. As dores de Kaveh eram pesadas demais e eu não quero… ver esse novo Kaveh diante de mim perder o brilho. Mesmo… mesmo que uma parte de mim seja egoísta e queira que ele se lembre de mim.

 

Senti ele pousar sua mão no meu ombro.

 

— Acho… que mesmo lembrando, mesmo tendo os sentimentos e muito da personalidade, ainda… somos também quem somos nessa vida. - ele riu - jamais poderia imaginar "Alhaitam" desabafando, mas eu consigo claramente imaginar "Zahid" o fazendo.

 

— É talvez.

 

Ele riu mais um pouco e então parou. Ficamos atento pois ouvimos passos. E antes de termos qualquer tipo de reação de fuga, diante de nós apareceu um garoto com roupas que pareciam o uniforme de uma proeminente escola de Inazuma.

 

Com exceção do que parecia uma cicatriz na bochecha, seu rosto, seu olhar…

 

— Boa noite… Alhaitam, o escriba… Cyno, o general Mahamatra. Faz séculos, literalmente. 

 

— Cara do chapéu…


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