“Posso descer? “

Eu estava falando com o ar. Literalmente. Ou comigo mesma. Ou com Peter. Ou com as paredes . Ou ...

Ah! Eu não sabia! Era muito irritante ter tantas dúvidas ao mesmo tempo!

Olhei para o chão novamente. Ele continuava distante.

- Posso descer, por favor? – perguntei em voz alta para o vento.

“Por favor”. As palavrinhas mágicas, como diziam meus pais

O solo começou a se aproximar. Estava dando certo!

Encostei  na entrada de minha casa suavemente , pousando nos degraus. E me senti imediatamente cansada. Eu tinha que ... Deitar ... Entrar ... Meu ... Quarto ...

Desmaiei.

Quanto tempo, porquê e como, eu nunca conseguiria dizer . Só sei que acordei em minha cama. De novo.

Foi real ou somente mais um sonho?

“ Foi real . “

Finalmente! Estava até estranhando sua ausência na minha cabeça!

Não obtive resposta.

Ultimamente ele estava distante ...

“Por que você não fala mais tanto comigo? E não adianta ficar quieto que eu sei que você está aí, e irei até sua casa , seja onde for . O ar sabe o lugar . E eu posso muito bem fazer chantagem . “- pensei

Como assim o ar sabia onde ficava a casa dele? De onde eu tirei isso?

Eu só sentia.

Houve uma pausa , como se Peter estivesse ao meu lado , respirando fundo . Se ele não respondesse rápido eu iria realmente à sua casa...

E eu senti como se ele reconsiderasse . Ouvi algo ... Ele tinha me permitido ouvir que .. “Não seria mal ela vir até aqui ... “

Bom . Se fosse preciso ...

Abri a janela . Respirei pesadamente .

- Por favor , me leve até a casa de Peter Fintynni . – falei ao ar .

Tudo ficou embaçado novamente . Eu estava flutuando . E parou repentinamente .

Eu me encontrava no portão de uma mansão .

Essa era a casa dele? Meu Deus!

- É até modesta ... – ouvi ele dizendo . Olhei para o lado. É lógico que ele estava lá .

Modesta ?

O terreno deveria ter cerca de três mil metros quadrados, se não mais.  A construção ocupava quase metade do espaço. A casa exibia colunas gregas e romanas para onde quer que se olhasse. As portas tinham quatro metros de altura. As janelas exibiam vitrais decorativos. A pintura era branca e havia enfeites dourados na decoração, que provavelmente seriam de ouro . O jardim tinha tantas flores que parecia ser impossível contar todas. Havia um conjunto de pequenos lagos e arvores espalhadas pelo terreno . A mansão tinha três andares. Tudo exalava um certo ar “clássico “ .

Modesta ? Muito , sabe !

- Minha nossa ... – soltei . Era impressionante .

- Quer conhecer o meu quarto ? – ele perguntou animado demais para o meu gosto .

Antes que eu pudesse negar ou dar alguma desculpa esfarrapada , ele me puxou para seu colo e disparou comigo mansão adentro .

Só tive tempo de observar que havia uma grande lareira – provavelmente duas vezes o meu tamanho – e a enorme escadaria que se tinha que subir para entrar antes que ele aumentasse a velocidade .

Chegamos a uma porta de mogno ornamental , a madeira quase brilhando de tão lustrosa.

- Senhorita ... – ele disse brincando , usando um falso sotaque francês , enquanto abria a porta.

Havia uma cama com dossel em um dos cantos do quarto . As paredes eram brancas com decorações verdes . Um carpete fofo branco cobria todo o lugar . Os móveis tinham um quê de antigo. O tamanho era pelo menos três vezes o meu quarto .

Simplesmente combinava com ele .

- O que achou ? – ele me perguntou .

- Como se você já não visse todas as minhas opiniões ... – falei distraída . Eu ainda observava cada mínimo detalhe do lugar .

Eu estava tão avoada que mal percebi quando ele fechou a porta atrás de si .

Não tinha por que temê-lo. Eu confiava nele .

- Sente-se. Ele convidou dando um tapinha no colchão. – O que você dizia sobre chantagem...?

Sentei a seu lado . Ainda estava desconcertada.

- Ah ! Isso ...

Ele chegou perto de mim , sorrindo malicioso . Não gostei .

- Isso ... ? – ele perguntou em minha orelha . Aquilo teve o efeito que ele esperava . Eu tremi.

- Bem ... – tentei começar . Mas era impossível . Ele estar tão próximo tirava minha concentração .

 - Bem o quê? – ele disse em meu pescoço . Eu já estava quase deitando de tão mole .

- Eu ...

Então ele chegou perto de minha boca . Perto , muito perto . Só havia aproximadamente um milímetro de distância entre nossos lábios .

Ele estava brincando comigo . Só podia ser .

E eu lembrei . Eu que tinha que fazer isso . Eu que tinha de tentá-lo .

Virei a cara bem na hora .

Ele me segurou pelos ombros quando tentei sair . O olhei desafiadora . Não seria tão fácil .

Ele me olhou como que me examinando , como uma cobra antes de dar um bote . Procurando os pontos fracos .

Ele não podia me pegar se eu estivesse no ar , longe da terra .

Suas mãos se afrouxaram . Ótimo .

Eu pulei .

Isso era bom .

Eu estava no ar novamente . “Longe da terra , por favor . “ . Pensei . Em um segundo eu já estava flutuando em cima do jardim dele , sem uma construção por perto .

“Desça daí !” –ouvi a voz dele em minha cabeça . Ah . Agora estávamos iguais .

Por que deveria ?

“ Eu vou te pegar !”- avisou

Tente .

“ O que eu ganho em troca ? “

Um beijo ?

“ E o que você quer ? “

Saber por que estava distante .

“O.k “

Você tem dez minutos para me pegar aqui . Caso contrário ...

“ Você vai estar me beijando antes que possa sequer falar “ar” ! “

Veremos .

Ah . Como eu amava isso !

Uma pequena competição saudável ...

Melhor do que eu esperava . Simplesmente ...

Perfeito .