A Mente escrita por Akemi Mori


Capítulo 18
Respirar


Notas iniciais do capítulo

Beleza , esse é o maior capítulo que eu já escrevi na minha vida inteira , aproveitem !



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/81065/chapter/18

Algumas garotas tinham uma vida perfeita . Líder de torcida , um guarda-roupa pra lá de variado , garotos dando cantadas a cada vez que você estava no campo de visão deles .

Isso era a vida perfeita para algumas pessoas . Fama , dinheiro e garotos . Ou garotas no caso de homens .Para outras , talvez fosse diferente . Talvez fosse algo mais fechado . Talvez quisesse apenas ter o que fazer da vida , sem chamar atenção . Famosas , mas ao mesmo tempo fechadas e misteriosas . Com um salário generoso , mas não o exibiam gastando em roupas ou imóveis caros , ou quaisquer símbolo de status que os ricos usavam para se exibir . Somente com um homem só . Essas pessoas eram mais generosas , por assim dizer . Não eram tão metidas .

Claro que também tinham as pessoas que sonhavam . Como seria bom ser famoso . Como seria bom ser rico . Como seria bom ser desejada .

Como seria . Somente devaneios que imaginavam serem impossíveis de se alcançar .

E eu ? Onde eu me encaixava nessa sociedade ? Eu nunca desejei ser famosa . Eu era atrapalhada . Nunca gostaria de ter fotógrafos ao meu lado quando eu caísse em alguma poça de lama pelo mundo . Eu nunca quis ser rica . Só queria ter o suficiente . Não me importava se o que comia era caviar ou um hambúrguer de quinta categoria , desde que fosse comestível .  Para que ter um celular que custava milhões de dólares , com internet e outras frescuras se tinha meu computador e se tudo que precisava era de um meio de me comunicar ? E , antes de conhecer Peter , eu nunca quis ser desejada .

O que eu estava dizendo ? Antes de conhecê-lo ? Nada mudou quando o conheci . Eu não queria ser desejada por ele ! Eu nunca quis !

Mas então por que esse súbito desejo de me arrumar para ir a escola amanhã ?

Não acho que seja bem dotada . Fora saber tocar ao menos um instrumento , e ter ao menos algum sucesso em matérias escolares , nunca me achei particularmente inteligente ou coisa do tipo .

Suspirei . Ultimamente eu vivia tendo tantos conflitos internos que meu cérebro poderia explodir a qualquer minuto .

Eu precisava respirar .

Não me entenda mau. Não respirar , como dizemos ... normalmente . Digo tomar um ar fresco. E eu só pensava em um local bom o suficiente para fazê-lo .

Sai de casa e fui andando inconscientemente para o local escolhido . Minha cabeça estava cheia de pensamentos .

Sempre gostei do ar . Não só porque precisávamos dele para viver . Se fosse um ser subaquático eu faria o mesmo , apesar de que talvez eu morresse se ficasse fora da água por mais de um minuto .

Era nessas horas que eu ficava feliz de ter pernas e um nariz ao invés de nadadeiras e guelras .

Não . No ar eu me sentia livre . Mais leve . Nos curtos momentos em que saltava , era revigorante sentir-me apoiada somente pelo vento . Haviam pessoas que juravam ter me visto pairar no ar por mais de minutos . Isso era um recorde . Ninguém havia conseguido tal façanha.

Talvez eu devesse ligar para algum daqueles livros de “recordes” que mais demonstravam que existiam pessoas mais malucas do que eu no mundo . Eu ganharia um bom dinheiro .

Mas como eu disse antes , eu nunca quis dinheiro. Nem fama .

Quando olhei para frente , levei alguns curtos segundos para identificar onde estava . Como eu havia conseguido chegar até lá ?

Eu pensava nisso em frente a um arco de plantas já familiar .

Mas era o lugar certo . O único lugar onde eu conseguiria respirar .

Já faziam cinco dias desde meu último contato com ele . Que fora lá . Exatamente naquela campina que se encontrava a alguns metros de mim e a uma direção que eu desconhecia .

Nos primeiros dois dias fui a escola tentando encontrá-lo . Mas ele não vinha . O motivo eu simplesmente não sabia . Mas ele não queria me ver .

E assim , comecei  a faltar nas aulas também .

Passei pelas trepadeiras levemente emocionada . Eu , de forma estranha , sentia saudades desse lugar . Mas faltava algo . Faltava a presença dele .

Mas eu estou pensando em Peter Fintynni  ! Eu jamais deveria depender de alguém , muito menos dele , para ser feliz .

Por que eu implicava tanto com o garoto afinal ? Quero dizer , tem ao menos uma pessoa no mundo que me acha bonita ou agradável , eu deveria estar feliz !

Mas eu não estou . Como eu já disse tantas vezes antes , eu não sou normal .

Observei a arvores buscando a mesma trilha invisível que ele tinha seguido . Mas eu não a encontrei .

Eu tinha que tentar a sorte .

Tentei me lembrar do caminho que ele havia percorrido . Era algo como direita , esquerda , reto e direita novamente ? Era só o que eu tinha .

Ao chegar no fim de minhas toscas lembranças e andar , percebi com um espasmo de alívio que reconhecia a planta que estava em minha frente . Havíamos passado por ela antes .

O que vinha agora ? Não sabia . Eu iria reto .

Recomecei a caminhar decidida . E parei .

Eu havia ouvido passos .

E ninguém zanzava pelo meio do mato a toa . Bem onde eu estava . Era coincidência demais.

E eu não gostava de coincidências .

Antes que meu cérebro pudesse processar o fato , havia uma mão tapando minha boca e então eu já não estava mais naquele meio de mato , mas sim na tão esperada campina .

E na minha frente estava a última e ao mesmo tempo a primeira pessoa que eu esperava ver .

Peter Fintynni .

Óbvio .

- Você tem idéia do que anda por aqui ? Você é louca por acaso ? Aqui tem criaturas que fazem seus pesadelos parecerem contos de fada ! Você quer morrer ? Então fale para a Morte de uma vez ! É melhor do que se arriscar aqui ! – Ele ralhou

Senti o chão fugindo de mim . Como ele podia ter falado aquilo ?  Como ele podia ter sequer pensado nisso ? Por que ele estava assim ?

Antes que eu pudesse me dar conta , já havia começado a pegar meus pulsos e bater com o máximo de minha força em seu peitoral musculoso , com lágrimas saltando de meus olhos .

Eu era uma chorona . Eu era um fraca .

Ele arregalou os olhos , mas neles não haviam nenhum vestígio de dor . Cerrei os dentes . Eu queria que ele sofresse . Que ele soubesse o quanto aquelas palavras haviam me magoado . Que ele soubesse como fiquei desolada ao senti-lo querer se afastar de mim nos últimos cinco dias .

E não ia ser com a leitura de pensamentos dele .

Virei as costas e comecei a correr , mas ele devia ser muito rápido , porque assim que fiz a menção de sair de lá , ele estava na minha frente e com a expressão séria . Vendo que não havia como escapar dele , me joguei no chão e encarei a terra .

- Se eu quisesse morrer era só enfiar uma faca em meu coração . Se você queria tanto que eu morresse por que existe para começo de conversa ? Como eu havia dito antes , sem você eu morreria . Isso te pouparia de muito trabalho . – eu falei em meio a meu choro sofrido .

Eu havia sido cruel , mas ele também . Não pude ver se minhas palavras o haviam magoado , só sei que tudo permaneceu quieto . Intensamente quieto .

Eu esperei os tapas . Esperei os socos nas costas e os gritos  . Esperei o pior . E ele não veio .

O que veio foi um garoto loiro de olhos azuis como o céu me pegando no colo e me guiando em direção ao lago .

Ele se sentou na borda , mas não me tirou de seu colo . E eu não queria sair . Era confortável . Eu sabia , de alguma forma , que essa era a maneira dele de pedir desculpas .

E qual era a minha ?

Pensei no que mais odiava fazer . No que mais odiava admitir . Que eu gostava dos beijos dele . Que eu simplesmente amava o jeito que ele me fazia sentir .

Bom , era um pedido de desculpas , não era ?

Coloquei meus braços ao redor de seu pescoço , temerosa de ser afastada com um soco e jogada no lago , mas tentando ter coragem . Sem ser repelida , subi minhas mãos até seu cabelo .

Eu detestava romance , mas aquilo não me parecia romance . Eu sabia que ali existia um clima , mas eu não iria quebrá-lo . Não quando tanta coisa dependia dele .

Acariciei seus cabelos e , soltando um suspiro , olhei em seus olhos . Ele me encarava sem demonstrar nenhuma expressão , sem incentivo algum . Não parei o cafuné . Lentamente , aproximei meu lábios dos seus . Nunca havia beijado ninguém . Era ele quem sempre começava .

Dessa vez era a minha hora de comandar .

Encostei minha boca na sua , começando o beijo . Tímida e lentamente , minha língua pediu permissão para seus lábios imóveis . Ele deu .

E eu estava deitada na grama dando o melhor beijo da minha vida .

Ele parecia ter ganhado vida. Nossas bocas moviam-se em sincronia , como em uma dança . E , pela primeira vez , ou segunda , eu realmente não me lembrava , odiei o ar por me fazer depender tanto dele .

Eu estava ofegante e Peter também . Minhas roupas estavam amassadas e o cabelos dele bagunçado . Nossas bocas estavam vermelhas .

E pensar que eu só havia vindo ali para respirar .

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu odeio coisas melosas , mas eu não odeio garotos . Nem beijos . Para falar a verdade , eu amo essas duas coisas
...
REVIEWS PRO MAIOR CAP DA MINHA VIDA ! ( é algo histórico gente )



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Mente" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.