A Mente escrita por Akemi Mori


Capítulo 1
Loucura




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– Quer mais ?

Esse era Diego. Estávamos em uma festa e eu já tinha perdido a conta de quantos litros de álcool havia ingerido. Meu amigo segurava duas garrafas, e o movimento indicava que logo uma delas estaria em minhas mãos. Eu deveria chegar em casa dez horas, e meu relógio indicava quatro da manhã. Mas eu não ligava pra isso, ligava? Afinal, eu sempre fui... Como é que dizem...?

Rebelde .

Peguei mais uma cerveja e entornei todo seu conteúdo em minha boca. Desconfortável. Minha garganta ardia.

Sentia minhas roupas coladas em cada parte de meu corpo, tamanho era meu suor. Realmente irritante. Uma música alta soava, marcando suas batidas contínuas e enjoativas.

– Vamos? – o som vagamente familiar saiu de minha boca. A sonoridade estava distorcida e instável, e Diego tinha notado isso.

– Pra onde, gata? – respondeu, frisando o “elogio” com um olhar irônico e malicioso – Pro quarto?

– Vamos... – comecei, e o mundo começou a girar. Ou seria eu que girava no mundo? – Para... Casa...

– Relaxa... Gata. Espera só um pouquinho...

Deu um sorriso amarelo e se aproximou. Rápido como um raio, ou ao menos aos meus olhos bêbados, assim pareceu. Atrás de mim, intensamente próximo, pele roçando com pele... Uma de suas mãos deslizou até minha cintura, enquanto a outra se ocupava em me puxar para trás, deixando meu pescoço exposto. Pescoço que, lentamente, começou a receber pequenos beijos...

Crac.

O que...? Quem...? Quando... Quando diabos virei alguém assim? Alguém que se deixa ser usada, alguém que bebe sem pensar nas consequências, alguém que corre riscos por causa de festas? Alguém fácil?

Não. Eu não tinha mudado.

Era só efeito do maldito álcool.

As mãos de Diego estavam perigosamente próximas de lugar não autorizados.

Paf!

E, em seguida, uma marca de mão bem definida estava gravada em sua pele.

– Ah, qual é... – reclamou, enquanto esfregava o rosto vermelho – Você bem que estava gostando...

Sabia que a frase teria continuação, mas não fiquei para ouví-la. As portas da boate estavam ao longe, mas minhas agora sóbrias pernas poderiam alcança-las antes que alguém me parasse.

Saí no ar frio da madrugada.

Ao longe, no horizonte, um sol alaranjado saudava-me, criando um efeito estranho na densa neblina que cobria o local.

“Onde... Está o meu carro?”

Minha vista embaçada procurava desesperadamente pelo velho ponto carmim familiar, o veículo que eu tanto estimava. E lá estava ele, parado a uma quadra de distância, parecendo incrivelmente distante.

Em passos inseguros e instáveis, arrisquei-me numa pequena corrida até meu porto seguro.

“Onde está minha chave?”

Pânico. Tateei meus bolsos, enquanto tentava desesperadamente me lembrar das mãos que me tocaram naquela noite. Alguma delas havia passado do limite estabelecido a ponto de roubar aquele pedaço de metal?

Olhei em volta, a procura de um verdadeiro milagre. Avistei um brilho prateado ao longe. “Obrigado!”, pensei com meus botões. Sim, eu tinha apenas esquecido as chaves do outro lado da rua.

Por que minhas chaves estavam na mão de uma pessoa?

Por que minhas chaves emitiam um brilho prateado tão maléfico e assustador?

Por que minhas chaves não tinham mais o formato de chaves?

Minhas chaves eram uma arma.

Estalo. Súbito e ressonante em minha cabeça.

E então, ensurdecedor, o som de um coração pulsante, desesperado, temeroso e assustado soou.

Meu coração.

Tu-dum. Tu-dum. Como que para deixar o alvo de meu predador mais evidente. O suor da balada misturou-se com outro que nada tinha a ver com cansaço. Minhas mãos tremiam e em algum lugar imundo e rastejante de minha cabeça eu ainda me perguntava o que tinha acontecido com minhas chaves.

“Você vai morrer” – disse para mim mesma. “E vai morrer sem saber onde as malditas chaves foram parar.”

O vulto, portador do brilho “prateado-que-não-eram-chaves”, avançou na escuridão repentina que se fez. Até o sol, aquele sol alaranjado que antes me saudava tão gentilmente, agora se escondia, covarde, nas sombras.

Começou a chover.

Densa. Gelada. Cortante. Uma água que sufocava, em meio de raios e trovões, lentamente, transformando a antes relaxante atmosfera em algo...

Mortal.

Senti uma presença perto de mim. Os olhos embriagados, somados com a tempestade, causavam uma cegueira revoltante. E então, repentino, uma voz sombria, fria e oca se fez por ouvir:

Dê-me.

“ Dar o que ? “– pensei . As chaves? Elas já estavam perdidas há muito.

– Não está comigo! – berrei para escuridão.

– Me devolva !- a voz ordenou novamente .

– Devolver o que?

Uma explosão. Cheiro de pólvora.

Uma dor crescente em minha mão. No dedão direito, para ser clara. Uma lâmina havia perfurado a carne.

Uma lâmina, não uma bala.

A sua....

Crec.

A escuridão desapareceu.

Tons pastéis familiares me saudaram.

Meu quarto.

Sorri bobamente comigo mesma. “Há! Claro! Um sonho. Nada além de um sonho.”

Dor.

Por que meus lençóis estavam vermelhos?

Meu dedo sangrava.



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Notas finais do capítulo

Kyaa desu, capítulo parcialmente reescrito, os erros de português estavam gritantes.
E, opiniões por MP's, devo mudar os nomes dos personagens? Olhando agora me parecem tão...
Comuns.