Soldados sem Rostos escrita por Jupiter vas Normandy


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu de novo com fanfic de jogo ^^



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Tanta tecnologia e acabamos novamente em uma guerra de trincheiras. Os Reapers nos tiraram tudo e nos fizeram voltar três séculos no tempo, deitados na terra, pernas quase enterradas nos escombros da civilização. Soldados gritam ao meu lado, o major tenta fazer suas ordens serem ouvidas, mas o som dos disparos é a única coisa que ouço, até o ponto em que nem sei mais se ainda consigo ouvir. Nem mesmo as balas possuem som.

Não era para ser assim.

O pilar de concreto reverbera às minhas costas com o impacto das balas, o peso confortável do rifle de assalto em minhas mãos, e não consigo sentir medo. Vejo uma onda de husks invadindo as barricadas, suas formas humanas distorcidas com nanocibernéticos que os tornam peões sem alma da ameaça que unira todos os povos da galáxia inteira num último ato de desespero... e não sinto nada. Quando as portas se abrem e descemos dos transportes para o combate em terra, dois soldados caem já mortos por disparos inimigos, mas decido em um centésimo de segundo que a morte de soldados sem rosto não me afeta, e meu corpo se move por vontade própria, resistindo onda contra onda das forças inimigas, como se não tivesse passado meus últimos dez anos na companhia dos agora mortos. O disparo de um marauder estoura a cabeça do soldado na minha frente, rompendo o capacete armadurado como se não fosse nada, e, também como se não fosse nada, passo por cima de seu corpo jorrando sangue e carne dilacerada, e finalizo a escravidão pós-morte que os Reapers impuseram àquele turian corrompido, percebendo que estou mais perto de ter empatia pela coisa que segurava a arma do que pelo humano vitimado por ela.

A percepção chega até mim como uma mera anotação, sem causar emoção alguma, boa ou ruim. Não era assim que era para ser. Em defesa da humanidade e de toda a vida orgânica, eu achei que passaria meus últimos minutos sendo humano. Mas talvez eu não seja mais capaz de sentir, pelo menos não nesse pequeno instante de tempo eterno. Nesse momento, talvez a única diferença entre mim e os Reapers é que perdi minha humanidade ao me defender.

O ruído de transportes hipersônicos trazendo mais soldados quase me faz cobrir os ouvidos, é insuportável. Todos os sons são insuportáveis. Tiros, gritos, explosões, e anseio novamente pela surdez. Sem perceber meus movimentos, já havia tirado o capacete e tinha a arma em riste, sem alvo algum em mente e minha mão no gatilho, buscando o silêncio que um disparo tão próximo me proporcionaria. Mas recobro a razão um instante antes de disparar, vendo husks escalando os blocos de prédios derrubados tentando me alcançar. Reajo com retardo e não consigo mirar, então, sem pensar, chuto o corpo de um soldado sem rosto na direção da criatura, o que me dá tempo o bastante para apontar a arma e atirar. Um segundo husk agarra minha perna e me derruba, a arma escapando das minhas mãos, mas escapo pelo disparo certeiro de uma asari que cai em seguida, sem que eu saiba o que a atingiu.

Os prédios não existem mais, a área aberta permitindo a visão do que estávamos realmente combatendo. Um Reaper destroyer de 200 metros, uma praga mecânica andando sobre a Terra, disparando um raio vermelho de seu centro, derrubando naves de todos os aliados humanos e não humanos envolvidos naquela guerra. Seus movimentos eram lentos, mas conforme ele se virava, não consegui correr. Sussurros e palavras rastejam dos cantos escuros daquelas ruínas, histórias inacabadas. Não sei pelo que estou lutando. Não sei como ainda estou de pé, e, no momento seguinte, não estou mais; a exaustão me faz cair de joelhos. Os sussurros são mais altos que as explosões, é a “doutrinação” inserindo pensamentos de desistência.

Mas não é necessário, já desisti. Pela primeira vez, olho para um dos soldados sem rosto e me permito reconhecer que ele tinha sido uma pessoa. O reflexo de um rosto no visor espelhado de seu capacete.

O calor cresce, o raio do Reaper prester a me apagar da existência tão facilmente quanto levara bilhões de outros de cada espécie, e entendo porque evitei tanto olhar para os soldados.

Com o último disparo, o rosto que eu via em cada corpo era o meu.


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