Nova Jersey, uma terra de contrastes e histórias entrelaçadas, a cidade, com seus arranha-céus imponentes e subúrbios pitorescos, parecia ser o microcosmo perfeito para a vida dos adolescentes. À medida que o sol se punha, as luzes da cidade ganhavam vida, e as ruas movimentadas vibravam com a energia inquietante da juventude.

O Colégio Liberty High erguia-se imponente no coração da cidade. Suas paredes de tijolos tinham visto décadas de adolescentes entrando e saindo, cada um carregando suas próprias esperanças e tormentos. Era um lugar onde a hierarquia social estava escrita nas paredes, onde os corredores eram palco de dramas adolescentes que podiam rivalizar com qualquer novela.

As aflições dos jovens eram evidentes nas entrelinhas daquele lugar. A pressão acadêmica era sufocante, os corredores eram campos minados de fofocas e rivalidades, e as expectativas dos pais pesavam como uma âncora nas costas de muitos estudantes. Não era fácil para ninguém, todos ali tinham suas próprias e tumultuadas batalhas internas. 

Era uma tarde como tantas outras no campo de treinamento das cheerleaders do Liberty High. Os jogos importantes da temporada estavam se aproximando, e as garotas desempenhavam um papel crucial no espetáculo. Maddison, a líder da equipe e a morena era conhecida por sua personalidade mimada e avessa à contrariedade, Maddison era basicamente uma deusa no colégio. Bajulada por seus seguidores e má com qualquer um que fugisse de seus padrões.

Íris, por sua vez, não havia conquistado sua vaga no esquadrão de líderes de torcida por ser popular. Ela estava lá por seu talento atlético e habilidades como ginasta. Sua ascensão à posição de cheerleader  tinha sido uma batalha árdua, uma luta que só foi possível graças à persistência incansável de sua professora, que não se curvava às vontades de Maddison.

Enquanto as garotas se esforçavam mais uma vez na coreografia, os garotos do time de futebol descansavam no campo. Eles haviam encerrado o treino intenso sob sol forte, repondo suas energias com isotônicos enquanto observavam as cheerleaders à distância.

Quando Maddison finalmente se deu por satisfeita com o treino, se despediu das garotas e caminhou em direção aos jogadores. O capitão do time, Peter Wentz, era seu namorado, e ela não perdia a oportunidade de mostrar sua influência sobre ele, uma dinâmica que criava tensões perceptíveis no campo.

“Olha aqueles fracassados.” Peter apontou para três garotos na arquibancada que pareciam absortos na leitura de quadrinhos. “São patéticos.” 

“Argh, são uns imbecis.” Maddison concordou observando a direção que seu namorado apontava. “Saber que um deles é ex de uma das garotas é repugnante.” Maddison observou Íris que ainda recolhia sua mochila. 

“ Faz tempo que não zoamos com eles.” Peter tinha um sorriso perverso no rosto.

 “No que você está pensando?” Maddison riu, parecendo se divertir. 

“Você vai ver.” Peter deu um beijo nos lábios da garota. 

As aulas da tarde se arrastavam, e Iris ansiava pelo fim do período. Tudo o que desejava era voltar para sua cama, afundar em seu colchão e se perder enquanto ouvia música. Ela vagava pelos corredores da escola com o passe para ir ao banheiro, tentando fazer com que a aula tediosa de história acabasse rápidamente, a garota estava absorta em seus pensamentos, até que de repente, uma cena lastimável a tirou de sua letargia.

Peter e outros jogadores de futebol seguravam Gerard pelo pescoço, forçando-o a beber um líquido amarelado. A indignação tomou conta de Iris, e ela não hesitou em intervir.

"Hey, parem com isso!" A garota esbravejou avançando na direção deles. "Que droga é essa?"

Sua fala indignada chamou a atenção de um professor que passava pelo corredor oposto, e o homem pareceu irritado ao observar a cena. Os garotos soltaram Gerard, e um odor desagradável de urina permeava o ambiente.

"Para a direção, agora!" O adulto usou um tom autoritário, sem esperar por explicações. "E você, vá para a enfermaria." Ele lançou um olhar enojado para Gerard.

O garoto estava vermelho e ofegante, e acabou vomitando ali mesmo no corredor, parte de seu vômito atingindo os pés de Peter, que tentou agredi-lo novamente. O professor rapidamente interveio, enquanto Peter lançava um olhar cheio de rancor para Íris.

"Ei, você está bem?" Íris se aproximou, colocando a mão no ombro do garoto que tentava em vão se recompor. A camisa do garoto exalava o cheiro desagradável de urina. "Isso não está certo."

"Eles vão me matar" Gerard, estava com a voz rouca.

"Venha comigo, eu posso conseguir uma camisa nova para você, e o vestiário a essa hora estará vazio. Você pode tomar um banho", sugeriu Íris, mantendo um tom calmo. "Deveriamos levar isso a direção. "

"Eles nunca fazem nada, é perda de tempo. Por favor, não conte a ninguém o que você viu." Gerard murmurou se apoiando no armário atrás de si.

"Não se preocupe." Íris sorriu timidamente, enquanto acompanhava o garoto até o vestiário.

“Achei que você não andasse com fracassados.” Frank se aproximou de Íris que segurava uma camisa limpa para Gerard em frente ao vestiário. 

“Isso não tem graça, Frank.” Iris entregou a camisa ao garoto. “Você sabe que eu sou uma de vocês, a diferença e que tenho um laço estúpido no cabelo.” 

“Eu te conheço loirinha, eu já fui seu namorado e alias meus pais convidaram os seus para um churrasco no domingo.” Frank sorriu. 

“Ah não.” Iris sorriu. “ Nossos pais não superaram o nosso término.” 

“Eu que o diga, nenhuma garota chegou nem perto.” Frank notou o olhar de surpresa de Íris. “Quero dizer, de acordo com a visão dos meus pais.” 

“Okay, se você diz.” Iris observou o garoto em sua frente, ainda nutria sentimentos por ele, mas o destino quisera que eles tomassem rumos diferentes, logo no primeiro mês do colegial. Às vezes a garota sentia como se só a amizade dele não fosse o suficiente. “Entrega essa camisa para o Gerard, ele precisa de apoio a gangue de Peter atacou novamente. Não faça ele falar sobre, foi terrível.”

Frank concordou, fez um aceno para a garota e adentrou o vestiário munico com a camisa branca com a logo do colegio. Peter acabou sendo punido com algumas semanas de castigo e suspensão dos três próximos jogos que por sinal, eram os mais importantes para que o time conseguisse alcançar as primeiras posições no campeonato, ele andava pelos corredores possesso. Íris guardava seus livros em seu armário, estava distraída e se assustou com a chegada do garoto que bateu com força a porta de metal chamando a atenção de todos no corredor.

“Você fodeu comigo e eu vou retribuir o favor.” O garoto encarava a loira que se encolheu. “Você quer defender fracassados, você vai se juntar a eles.”

O garoto saiu bufando, deixando todos os presentes curiosos sobre aquela cena, Íris respirou fundo e sabia que coisas ruins aconteceriam. A garota soltou o ar devagar, era sexta feira, com muita sorte na segunda tudo ficaria bem. A loira duvidava de seus próprios pensamentos, mas o que ela poderia fazer a não ser pensar positivo?

Íris seguiu para sua casa, com fones de ouvido, viu de longe o grupo de jogadores e cheerleaders reunidos, apressou o passo, afinal não esperava que fosse bem recebida pelo grupo, silenciosamente a garota desejou que a segunda-feira nunca chegasse. Em casa, como nos outros dias, jantou com seus pais e se afundou em seu colchão, ouvindo os rocks que lhe faziam bem. 

No domingo na companhia de seus pais ao churrasco na casa de Frank, foram muito bem recebidos, como sempre, o almoço estava dividido e o cheiro da carne maravilhoso. Depois de se fartar de comida, os adultos foram para sala beber alguns drinks e contar histórias do passado, afinal eram amigos de longa data, Íris seguiu frank até o quarto do garoto a fim de matar o tempo, como a tempo não faziam.

“Vejo que você continua desenhando.” a loira observou alguns papéis sobre a escrivaninha do garoto, reparou em um em particular, era um retrato seu, feito com caneta, ela estava em uma das poses vestida de cheerleader. “E essa sou eu.” A garota sorriu.

“Não, mecha nisso, ainda não esta pronto…” 

“E não sou eu?” 

“Sim e você, eu só estava treinando esse tipo de traço e…”

“Ei, está tudo bem.” Íris sorriu para Frank. “Eu sei que sou inspiradora.” 

“Eu sinto sua falta.” Frank disse por fim se recostando em sua escrivaninha e observando a garota. 

“Também sinto saudades.”

“Eu nem me lembro porque terminamos.” Frank soltou um suspiro pesado. 

Os jovens permaneceram em silêncio por um momento, deixando as lembranças fluírem entre eles. As sombras do passado pareciam se dissipar, enquanto a atmosfera no quarto se tornava mais leve. A garota se aproximou e depositou um beijo suave nos lábios do garoto de olhos verdes que correspondeu, colocou suas mãos em sua cintura e depois a afastou. 

“Não, Íris.” Frank respirou fundo. “Nós terminamos, não é certo.” 

"Tudo bem, me desculpe", murmurou Íris, dando um passo para trás. O clima naquele momento era tão denso que podia ser sentido no ar. A tensão entre eles era palpável. 

"Eu soube que Peter foi atrás de você", Frank quebrou o silêncio. "Isso não pode ser uma boa notícia."

"Nem me fale sobre isso", respondeu Íris, visivelmente preocupada. "Ele está de castigo e vai perder alguns jogos. Peter está absolutamente furioso. Se dependesse de mim, eu nem voltaria à escola este ano." Íris sentou-se na cama e Frank juntou-se a ela. 

“Você pode contar comigo.” Frank se recostou em seu ombro.

“Eu sei que sim.” Íris sorriu e afagou os cabelos rebeldes do garoto de olhos verdes.

Íris não poderia imaginar em seus piores pesadelos o que a esperava na escola naquela segunda feira de céu azul. A certa distância, ela notou o aglomerado de estudantes, formando grupos e rindo enquanto olhavam alguns panfletos. Quando Íris se aproximou, uma sensação avassaladora de choque a invadiu. Ela pegou um dos panfletos do chão e seus olhos se arregalaram de surpresa e descrença ao ver seu próprio rosto ali, em uma pose sensual, mas com um corpo que não era o seu. Tinham manipulado uma de suas fotos, transformando-a em uma líder de torcida em uma posição comprometedora.

Conforme os outros alunos perceberam a presença de Íris, começaram a apontar e rir da humilhação da garota. O coração de Íris afundou, enquanto ela lutava para conter as lágrimas de despero. O diretor apareceu para saber do que se tratava aquela confusão e qual foi a surpresa de ver o rosto de uma das melhores alunas em uma cena tão degradante. Foi mandado que todo aquele material fosse recolhido, Íris foi conduzida a sala do diretor para explicar o ocorrido.

Seu celular não parava, afinal embaixo da foto, havia seu número de telefone oferecendo uma noite de prazer. A garota apenas sentou na cadeira da diretoria e chorou, nunca havia se sentido tão constrangida e tão exposta mesmo que aquele corpo não fosse o seu. Ela sabia que se falasse sobre o assunto as coisas ficariam piores, ela apenas seguiu dizendo ao diretor que não sabia o que havia ocorrido e o adulto usou os auto falantes da escola para fazer uma campanha antibullying. Não fariam nada por ela.

A escola não ajudava, os adultos não ligavam. Logo que o intervalo chegou, Íris se enfiou em uma das salas do teatro, ninguém ia ali e acabou se tornando um refúgio quando ela precisava de paz. A garota apenas se sentou e esperou que o tempo passasse, ela não estava disposta a voltar para sala de aula e encarar todos aqueles olhares, as risadas e os comentários. Ela havia desligado seu celular e apenas queria que o tempo corresse. Peter havia retribuído e a loira sabia que não havia acabado. 

Frank rompeu o silêncio da pequena sala. 

“Sabia que eu te encontraria aqui.” Aquele belo par de olhos verdes se aproximou da garota. 

“Você viu, não é?” Iris choramingou. 

“Sim, mas eu sei que é uma foto manipulada.” Frank passou o braço ao redor de seus ombros tentando consolá-la. “Não se preocupe, vão esquecer disso em breve. Alguém vai ser o próximo alvo e vão te deixar em paz, mas se você continuar aqui as coisas não vão melhorar.”

Íris chorou por um longo tempo, havia um misto de sensações difícil de descrever. Beirava ao ódio, havia uma grande dose de constrangida e uma parcela de impotência. A garota se sentia uma covarde por se esconder e depois de mais algum apoio de Frank a loira se pôs de pé.

Talvez encarar o problema de frente fizesse com que ele parecesse menor, Íris foi em direção ao refeitório, ouviu sussurros, risadinhas, mas mesmo assim caminhou confiante, mesmo que fosse apenas uma encenação. Frank permaneceu ao seu lado, em silêncio, mas sua presença aquela altura já era suficiente. 

Antes que a loira pudesse se servir de uma caixinha de suco, Maddison atravessou o seu caminho. 

“Gostou da surpresa?” A garota sorria e observava Íris com um olhar de superioridade. 

“Não me surpreendeu.” a loira retrucou, tentando ao máximo não deixar transparecer sua fragilidade diante da situação. 

“Deixe ela em paz.” Frank interviu. 

Maddison desafiou o garoto com um olhar desdenhoso. "Ou o que?" Ela repetiu com sarcasmo. "Vocês realmente se completam, o casal de aberrações", continuou a provocação com um sorriso que denotava diversão.

A tensão no refeitório estava palpável, enquanto outros estudantes observavam a situação com curiosidade e cochichavam entre si. Não havia nada que chamasse mais a atenção do que uma briga entre garotas, especialmente se envolvesse alguma das líderes de torcida. Íris, sentindo a pressão da situação, agarrou o braço de Frank e o puxou para longe dali. Ela sabia que não precisava de mais um espetáculo naquele dia, mas sim de um momento para recuperar o fôlego.