O frio invadiu o que chamam de coração, rachando-o ao meio quando você se foi. E o que aconteceu contigo? Por que isso aconteceu conosco se sempre fomos o nós em primeiro lugar? 

O problema deve ser comigo, por conta de coisas fúteis, como os sentimentos. Eu nem deveria sentir essas coisas que são tão… Humanas, mas quem liga para isso? Eu não sou mais um anjo, muito menos um demônio… Sou apenas o seu amigo Crowley… Ou achava que era importante o suficiente para ser chamado assim.

Afinal, é tão ruim possuir sentimentos assim por você? Se respondesse que sim, eu estaria mentindo porque a única coisa perfeita lá de cima era justamente você! Por isso superei quando fui expulso do famoso céu, por isso não me importei em te ajudar, perdendo meu cargo lá debaixo. Contando que continuássemos com nossa parceria, para mim era mais do que suficiente.

Vê-lo ir embora após me declarar foi uma tortura grande. Por que não entendeu como me sentia? Por que não percebe que “lá em cima” não vai mudar, se as regras são as mesmas? Se você não estava de acordo antes, por que acha que as coisas mudariam justo agora?

Nós estávamos tão bem vivendo nossas vidas sem nos preocuparmos com isso e mais! Poderíamos escolher viver como o Gabriel e Belzebu, longe de todas essas regras idiotas que só nos causaram problemas, no entanto, você é inocente demais para perceber a manipulação por trás dessa grande promoção.

Agora me sinto solitário e não ouço o cantar do rouxinol… Imagino que você também não, Aziraphale. Se a vida é tão bela como você mencionava dos livros que lia, nas músicas clássicas ou em qualquer outro lugar, por que me sinto infeliz? Aquela droga de… Livraria era o seu mundinho pessoal e eu adorava invadi-lo e ouvir sobre coisas aleatórias que te faziam bem.

Você se foi não tem muito tempo e eu sinto falta dos seus olhos bonitos, dos cachos de anjo, da vestimenta tão característica de um momento de parceria significativa e mais! Lembro do nosso beijo, do seu espanto ao ouvir as minhas palavras e… Do seu sabor doce de bolachinhas de groselha, do seu cheiro de chá quente, das suas mãos delicadas segurando com desespero o meu corpo próximo de si.

Se eu pudesse voltar no tempo, teria me declarado antes, teria entendido que o que tínhamos era muito mais do que uma parceria de amigos de longa data. Quem sabe assim eu teria tido tempo de convencê-lo a continuar ao meu lado. Eu odiaria amar viver naquela livraria onde não vendemos nenhum livro, mas ficávamos no nosso mundinho pessoal. Era como se tivéssemos sido criados para permanecer ali desde sempre.

Onde você está, Aziraphale? Por que não volta logo, diz que estava errado. Não seria a primeira vez que te veria pedir desculpas ou fazer aquela dancinha ridícula. Eu nem me importaria se não dançasse, contando que retornasse para aquele céu só nosso.

O que devo fazer agora? Respeitar sua decisão errada de seguir o sonho de tentar mudar o imutável, ou devo fazer um escarcéu, buscando-o para viver comigo? Reivindicando o que é meu de direito? Eu sei que você pertence a mim, como eu pertenço a você.

Você está bem? Está feliz aí em cima? Se me disser que sim, eu… Devo aceitar. Nada mais…

Então me diga, anjo… Isso é um adeus ou um até breve?

 “Crazy 'bout his angeleyes, angeleyes

He took my heart and now I pay the price

Look into his angeleyes, you'll think you're in paradise

And one day you'll find out he wears a disguise

Don't look too deep into those angeleyes

Oh, no, no, no, no”