Era um sábado e o sol iluminava o orvalho da noite anterior nos jardins do insituto. Já era pouco mais de dez horas da manhã quando Logan foi ao encontro de Marie.
Em seus trajes convecionais e preferidos, uma calça jeans, camiseta branca e uma jaqueta de couro marron com três listras laranjas em cada uma das mangas, o anjo protetor de Marie bateu em sua porta.
Logan: - Marie? Posso entrar?
Marie não respondia.
Logan: - Guria? Você está aí?
Marie continuava a não responder.
Subitamente, Logan foi tomado por um sentimento ruim, um medo de que algo pudesse ter acontecido. Ele já havia procurado a menina pelos corredores da mansão e também nas dependências externas. Bobby não estava com ela, pois ele o avistara praticando esportes na área externa da mansão com outros rapazes. O único lugar possível no qual Marie poderia estar era em seu próprio quarto. Então por que, ao bater, ela não respondia? Outras vezes, movida pela intensa vontade de se livrar de seus poderes, Marie já havia deixado a mansão. Mas logo arrependeu-se e retornou. Será que ela novamente havia partido?
Logan resolveu entrar. A porta estava destrancada. Imediatamente ele ouviu o som das gotas de água da ducha do chuveiro caindo ao chão. E, no mesmo instante, todo aquele medo, aquele sentimento de perda, foi embora.
Ela estava no banho e não ouviu Logan à porta. No quarto, Logan sentiu-se aliviado e, ao mesmo tempo, um novo sentimento estava surgindo naquele tipo lenhador de 1,88m.
Ele nunca havia entrado no quarto de Marie e notou que a personalidade dela estava presente em cada centímetro daquele lugar. Era um quarto simples, mas fiel aos ideais de uma garota de 21 anos. Logan viu sobre a cama as roupas que Marie havia separado para vestir-se logo após seu banho, depois numa meia volta avistou os penduricalhos nas paredes, as fotos dos porta-retratos, os ursos de pelúcia sobre o tapete próximo à janela que tinha uma cortina de renda branca e que se abria para a vista de parte dos jardins onde se exibiam flores de todas as cores, tamanhos e formas. Era tão aconchegante e acolhedor aquele recinto à meia luz do abajur provençal que, sobre a mesa de cabeceira, lumiava todo o quarto!
Logan sentiu uma tentadora vontade de permanecer ali, mas sua consciência voltara num instante e, então, ele preferiu sair para não causar um mal entendido quando a garota saísse do banho. Mas aquele instante observando os objetos, a disposição de cada coisa naquele quarto, as roupas de Marie sobre a cama despertaram em Logan a mesma sensação que ele tinha com o lobo branco, aquele dos seus sonhos. Uma calmaria, uma paz interior e uma vontade de obter mais daquilo para ele, de tornar aquilo, seja lá o que fosse, acessível e disponível para ele o tempo todo.
Alguns minutos após, Marie saiu do banho e notou um perfume forte e agradável em seu quarto. Era inconfundível. O perfume de Logan. Ele não era o tipo perfumado o tempo todo, mas ela lembrava que em ocasiões especiais ele ousava usar um perfume bastante marcante tal qual a personalidade dele. Imediatamente Rogue ficou ruborizada. Seu rosto aqueceu ligeiramente.
Rogue: - Logan esteve aqui! Acho que ele veio me buscar!
Fazia muito tempo que os dois não tinham um momento a sós como haveria de ser naquele passeio. Da última vez, o mais a sós que eles estiveram foi quando ele a salvou de Magneto no campo de energia, na estátua da liberdade.
Marie tratou de arrumar-se rapidamente, mas sem deixar o capricho nos detalhes de lado.
Quando conheceu Logan, Marie era do tipo rebelde, com roupas típicas de uma jovem adolescente de pouco mais de 16 anos. O visual dela resumia-se a não mais que uma camiseta preta de mangas compridas sobreposta por uma camiseta verde escuro de mangas curtas e uma calça jeans preta, justa ao corpo. Ela sempre costumou usar botas de cano baixo, estilo coturno.
Mas agora, com 21 anos, ela era outra garota! Mais inclinada ao estilo romântico e sempre usando muita renda e tecidos leves, mantinha seus cabelos sempre bem penteados e soltos, em um coque ligeiramente bagunçado ou presos em um alinhado "rabo de cavalo". Sua inconfundível mecha branca sempre era destaque sobre seu rosto pálido. Seus sapatos, agora, eram sandálias ou sapatilhas delicadas, de cores neutras.
Ela era uma garota de pouca maquiagem. Muito discreta, no dia a dia gostava de realçar os olhos com um bom delineador e não mais que um brilho quase incolor nos lábios. Mas sua beleza e viço juvenil a dispensava de usar truques de correção da pele. Por onde passava, deixava um rastro de um perfume que misturava jacinto e madressilva, lírio e jasmin.
Rogue havia se desenvolvido naqueles últimos cinco anos. Era esguia, uma mulher de traços finos e elegantes, mas de pouca estatura. Não media mais que 1,65m. Mas chamava atenção por onde passava tanto pelo temor que causava nos colegas em decorrência de seus poderes quanto pelo porte e beleza, agora, dignas de uma miss.
Em alguns minutos a jovem já estava pronta para o encontro com seu querido amigo Logan. Agora ela trajava uma blusa brança de alças finas com detalhes de renda chantily que arrematavam todo o colo e uma calça jeans azul claro cuja barra terminava pouco acima da canela. Um colar extremamente discreto como um singelo cordão dourado ao pescoço em conjunto com um pingente que lembrava uma lágrima, de cor púrpura. Os cabelos estavam presos em um coque frouxo e alguns fios de cabelo soltos caiam suavizando mais a aparência da menina. Nos pés, um tenis casual branco e nas costas uma pequena mochila azul claro. Estava demasiadamente romântica e elegante, um tanto destoante de Logan.
Rogue saiu pelos corredores da mansão à procura de Logan até que encontrou Ororo.
Ororo: - Rogue! Está melhor? O que exatamente houve com você?
Rogue: - Tempestade! Sim, eu não me senti muito bem hoje. Creio que meus hormônios estejam um pouco descontrolados. Acho que você me entende...
Mais uma vez Rogue omitiu a verdade sobre os fatos.
Ororo: - Tudo bem. Mas vejo que está linda agora! Bem arrumada, me parece até que com um brilho pessoal especial. Fico feliz por você!
Rogue: - Gentileza sua. Eu e Logan vamos sair para nos divertir e nos distrair um pouco. Faz muito tempo que não conversamos como bons amigos que somos.
Ororo: - Querida, não me dê explicações. Você e Logan tem uma relação especialmente afetuosa e devem cultivá-la com muito carinho. Não é qualquer um que faz o grandalhão suavizar as expressões da face como você faz. Ele realmente lhe tem muito apreço! Bem, aproveitem o dia!
Rogue sorriu timidamente, levemente ruborizada. Ororo prosseguiu.
Ororo: - Nunca esqueça que minhas impressões sobre você e Logan são as melhores! Vocês dois são muito especiais para mim também!
Rogue: - Obrigada, Tempestade.
A garota prosseguiu um sua procura por Logan com uma sensação diferente sobre as duas últimas frases de Tempestade. Lhe pareceu por um breve momento que Tempestade estaria lhe dando uma espécie de benção, aprovação. E não apenas para ela, mas também para Logan. Isso a deixou confusa por alguns minutos, mas logo essa idéia lhe deixou a cabeça.
Foi então que Rogue encontrou Logan na garagem, dentro do carro que era de Scott. Rapidamente ela entrou no Saturn Sky Redline azul marinho, um dos preferidos da coleção de Ciclope.
Rogue: - Logan!
Logan: - E aí, guria! Escolhi esse aqui da coleção que era de Scott. Achei que ele combina muito com você. Aliás, hoje você está bem melhor do que ontem! (...) Vamos dar uma volta?
Rogue: - Claro! Onde você pretende ir?
Logan: - Nunca tenho um rumo muito bem definido. É assim que descobrimos lugares novos que podem nos surpreender. Se planejar tudo o que vai fazer, nunca vai encontrar o inesperado...
Rogue sorriu com a teoria de Logan.
Rogue: - OK. Eu tenho alguns motivos bastante fortes para confiar em você. Estamos prontos?
Logan: - Mais do que nunca! Segure-se porque a diversão começa agora!
Logan acelerou o Saturn Sky em direção aos portões de saída do instituto e logo pegou a estrada em frente.
De uma das janelas da mansão Bobby avistou os dois amigos juntos. Isso lhe causou uma confusão por alguns instantes e um sentimento misto de ciúme e raiva lhe tomaram por completo.
Bobby: - Ela não me disse nada sobre isso! Logan...
Bobby sempre sentiu muito ciúme da relação entre Rogue e Logan. Na percepção dele essa relação era desproporcional a uma mera amizade. Por um bom tempo ele havia se acomodado com o fato de seu namoro com Rogue ter, de certa forma, afastado ela do cotidiano de Wolverine. Mas agora, aquela cena, os dois juntos dentro do carro, saindo para algum lugar...e, pior, ele não sabia de nada! O homem de gelo, agora, sentia o calor da raiva dentro de si. Motivo pelo qual passou o restante do dia calado, reflexivo e um tanto quanto impaciente com os demais.