Era como se fosse fazer um nó na atadura, criar uma constelação em meu pulso e ligar os pontos, levar uma limonada bem no olho direito ou gritar num quarto vazio e escuro; também sentir o frio no coração ao ouvir uma música e querer ser uma pessoa melhor depois de ver um filme.

Satoru sempre gostou de filmes, aliás... talvez seja por causa deles que era reluzente. Se pararmos pra pensar quantas vezes ele decidiu ser uma pessoa melhor ao terminar um filme... está mais do que explicado porque ele é o melhor.

Pelo menos era o que eu sentia quando via um, dava-me prazer porque todos os dias eu lidava com os pontos ligados no meu pulso e o limão no meu olho direito. A linha era vermelha porque era feita de sangue e meu olho ardia com força, fazendo-me pensar se ficava mais bizarro do que os olhos celestes dele.

Era difícil tragar maldições. O gosto fétido na boca... nunca conseguia me acostumar. Então, era normal que fosse mais fechado, triste, não me sensibilizasse com a ingenuidade de Travis Bickle ou algo assim, mas felizmente pude mudar graças a ele. 

Ouvir certas músicas me traziam melancolia, sim! E não era porque me fazia lembrar dos meus tragos, mas porque lembrava-me dele muitas vezes; da primavera com as cerejeiras cercando a ladeira, eu estando na garupa de sua bicicleta e lhe fazendo companhia em mais um semestre.

Primavera era o início de tudo e um ano a menos da nossa juventude. Não sei se Satoru notou, mas a escola de feiticeiros sempre me pareceu preocupada com a nossa juventude, eles sabiam que só um aluno tão exagerado me faria me soltar mais. Tenho certeza de que eles selecionavam bem um trio.

Ou deve ser coisa da minha cabeça...

Algo que ele diria com certeza.

Satoru aprontava e estava sempre sorrindo e eu sorria também. Observar-lhe fez com que eu quisesse ser uma pessoa melhor e, embora só bastasse a sua companhia, eu ainda via filmes com ele.

Meu melhor amigo.