Elizabeth não julgava o comportamento de Edward, mas confessou em pensamento ter se surpreendido que ele tivesse este tipo de reação.

“Você me conhece, sabe que não sou fraca a esse ponto. Eu leio mentes também, se lembra? Sei o quanto ela é importante para você.”

— Espera, não é isso - ele quis se desculpar. Vendo que sua velha amiga apenas saia em direção a porta, sem falar nada, ele suplica: - Lizzie, fica.

Ela apenas o olha de volta, com o mesmo semblante entristecido. Seus olhos vagam de Edward a Bella, em como ela parece menos assustada agora, mas curiosa.

“Eu sabia que não deveria ter vindo, não precisam de mim aqui”.

Elizabeth tira o salto e some escuridão adentro. 

Automaticamente os demais Cullen olham as irmãs restantes. Emily abre a boca para falar mas Ellie a corta logo em seguida:

— Não me olhem assim não, eu me alimento regularmente e muito bem por sinal. E ainda sou como vocês, não preciso de sangue humano.

Dando de ombros, Ellie escolhe um sofá para se sentar, como se nada tivesse acontecido.

— Desculpem, Lizzie se martiriza e se castiga muito, mas nunca vi ninguém com tanto autocontrole como ela - desculpava-se Emily. - Ela vive com uns assuntos estranhos, ela não quer mais fazer nada. Tem meses que fica na mesma posição, sem se mexer para nada, nem caçar, nem conversar, ela só se fecha e espera que de alguma forma possa morrer.

Bella jurou que, se os vampiros pudessem derramar lágrimas, Emily já teria o feito. O clima pareceu pesar um pouco, e dessa vez Edward não chamou Bella para outro lugar da casa a fim de que ele a tirasse de seus pensamentos, e isso a deixava angustiada. Como ele ficava sem saber o que ela pensava, ela estava sem saber o que ele sentia.

O que aconteceu entre eles?

***

Era tarde da noite, e o pai de Bella não queria ver Edward por um bom tempo, dado o estado em que Bella se encontrava quando ele partiu. Ver sua filha como estava o deixou em pedaços.

Ele porém a levou para casa e estava em seu quarto. Ficara do lado dela até que dormisse, quando estava para sair ela teve um pesadelo, um que ele jamais havia presenciado, então voltou rápido para acalmá-la.

— Não vá, não vá - ela chorava em seu peito, enquanto ele dizia que não seria capaz de fazer isso.

— Você teve um pesadelo - ele sussurra. - Desde quando?

— Todos os dias, desde que você se foi - a voz dela se foi e apesar de ele não conseguir ler seus pensamentos, sentiu o misto de emoções que ela estava sentindo: medo, pesar, tristeza.

Ficaram em silêncio por um tempo.

— Não tem nada que queira me contar? 

Ele a encara por um momento, sabendo exatamente sobre o que ela estava falando.

— O que quer saber?

— Quem são elas. Por que nunca me contou nada sobre elas? Elas são da sua família? Elas conhecem os lobos?

Edward pareceu hesitar por um momento. Não é que escondesse algo, ou não quisesse que Bella soubesse do passado de sua família, mas temia que quanto mais informações ela tivesse, mais difícil seria deixá-la em segurança.

— Elas estão com Carlisle desde o início de tudo. Mas apesar de serem muito mais antigas que ele, muito do que aprenderam depois foram pelas descobertas de Carlisle. Elizabeth o encontrou nos esgotos de Londres onde havia sido infectado, e o levou para a casa onde morava com Emily e Ellie. 

“O ajudaram no que podiam, mas de início ele não se conformava com o que havia se tornado. Então fugiu e tentou morrer, de fome, acidentes, mas nada adiantava. Elizabeth o vigiava a distância para que não fizesse nenhum mal a ninguém. 

“Ellie o convenceu a ficar,  e ensinaram a ele tudo o que sabiam. Carlisle ficou imensamente grato em aprender que não precisava consumir sangue humano para viver. Compartilharam com ele tudo o que sabiam sobre os vampiros desde que se tornaram um. 

Isabella manteve-se em silêncio e atenta a tudo o que Edward ia contando. Percebeu que não sabia muito sobre os Cullen.

— Elas pertenciam a um importante clã da antiga Escócia, e durante uma invasão de rivais, onde acampavam com os outros membros, seu clã foi quase todo dizimado. Mataram todos os homens, pegaram as crianças para ensiná-las seus costumes e futuramente os ajudassem em invasões, e as mulheres… As que não foram mortas foram separadas para darem origem a mais guerreiros.

“Era muito comum naquela época. Ellie, Emily e Elizabeth tinham outros nomes, mas ainda assim eram as únicas filhas do chefe de seu clã. Não foram mortas mas também não foram separadas para gerar… Eles queriam fazer delas exemplo para quem de seu povo que ainda estivesse vivo.

“Mas elas haviam sido treinadas para estarem em guerra, então resistiram o máximo que aguentavam, até que tempos depois de terem sido trancafiadas houve outra invasão rival, mas dessa vez foi pior. Estavam recrutando pessoas com potencial para se juntar a eles e se tornarem o povo de mais reconhecimento.

“Foi quando elas se tornaram vampiras. Já viram e fizeram muitas coisas, entraram e saíram de guerras, sempre invisíveis. Quando encontraram Carlisle o ajudaram como gostariam de ter recebido ajuda quando se transformaram. Anos depois me encontraram a beira da morte, então também me juntei a eles. Depois Esme, e o resto você já sabe”.

Isabella ouvia tudo com muita atenção. 

— Mas então, por que foram embora? Por que não continuaram junto de vocês?

— Elizabeth queria ir embora. Mesmo que suas irmãs quisessem ficar, elas nunca se separaram, então foram juntas. Fazia séculos que não tínhamos nem mesmo notícias, achei até que…

Bella o encara. Achava que sabia muito sobre Edward, mas agora não tinha tanta certeza. Antes teve medo que ele morresse, e agora tinha medo que seu passado o atormentasse e ele não fosse capaz de resistir.

*** 

— Ufa, achei que não ia voltar mais!

Elizabeth encara Ellie, que estava sentada na sala de estar dos Cullen. Passaram-se horas desde que saíra para caçar, e das três ela sempre foi a mais rápida. Emily chega ao teu lado, e não precisa dizer para Lizzie saber o que ela estava pensando.

— Estou bem sim, não se preocupe. Não farei nada estúpido. Não até resolvermos aquele assunto inacabado com os Volturi.

Do sofá, Ellie apenas deu de ombros.

— Não darei a eles nada do que querem. Não existe absolutamente nada que tentem contra nós que já não tenhamos feito nós mesmas.

— Penso da mesma forma Ellie, mas tenho medo de que infelizmente nossa atitude venha impactar outras vidas, e os Cullens não têm nada a ver com isso.

— Está errada querida - era a voz de Esme. - Me desculpem, não queria me intrometer, mas acabei ouvindo a conversa. Acontece que vocês também são uma de nós, e não importa o que acontecer, devemos ficar juntos. Faremos de tudo ao nosso alcance para cuidar dos nossos.