Playlist para massagem cardíaca escrita por chantez


Capítulo 1
único, assim como o Spotify




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Winry

— Você sabia que existe uma playlist no Spotify com músicas que têm batidas com o mesmo compasso ideal para fazer uma massagem cardíaca? — Riza, em nenhum momento, levantou a sua cabeça para me olhar enquanto comia o seu pão de geleia entre as aulas da faculdade. 

Já era de conhecimento prévio que pelo menos uma vez por semana eu chegaria com tópicos de conversas não tão convencionais. 

— Como você… — Ela parou no meio da sua frase. — Quer saber? Nem vou me dar ao trabalho de perguntar como descobriu uma coisa dessas, porque é muito específico e aleatório. Ênfase no específico, por favor. — Ela deu um suspiro, olhando-me com divertimento. 

— Ei, não é tão aleatório assim! — Automaticamente lancei um olhar de pura ofensa. Como Riza tinha coragem de chamar algo que poderia salvar a vida de alguém de aleatório? 

Quer dizer, não era nem um tópico como por exemplo: como sobreviver a areia movediça que sempre gostava de educá-la mesmo que a mais velha nunca perguntasse. 

— Tá bom, deixa eu ver as músicas.

Eu dei um sorriso de plena felicidade por sentir que ela sempre dava importância aos meus assuntos "estranhos" como algumas pessoas gostaria de rotular. 

— Nossa, "Teh Man", da Taylor, "Sorry", do Justin, "Rumor TEMPhas It", da Adele, "Something like dis", do Chainsmokers e "Just Dance", da Lady Gaga, quem diria, nunca iria imaginar que dá para fazer massagem cardíaca com elas — Riza comentou, surpresa, deslizando o seu dedo na tela do celular para ver as músicas que se encontravam no final da playlist. 

— Então, também não. Espero que um dia eu possa usar essa playlist, seria meu sonho de consumo. Colocar meus conhecimentos aleatórios em prática — suspirei um pouco triste. 

Era péssimo saber várias coisas, mas nunca ter a oportunidade de colocar em prática. Claro que às vezes tinha sorte o suficiente para conseguir aplicar em meu trabalho acadêmico ou em alguma conversa com pessoas que não me conheciam. No entanto, nunca consegui colocá-las em algo útil mesmo. 

— Você está pedindo para alguém ter uma taquicardia para conseguir usar essa playlist? — Sua sobrancelha subiu junto dela mordendo seus lábios para não cair na risada.

— Não é assim! — Minha voz saiu fina e mais alta, porque estava tentando me defender. 

— Imagina se não fosse! — Riza revirou seus olhos, rindo antes de pular para outro tópico de conversa.

                                    (......) 

— Como eu amo o inverno! — sussurrei para mim mesma, cantarolando no momento em que senti pequenos flocos de neve caindo em meu gorro.

Era ótimo conseguir um pouco de frio, principalmente de neve, depois de passar uns sólidos dez meses de calor desgraçado. 

A pessoa andando à minha frente na calçada parou abruptamente e se não estivesse prestando atenção ao meu entorno, com certeza iria bater em seu corpo. Já estava com as palavras na ponta da língua para pedir para que ela tivesse um pouco mais de cuidado, porque imagina se fosse um idoso? 

No entanto, percebi que a pessoa colocou a sua mão em seu coração e, segundos depois, caiu na calçada. Entrei em piloto automático, agachando-me ao seu lado, soltando a minha bolsa. 

O homem não parecia muito mais velho do que eu, observei que era universitário, uma vez que usava um moletom da faculdade. 

Coloquei meu gorro com cuidado nos seus cabelos loiros claros, pois como sua cabeça estava em contato direto com a neve, o frio poderia prejudicá-lo. 

Ok, o primeiro passo seria confirmar se ele estava consciente. 

— Com licença, você pode me ouvir? — perguntei enquanto calmamente tocava em seu ombro para ver se ele responderia. 

O seu corpo continuou imóvel mesmo depois de eu questionar mais algumas coisas como seu nome ou se conseguia falar ou apertar meus dedos. Ok, o homem se encontrava inconsciente, o próximo passo seria checar sua respiração. Coloquei meu dedo embaixo do seu nariz e não senti nenhum ar.  

Eu não começaria a surtar pelo fato de que ele não estava respirando e nem consciente, o ideal agora seria ligar para uma ambulância. 

— Hey, Siri. — Lembrei rapidamente que meu celular estava equipado com a Siri. 

Com certeza seria um quebra galhos, uma vez que não teria tempo o suficiente para procurar meu telefone na minha bolsa, já que o homem à minha frente poderia morrer. 

— Ligar para o atendimento médico urgente. — Quase chorei de alívio quando ouvi o barulho de que meu celular estava completando uma ligação. 

— Boa tarde, me chamo Edward Elric e hoje irei te auxiliar. Pode me descrever o que está acontecendo por favor? — O homem do lado do telefone estava tão calmo, que isso foi o suficiente para fazer com que minhas mãos parassem de tremer. 

— Uma pessoa andava, colocou sua mão no coração, caindo. Chequei se ele estava inconsciente e respirando e a resposta é não para os dois — respondi tão rápido que tive medo que Edward não conseguisse me entender.  

Percebi que uma sombra se projetou em cima de mim, porque, pelo jeito, outras pessoas pararam para ver o que tinha acontecido com uma pessoa caída no meio da calçada. Não deixei a tensão se instalar em meu corpo pelo fato que algumas pessoas estavam vendo o que eu estava fazendo. A prioridade no momento seria dar toda a minha atenção e com sorte salvar o homem desconhecido. 

— A senhorita fez muito bem, são os dois passos iniciais. Parabéns. Poderia checar para mim se o coração está batendo?

Não demorei nem um segundo para fazer o que me foi pedido. 

— Não. Seu coração… seu coração não está batendo. — Precisei engolir o horror que parecia me comer. Será que ele já estava morto e eu não tinha sido rápida o suficiente para ligar para o paramédico? Por isso, comecei a chorar por pensar que matei indiretamente um homem. 

— Qual o seu nome? A senhorita está fazendo um trabalho muito bom. Qual o nome da rua que a senhorita se encontra? — Edward utilizou uma voz doce uma vez que deve ter ouvido meus pequenos soluços por causa das lágrimas que caíram de meu rosto.

— Don Valley Parkway. — Minha vontade foi de beijar uma das pessoas que deram a informação, uma vez que eu não tinha ideia do endereço. — Winry — adicionei a informação ao paramédico. 

— Ok. Isso é o que vamos fazer a seguir: massagem cardíaca até a ambulância, que já está a caminho, chegar. Winry, você sabe fazer uma massagem cardíaca? Se não souber, peça ajuda a alguém que sabe e se não encontrar ninguém com esse conhecimento, eu irei te descrever o passo a passo. — Ele me deu as instruções sobre o que aconteceria a seguir. 

— Sim, sim, eu sei fazer massagem cardíaca — respondi aliviada. 

Então o que apareceu em meu cérebro foi nada mais e nada menos do que a playlist de massagem cardíaca que achei meses atrás. Não poderia acreditar que finalmente poderia a colocar à prova mesmo que já tinha quase aceitado o fato que nunca estaria em uma situação que precisaria de uma música com 100 BPM de batida. 

— Siri, abrir no Spotify a playlist "Song to do CPR to e listar as músicas". — Ignorei cada olhar externo de descrença pelo meu pedido. 

Porque, claro, quem em sã consciência, salvando alguém, abriria uma playlist do Spotify? 

— As músicas que constam na playlist são: “The Man", da Taylor Swift, "Sorry", do Justin Bieber, "Humor has It", da Adele, "Something like this", do Chainsmokers e "Just Dance", da Lady Ga…

— Siri, tocar “Sorry”, do Justin Bieber. — Automaticamente interrompi sua voz robótica. 

Entrelacei meus dedos, colocando-os sobre o peito do homem, somente esperando a música. No começo, percebi que ela se encontrava um pouco baixa, pois meu celular ainda estava dentro de minha bolsa, até que ouvi o som bem mais alto. 

Uma das pessoas que pararam para me acompanhar foi um anjo que pegou meu telefone e agora o segurava perto de mim. 

Não sabia se era a adrenalina de toda a situação, porém, tudo que escutava no momento era a batida exata da música enquanto meus dedos entravam em ação.  

— Winry? Muito obrigado pela ajuda, mas vamos assumir daqui.

Tomei um puta susto no momento em que alguém tocou no meu ombro.

A ambulância se encontrava na rua junto de dois paramédicos já com o homem desmaiado na maca. Não tinha ideia de quando parei de fazer a massagem cardíaca, se me perguntassem.

— Prazer, Edward — o paramédico se apresentou rapidamente. 

— Oh, meu Deus, obrigada pela ajuda, de verdade. — Meus olhos quase pingaram lágrimas para que o trabalhador entendesse a importância que ele teve naquele momento tão tenso. 

— Que isso, é o meu trabalho. Deixa eu dizer que nunca conheci uma pessoa que abriu uma playlist do Spotify para fazer uma massagem cardíaca, quase como se estivesse esperando esse momento — ele brincou comigo. 

— Seria errado falar que eu estava? — Dei um sorriso amarelo, sentindo-me bem tímida. 

— Claro que não, foi por causa disso que você salvou a vida de uma pessoa! Winry, você deveria estar orgulhosa por saber da existência de uma playlist tão incomum assim e não ter nenhum pingo de vergonha — Ed me confortou, colocando suas mãos suavemente em meu ombro. 

Infelizmente, não consegui responder, uma vez que os outros paramédicos estavam correndo para a ambulância o chamando. 

Na próxima vez que quissese compartilhar um das minhas aleatoridades, faria isso com peito estufado de orgulho, porque, afinal de contas, isso foi um dos motivos de salvar a porra da vida de alguém e isso era para poucos, se me perguntassem. 


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