Sereia, Lobo, Rainha e Dragão escrita por seere


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores.

Apenas uma ideia que surgiu e acampou na minha cabeça. Não contém spoilers, os eventos continuam mais ou menos canônicos, com algumas alterações aqui e ali. Nada profundo, apenas uma espécie de "5+1".

Não tem nada realmente explícito, mas marquei como +16 pelas breves insinuações.

Antes de começar saibam: essa é uma história feminino!Jon Snow (único gênero trocado). Por nenhum motivo específico além do fato de faltar uma Visenya para Rhaenys e Aegon (eles não aparecem aqui, seu destino é o mesmo do canon).

Boa leitura, espero que gostem.



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A Sereia

Ele nasceu perto do mar. As ondas batendo contra as pedras do antigo castelo era a música que o embalava para dormir durante uma tempestade particularmente ruim. E suas histórias eram lendas. Lendas de monstros terríveis, mulheres vingativas, cheias de ressentimento, que ofereceram suas pernas ao Deus Afogado em troca do poder para se vingar dos homens que as havia traído.

Ele cresceu ouvindo como muitos homens foram atraídos por seu canto, incapaz de resistir à promessa de fama e riquezas.

—Ouça bem, Theon – sua  mãe dizia. -Não confie nos sussurros das sereias. Suas promessas e beleza não passam de ilusão. Elas irão devorá-lo, se você lhes der a chance.

—O que devo fazer se ela falar comigo?

—Tampe os ouvidos – as mãos, frágeis e frias, taparam seus ouvidos com delicadeza. -Se não pode ouvi-las, não será tentado a responder e estará salvo.

—Mas, e se ela aparecer na minha frente?

—Tampe os olhos – as mãos se moveram para seus olhos. -Se não pode vê-las, não será tentando por sua beleza e estará a salvo.

—E se ela me puxar para o mar?

—Nesse caso – as mãos embalaram seu rosto. -Tudo estará perdido.

Anos depois uma guerra acontece. Sua família escolheu o lado errado e ele foi entregue como refém.

Ele não era mais uma criança. Sereias e monstros já não o assustavam mais. Nada daquilo era real, apenas devaneios de algum marinheiro bêbado. Ele não acreditava mais em lendas. Sereias não eram reais.

—Robb! Theon!

Tape os ouvidos, ele se lembrou. A voz era gentil como nenhuma outra, ondas suaves deslizando mansamente contra a praia.

—Qual o seu problema, Greyjoy?!

Não olhe, ele se lembrou. A raiva vestia bem nela. Os olhos em fúria, como uma tempestade em alto-mar, poderosa e impiedosa.

—Theon.

Se ela tocar em você, tudo estará perdido. Seus lábios eram exigentes, tomando cada vez mais de si, prendendo-o em seu calor. Seu hálito quente contra seu ouvido, seus braços como tentáculos se enrolavam. Mais e mais. Mais e mais.

Sereias não existiam. E todos o alertaram sobre como evitá-las.

A Loba

Ele tinha ouvido Lord Stark dizer uma vez: "o lobo solitário morre, mas a alcateia sobrevive". Foi depois de uma briga particularmente ruim entre suas filhas mais novas. Sansa era uma perfeita dama, desde que Arya estivesse em um canto do castelo e Sansa do outro. As duas no mesmo ambiente? Quase sempre terminava em discussões.

As duas foram levadas pela Septã até o Senhor da casa. Theon e Robb estavam por perto, visto que Lord Stark estava no salão. E foi quando Theon ouviu a frase com metade da atenção.

Agora,  naquele mesmo salão, no que parecia uma vida inteira depois, ele acha que finalmente entendeu.

A loba estava se segurando por pouco. Sozinha, ferida, talvez meio louca. E Theon se perguntou quanto tempo demoraria até ela quebrar.

Olhando para aqueles olhos vítreos, desfocados, ele se lembrou de tempos melhores. A alcateia estava junta então, todos os seis lobos. Mas agora era apenas ela. E, ele aprendeu, o lobo solitário morre.

—Mas ela não está sozinha, não é?

A voz da sereia ainda o assombrava.

Seus olhos caíram sobre a loba mais uma vez. Ele não pode salvá-la da morte. Ele não é um lobo.

O Dragão

Dragões. Malditos dragões voavam acima de sua cabeça. Três bestas enormes.

Ele estava cansado. Exausto mesmo, quando finalmente alcançou a terra firme. O mar sempre seria sua casa, mas era bom colocar os pés na areia.

Um grupo de pessoas o aguardava na praia, apresentações foram feitas e, antes que percebesse, ele estava sendo levado ao encontro da Senhora de Pedra do Dragão.

—Você está diante de Daenerys, Nascida da Tormenta, a Não Queimada, Mãe de Dragões, da casa Targaryen, Primeira de Seu Nome, Rainha de Meereen, Rainha dos Ândalos, dos Rhoinares e dos Primeiros Homens, Senhora dos Sete Reinos, Quebradora de Correntes, Khaleesi do Grande Mar de Grama.

Não uma senhora, ele foi lembrado. Uma Rainha.

Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, (Se ajoelhar? Pedir misericórdia?) as portas do salão se abriram.

—Mandou me chamar?

A voz da sereia ainda o assombrava. Mesmo depois de todos esses anos. Ele deveria aprender a tapar os ouvidos.

—Me disseram que você conhece esse homem.

Ele podia sentir o olhar em suas costas. Seu corpo, já respondendo a voz, ao chamado, virou-se lentamente para encará-la. Ele sabia que deveria ter aprendido a fechar os olhos.

Ah, lá estava. Se a raiva infantil a vestia bem ele mal pode descrever como a completa fúria a deixava ainda mais bonita. Seus olhos férreos pareciam metal aquecido pelo fogo, seus traços élficos eram ainda mais refinados do que naquela estranha mistura de infância e mocidade. Longe das terras frias do norte a sereia cresceu. Talvez alimentada pelas vítimas desavisadas que não viram além de sua aparência.

Assim como ele fazia agora. Traído por seus ouvidos e por seus olhos. Ele não viu quando ela nadou pelo chão, até que a dor se instalou em seu rosto e ele se viu deitado de costas com a sereia sobre ele gritando, chorando, palavras raivosas. Ele deveria ter aprendido a não se deixar tocar por elas.

—Desgraçado! Como pode?! Ele confiou em você! Como pode traí-lo dessa forma?!

Ele se sentou, quando ela foi retirada de cima dele, mas não se atreveu a olhá-la. Ele podia ouvir, como se sua cabeça estivesse sob as ondas, que alguém falava qualquer coisa. Mas só a voz da sereia era filtrada pelo mar.

—Eu não conheço esse homem. Eu conheci um menino, a quem meu irmão chamou de irmão. Um amigo que jurou lealdade a seu amigo e Rei. Esse rapaz está morto. Afogado nos mares de sua casa natal quando foi até lá em busca de aliados. Não conheço esse homem que traiu o irmão que jurou proteger. O Rei a quem jurou lealdade.

E ela partiu. E ele ficou.

Ele a encontrou de novo, dias depois, na encosta. Olhos no céu. Um lobo branco ao seu lado.

Não ouça. Não veja. Não toque.

Ele se virou e partiu.

A Rainha

Vivos contra os mortos. A verdadeira batalha pelos Sete Reinos. Todas as guerras pareciam tão mesquinhas diante dessa.

Era o dia anterior a batalha. Todos estavam apreensivos. Temendo a longa noite que se aproximava. Homens e mulheres, que já foram inimigos, agora lutariam lado a lado. Eles entendiam o que estava em jogo ali.

Não um trono ou coroa para reivindicar. Mas a própria vida. Hoje, todos eles seriam o escudo que guardava o reino dos homens. E, se os deuses permitissem, a luz que traria consigo a alvorada.

Ela estava ajoelhada diante da árvore coração. Orando aos deuses. Por seus amigos, ele sabia, por todos aqueles que a fizeram rainha e prometeram suas vidas a ela. Por todos que ela convenceu a vir e por aqueles que ela jurou sua vida em troca. Ela não orava por si mesma. Não mais.

Ele se ajoelhou ao lado dela.

Um sussurro. Não escute.

—Sansa me contou o que fez por ela.

Um olhar. Não olhe.

—Obrigada.

Um toque. Não permita que te toque.

A mão, ainda tão pequena, mas endurecida pelas batalhas, apertou seu ombro em reconhecimento. Em perdão. Em amizade.

—Não morra.

Ele traiu as ordens de seu rei uma vez. Ele não trairia sua rainha também.

A Sereia, que também é uma Loba, que se tornou Rainha, e sempre foi um Dragão

Os mortos vieram.

Suas criptas não eram seguras, aqueles que não podiam lutar foram trancados e guardados na parte mais profunda do castelo.

Os que podiam lutar armaram-se, lutaram e aqueles que caíram se juntaram ao inimigo.

Dos céus, um rugido. E a noite se incendiou com a chegada dos dragões. Três dragões batalhavam nos céus, dois vivos e um irmão para sempre perdido.

Ele via apreensivo a batalha se desenrolar no céu. Ela estava lá em cima, montada em um dos dragões. Enquanto seu lobo foi deixado ao seu lado, ajudando-o a proteger o irmão, que já não era mais um menino, mas também não era um homem.

Ele não ouviu os passos. Mas sentiu o frio gelando seus ossos. E soube, mesmo antes de vê-lo, que o Rei da Noite apareceu.

Ele puxou o arco. Sua Rainha lhe deu uma ordem. Ele nunca mais trairia a confiança de um Lobo.

Seu corpo doía. Seus olhos se sentiam pesados. Sua boca estava seca. Ele sentiu a mão em sua testa, um pano foi tirado e colocado. Ajudou a refrescar sua pele aquecida.

—Durma, você ainda está fraco.

Não a sereia. Mas ele ainda conhecia aquela voz. A Senhora do castelo. A Dama Loba.

—On(de)... e(la es)tá? El(a está vi)va...?

—Não se preocupe. Ela está bem.

Seus olhos fecharam. Ela estava bem. Ele estava vivo. Ele cumpriu sua palavra dessa vez. Ele não traiu sua Rainha.

—Como ele está?

O sussurro da sereia o tirou do sono.

—Melhorando. O Meistre disse que logo ele deve acordar.

—Tem torta de limão na cozinha.

A risada suave da loba se afastou em direção a porta. Era só ele.

—Obrigada por protegê-lo.

A mão gentil tocou seu cabelo. Ele tentou levantar a sua para segurar a dela. Sua mão era quente contra a dele.

—Nunca mais... vou trair os meus....

—Eu acredito em você.

Lábios macios contra sua pele ainda aquecida.

Quando ele acordou, ela já tinha partido. Era hora de cumprir sua palavra para a Rainha Dragão. O inverno chegaria para Cersei Lannister, levando com ele fogo e sangue.

+1. Voltando Pra Casa

Ninguém nunca pensou em alertá-lo sobre como evitar um dragão. Pois os dragões, todos acreditavam, estavam mortos. Ele acreditou também.

Até acabar em Pedra do Dragão e vê-los com seus próprios olhos. Até entrar no salão e ver os cabelos prateados e os olhos lilases.

Mas ele já tinha visto um dragão antes de tudo isso. Ele a chamou de sereia. Seus sussurros eram, na verdade, uma canção de gelo e fogo.  A tempestade em seus olhos era o fogo dos vulcões e o gelo das nevascas de suas terras ancestrais. Seu toque era fogo e gelo. Que queimava e queimava.

Ela estava linda. Deslumbrante. E ele era indigno da confiança entregue. Mas ele dedicaria toda sua vida a se provar digno.

—Theon...

Ele podia ouvir os sussurros. Ela não é uma sereia.

—Theon...

Ele podia beber de sua imagem até ficar bêbado. Ela não é uma sereia.

—Theon!

Ele podia tocá-la, se deixar tocar. Sentir suas garras rasgando sua pele, suas presas perfurando sua garganta. Ela é um Lobo.

—Eu amo você.

Ele sussurrou ao ouvido dela e sentiu enquanto o calor dela o cercou mais e mais, ascendendo, crescendo e queimando. Ela é um Dragão.

E ele sabia que tinha voltado para casa.

FIM


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Notas finais do capítulo

Agradeço a todos que chegaram até aqui, espero que tenham gostado.

Fic revisada por mim, mas algum erro pode ter passado, sintam-se livres para apontar caso encontrem.

Críticas e sugestões são sempre bem-vindas.



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