Na guerra que aconteceu há mil anos atrás, entre os continentes pelo poder, surgiu um novo país, uma nova potência, que deu fim à guerra. O império Zeannetish foi criado em meio ao caos de todo o continente e isso se devia ao poder do primeiro imperador: o controle dos dragões. Em um mundo onde as criaturas místicas existiam e eram temidas, um poder que pudesse controlar um dos seres mais temidos do mundo, era algo de aterrorizar qualquer potência.

Com o fim da guerra, Zeannetish ajudou os outros impérios em troca de lealdade e se tornou o reino mais próspero e poderoso do continente. Assim, a paz durou por longo mil anos e agora, este mesmo império ainda estava mais forte que nunca, com a linhagem do primeiro imperador ainda no trono, da mesma forma que sua habilidade também foi passada de geração em geração. A família D. Laikai se manteve a cada geração mais forte e apenas o descendente com a linhagem mais pura e com o poder mais temido de todos poderia subir ao trono, atualmente, nenhum descendente do atual imperador despertou o poder dos dragões e a vaga de herdeiro ainda estava vazia. 

Ophelia Di Laikai era a única descendente que não havia herdado os invejáveis fios dourados de sua família, uma das marcas mais notáveis da realeza, mas isso era devido ao fato dela ser uma bastarda, filha de uma empregada doméstica qualquer e com o imperador. Com a gravidez da empregada, ela se tornou uma concubina e tempos depois de dar a luz, morreu envenenada, entretanto, não houve investigação e a morte da pobre mulher foi esquecida, apenas sua filha recordava do rosto daquela miserável moça, por enquanto. Com os cabelos negros, do qual foi herdado de sua mãe, cresceu em silêncio no palácio, sem chamar a atenção e sendo desprezada pela família real. 

A princesa tinha três irmãos ao total, sendo ela a terceira, contudo, isso não importava para os outros, afinal, ela era um rato no castelo que nem ao menos teve um baile para a sua cerimônia de maioridade. E era mais um dia qualquer para aquela desprezada donzela, trancada em seu próprio quarto, em um edifício isolado dos demais e que nunca poderia deixá-lo sem permissão. Ophelia lia um livro velho que havia na desgastada biblioteca de seu descuidado castelo, passava a maior parte do tempo lendo livros, era uma forma de passar tempo e ganhar conhecimento, afinal, nunca havia deixado essas grandes paredes e não sabia como era mundo afora.

Graças a proibição da imperatriz, a Laikai jamais havia assistido um baile em sua vida ou interagido com outros nobres, então nunca soube a etiqueta de verdade, ou melhor, nunca teve a educação necessária para isso. A garota de olhos rosados nunca havia se importado com isso, afinal, seria apenas perda de tempo e sabia que nada iria ser feito se exigisse a educação necessária de um membro da realeza.

"No futuro, terei a oportunidade de ter uma educação perfeita", pensou ela enquanto folheava o livro.

Passaria mais um dia trancada, entretanto, levantou a cabeça ao escutar vários passos em direção ao seu quarto, deixando a jovem perplexa. Quando as portas foram abertas bruscamente, a morena fechou seu livro e viu sua irmã mais nova, Alexandra D. Laikai, acompanhada por diversas empregadas. 

— Esse lugar fede! — exclamou a princesa de cabelos dourados. — Ah, mas é digno de uma bastarda. 

Mesmo com a ofensa, Ophelia se manteve em silêncio e de cabeça baixa, tendo aprendido de uma forma não muito boa de jamais olhar nos olhos de sua irmã mais nova, filha da imperatriz com o imperador. 

— Hum, creio que pelo menos saiba seu lugar. — O tom arrogante de Alexandra ecoava pelo quarto velho. — Mas não se preocupe, eu, como sua irmã, irei lhe ajudar. 

A garota de cabelos negros não teve uma boa impressão das palavras de sua irmã mais nova, algo dentro de si lhe dizia que ela iria aprontar algo novamente. 

— Meu pai e o Duque Todoroki, após uma conversa, decidiram me comprometer com o filho mais velho do ducal… Mas, eu decidi passar essa grande oportunidade para minha irmã! Não sou uma boa pessoa? 

Alexandra sorriu docilmente, enquanto via a cara de surpresa de Ophelia, aquilo melhorou seu humor em inúmeras vezes.

— Acho que até mesmo você, uma bastarda, saiba quem é o filho mais velho do Duque, não sabe? 

Como ela não saberia? Até mesmo em seu palácio em ruínas chegavam os rumores daquele homem. Toya Todoroki, o primeiro na linhagem da família Todoroki e o mago mais louco do império, suas ações eram sempre escandalosas e em seu rumor mais recente, dizem que botou fogo em alguém apenas por não gostar de ter aquela pessoa respirando o mesmo ar que ele; dizem também que ele foi amaldiçoado por algum demônio, deixando diversas queimaduras por seu corpo, assim ganhando a fama de "mago maldito". 

— Então imagine só! Uma bastarda e um maldito? Não é emocionante? — Alexandra ria eufórica. — Imagine também como seria sua vida… Ouvir dizer que toda a família Todoroki é louca e sanguinária, o que será que fariam com uma simples mulherzinha como você? 

Os ombros da garota de olhos rosados tremeram, ela escutou as empregadas de sua irmã zombarem dela e acharem graça, afinal, ela era uma princesa tão miserável que nem mesmo os criados a respeitavam.

— Continue sendo o bom lixo que é e aguente tudo calada, duvido que viverás muito no ducal. — A loira se virou. — A cerimônia será daqui há duas semanas, se prepare. 

A princesa foi embora com suas criadas, não fecharam nem mesmo a porta. A morena ainda estava tremendo, mas não era de medo, era de alegria! Iria se casar, então iria sair das garras de sua família e isso significava que teria liberdade para fazer o que quiser, colocar tudo que planejou em ação. Finalmente, ela estava tão contente que queria chorar. 

Seu único problema seria seu marido, entretanto, poderia se livrar dele depois de um tempo e também de sua família, apenas tinha que ser paciente. 

"O Mago Maldito… Me pergunto como ele será"

Ela aguentou tudo por dezoito anos, iria aproveitar muito bem essa oportunidade que Alexandra estava lhe dando e falando na princesa mais nova, ela iria se arrepender tanto de dar aquele louco para ela. 

"Será daqui a duas semanas, está tão perto…"

Faltariam apenas duas semanas para virar as costas para esse palácio e quando voltasse, seria uma pessoa totalmente diferente. Ophelia não se sentia animada assim há anos, nem lembrava como era ter o gosto da felicidade em sua boca; ela teria apenas que esperar por um par de dias, apenas isso. 

"Bem…" 

A princesa estava se sentindo estranha, duas semanas haviam se passado e hoje era seu casamento, estava no altar, mas… o noivo não apareceu. Estava sozinha, conseguia sentir a raiva do duque pela atitude de seu filho mais velho, pensava que o homem iria explodir ali mesmo. 

Bom, tudo indicava que o seu marido — que nunca havia visto — tinha alguns hábitos ruins, um deles era faltar em seu próprio casamento.