A gateway to the Sun escrita por M san


Capítulo 1
Prólogo




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Uma vez que ele decidira por aquele destino, seus pés percorreriam o caminho independente do quanto de sua atenção estivesse nele. Inconscientemente, o rapaz sabia disso. Seu compasso interno sempre apontara à mesma direção. Bastaria segui-lo e esperar até que o resto do corpo vencesse a distância e encontrasse seu coração, que sempre esteve no mesmo lugar. 

Sasuke recordava o passado onde era seu futuro próximo. Na última passagem por lá, em condição de réu, ouvira seus crimes serem declamados por aqueles que o empurraram abismo abaixo, no qual batendo no fundo se tornou o próprio pesadelo. Se semanas antes não tivesse sido salvo de si por seu melhor amigo, estava certo de que a voz do conselheiro não o teria alcançado antes de sua espada transpassar o coração do velho. E foi seu amigo, mais uma vez, que o resgatou, discursando em sua defesa. 

O apelo também veio de seu professor. O sensei, a quem ele nunca chamou assim, despejou sobre cada palavra a autoridade e legitimidade que a recém-empossada posição lhe dava. Também foi Kakashi que esvaziou a acusação dos conselheiros ao lembrá-los que eles eram parte interessada no processo e não deveriam ter influência na condenação. Apenas meia dúzia dos presentes entenderam, mas o nome de Itachi ser limpo aos poucos acalentava o coração do irmão caçula. 

Os pensamentos de Sasuke, entretanto, vagavam por quase tempo nenhum no julgamento em si. A longa hora durante a qual esperou o veredito era o que lhe sugava. 

Estava de volta à sua cela, o corpo desconfortavelmente restrito pelas faixas que prendiam os braços ao tronco não lhe incomodando tanto quanto a cegueira provocada pelo selo sobre os olhos. Os sons entregavam quem entrava e saia e a angústia provocada pela sensação de vulnerabilidade aumentava. Exceto quando o eco vibrava em uma frequência diferente. Mais suave, quase inexistente, entregando a qualidade da ninja. Os sons dos passos de Sakura o deixavam ansioso pela calma que vinha com ela.  

Aquela foi a última vez que falara a sós com a antiga companheira. Ele se pegava revisitando essas memórias mais do que gostaria de admitir. Ouviu a grade ser aberta e fechada e sentiu-a sentando-se ao seu lado, num movimento que ela repetira tantas vezes que só o caderno de visitas da retenção poderia dizer. 

— Sasuke-kun, - a voz dela se sobrepôs ao barulho dos guardas jogando qualquer coisa dali alguns metros – trouxe chá. Quer um pouco? 

Ele assentiu e a garrafa térmica tocou seus lábios. A prática leva a perfeição e os dois estavam ali para provar o ditado: nenhuma gota derramada. 

— Obrigado. 

— Hm. 

A autorização que possibilitara as visitas de Sakura era condicionada aos laudos médicos que deveriam ser apresentados sobre a saúde do detento. O médico da prisão seria o responsável original pelas avaliações, mas nem ele, nem Tsunade se opuseram ao pedido da Haruno. A jovem argumentou que os ferimentos de Sasuke ainda eram motivo de preocupação e que como ela iniciara o tratamento pós-guerra, considerava adequado continuar. E era isso que ela fazia: o tratava. Não podia desamarrar o colete que o prendia, mas recorria a técnicas alternativas para auscultar seu coração, aferir a pressão, testar os reflexos. Durante as semanas que permaneceu no hospital, algumas lesões, além do braço amputado, requereram maiores cuidados, e sobre essas Sakura se dedicava especialmente.  

Uma delas exigia um certo contorcionismo de médica e do paciente. A lesão hepática que a Haruno diagnosticou ainda no campo de batalha era apenas a mais histérica de um grupo de meia dúzia mal curadas. A habilidade de Sakura tratara todas, mas a jovem ainda espremia a mão sob o colete do Uchiha e conduzia chakra na região, fortalecendo a recuperação do órgão. 

Mesmo anos depois, enquanto se lembrava daqueles dias, Sasuke ainda era capaz de sentir o toque dos dedos quentes de Sakura em sua pele. A memória física era gatilho. Pegava-se perdido nela, desejando revivê-la. Desejando viver outras sem saber quais. Por muito tempo, sufocou a vontade sob a culpa e medo. Mas ela sobreviveu e o tempo e a distância tornaram-na maior. E então, acendeu acima da culpa, que não o abandonaria de qualquer forma, e venceu o medo, o único que ainda tinha: de se envolver. 

A sorte lhe garantiu amigos que não o abandonariam. E deu-lhe um algo a mais. Pagaria por seus pecados a vida inteira, e era egoísta envolvê-los na própria penitência. Mas entre o egoísmo e a covardia, o último combinava menos com seu personagem. E, de qualquer forma, sua bússola sempre apontava para eles, afinal. 


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Notas finais do capítulo

Prólogo curtinho, mas capítulo 1 já tá no forno.

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Kissu!



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