Um novo renascer escrita por AyuCS


Capítulo 3
O fim de um sonho: PARTE II




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—Aqui está doutor, se não fosse pelo senhor, o meu mestre teria morrido engasgado.- disse o rapaz entregando um saco de dinheiro.

 

Um homem de longos cabelos loiros amarrados em um coque no alto de sua cabeça e de olhos verdes azulados referido a doutor olhou atentamente o rapaz a sua frente.

 

Ele era alto de cabelos castanhos e dono de uma belíssima voz além de que se vestia bem e pelas suas roupas caras parecia ser de classe nobre. E acima de tudo, bonito.

 

Gostei.- pensou o loiro mordendo o lábio inferior mirando em seus olhos cor de mel.

 

Se aproximou dele pegando em suas mãos com o dinheiro sentindo que havia uma quantia considerável no saco.

 

—Ora que isso, eu só fiz o meu trabalho como qualquer médico faria, então por favor não me agradeça.- disse sorrindo, engrossando a voz para que parecesse masculina.

 

—Ah não, não, eu preciso retribuir. O senhor salvou a vida dele, não há nada que pague pelo seu bom gesto.- disse o rapaz eufórico com um grande sorriso.

 

—Ah é? Nossa, ele deve ser muito importante mesmo. A propósito, qual é o seu nome?

 

—Ah, onde estão meus modos. Meu nome é Hayato, senhor.- ele se curva em reverência.

 

—Hayato… é um belo nome…- o doutor olhou de cima a baixo secando o coitado.- E você é daqui?

 

—Er… eu sou só um servo que encontrei meu senhor por acaso. Nada demais.

 

—Que interessante…- disse com um brilho nocivo no olhar.-  mas me fala... você gosta de bebidas?

 

—Bem, só em eventos comemorativos.- disse meio sem jeito.

 

—Mas hoje é um evento comemorativo, sabia?

 

—Ah, é?

 

—Sim, seu chefe tá vivo hoje, não está? Ele poderia ter morrido.- se fez de surpresa- Imagina se eu não estivesse aqui, que tragédia seria.

 

—Tem razão, seria horrível mesmo. Mas ainda sim quero retribuir.

 

—E você pode…- alargou seu sorriso ficando a centímetros do rapaz. O moreno começa a se sentir desconfortável com a aproximação.

 

—Er... Senhor?

 

—Está uma noite agradável hoje, não?

 

—Hum... sim, está.- sua timidez só o faz ficar ainda mais fofo.

 

—Não precisa se acanhar, porque não fica um pouco e beba comigo?

 

—Er... eu... eu realmente não posso.- disse Hayato recuando um pouco.

 

—Por favor…- o doutor se aproximou sussurrando em seu ouvido.- Não precisa ter medo, podemos ser amigos.

 

Mirou em sua boca com vontade de atacá-lo.

 

—E-eu…

 

Próximo o bastante, suas respirações se misturam fazendo fumaça no ar frio da noite.

 

Quando estava prestes a dar o bote nele, o rapaz largou o dinheiro ali mesmo se soltando das mãos do doutor e saiu correndo. 

 

—ME DESCULPA!

 

Vendo o Hayato se afastar quase caindo nos próprios pés. O loiro suspirou derrotado.

 

—Poxa, perdi mais um.- falou fazendo biquinho.

 

—Ei Inoichi! o que está fazendo? Venha beber com a gente.

 

Atrás de si seus amigos gritavam, virou observando os três homens que o chamavam com gestos perto de uma mesa cheia de bebidas e petiscos.

 

—É… fazer o quê né.- disse para si mesma, logo em seguida gritou para os seus amigos já alcoolizados.- Vamos lá, quem está pronto para a próxima rodada!!!

 

—É assim que se fala!

 

—Vamos aproveitar enquanto ainda é cedo!

 

—Tenho certeza que vamos encontrar umas boas gostosas por aí!!!

 

Todos comemoravam e riam levantando seus drinks.

 

Se juntou aos rapazes rindo. Estavam em um pequeno restaurante à luz do luar bem iluminado por lanternas de papel, enquanto bebia, ouvia várias histórias daqueles bobalhões. Era bem comum encontrar pessoas por aí e chamar pra beber, ainda mais quando você tinha algo para oferecer, e foi assim que encontrei esses otários. Viam que eu sou um "doutor" certamente tinha dinheiro para esbanjar, mas pra mim eles tinham algo para oferecer também. Informação.

 

Ia tomar mais um gole de sua bebida, quando percebeu uma aproximação estranha, parou no ato de ver no que daria.

 

—A festa está do seu agrado…- uma voz suave e masculina sussurra bem no pé do ouvido fazendo seu corpo se arrepiar- …Senhorita Yamanaka.

 

Arregalou os olhos com a última palavra.

 

Levemente surpresa virou seu rosto para trás encontrando uma cara mais branca que um fantasma perto de si.

 

—A.- respondeu com cara de paisagem para o anêmico. - Está muito divertido aqui, e estaria melhor ainda se você se retirar caso não se importe.- disse lançando um sorriso fingido e se virando para a mesa novamente.

 

—Só estou fazendo meu trabalho por aqui.- ele puxa a garrafa de saquê.

 

—Então faça o favor de não perturbar minha alegria.- pego a garrafa à força de volta.

 

—Não posso.

 

É de poucas palavras mas é chato pra caralho.

 

—Oe Inoichi, quem é esse aí- um dos caras pergunta com a voz arrastada pela bebida.

 

Faço minha melhor produção masculina que posso.

 

—Não é ninguém, ele já está de saída não é mesmo?

 

—Não.

 

—Apenas o ignorem.- disse virando a garrafa goela abaixo.

 

—Seu pai ficaria preocupado se não voltasse hoje.

 

—Uhum.

 

—Não seria bom se ele descobrisse seu segredo.

 

Sai com certeza não sabia com quem estava mexendo. Deixou a garrafa em cima da mesa respondendo de costas.

 

—Vê se não me amola, eu só vou sair daqui carregada. Entendeu?

 

—Se é assim que deseja, então assim será.

 

Hum?

 

No momento em que eu foi se virar para questioná-lo, do nada  o mundo escureceu a sua volta perdendo total controle do meu corpo.

 

—______

 

Um belo par de olhos esverdeados se estende com a magnífica visão do teto do seu quarto. A luz forte da manhã emitida da janela começava a bater bem no seu rosto fazendo a se revirar na cama.

 

—Hummm, será que o sol não podia amanhecer depois?- resmungou debaixo do travesseiro se protegendo do sol.

 

Depois de um tempo numa tentativa falha de voltar a dormir, jogou o travesseiro e se levantou rápido da cama, quando fez sentiu seu pescoço doer como se tivesse levado uma porrada no local. Deitou novamente levando a mão até a nuca fazendo uma leve massagem.

 

—Haaa... mas o que aconteceu?

 

Com um olho aberto e o outro fechado, observou ao redor reconhecendo o ambiente aos poucos. Franziu o cenho. 

 

Não se lembrava de como ter chegado ali. Sua última lembrança foi em estar com os amigos e o…

 

—Sai.- sorriu desacreditada, conversaria com ele depois.

 

Um odor forte invadindo suas narinas. Olhou pra baixo reparando em si, ainda continuava com as mesmas roupas masculinas da noite passada. 

 

Assim que tentou se levantar outra vez, parou com o tronco meio erguido quando escuta a voz de sua mãe.

 

—Quero saber se você vai passar o dia todo aí.- disse parada em frente a porta.- Anda logo, levanta! A noite passou faz horas.

 

A loira revira os olhos pelo chamado grosso de sua mãe. Dava pra ver sua sombra passando através do fino papel que separava o quarto para o corredor. 

 

Fez uma última tentativa de se levantar sentindo leves pontadas de enxaqueca. Com o corpo mole, caminhou para o banheiro dando um jeito de se livrar dos lençóis e das roupas com mau cheiro. Se apressou em chegar na cozinha, viu sua mãe de costas e lançou um sorriso amarelo.

 

—Pensei que já estava até morta.

 

Seu sorriso murcha com as suas palavras. Sabia que todo dia era assim, então ela apenas deu de ombro e se sentou à mesa se servindo.

 

—Bom dia pra você também, mamãe - cumprimentou no mesmo tom.- Pelo visto seu humor muda rápido, não é mesmo?

 

—Se você acordasse cedo meu humor não mudaria tanto.- disse com cara de poucos amigos.

 

—Aaah claro, mais uma DESCULPA para se estressar.- enfatizou.

 

 -Eu não tenho tempo pra ficar inventando desculpas, tenho que trabalhar e sugiro que faça o mesmo.

 

Ela sai da cozinha batendoo pé sem sequer olhar pra trás. Depois que a porta se fecha, a casa fica em um silêncio total.

 

—E sugiro que faça o mesmo. Ah, velha chata!- falou largando a xícara na mesa.- Como se eu não tivesse trabalhado a noite toda ontem. 

 

Assim que termina seu café, Ino vai direto para o quarto, tratando de fazer um penteado que escondesse os longos fios loiros, amarrando em coque alto sem franja, ficando assim pouco reconhecida. Ino tinha seu estilo próprio, então facilmente reconheciam ela só pelo cabelo.

 

Logo que terminou, puxou uma capa grande escondida debaixo da cama que cobria boa parte do meu corpo e saiu de quarto com a última olhada no espelho.

 

Do lado de fora cobriu-se com a capa andamento diretamente para zona mais movimentada do comércio adentrando em várias ruas, tomando sempre cuidado de não ser reconhecida, chegou a uma parte mais calma e até um pouco obscura por aquela área ser perigosa. Parou de frente a um edifício em que vendia livros baratos, adentrou na livraria simples sem muita decoração.

 

—Chegou?

 

Perguntou para o dono do local, ele levantou o olhar diretamente a ela e confirmou com a cabeça andando para os fundos da loja. Sem hesitação a loira seguiu o mesmo.

 

 

Pra quem ver o palácio parece até um lugar maravilhoso pela sua riqueza que transborda pela capital de Konoha. Muitos pensam na maravilha que seria viver em prol de toda essa fortuna. Mas claro, pra quem não sabe.

 

Aqui o mundo é totalmente diferente do que aparenta ser, e os espertos com certeza se manteriam longe se soubessem.

 

Servos que se dizem devotos na verdade são todos hipócritas, desleais, corruptos, traidores, assassinos dominados pela ganância e poder.

 

O palácio cobertos por lâminas e sangue acobertado pelo poder.

 

Nojento.

 

O primeiro-ministro não é tão diferente. Ino se mantém bem informada de quem seu pai é e com quem ele anda. Apesar de não ser dominado como esses porcos loucos por dinheiro, seu pai se mantém um homem decente. No entanto, foi por ele que teve o privilégio de me aproximar da família real.

 

Da princesa no caso. O que hoje resultou na melhor amizade que eu poderia ter.

 

Andou pelo salão procurando alguém conveniente para conversar enquanto a aniversariante não chega. Falsidade era sua inimiga mortal, no entanto fazia questão de se manter longe dos verdadeiros demônios deste mundo.

 

—Você é a que menos falta nessas festas, não?

 

Virou-se pra trás se deparando com uma figura masculina bastante elegante aos olhos da loira. Franziu o cenho com as palavras íntimas até demais para um desconhecido.

 

—O que?

 

Ele a encarou divertido.

 

—Estou feliz de vê-la novamente depois de tanto tempo, senhorita Yamanaka.- ele se reverência dando um meio sorriso de ladinho.

 

Ino semicerra os olhos tentando reconhecê-lo, mas nada veio à mente. O homem usava roupas tradicionais dos ancestrais como todos nós, seu cabelo era castanho médio e rebeldes amarrados no topo da cabeça que chegavam até os ombros. Tinha os olhos da mesma cor que na sua opinião eram até sedutores.

 

Depois de um tempo o observando, ele abaixa a cabeça soltando o ar cansado.

 

—Parece que não me reconhece, não é? Que problemático.- ele bufou olhando em volta.

 

Que problemático.

 

Quem era que falava isso?

 

Baixou o olhar buscando algo, ou melhor, alguém nas suas memórias. Mas só uma pessoa veio.

 

—Você vai continuar fugindo não é mesmo?- ele fala com a sua voz infantil.

 

Estávamos sentados em um pequeno muro baixo na residência Nara comendo alguns mochis de arroz.

 

—Ora, e que mal tem isso. Tantas coisas para explorar por aí, é claro que eu vou sair nem que seja fugida. Afinal, o meu pai não deixa ir pra lugar algum sem que ele permita.

 

Ino bufou frustrada lembrando das incontáveis vezes que teve que implorar para o seu pai levá-la em suas viagens de negócios.

 

—Não tem medo de levar uma bronca?

 

—Nem um pouco. Aquele velhote não me dá medo.

 

—Se fosse comigo, minha mãe só faltava me enterrar.

 

—Meus pêsames então- a loira falou com uma expressão triste logo em seguida soltando uma gargalhada.

 

—Ah engraçadinha, você só tem sorte de sua mãe não ser igual a minha.

 

—Ah Shikamaru, a vida é assim. Alguns têm privilégios que outros não tem.- levantou as mãos em descaso.

 

—Tsc, que saco.

 

Ele olhou para cima vendo as nuvens passageiras passeando devagar, a garota acompanha o seu olhar.

 

—Você não tem jeito mesmo.- ele declarou entediado.- que problemático.

 

Voltou a si reconhecendo o homem finalmente.

 

—Shikamaru…

 

Ele vira o rosto a encarando. Não acreditava no que seus olhos viam, ele tinha crescido tanto ficando uns vinte centímetros a mais que ela. 

 

—Então você voltou do país do ferro? 

 

—Vim pra ocupar o cargo de conselheiro da guerra em Konoha. Sei que vai ser cansativo, no entanto, alguém terá que ocupar o lugar do meu pai.

 

Ele parece ter mudado mesmo de uns tempos pra cá. Sua aparência física amadureceu muito desde a última vez que a viu. 

 

Nunca pensei em ter que dizer mas caraca que homem, hein.

 

—Você não parece ter mudado apesar da altura.

 

Claro que ele diria isso. Mas por essa Ino não sairia por baixo, prontamente disse:

 

—Se está com problemas de visão Nara, recomendo que consulte um médico.- falou em ar debochado olhando de cima a baixo.- Pois eu mudei bastante sim, desde o nosso último encontro.

 

Ele passou o olhar avaliando a loira.

 

—Olhando assim eu não acho.

 

Uma veia de irritação se fez presente em sua testa.

 

—Como é?!

 

—Ei, calma aí. Não precisa se estressar, eu só falei minha opinião.- ele levanta as duas mãos rendido.

 

Suspirou desistindo.

 

—Tudo bem, mas é bom tomar cuidado para não atentar quem não conhece.- disse num aviso.

 

—Me lembrarei disso.- ele coloca a mão atrás de sua cabeça com o ar entediado.

 

Esse é o Shikamaru que conheceu desde de criança. Um ótimo conselheiro, brincalhão e preguiçoso. Sorriu com as lembranças que tinha dele, mas isso foi cortado com a chegada de sua alteza que foi anunciada chamando a atenção de todos. Sakura entrou pelos portões acompanhada pelas damas da corte atrás de si. Sua atenção parou totalmente nela assim que a viu, estava tão majestosa como nunca. Praticamente brilhava com o kimono feitos de seda branca e esverdeada em camadas grossas detalhadas com flores de cerejeiras em tons rosa, sendo completada em folhas de ouro na base. À medida que se aproximava, a maquiagem forte se destacava a deixando ainda mais esbelta. As pessoas abriam espaço se curvando para o seu caminhar, sendo arrastado por uma longa calda que se fazia o símbolo da própria casa Senju em ouro.

 

Estava tão linda quanto uma deusa.

 

Com delicadeza e elegância, ela se prostra diante do imperador com reverência o cumprimentando graciosamente, em seguida se colocando ao lado dele.

 

O rei anuncia o início da festa.

 

Alguns convidados se aproximam parabenizando a princesa. O típico rito do palácio.

 

—Se me der licença, acompanharei meu pai em sua saudação ao imperador.- disse Shikamaru se afastando.

 

—Tá bom.- respondeu simples.

 

Me sinto uma pobretona agora.- sorriu com o pensamento.

 

Após as saudações chatas, cada um foi para um lado. Ino viu Sakura afastar-se um pouco de seu, decidiu ir até ela. Afinal era pra isso que tinha vindo.

 

—Alteza.- se curvou com um sorriso no rosto. Sakura revirou os olhos sorrindo também.

 

—Espero que não tenha vindo aqui apenas para contar suas aventuras fugidas.

 

—Ora claro que não. Parece até que não me conhece.- olhou para os lados desentendida.- Como sua melhor amiga não perderia por nada sua festa de aniversário.

 

—Uhum.

 

Sakura cruzou os braços mantendo o sorriso no rosto. As duas ficaram se encarando por um tempo até que a Ino soltou:

 

—Essa semana eu conheci um menino dos deuses.

 

—Ah, Ino!

 

—É sério, ele era muito lindo, você precisava ver. Acho até que vou sair por aí descobrindo a vida.- disse brincalhona.

 

—Se você fizer isso eu te mato!- Sakura aponta o dedo na direção da Ino logo em seguida caindo na risada.

 

—Tenho uma novidade também.

 

—Conta.

 

—Pedirei a Sasuke, de hoje ele não escapa.

 

Achou graça nisso, logo depois percebeu que Sakura a encarava com um olhar de expectativa. É sério isso mesmo?

 

—Não era pra ser ele que devia pedir?

 

—Argh, se eu for esperar por ele vou morrer esperando.

 

Ino a encarava sem acreditar. Depois de tanto tempo a Sakura com esse amor pelo seu desde, sei lá, a infância toda.

 

—Não devia se empatar com isso, há outros pretendentes, sabia?

 

—Pra mim só existe um e esse é o Sasuke. 

 

Ino simplesmente não entendia como o mundo dessa garota pode rodar em torno de um cara só? Continuou a olhando sem interesse. Ela falava sem parar do Sasuke e como seria o seu perfeito conto de fadas com ele. 

 

Seu primo foi seu primeiro amor em toda a sua infância, no entanto Ino nunca aceitou como ele a tratava sem interesse algum, nem mesmo respondia os sentimentos dela seja lá qual for sua resposta. O que ele estava fazendo com ela era injusto, mesmo que ela não se tocasse ele pelo menos tinha que dizê-la.

 

Seu peito se aperta se sentindo inconformada. Aquilo estava passando do ponto. Se perguntar o coitado nem deve saber que está sendo bajulado assim.

 

Parou por um momento lembrando de um detalhe importante.

 

—Sakura,- interrompeu a encarando séria.- O que Sasuke acha disso?

 

Ela franze o cenho colocando a cabeça de lado. 

 

— Como assim?

 

—É isso mesmo que ele quer?

 

Ela pensou um pouco e respondeu.

 

—É claro que ele quer, estamos destinados a isso.

 

Ah não, ela está começando com isso de novo.

 

Ino respira fundo encontrando palavras para dizer.

 

—Não é assim que as coisas são, Sakura.

 

—Mas vai ser, e você sabe que eu não vou parar até conseguir o que eu quero.- disse firmemente.

 

Teimosia sem limite, essa é a sua personalidade.

 

—Não é assim que as coisas são, Sakura.

 

—Como não? Você sabe que é esse o meu desejo.

 

—Sim, mas agindo dessa forma não chega a lugar nenhum.

 

—De que forma?

 

Sakura olhou confusa para a Ino. A mesma achou que ela estava brincando consigo.

 

—Você sabe muito bem.

 

—Ino, eu não tenho ideia do que está falando.

 

—Você sabe, sim.

 

Ela balançou a cabeça franzindo o cenho. Não aguentando aquele tipo de palhaçada falou soltando tudo.

 

—Você está deixando o seu orgulho tomar conta das suas decisões!- exclamou um pouco ríspida.

 

Ela olha para a sua amiga surpresa e logo em seguida muda sua expressão ficando séria pela primeira vez.

 

—Apenas estou seguindo o que eu acho o melhor pra mim.

 

E se esquecendo que existe outras pessoas?

 

—Ainda sim, devia se preocupar com as vontades dele. Não só as suas que importam, já conversamos sobre isso.

 

Ela deu um passo à frente.

 

—Não venha me dizer o que eu devo ou não fazer.

 

—Não é isso que eu estou dizendo.

 

—Mas está insinuando!

 

Ah quer jogar, é?

 

—Até onde eu sei, seu pai deixou bem claro que ele escolheria seu pretendente.

 

—E desde quando meu pai se importa? Nesses anos todos ele nunca deu atenção pra mim e não é agora que isso vai mudar.

 

—Mas isso não justifica que você deve colocar seus desejos acima dos outros.- a essa altura seu tom de voz já estava alterado.

 

—E porque não? Eu sou a princesa e posso tomar decisões por conta própria, inclusive mandar e ter o que eu quero.

 

A rosada respira fundo, já nervosa. 

 

A que ponto chegamos nessa conversa?- pensou Ino fechando os punhos sustentando seu olhar fulminante.

 

—Não nos sentimentos dos outros.- concluiu.

 

Aos poucos ela amenizou seu olhar para algo mais triste, desviando dos de sua amiga.

 

—Não importa, isso vai acontecer e não há nada que me impeça.

 

Num movimento impulsivo, Ino agarra seus ombros apertando firme. 

 

—Você disse que ia mudar, você me garantiu isso!

 

Uma pausa prosseguiu entre as duas, sem encarar ela tira as mãos de sua amiga.

 

—Eu sinto muito.- ela prosseguiu andando deixando uma Ino estática pra trás. 

 

O que?! Quer dizer que vai ser assim então?

 

Movida pela emoção, se virou para sua amiga a chamando.

 

—Sakura!- parou ainda de costas.- Eu te amo, contudo, odeio isso em você.

 

Ela ouve suas palavras sem dizer nada, logo em seguida sai andando entre a multidão. A loira apenas observou seus cabelos rosados perfeitamente alinhados em suas presilhas douradas se misturarem na multidão.

 

 

Em seu quarto, ela apenas fitava o teto de madeira ouvindo o som dos grilos do lado de fora. Era a única música que tinha ali.

 

Que saco.

 

O mínimo que ela pedia era um pouco de compreensão. Eles não entendiam que aquele tipo de prisão não era pra ela.

 

Casar. Família. Era a única tarefa que seus pais deram a ela. Viver pra servir não fazia nem um pouco seu tipo, e como todo mundo tem um sonho a jovem Yamanaka também tinha o seu. Pediu para os seus comprarem um livro de anatomia, acharam simplesmente um absurdo ela querer aquele tipo de coisa. Quando explicaram melhor, disseram que uma mulher não podia estudar medicina.

 

Na época sentiu suas esperanças irem para o ralo. Mas não aceito aquilo, iria estudar medicina por bem ou por mau.

 

Odiava essas regras. Odiava essa ignorância. Odiava essa sociedade. Odiava esse mundo.

 

Virou-se de bruços afundando sua cabeça no travesseiro. Isso é pressão demais.

 

Algo bateu em sua janela chamando a atenção da mesma. Olhou em direção ao barulho notando ali um galho solto de uma árvore batendo de acordo com a ventania.

 

Eu não posso ficar lamentando aqui. Preciso esquecer isso, preciso de uma fuga.

 

Se levantou da cama indo a um dos tatames e parou em um especial que estava com marcas de um sutil corte perfeitamente quadrado que se localizava bem no meio do quarto– tatame esse que ela mesma cortou fazendo ali o esconderijo de seus objetos–. Puxou o tatame com força abrindo uma espécie de alçapão improvisado no chão avistando seus pertences. Puxou umas das roupas masculinas a vestindo ali mesmo e pegou o restante dos objetos necessários. Saiu pela janela evitando se encontrar com os pais.

 

Pulou o muro baixo de casa correndo agachada para que ninguém a visse, longe o bastante seguiu caminhando normalmente direto para as ruas do festival.

 

É hoje que eu não volto pra casa sóbria. Sorriu com a possibilidade.

 

Longe o bastante de casa garantindo que ninguém havia seguido, caminhou distraída com o bolso cheio de dinheiro do seu pai, aquilo não faria falta para já que ele ganha dez vezes mais. Cortou caminho entrando em ruas estreitas para chegar mais rápido, assim que ia dobrar o beco, ouviu um grunhido.

 

—O que é isso?

 

Caminhou alguns passos vendo duas pessoas paradas. Percebeu pela grande sombra que se fazia no chão que eram dois homens. Rapidamente se esgueirou pela parede se aproximando dos dois seres sem ser vista.

 

O curioso era que eles se encontravam em uma posição extremamente estranha. Um estava no chão sem forças para se levantar e sendo erguido pelo outro na gola.

 

Uma briga será?

 

Nessas épocas é muito comum acontecer brigas, ainda mais quando se bebe demais. A rixa rolava à solta chegando até mesmo ser separada pela polícia imperial.

 

E como a Ino não era de dispensar esse tipo de entretenimento, ficou ali para assistir. Se aproximou bem devagar para que não fosse vista.

 

Próximo o bastante para ouvir, se agachou encostada na parede. Por sorte a boa iluminação das lanternas no fim do beco a permitia ter uma visão clara da cena.

 

—Eu não vou repetir de novo, onde aqueles dois foram?

 

Com dificuldade, o outro responde.

 

—Eu não sei. E mesmo se eu soubesse jamais diria a você.

 

O primeiro já fungando desferiu um soco no homem caído fazendo um som de seus dentes trincarem.

 

—Onde eles estão?!

 

O homem meio zonzo começou a rir.

 

—Achei que você não iria perguntar de novo.

 

—Gosta de ser o engraçadinho não é? Então vamos ver se você vai rir disso.

 

O primeiro homem largou o outro e puxou de sua cintura algo grande que parecia reluzir na luz. 

 

Espera... uma espada?! Ele vai matá-lo?

 

Ino se assustou com aquilo. Matar não era uma boa ideia.

 

Não ligando em se meter fez menção de se levantar e parar aquela briga antes que fosse tarde demais, no entanto uma mão a agarrou por trás tapando sua boca a forçando seu corpo ficar mais próximo do indivíduo atrás de si. Grito de susto e desespero ao mesmo tempo sendo abafado pela sua mão.

 

—Shiiiiu, não faça nada.- ele sussurrou bem no pé do seu ouvido.

 

Tremendo de medo, se manteve corajosa o suficiente para virar seu rosto devagar se deparando com um rosto pálido e fino bem próximo de mim. Olhando-o atentamente conseguiu reconhecer esse formato de rosto em qualquer lugar. Juntou as sobrancelhas com a sua afirmação.

 

É a cara de fantasma do Sai.

 

Mas o que é que tá acontecendo?

 

Ele permanecia sério olhando atentamente os dois homens. Se virou também.

 

O primeiro homem com a espada desceu cravando ela na perna direita do homem caído que o fez gritar de dor. Espantada com a cena, arregalou os olhos estática.

 

—Vai fazer piadinhas agora seu merda?

 

O homem continuou gritando querendo tirar a espada, porém o primeiro a enterrou lentamente prolongado a dor.

 

—Me diga, onde eles estão?

 

Ele não conseguia dizer, estava agonizando.

 

—Fala!

 

—VAI SE FUDER!!!

 

Sem paciência, o homem tirou a espada dessa vez cravando na perna esquerda. E tirou mais uma vez desferindo no joelho e tirou outra vez voltando pra coxa e tirou mais vez, e outra vez e outra vez. O sangue se enchia pelo chão de pedra fazendo assim, escorrer por todo o lado.

 

Já não aguentando ouvir os gritos do homem, fechou os olhos fortemente. A sessão de tortura estava lhe dando ânsia. Só pediu a kami para que tudo isso parasse.

 

—É a sua última chance ou vai morrer.- rosnou o primeiro.- Onde está o Hatake e a Sua alteza?!

 

Abriu seus olhos ouvindo a última parte. 

 

Sakura? Aconteceu algo com ela?

 

Jamais se perdoaria se algo acontecesse com ela. Se voltou aos dois prestando atenção.

 

—Já disse que EU NÃO SEI!- crispou o homem cuspindo sangue e saliva de sua boca.

 

O primeiro já fungando forte continuou fitando o homem caído com menosprezo no olhar pensando em algo. Depois de um bom tempo, ele se aproxima colocando a espada junto de si.

 

—Tudo bem então, se não sabe,  não adianta eu perder meu tempo aqui. Vou ter que procurar sozinho.- falou bem próximo ao rosto dele e se afastou soltando o caído.- Está livre.

 

Acabou? Até que fim. Obrigado Kami-sama.- suspirou aliviada.

 

Antes de sair o homem passa a espada tão rápido quanto o vento goela do cara o matando ali mesmo.

 

Congelou na hora caindo para trás, Sai a segura antes de cair no chão.

 

Ele embainhou sua espada e andou normalmente em direção a saída.

 

Assim que ela ver que o homem não iria mais voltar se soltou dos braços de Sai querendo correr na direção do homem porém é agarrada novamente.

 

—O que está fazendo?

 

—Preciso ajudar!

 

—Ino, ele já está morto. Precisamos sair daqui.

 

—Não posso deixar ele aqui.

 

—Se ficarmos, seremos os próximos. Temos que ir.

 

—Mas.

 

—Aparecerá mais deles. Vamos!

 

Encarou o homem no chão não acreditando que ele estava morto.

 

—Vamos, Ino!

 

Depois de longo tempo o observando com lágrimas nos olhos se deixou ser guiada pelo Sai saindo do beco.

 

Deu mais uma olhada para trás dizendo um "sinto muito" com o olhar.


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