Se beleza fosse crime eu estaria preso escrita por chantez


Capítulo 1
único




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Hinata 

 

Eu juro que não estava colando no teste, só queria ver como seria a minha prova prática, pois Sakura me perguntou se eu poderia torcer por ela se fizesse a mesma avaliação; foi total coincidência, sério, de verdade. 

Agradeci pela prova ser à tarde e, no momento, todos os alunos se encontrarem em casa ou fazendo outra coisa, não querendo estar no colégio mais do que o necessário, o que praticamente me deixava sozinha na arquibancada com uma puta vista boa do gramado. 

Uma equipe com cor de camiseta rosa-clara, onde atrás podia se ler o nome de super-herói da pessoa que a vestia, estava reunida para discutir as estratégias finais da prova; e do outro lado do campo, havia uma equipe adversária, só que dessa vez usando camiseta verde-clara e fazendo a mesma coisa. 

O árbitro apitou e no telão dava para ver escrito “10 minutos”, com letras enormes, em que a contagem ia decrescendo a cada segundo que passava. 

Não entendi muito bem a cara de extremo desânimo que Sakura e todos os seus demais companheiros de equipe fizeram quando se viraram e finalmente avistaram seus rivais, quase como se soubessem que perderiam. 

Do outro lado, o grupo que usava camisetas verdes começou a rir e a gritar a todo segundo, com o peito inflamado, que seus oponentes seriam destroçados. 

Claro que como uma pessoa que amava uma boa fofoca, tive que me aproximar para ver com mais clareza o que iria acontecer a seguir. Afinal de contas, para se ter certeza de que iria ganhar uma partida antes mesmo de ela começar, seu superpoder teria que ser um dos melhores do mundo e superar o dos seus adversários de campo. 

— Você sabe o que fazer. — A capitã passou a bola para o cara à sua direita. A habilidade dele certamente não era exterior, pois parecia um ser humano como qualquer outro, diferindo apenas por sua beleza. Eu tinha olhos, ok? Admito que ele era um “sólido dez”, uma estética preguiçosa, mas com algo em sua aura que simplesmente me fazia não conseguir parar de olhá-lo. 

Tive que apertar um pouco a vista para conseguir ler seu nome; Naruto. 

E, pelo amor de Deus, por mais que meu cérebro gritasse a plenos pulmões que era supererrado ficar secando alguém, eu não conseguia deixar de observá-lo. Por pânico, dei um beliscão em mim mesma para voltar a ser uma pessoa respeitosa. 

Naruto caminhou com uma plenitude de outro mundo, quase como se mal tivesse algo para fazer da vida. Todos os seus companheiros de equipe se sentaram no gramado; alguns mexiam no celular, inclusive, vi duas meninas fazendo as unhas, e uma outra até mudando a cor do seu cabelo, claramente por estar entediada. 

Cara, não era possível que esse pessoal não levasse a nossa avaliação mensal a sério. 

Porra, a ponto de os outros confiarem tanto assim em suas habilidades, só o Naruto sendo tipo um professor Xavier da vida. 

Quando ele andou uns dez centímetros com a bola no campo adversário, todos os demais deram passos para trás de puro medo, alguns na verdade também nem se mexeram. Somente o olhavam passar por suas defesas como se não houvesse nada que fizessem capaz de ser páreo o bastante para derrotá-lo. 

— Saku, vai que é sua! — gritei incentivando minha amiga, pois Naruto estava passando perto dela. Não querendo me gabar pela Haruno nem nada, o fato era que ela possuía uma habilidade bem legal. 

Nessa hora, aparentemente meu tom de voz a tirou do choque e dei um sorriso quando vi chamas subindo em ambos os seus braços. Mesmo que não conseguisse ainda descobrir qual era o superpoder de Naruto, apostava que ele poderia fazer um escudo do tamanho que quisesse. Devia ser por isso que ninguém se aproximava e eu tinha a certeza de que o fogo seria capaz de acabar com sua habilidade.

Em um segundo, minha amiga estava pronta para dar um soco em seu adversário, mas bastou Naruto só olhá-la para que seu corpo parasse de pegar fogo e ela se ajoelhasse murmurando um “desculpa” com seu rosto vermelho, quase como se genuinamente estivesse pedindo perdão por pensar na possibilidade de machucá-lo. 

E com uma calma cronometrada de cinco minutos, Naruto atravessou o campo adversário com uma bola rosa-clara; acabando a avaliação ao som do apito do árbitro. 

— Oh, bebê, você fez uma partida muito boa, não se sinta mal. — Dei um abraço em Sakura ao lidar com todo o sentimento de derrota que experimentou. 

— Eu sou só três anos mais nova que você, não dez — Haruno resmungou, mas não recusou que eu envolvesse meus braços ao redor dela quando a puxei para mais perto, começando a mexer em seu cabelo. 

Vendo Naruto ser levantado pela sua equipe como se tivesse feito algo mais extraordinário do que só andar em um campo, jurei para mim mesma que nunca iria gostar dele. Afinal de contas, quem deixava Sakura triste já estava na minha lista de pessoas que odiaria. 

(...)

No dia seguinte, encontrava-me como em qualquer outro, almoçando na mesma mesa que Sakura e Sasuke. Ino deu um grande suspiro ao se sentar ao meu lado, ainda com a sua camiseta cor de laranja-claro, uma vez que tinha acabado sua avaliação mensal. 

— O que houve? Naruto? — Sakura perguntou assim que nossa amiga chegou, dando um olhar de pura empatia para a Yamanaka. 

— Sim. Ele nos destruiu — Ino gemeu apoiando sua cabeça na mesa com extrema insatisfação. 

— Qual é a desse Naruto? Que habilidade ele tem? 

Claro que tive que perguntar, afinal de contas, esse cara não tinha salvado seu time só uma vez, e sim duas. Isso quase deveria colocá-lo no hall sagrado que todos os estudantes viam quando entravam no colégio, um local que possuía fotos da totalidade de alunos ou egressos da instituição de ensino que tiveram um impacto muito considerável no mundo dos super-heróis. Ou seja, eram lendas que todas as gerações conheciam o nome. 

Senti três pares de olhos surpresos me esquadrinhando nesse momento, como se não acreditassem que não sabia quem era Naruto. Permaneci aguardando por uns instantes até se manifestarem, porém continuaram em silêncio, talvez surpresos. 

— Eu deveria saber quem é ou algo do tipo? — tornei a perguntar, buscando romper com a quietude.

— Hum… Sim? — manifestou-se Sasuke.

Que não me levassem a mal, mas nos dois anos que estive nesse colégio, todo o meu foco foi em conseguir ser uma das melhores da minha turma. Então, obviamente não perdia o meu tempo de estudo observando habilidades de alunos que estavam fora do meu círculo social. 

— O superpoder dele é ser atraente, mas tipo, se você chegar muito perto, vira uma atração sexual caso não conviva com ele. E quando mal esperar, seu cérebro irá derreter inteiro. — Os outros dois concordaram com a cabeça quanto à fala de Ino, que ainda estava usando um tom de voz de derrota e finalmente também me respondeu. 

— Isso só pode ser uma piada. 

Comecei a rir tanto que alguns segundos depois precisei limpar as lágrimas que passaram a cair dos meus olhos. 

— Então, basicamente, você fica tão excitado que não consegue usar seu poder? E desde quando vocês só pensam com o pau ou a vagina? 

Sério, não entrava na minha mente. Claro que como uma pessoa de dezoito anos, eu sabia mais que ninguém que às vezes o prazer era tão intenso que seu cérebro poderia desligar, mas ainda assim, achava um absurdo isso acontecer em relação a alguém que você praticamente não conhecia. 

Para mim, particularmente, como uma demissexual, sentia a necessidade de ter um vínculo emocional ou intelectual com a pessoa para que algo nesse nível ocorresse, então considerava que o superpoder de Naruto certamente não funcionaria no meu caso. 

— A gente também não acreditou no começo e olha onde estamos. —  Sasuke deu de ombros como se nem valesse a pena argumentar comigo. 

— Olha, você vai ver com seus próprios olhos, pois já saiu contra quem será o confronto da sua sala, e os adversários de vocês vai ser a turma do Naruto. Boa sorte. Depois quero saber se você disse algo embaraçoso para ele. —  Sakura estava com um sorriso enorme quando viu no site do nosso colégio onde seria, bem como o horário da próxima avaliação. 

— Estaremos lá para rir da sua cara, pode deixar — Ino garantiu, divertida.

Os três deram risadas entre si antes de se levantarem despenteando o meu cabelo ao se despedirem, já que estudávamos em salas diferentes e precisaríamos nos separar. 

(...)

No dia seguinte, pontualmente às três horas da tarde, encontrava-me em um campo de futebol com os meus três amigos, os quais gritavam que eu seria massacrada e coisas do tipo. Enquanto isso, tentava me concentrar para ouvir o apito indicando o início do jogo. 

Como sempre, a outra equipe deu a bola para Naruto e sentou-se, deixando-o fazer o trabalho sozinho. Segundos antes, puxei um coro de incentivo para a minha equipe, mas conseguia perceber em seus olhos o desânimo ao verem o Uzumaki ao outro lado. 

Pelo jeito, eu teria que fazer tudo, já que quando apitaram, nenhum dos meus colegas deu um passo à frente na hora que Naruto começou a andar calmamente pelo gramado. Toquei a relva abaixo de mim, inclinando-me e sentindo uma pequena coceira, que significava que meu superpoder estava em ação. A partir disso, comecei a rastejar pelo chão, tentando ao máximo me desviar dos outros para que a minha camuflagem desse certo. 

Não precisei usar minha habilidade por muito tempo, já que dois minutos depois me encontrava em sua frente. Meu plano era até simples: tirar meu disfarce no momento certo, pegá-lo de surpresa e roubar a bola de sua mão. 

No entanto, logo as coisas fugiram do meu controle. Demorei alguns segundos para processar o que estava acontecendo, mas Naruto havia olhado para mim e minha habilidade sido anulada. Nunca, em toda a minha vida, tinha encontrado alguém que suprimia outro superpoder. E juro, ele não fez nada de mais, somente deu um pequeno sorriso, daqueles que nem mostravam os dentes; e seus lábios ainda se encontravam fechados, mas meu cérebro achou a coisa mais linda do mundo. 

Se fosse um filme, com certeza seria algum que contaria com uma cena em que anjos apareceriam cantando, pois meu peito fisicamente doeu devido à beleza daquele sorriso. Tudo que eu pensava era: 

“Meu Deus! Eu preciso me casar com ele, colocar um anel em seu dedo para que ninguém roube essa obra-prima de mim, eu preciso…” 

— Eu necessito que você seja o pai dos meus filhos, por favor, aceite — pedi a Naruto, em uma súplica.

No mesmo segundo que percebi o que disse para um completo estranho, tampei a minha boca e quis virar uma gosma de tanta vergonha. 

Porra, como assim eu falei isso na frente dele? Eram para serem somente pensamentos, mas, pelo jeito, meus amigos estavam totalmente certos, pois senti que fiquei molhada de excitação nessa hora e uma cor de vermelho passou por minha bochecha devido ao constrangimento. Puta merda, o cara não tinha feito nada para me excitar! 

O máximo foi um olhar pousando em mim por dois segundos e já estava parecendo uma cadela no cio. Porque, sem brincadeira, se ele quisesse transar comigo naquele campo onde todos nos olhavam, com certeza eu iria aceitar de bom grado. 

Fiz um som de total horror quando percebi meus pensamentos impuros enquanto o observava continuando a andar com a mesma calma que começou a avaliação. Contudo, por mais que implorasse ao meu corpo para que parasse de sentir excitação e eu conseguisse me levantar, ele simplesmente desligou. 

Os últimos dois minutos foram com meus olhos em transe, fixados em Naruto até que chegasse ao outro lado do campo. Mal ouvi o apito sinalizando que o jogo acabou enquanto meu cérebro ainda se encontrava sobrecarregado pelo tesão. 

Precisei de uns sólidos cinco minutos para respirar fundo e até jogar água em meu corpo todo para ver se a temperatura voltava ao normal. 

Nunca tinha me sentido tão humilhada em toda a minha vida. Olhando discretamente para os outros integrantes do meu time, não me senti tão mal, pois claramente todos pareciam destruídos em vários graus, igual a minha pessoa.

— Calados — sussurrei para meus amigos ao vê-los, uma vez que não tiravam os seus sorrisos de brincadeira dos rostos desde que me avistaram. Além disso, sabia que não me deixariam em paz com essa vergonha que passei na frente deles até o dia em que eu morresse. 

(...)

— Então… você disse algo para o Naruto? — Sakura me perguntou supercuriosa enquanto se sentava ao meu lado no almoço do dia seguinte. 

— Sim. Que eu queria que ele fosse o pai dos meus filhos. — Só de repetir isso, corei em todos os tons de vermelho; ainda não conseguia acreditar que simplesmente não tive filtro o suficiente. 

— Pelo menos, foi melhor que o meu. Perguntei a ele qual era a sua posição sexual favorita, mas comentei que no fim isso não importava, pois iria deixá-lo me foder em todas que fossem possíveis. 

Nesse momento, dei um grito por ouvir algo tão libidinoso saindo da boca de Sakura, afinal de contas, eu a conheci quando ainda estava no ensino fundamental. Ela era como uma filha para mim e não conseguia acreditar que havia crescido tanto assim. 

— Eu perguntei a ele se conhecia o Kama Sutra, e quando me disse que não, complementei falando que iria ensiná-lo sobre tudo — Sasuke contou sua experiência, e foi impossível eu não rir das pérolas que estavam saindo daquele grupo. 

Depois que percebi que todos os outros eram tão afetados pelo Uzumaki quanto eu, a vergonha deixou o meu corpo. Era ótimo saber que não estava sozinha nessa. 

— Perguntei para Naruto se ele poderia me asfixiar com seu pau. — Foi a vez de Ino, e demos tanta risada que meu estômago chegou a implorar para parar. 

Quase engasguei com meu suco quando uma sombra estacou ao meu lado e todos cessaram os risos, pois agora o alvo de nosso assunto daquele almoço se encontrava a centímetros da gente. 

— Oi, tudo bem? — cumprimentou o recém-chegado.

Naruto, ao se aproximar, deu um sorriso batendo suas mãos nas de Sakura, usando um padrão que só os dois conheciam, para logo depois sentar-se ao seu lado casualmente. 

— Posso andar com vocês por algumas semanas? É que eu acabei meu namoro e já sabem de toda a merda de atratividade, né? Ela precisa ficar um tempo sem me ver para não querer mais voltar comigo… — O Uzumaki deu de ombros, mas pude perceber que por baixo de sua expressão, havia uma tristeza bem velada em seu olhos. 

— Claro que sim! Tudo que você precisar. — Minha amiga bateu palmas feliz por uma nova adição ao nosso grupo. 

— Creio que você já conhece todos os outros, mas essa é a Hinata. — A mais nova apontou para mim e, juro, até então pensava que meu cérebro estava acostumado com toda a coisa de atratividade, mas pelo jeito não. Porque foi só ele abrir um sorriso voltado à minha direção, e dessa vez mostrando seus dentes superbrancos, que fiquei preocupada em desmaiar, pois a capacidade de inspirar esvaiu-se de todo o meu corpo, dolorosamente.

Pelo jeito, a beleza podia machucar fisicamente. 

— Ah, Hinata, a que queria que eu fosse o pai dos filhos dela. — Senti vontade de virar um avestruz e me enfiar no chão de tanta vergonha. Sakura cuspiu seu suco de tanto rir e Sasuke me deu aquele olhar, o qual me fez saber que o assunto tinha virado a nossa nova piada interna. 

— Por favor, Naruto, você poderia repetir? Gostaria de ter essas palavras como despertador. — Dei um soco de brincadeira na Ino após seu comentário. 

— Quer dizer que você se lembra das pessoas por coisas sexuais que disseram a você? — perguntei ao que tinha o superpoder da atratividade.

— Sim, mas às vezes nem é sexual, só falam coisas tão específicas que tornam todo o negócio de memória mais fácil. — Naruto Uzumaki, com certeza, era uma pessoa que não batia muito bem das ideias, pelo visto. 

Ele deu um riso nessa hora, mas, pela primeira vez, questionei-me como seria estar em seu lugar, com pessoas não ligando para as suas emoções e dando-lhe cantadas quando nem o conheciam. 

— Isso não pode ser verdade. O que eu disse para você? — Haruno o desafiou com seus olhos arregalados por desacreditar em seu método de se lembrar de todos que já conheceu. 

— Você me perguntou sobre posições sexuais, concluindo que tanto fazia. Sasuke, a respeito do Kama Sutra, dizendo que me ensinaria tudo sobre ele. — Dessa vez, o novo integrante do grupo apontou para o de cabelos pretos. — E você me perguntou se eu poderia te asfixiar com o meu pau — finalizou mencionando o questionamento feito por Ino. 

Todos ficamos em silêncio pela vergonha que passamos. Uma coisa era você falar algo sexual a alguém, outra, totalmente diferente, era a pessoa se lembrar das suas exatas palavras. 

O Uzumaki, segundos depois, começou outro tópico de conversa para não gerar mais desconforto aos presentes, mas fiquei pensando na naturalidade dos seus dizeres. Era muito triste o fato que já tinha se acostumado em ser sexualizado dessa forma; e, porra, ninguém deveria passar por isso. 

Ele era um ser humano antes do lance de atratividade e jurei para mim mesma que não sucumbiria aos seus encantos. E foi assim que passamos de “inimigos” a conhecidos. 

Bem, era mais fácil a teoria do que a prática, pois foi só Ino levantar-se quando lembrou que precisava passar na biblioteca e Naruto ocupar seu lugar ao meu lado, para que o braço dele roçasse um centímetro no meu e minha mente já entrasse no modo sexual. 

Imaginei como seria aquela pele em contato com a minha e, de preferência, embaixo de mim me dando calor enquanto fazíamos sexo. Fantasiei o ardor que emanaria dele percorrendo todas as células do meu corpo; e melhor que isso… 

— Por favor, me deixe aquecer o seu pau com a minha boca… — Só percebi que fiz um pedido que não era apenas o meu pensamento quando os meus amigos pararam de falar e me lançaram um olhar confuso.

— Está tudo bem, Hinata, convivendo comigo, demora pelo menos uma semana, ou até mesmo meses, para a atração que sente ficar mais baixa. Assim, passará a se comportar me considerando como se eu fosse um ser humano feito outro qualquer. Então, relaxa. Até isso acontecer, ainda irão sair cantadas da sua boca quando menos esperar. E sem problemas, de verdade — o Uzumaki afirmou as suas últimas palavras passando seus dedos calmamente pelo meu braço, mostrando que não tinha ficado chateado pela situação. 

— É verdade, quando o conheci, demorei duas semanas para parar de tentar seduzi-lo. — Sakura deu um riso baixinho como se estivesse se lembrando de toda a vergonha que passou. 

(...)

— Você foi, com certeza, a pessoa que mais rapidamente superou toda a coisa da atratividade do Naruto. Qual é a chave? — Haruno me perguntou com uma curiosidade de outro mundo, sentando-se ao meu lado na hora do almoço. 

— Você já conviveu durante horas seguidas com ele? Já senti vontade de sufocá-lo. E acredite, não do modo prazeroso. — Juro, só de pensar nele, o meu corpo começou a ficar vermelho pela raiva. 

— Existe um modo prazeroso de sufocar alguém? — A de cabelos rosa arregalou seus olhos de surpresa.

— Você nunca ouviu falar sobre asfixia erótica? Estranho caso não tenha, já que quando disse a sua primeira frase para o Naruto, deu a entender que era a fodona em coisas relacionadas a sexo…  

Sakura ficou envergonhada e me interrompeu. Ao ela ter feito isso, foi impossível não rir, afinal de contas, sempre seria divertido tirar uma com a sua cara. 

— Enfim, não tem nenhum segredo, ele só me irrita mesmo. — Dei de ombros quando a Haruno continuou me implorando para saber como, pelo visto, eu era a única pessoa que conseguia agir feito gente ao redor do Uzumaki. 

— Falam que a raiva sempre vem com o amor. Talvez você esteja atraída por ele sim, só que do modo oposto aos outros. — Juro que quase vomitei por escutar a pequena ideia de que por trás de toda a minha raiva o envolvendo poderia existir um pouco de atração amorosa. 

— Sakura, como vai? — Naruto se aproximou de repente de nós e esboçou aquele curvar de lábios em que suas pequenas covinhas apareciam. 

Nessa hora, achei o seu sorriso branco tão maravilhoso que até engasguei. Mas juro que foi por raiva, ok? 

(...) 

— Pelo menos meu superpoder é útil! Como você consegue viver sabendo que as pessoas jamais se importam de verdade contigo? Tudo o que desejam de você, e sempre vão querer, é a sua beleza; mas nunca lhe querem. E sabe por quê? A beleza não é o suficiente para um relacionamento, uma hora ela cansa, especialmente quando a sua personalidade jamais é o motivo pelo qual as pessoas gostam de você. — No mesmo segundo que fechei minha boca, senti o veneno das minhas palavras passarem por minha garganta. 

Devido a ele ser amigo de Sakura, era impossível a gente não compartilhar os mesmos espaços, porém, em dois dias de convivência, descobri que não tínhamos nada de semelhante. Naruto era tão diferente de mim, que eu ainda não sabia como ser respeitosa com alguém assim. Por essa razão, as nossas brigas viraram algo recorrente em nosso pequeno grupo social.  

E não ajudava em nada quando sentia que ele me irritava mais ainda porque se divertia com isso. Sem falar que suas respostas às nossas brigas, somadas ao fato de eu não estar em uma semana muito boa, fazia com que, mal dando por mim, eu descontasse minhas frustrações na primeira pessoa que tivesse a chance. 

E essa foi justamente uma das ocasiões em que isso ocorreu. O jeito que ele fechou os seus olhos ao ouvir minhas palavras, para não me deixar ver o quanto o tinha machucado, fez com que eu soubesse que havia fodido com tudo; e muito mesmo. 

— Naruto… — Eu o olhei horrorizada, não acreditando como pude ter sido tão desrespeitosa daquele jeito. 

— Não, quer saber, você está certa. Isso não é um superpoder, e sim uma maldição. Obrigado por me lembrar disso mais do que eu já faço. 

— Isso foi extremamente cruel, Hina. — Ino me lançou um olhar desapontado depois que o Uzumaki saiu da sala. 

— Eu sei. — Instantaneamente, abracei minhas pernas enquanto sentia as lágrimas começarem a cair. 

(...)

Depois de termos convivido por alguns meses antes desse dia em que eu disse algo tão impiedoso a ele, Naruto me perguntou como eu não me sentia atraída por seu sorriso tão brilhante, o que me deu pena. Era possível perceber claramente que, pela primeira vez em muito tempo, eu fui a única pessoa que o tratou como um ser humano igual aos demais. Que ele poderia ser normal, mostrando aos outros quem era de verdade e não tendo em sua vida alguém que se importasse somente com sua beleza.

Revirando meus olhos com o tom mais sério que consegui produzir, respondi que ele me irritava o suficiente a ponto de prejudicar tudo em que eu pudesse prestar atenção; principalmente se envolvesse todo o lance da atratividade. 

— Espero que você sinta raiva de mim por muito tempo. Pelo menos sei que é verdadeira e não fabricada. — Nessa hora, meu estômago embrulhou tanto pela insatisfação quanto pela infelicidade.

Naruto era uma pessoa tão legal que, quando conseguíamos ser gente um com o outro, eu percebia detalhes que apreciava nele. Como o fato de que o Uzumaki gostava de tomar chá toda sexta-feira, estando frio ou calor, e se irritava nas ocasiões em que as pessoas o tocavam sem permissão.

Pequenas observações feito essas, faziam-me entender que acima de todo o seu poder, ele era somente um homem qualquer de quase vinte anos. E quebrava meu coração notar que a maioria não o via como eu e as outras pessoas que estiveram dispostas a conhecê-lo. 

Sim, tinha sido uma tremenda de uma escrota com ele. 

Ainda mais quando me lembrei de um dia muito específico em que, pela primeira vez, Naruto disse que odiava o seu poder.

(...) 

— Hum... você quer um pouco de café? — Naruto parecia que precisava de um, porque praticamente se arrastava pelos corredores do colégio. Suas olheiras estavam tão densas que nem toda a maquiagem do mundo poderia ajudá-lo e, por algum motivo que não sabia, seu pijama amarrotado e cabelo todo despenteado. 

— Caralho, você é minha super-heroína. Obrigado e bom dia. — O Uzumaki me deu um sorriso ao me cumprimentar, o que fez meu corpo coçar pela atenção que um deus poderia me dar. 

Ele pegou o café da minha mão e se meus olhos não conseguiam desviar o foco de seu pomo de adão toda vez que funcionava, ninguém deveria saber. 

— Hum, noite difícil? — perguntei curiosa quando o loiro tomou minha bebida em tempo recorde. 

— Eu tinha um trabalho para entregar valendo oitenta por cento da minha nota e sabe como é, né? Sou um procrastinador nato. — Naruto deu um sorriso amarelo de vergonha. 

A primeira coisa que pensei era em qual seria a causa de ele se esforçar tanto pelas suas notas, afinal de contas, os professores não estavam protegidos de sua atratividade. Então, tinha quase certeza que Naruto receberia um dez independentemente de fazer um trabalho muito bom ou até não entregar nada. 

— Você deve estar se perguntando o motivo de eu fazer isso, já que no final do semestre terei um dez no meu boletim mesmo se eu faltar todas as aulas… 

Seus ombros se levantaram pelo desconforto enquanto fez uma breve pausa quanto ao que ia dizer.

Mas eu realmente amo aprender — prosseguiu ele, esclarecendo o porquê. Sabe, como os outros não vão ver o meu trabalho duro, gosto de pensar que pelo menos fiz todo o possível para ser uma pessoa com muito conhecimentos e que algum dia irão perceber isso. — Após escutar sua fala, minha garganta se fechou pela vontade extrema de chorar. 

Era péssimo saber que Naruto passava por essas pequenas coisas de merda diariamente. E não conseguir anular o seu próprio poder em momento algum, era o pior de tudo para ele. 

— Me desculpa — disse sem saber por qual razão falei tais palavras. Talvez tivesse sido por ter pensado menos dele ou por tudo que era obrigado a passar. 

— Naruto, aceite esse chocolate! — ofereceu-lhe uma menina que não tinha ideia de onde veio, curvando-se para ele. Praticamente pulei de susto com a chegada repentina da garota.

— Nossa, chocolate branco! É o meu favorito! — manifestou-se ele, claramente fazendo aquilo para ser uma pessoa gentil. 

A menina corou fortemente e chegou a ser patético o jeito que praticamente saíam corações de seus olhos. 

O acontecido foi o suficiente para dar coragem aos outros alunos, pois cinco minutos depois, minhas costas estavam sendo empurradas contra um armário pelo tanto de pessoas que o presenteavam.

Eu fiquei alguns segundos sem entender, afinal de contas, o que tinha de tão importante nessa data para as declarações? Aí eu lembrei que era o Dia dos Namorados. 

Claro que em um mundo ideal, você só receberia presentes da pessoa com quem está namorando e, dependendo do nível de sua amizade, até de um melhor amigo por brincadeira. Porém, com a atratividade dele, as pessoas não pensavam desse modo, e sim considerando que ele seria a sua cara-metade. 

— Me desculpa — Naruto resmungou baixinho devido ao fato de eu não conseguir me mexer graças à multidão que nos cercava, sendo obrigada a ficar no mesmo lugar até a loucura passar. 

Se já estava me sentindo mal antes pelo acontecimento de sua vida acadêmica, meu estômago embrulhou mais uma vez. 

Por que ele estava pedindo desculpas por algo que não poderia mudar ou impedir? E o pior foi ver que o Uzumaki se sentia realmente culpado por tudo isso. 

Os próximos quinze minutos se passaram com pessoas que eu reconhecia, bem como outras que nunca tinha visto pelos corredores, presenteando-o. E eu era capaz de jurar que se ouvisse mais um “Naruto” sendo pronunciado de forma fofa, sentiria vontade de matar alguém.

Até que um homem, depois de dar sua caixa de presente para o Uzumaki, beijou seus lábios como se fosse a coisa mais natural do mundo. 

— Peça desculpas agora mesmo! — bradei quando meus instintos apareceram rapidamente. Após isso, empurrei a pessoa para longe de Naruto. 

Que se fodesse toda a atratividade, pois tocar alguém sem consentimento é enquadrado como assédio. 

— Eu… eu… me perdoa. — Ele olhou para mim e ao redor horrorizado, dando um passo à retaguarda como se tivesse medo dele mesmo. 

— Seguinte: o Naruto agradece muito pelos presentes, mas a partir de agora, quem quiser se declarar, somente deverá deixá-los perto de seu armário. Ele tem aula e vocês não gostariam de fazê-lo se atrasar, certo? — Usei o meu tom de voz alto para que todas as pessoas pudessem me ouvir.

Com a mesma rapidez que chegaram, foram embora. 

— Obrigado por me ajudar, Hinata, de verdade. — Ele suspirou aliviado em seguida quando conseguimos ter nossos espaços pessoais de volta. 

— Naruto, eu não fiz nada extraordinário, somente o mínimo. O fator da atratividade não deveria ser uma desculpa para você sofrer assédio. Também não deveria se acostumar com isso e ponto final. — Eu o ajudei pegando alguns presentes para começar a colocá-los em seu armário. 

— Pelo jeito é sim, porque não me lembro da última vez que alguém fora do meu círculo pessoal de amizade me respeitou o suficiente. 

O mais novo deu uma risada bem abafada. 

— A maioria das pessoas dizem que meu poder é o melhor do mundo, mas no final do dia, eu acho que ele é uma maldição. — Quando o abracei a fim de tentar confortá-lo, jurei para mim mesma que as faíscas que senti passando por todo o meu corpo não eram sobre sua beleza. 

Ele precisava de uma pessoa que não o desrespeitasse. E Deus, se eu precisasse meditar diariamente antes de vê-lo para me conter caso me sentisse atraída, era o que iria fazer. 

(...)

— Olha, Hina, eu não sei o que você fez para o Naru, mas precisa pedir desculpas. Somos o seu grupo de apoio e no momento você está estragando tudo. — Sakura me lançou um olhar congelante na hora do almoço quando, no segundo dia seguido, o Uzumaki parou de se sentar conosco. 

Ela olhou com tristeza para seu amigo que no momento se encontrava em outra mesa. No começo, ele se acomodou sozinho, mas claro que várias pessoas não ligaram se queria seu espaço pessoal ou não e simplesmente se juntaram a ele.

— Eu sei, eu fui uma merda com o Naruto e espero conseguir nossa amizade de volta. — A vontade era de me curvar em uma bola de tanta vergonha por tê-lo machucado tão profundamente. 

Haruno me deu outro olhar de desaprovação antes de falar que era mais do que minha obrigação me desculpar, saindo do lugar ao meu lado para se juntar a Naruto, que a observou com alívio por finalmente ter alguém que conhecia ocupando a mesma mesa e poder ficar mais confortável. 

A oportunidade de fazer isso chegou mais rápido do que esperava para ser honesta. 

Após terminar de almoçar, voltei à sala onde teria aula de lógica, pois havia esquecido meu livro, e dei de cara com Naruto ainda lá, apagando o giz da lousa.

— Me desculpa. — Eu curvei meu corpo em uma posição de noventa graus para demonstrar um profundo respeito pelo meu amigo. 

— Acho que um “me desculpe” não vai ser o suficiente dessa vez, porque você realmente me machucou. — Sabia que o Uzumaki estava em todo o seu direito de não me perdoar, mas, porra, eu me senti ferida com a confirmação de que estraguei um relacionamento. 

 — Eu necessito que você seja o pai dos meus filhos, por favor, aceite. Por favor, me deixe aquecer o seu pau com a minha boca. Eu imploro, me beije até eu esquecer o meu nome. 

Ele me olhou confuso, não entendendo a causa de eu estar citando o que proferi sobre o seu corpo em outras ocasiões.

— Essas foram as primeiras coisas que falei sob o efeito da atratividade, mas semanas depois escalou para: “eu amo a veia que aparece em seu pescoço toda vez que você comenta empolgado sobre algo que gosta; ou então: “eu adoro os seus abraços como se seu corpo fosse feito para se encaixar ao meu”. 

Avancei dando passos até ficar cara a cara com Naruto, e prossegui dizendo: 

— Eu adoro como você é bom nos esportes, também amo os seus sorrisos realmente verdadeiros, aqueles em que chega a fechar os olhos ao dá-los. Sabe, no começo, eu fui pega pelo seu feitiço de atratividade como qualquer pessoa.

Fiz uma breve pausa antes continuar, depois retomei meu discurso, falando: 

— Admito que tudo começou somente com comentários sexuais ou algo relacionado ao seu corpo, pois não te conhecia. Mas quando tive a oportunidade de conviver com todas essas coisas, passei a gostar de você de verdade. Me senti atraída por quem você era por dentro. Então, não era mais sobre a sua beleza, e sim as qualidades. 

Minha mão coçou para tocá-lo quando algumas lágrimas caíram de seu rosto, porém, enquanto não tivesse o consentimento explícito dele para enxugá-las, não faria nada. 

— Eu estava em uma semana realmente ruim, sei que não é uma desculpa para ter falado aquilo a você, mas quero que saiba que me arrependo profundamente. 

— Hinata Hyuuga me pedindo desculpas? Poderia repetir para eu gravar? — Foi impossível não cair na risada com a piada que ele fez, sorrindo em meio às lágrimas derramadas. 

— Naruto, eu te vejo como realmente é. E eu te amo de verdade. Sei que várias pessoas falaram isso para você antes, mas quero que saiba que estou mesmo sendo sincera. Não são os hormônios sexuais falando, e sim o meu coração. — Quando ele estendeu seus braços para me pedir um abraço, fui ao seu encontro de bom grado. 

Afinal de contas, aconchegar-se e ser envolvida por eles sempre parecia como estar em casa; era convidativo e confortável. 

— Obrigado por me aceitar por quem eu sou. Também te amo — ele sussurrou dando um beijo em minha orelha.

Vendo seus ombros chacoalhados pelo choro ao perceber que mais pessoas conseguiam gostar dele por suas qualidades, tive vontade de protegê-lo do mundo inteiro, já que Naruto merecia tudo. A começar com o mais básico para um ser humano: o amor verdadeiro. 




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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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