A Agonia que é Viver escrita por Carti
Notas iniciais do capítulo
poema inspirado nos livros Intermitências da Morte (José Saramago) e Folk Songs For Trauma Surgeons (Keith Rosson)
A morte sempre foi perfeita,
Deus sempre elogiou.
Entre a Guerra, a Fome e a Doença,
Ela sempre se destacou.
Você já reparou, que a morte nunca errou?
Em todos os dias de nossas vidas ela está presente.
Seja de longe, de perto,
Ou mesmo metaforicamente.
Você a encontra nas notícias,
Em todas as telas vibrantes.
Você a encontra em seu âmago,
Quando dela sente medo;
Profundo, dilacerante.
Medo de uma Morte que nunca conhecemos.
De todas as experiências da vida,
Essa é a que nunca vivemos.
Mas está sempre presente.
Sempre fazendo muito bem o seu trabalho.
Mesmo com pedidos urgentes para que pare.
Até que finalmente decide nos dar a imortalidade.
A morte parou de trabalhar.
“Não quero mais saber”
Foram tantos sacrifícios,
“Agora vão ter que me esquecer”
No dia seguinte ninguém morreu.
Mesmo os doentes;
Mesmo os acidentados;
Mesmo os prestes a morrer;
Ninguém morreu.
Não fazia sentido.
Mas a morte havia decidido,
Que iria tirar um cochilo.
“Vocês tanto pediram, que finalmente atendi. Não levarei mais ninguém. Fiquem aí”
A Guerra ficou preocupada.
Ela continuava trabalhando.
Os corpos jogados, explodidos por granadas,
Ainda respiravam.
A Doença até que nem reclamou.
Das nuvens observava os doentes,
Que espalhavam vírus e bactérias.
Ela sorria, feliz, apreciando os vivos quase mortos.
E a Fome quase surtou.
De que servia a fome, se os famintos não morriam?
Do que servia a sede, se os pobres ressecados,
Continuavam implorando por água?
Ela queria ver morte em massa.
Mas a Morte não voltava.
No dia seguinte, uma chuva de papéis.
Papéis pequeninos, do tamanho de cartões.
Eram cupões:
”Parabéns, você acaba de ganhar um vale imortalidade. Não precisa mais rezar para um Deus que não te atende: você já não irá morrer.”
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