O melhor remédio escrita por Bê s2


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Uma história curtinha e gostosinha para aquecer nossos corações em uma noite de outono.



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Vaga-lumes piscavam bem na sua frente, mas ele nem tentou os espantar. Os insetos tão lindos não eram reais, mas meros reflexos de uma enxaqueca lancinante que o tomava. Desde o início daquele turno os sinais começaram a aparecer, mas pelo bem do caso ele simplesmente optou por ignorá-los. Mas quando o suspeito fez mais algumas vítimas, ele se rendeu à dor.

Gil Grissom saiu da sala de interrogatórios frustrado. Não respondeu aos chamados de nenhum dos seus subordinados e foi direto para sua sala, onde se trancou, fechou as persianas e se largou no sofá depois de dispensar os sapatos.

Pensamentos frustrados tomaram conta de sua mente, então ele os espantou pensando naquilo que o deixava mais feliz: sua família.

 

—Professor Grissom? 

O entomologista virou-se para olhar e deu de casa com uma bela jovem de dentinhos separados e rabo de cavalo. Ela sorria e um certo rubor tomava conta de sua face, deixando-a com um ar de menina marota. 

—Pois não? -Ele também sorria para ela. -Você estava na palestra… Interessada e questionadora.

A jovem corou um pouco mais e ele alargou seu sorriso, estava encantado.

—Sim, senhor. Sou Sara Sidle, CSI aqui de São Francisco. -Ela se apresentou. -Achei sua palestra fascinante. Eu queria dizer… Na verdade eu pensei…

Ela parecia se enrolar com as verdadeiras intenções e ele se limitava a observá-la fascinado. Algo dentro dele se divertia e disparava ao mesmo tempo. Seus devaneios se dispersaram quando ela pigarreou e respirou fundo para falar.

—O senhor gostaria de tomar um café?

Ele sorriu de lado e se inspirou na mesma coragem dela:

—Que tal um jantar?

 

Grissom se levantou do sofá e virou dois comprimidos de uma unica vez. Bebeu alguns goles de água em seguida, massageou a têmpora e voltou para seu sofá. Se perguntava como seria para esses três homens que tiveram suas esposas e filhos arrancados deles sem piedade por esse assassino cruel que estava a solta. Bufou e deixou-se devanear mais um pouco. 

 

Grissom andava agitado pelo laboratório enquanto aguardava alguém atendê-lo no celular. Depois de alguns instantes, seu desejo foi realizado.

—Sara? -Ele perguntou à guisa de cumprimento. -Aqui é o Grissom.

—Grissom?! -A voz dela ecoou surpresa. -A que devo a honra de uma ligação?

Ele sorriu pelo tom de brincadeira dela, mas logo voltou ao que precisava:

—Sara, preciso de você aqui em Vegas. Um caso delicado com um dos meus, quero alguém que seja da minha confiança para conduzir a investigação.

Grissom podia sentir o sorriso dela do outro lado da linha.

—Posso falar com seu supervisor, se for necessário… -Ele apelou. -Eu preciso de você.

Os dois permaneceram alguns segundos em silêncio, até ela dizer:

—Me dê dois dias.

 

Trazê-la para Vegas fora a melhor decisão tomada em toda a sua vida. Mesmo com sua resistência, falta de tato e até certa burrice, tê-la sob suas vistas o deixava muito mais feliz. O único arrependimento que tinha em sua vida era de ter perdido tanto tempo por medo. 

Um suspiro longo ecoou pelo seu escritório quando ele se livrou da jaqueta e a fez de travesseiro para se acomodar mais confortavelmente.

 

 

Ela chorava em seu ombro há alguns minutos, enquanto ele se limitava a acariciar seus cabelos. Depois de tantos anos ele finalmente conseguia entender o comportamento dela. Ela não era impulsiva, perigosa ou imatura, afinal… Apenas tinha um passado cheio e perturbador que ele mesmo não conseguia imaginar como seria ter. 

—Me desculpe por isso… -Ela se afastou dele de repente, escondendo o rosto molhado pelas lágrimas. -Não é sua obrigação como chefe aguentar essas coisas, Grissom. 

—Não sou só seu chefe. Sou seu amigo. -A voz dele saiu baixa e nervosa. 

Ela finalmente o encarou, mas ainda parecia envergonhada.

—Tenho sido muito duro com você, Sara. Mais uma de minhas muitas falhas. Sinto muito… -Ele suspirou. -Pelas minha atitudes, minha falta de tato… E por tudo isso que você passou.

Ela engoliu em seco e soltou mais um soluço reprimido.

—Se me permitir reparar certos erros… Estarei aqui com você.

E a partir daquele domingo, ele esteve.

 

 

A dor de cabeça ainda martelava o entomologista, mas parecia suavizar. Ele conseguia perceber sons de passos e conversas do lado de fora de sua sala, mas já não eram ruídos tão insuportáveis. Cochilar não seria possível com aquela dor, então deixou sua mente continuar naquela viagem reconfortante que havia iniciado.

 

 

Já fazia mais de vinte e quatro horas que ela havia sido resgatada, mas toda a adrenalina do corpo dele se recusava a se dissipar. Estava sentado em uma poltrona ao lado da cama dela, com seus dedos entrelaçados. Sua mão ainda tremia levemente.

—Gil? -A voz rouca dela chamou sua atenção. -Preciso de água…

Ele se adiantou e lhe estendeu um copo com canudo, ajudando-a a beber. Estava tão ferida e frágil…

—Você também precisa descansar… -Ela disse com a voz um pouco melhor. 

Ele sorriu, mas não respondeu. Não sairia dali sozinho.

—Como estão as coisas com o Ecklie?

Ele sorriu de lado para acalmá-la, mas o assunto ainda o deixava nervoso.

—Ganhei um belo sermão, duas semanas de suspensão não remunerada… Você vai ganhar uma também. -Sara sorriu para ele. -Catherine vai dividir a supervisão do laboratório comigo e vai ser responsável por você e pelo Greg…

Sara assentiu com a cabeça e comentou:

—Achei que seria pior. Ainda bem que você tem alguns pontos com o xerife. 

Ele concordou com a cabeça e finalmente sentiu os tremores de suas mãos se dissiparem.

—Honey, finalmente poderemos ter nossa família sem termos que nos esconder a todo momento…

O sorriso largo dela foi a gota d’agua para que ele unisse seus lábios nos dela.

 

 

Batidas tímidas na porta do escritório tiraram Grissom de seus devaneios. Resignado, ele se levantou para abri-la.

—Você está horrível, meu amigo. -Catherine disse.

Ele estava amassado, sem sapatos e com os cabelos desalinhados. 

—Como está o caso? -Perguntou ansioso.

—Recebemos uma denúncia anônima e Brass está indo verificar. Parece que o cerco se fechou para o nosso cara.

Ele fechou os olhos e saboreou um leve gosto de vitória.

—Infelizmente isso não vai trazer aquelas mulheres e seus filhos de volta. -Grissom murmurou.

—Você precisa ir para casa…

—Impossível dirigir. -Suspirou. -E quero esperar aqui até Brass voltar…

Catherine o olhou de lado e se limitou a assentir com a cabeça. 

—Eu te chamo. -Ela disse.

Grissom agradeceu com um olhar e voltou para seu sofá enquanto Catherine saía de sua sala. Mais leve, deixou-se divagar um pouco mais…

 

 

A discreta celebração de seu casamento havia acabado há poucas horas. Ele e Sara finalmente se encontravam em sua casa nova.

—Acho que esse foi o dia mais feliz da minha vida. -Ela disse com seu sorriso largo e contagiante.

Grissom se aproximou e a enlaçou pela cintura. 

—Com certeza é o meu. -Ele sorria como um menino. -Te amo muito, senhora Grissom!

Sara beijou seu marido com intensidade e muito amor. 

—Eu preciso te contar uma coisa, Gil… -Ela murmurou quando seus lábios se afastaram.

Ele a observou pegar uma caixinha em sua bolsa e a aceitou com um sorriso intrigado. Mas ao abri-la, seu coração disparou mais ainda.

—Definitivamente esse é o dia mais feliz da minha vida! -Grissom a abraçou novamente. -Obrigado, Sara!

A morena plantou mais um beijo em seus lábios.

—Parabéns, papai!

 

 

Rendido a um cochilo, não soube quanto tempo ficou em seu escritório até o barulho da porta se abrindo lentamente o despertar. O perfume que mais amava no mundo precedeu a entrada de sua esposa. Ainda com os olhos cerrados, ele virou seu rosto em direção à porta e murmurou:

—Honey?

—Oi, Gil…

Ela se aproximou do sofá e se sentou no cantinho, acomodando a cabeça dele no seu colo. Ele sorriu com o gesto e soltou um suspiro.

—O que veio fazer aqui? -A voz dele saiu rouca.

—Catherine pediu ajuda, disse que você estava com uma crise de enxaqueca.

Grissom assentiu com a cabeça e sorriu ao sentir as mãos dela acariciarem seus cabelos.

—Onde estão os gêmeos?

—No carro…

Num reflexo, Gil abriu os olhos assustados e encarou a esposa.

—Querido, me dê algum crédito! -Ela abriu um largo sorriso. -Estão com os meninos no locker.

O entomologista riu de lado e aproveitou mais um pouco o carinho que recebia.

—Como está se sentindo?

—Bem melhor. -Respondeu com sinceridade. 

—Com licença… -A voz de Nick ecoou. -Arthur está com fome!

O texano carregava o bebê resmungão de quase seis meses nos braços. Greg vinha logo atrás com outro pacotinho cor de rosa.

—Emma também está resmungando! -Greg brincou.

Grissom se sentou ao lado de Sara e recebeu a filha nos braços, enquanto a esposa acolheu o menino para alimentá-lo. Catherine e Warrick se uniram a eles em seguida.

—Hora do jantar? -Catherine brincou.

—O pediatra nos orientou a introduzir a mamadeira. -Grissom esclareceu. -Agora posso participar.

O entomologista já não se lembrava da crise de enxaqueca que o assolava há algumas horas. Se entregava ao momento gostoso com a família e os amigos. Eles conversavam baixo sobre o caso quando o celular de Catherine tocou.

—Brass chegou. Nosso cara foi pego! 

Eles comemoraram contidos para não agitar os bebês. Arthur dormia no colo da mãe, enquanto Emma era ninada pelo pai.

—Maravilha! -Grissom suspirou aliviado.

Ele se colocava no lugar dos homens que haviam perdido suas esposas e filhos e se apavorava com a mera ideia de perder sua família. Num gesto protetor, aconchegou melhor sua filha no colo e lhe plantou um beijo na testa.

—Gil, vai para casa descansar. -Catherine lhe orientou. -Os meninos vão comigo fichar o suspeito e nós podemos interrogá-lo amanhã, ok?

Grissom agradeceu com um gesto da cabeça e trocou um olhar com sua esposa.

—Vamos querida? 

A morena se levantou com cuidado e ajeitou Arthur no colo.

—Eu ajudo vocês com as coisas dos gêmeos. -Warrick se prontificou pegando a bolsa e alguns outros pertences.

Os peritos seguiram para a delegacia, enquanto Warrick ajudava o casal que tanto estimava. Grissom logo acomodou os bebês no carro que a esposa usara para chegar ao laboratório, se despediu do seu favorito e se acomodou no banco do passageiro. 

Antes de dar partida, a morena acariciou o rosto dele e perguntou:

—Como está sua dor agora?

—Estou ótimo. Precisava de vocês.

Sara lhe deu um beijo terno nos lábios e sorriu ao vê-lo observar seus bebês dormindo profundamente no banco traseiro. Finalmente, a morena deu partida e ele seguiu para casa com seus bens mais preciosos: sua família.


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