Taehyung percorria os cômodos do apartamento de Yoongi, andando de um lado para o outro, enquanto analisava e fazia cálculos mentais sobre os metros quadrados do espaço. Mesmo para acomodar apenas uma pessoa, o lugar parecia pequeno e limitado.

— Yoon, eu ando pela sua casa inteira dando apenas dois passos... É muito pequeno aqui, não é confortável. Mas eu tenho uma solução pra isso, vem morar comigo, meu apartamento é enorme.

— Não acha que está muito cedo pra moramos juntos?

— É que eu sinto sua falta a noite. Quero acordar de manhã com você ao meu lado, dormir com você todas as noites, te fazer massagem quando você chegar cansado do serviço, cozinhar pra você... A gente só dorme juntos nos fins de semana, é torturante ter que esperar a semana toda pra ter você... Quero você todos os dias.

— Eu também, Tae. Mas eu gosto de ter a minha independência. Não me sentiria bem morando na sua casa, às suas custas.

— Mas Yoon... Você é meu namorado e a gente vai se casar, de qualquer forma não vai ter essa coisa de você morar ás minhas custas quando nós nos casarmos. 

— Sim, mas nós ainda não nos casamos, e isso vai demorar um pouco para acontecer. Precisamos focar primeiro em nos formar. Depois disso começamos com os preparativos. Até lá eu me acostumo com a ideia de ser um homem casado — Yoongi acariciou suas bochechas, mas isso não diminuiu o bico emburrado de Taehyung. 

Naquele fim de tarde, enquanto Yoongi se dedicava à leitura de seu mangá, Taehyung decidiu preparar algo para eles comerem. Ao abrir a geladeira, deparou-se apenas com um pote de sorvete no congelador e uma garrafa de água na porta. Os armários não ofereciam muitas opções, contendo apenas algumas embalagens de macarrão instantâneo. Um aperto no coração tomou conta de Taehyung ao perceber que seu amado não estava se alimentando adequadamente. Determinado a mudar aquela situação, decidiu ir ao mercado em busca de alimentos saudáveis e de qualidade. Yoongi, abandonando o mangá temporariamente, não perdeu a oportunidade de passear com o namorado. 

Ao adentrarem o supermercado, Taehyung pegou um carrinho e direcionou-se diretamente ao corredor de alimentos integrais, enquanto Yoongi se deixava cativar pelas tentações do corredor de salgadinhos, chocolates e balas. No entanto, com a persuasão habilidosa de Taehyung e suas promessas de preparar receitas deliciosas que nem pareceriam saudáveis, Yoongi começou a considerar a ideia de adotar uma alimentação mais equilibrada. Atraído pela perspectiva de saborear pratos saborosos e ao mesmo tempo benéficos para sua saúde, ele decidiu dar um voto de confiança à proposta alimentar de  Taehyung.

Com as compras devidamente realizadas, chegou o momento de retornarem para casa e organizar tudo. Taehyung assumiu a tarefa de arrumar os mantimentos, vestindo um avental que havia comprado, já que, evidentemente, Yoongi não possuía esses itens na cozinha. Com habilidade, ele deu início à preparação do jantar. A escolha da vez foi uma saborosa torta de frango com brócolis e pimentão, cujo aroma irresistível logo preencheu o ambiente. Yoongi, alheio às suspeitas, saboreou cada pedaço da torta, sem perceber que estava apreciando uma refeição saudável e nutritiva.

— Tae, isso tá perfeito! — Disse Yoongi com a boca cheia, saboreando seu terceiro pedaço de torta — Já que você cozinhou, eu vou lavar os pratos.

— Não, eu lavo anjinho.

— Mas Tae — Yoongi suspirou desanimado —, como sempre eu não fiz nada, pelo menos isso eu posso fazer.

— Como assim não fez nada? Pare com isso.

— As vezes eu me sinto inútil. Não consigo nem cozinhar algo comestível pro meu namorado. Eu não te mereço, você é tão perfeito em tudo e olha pra mim...

— Yoon, pare com isso. Se eu te amo é porque você tem qualidades que eu admiro, não é só porque você é bonito pra caralho. Você é a pessoa mais incrível que eu conheço, é esforçado, corajoso, independente, super carinhoso, atencioso... meio marrento às vezes, porém doce. Amo estar ao seu lado, você me faz bem e deixa meu coração cheio de alegria.

Yoongi olhou triste pro chão, sentiu um nó na garganta e tentou engolir as lágrimas.

— Obrigado Tae... Mas quando você assumir os negócios do seu pai, não sei se vou estar a altura de ser seu companheiro, eu nem vou poder te ajudar em nada — Lágrimas caíram de seus olhos, então Taehyung o puxou para um abraço reconfortante. 

— Não dê ouvidos a essas palavras negativas. Não importa o que os outros digam, eles não conhecem a verdade. Meu amor por você é genuíno e não é baseado em ilusões. Eu escolhi você porque reconheço o seu valor, e acredito que juntos podemos alcançar grandes coisas. Com você ao meu lado, sinto que posso superar qualquer obstáculo e me tornar uma pessoa melhor a cada dia. Por favor, não se permita duvidar disso. Você é tudo para mim — Disse Taehyung com ternura, enxugando as lágrimas que escorriam por suas bochechas.

Após desfrutarem de uma noite repleta de maratonas de séries, chegou o momento de se prepararem para dormir. Taehyung, ao se deparar com o tamanho reduzido do quarto de Yoongi e a única cama de solteiro, não pôde deixar de agradecer por essa peculiaridade, pois isso proporcionaria uma noite de sono aconchegante e repleta de proximidade entre eles. Com um sorriso nos lábios, deitaram-se juntos, abraçados, envoltos em uma bolha de amor e carinho. 

Yoongi, virando-se de frente para Taehyung, entregou-se ao doce sabor daquele beijo, envolvendo-se em um turbilhão de sensações. Cada toque, cada aperto das mãos, incendiava seu corpo, fazendo-o suspirar de prazer. Porém, o momento de intimidade foi abruptamente interrompido pelo insistente toque do celular de Yoongi, indicando uma chamada recebida. Curioso, ele pegou o aparelho, sentindo uma pontada de apreensão ao constatar que era uma ligação em plena madrugada, proveniente de um número desconhecido. Seu coração começou a bater acelerado, enquanto tentava preparar-se mentalmente para possíveis notícias desagradáveis.

— Alô? Senhor Min Yoongi?

— Sim, sou eu — Suas mãos começaram a suar, tremia involuntariamente. Olhou para Taehyung com medo.

— Você é o contato de emergência do Sr. Jung Hoseok, precisamos que compareça ao Hospital Severance com urgência.

Um turbilhão de emoções invadiu Yoongi, deixando-o tomado pelo desespero, medo e aflição. Lágrimas encheram seus olhos instantaneamente quando a notícia de que Hoseok estava no hospital atingiu seu coração.

— O que aconteceu com ele? — Perguntou, engasgando com o choro.

— Se acalme e venha para o hospital, precisamos que mantenha a calma, ele está bem, sofreu um acidente mas está bem, só precisamos que assine alguns papéis.

Yoongi desligou o celular, pulou da cama e pegou a carteira.

— Yoon, o que houve?

Yoongi mal ouviu a pergunta de Taehyung, encontrando-se em um estado de atordoamento total. Preparou-se para sair de casa às pressas, vestindo apenas o pijama e agarrando um casaco que estava jogado sobre a poltrona. Taehyung tentou abraçá-lo em um gesto de apoio, mas Yoongi permaneceu petrificado, incapaz de retribuir o abraço.

— Yoon, se acalme e me conte o que aconteceu.

— Hoseok, sofreu um acidente, preciso ir pro hospital — Respondeu com a voz fraca. 

— Meu Deus. Eu te levo. Vamos. 

Desesperadamente, correram para o hospital mencionado pela moça, sem se importarem com o fato de estarem vestindo apenas pijamas. O tempo e a preocupação não permitiram que tivessem a chance de se arrumarem adequadamente. Yoongi chegou à recepção ofegante, tendo corrido desde o estacionamento até lá.

— Preciso saber de Jung Hoseok, ele sofreu um acidente.

A moça digitou no computador para localizar o paciente enquanto Yoongi soluçava incontrolavelmente, as lágrimas escorriam por seu rosto. Taehyung se aproximou e envolveu Yoongi em um abraço reconfortante.

— Mantenha a calma Yoon, ele está bem.

Jin chegou com os olhos vermelhos, notava-se que ele estava chorando, mas tentou se conter. Namjoon estava ao seu lado.

— Yoon, ele está sendo operado no momento, já assinei as papeladas, sou o responsável por ele agora já que a família está longe — Jin tocou seu ombro — Não fique assim, vai dar tudo certo, meu pai é o melhor cirurgião desse país, Hoseok está em boas mãos — Jin o abraçou e Yoongi chorou ainda mais — Yoon, você precisa ser forte pra quando ele acordar, tudo bem?

— Vou tentar...

Sentados juntos na sala de espera da UTI, Namjoon segurava firmemente a mão de Jin, transmitindo-lhe apoio e carinho. Yoongi estava abraçado a Taehyung, soluçando baixinho, enquanto este fazia carinho em seus cabelos, tentando acalmá-lo. Logo em seguida, Jungkook chegou com o rosto amassado devido ao sono interrompido pela notícia preocupante. Jin explicou a situação para ele. Um silêncio pesado pairava na sala, todos esperando por notícias. Três longas horas se passaram, angustiantes, sem que nem mesmo Jin pudesse entrar na UTI. Namjoon e Jungkook decidiram ir comprar café para todos, na esperança de mantê-los acordados e mais alertas. Yoongi recusou a bebida, mal respondendo quando Taehyung tentava falar com ele, ainda em estado de choque.

O pai de Jin entrou na sala de espera e todos o olharam apreensivos.

— Hoseok perdeu muito sangue. Mas graças a Deus a cirurgia de emergência foi um sucesso.

Todos comemoraram, felizes e aliviados por saber que o amigo tinha conseguido sobreviver àquele acidente. 

— Porém — O médico continuou —, a recuperação será um pouco demorada, ele fraturou o braço esquerdo e algumas costelas, mas graças a Deus não perfurou nenhum órgão vital. Ele está sedado, ficará na UTI e por enquanto não poderá receber visitas.

— Doutor, por favor, me deixe vê-lo — Yoongi implorou em lágrimas.

— Não posso, são as normas do hospital.

— Por favor, eu não vou ficar em paz se eu não vê-lo — Yoongi insistiu. 

Jin fez um sinal com a cabeça, como se pedisse ao seu pai que permitisse.

— Somente você, e deverá ser bem rápido — O pai de Jin cedeu. 

Yoongi sentiu uma profunda gratidão encher seu coração ao médico que, contrariando as regras, o ajudou naquela situação difícil. Com um misto de alívio e esperança, Yoongi se levantou, sentindo a mão reconfortante de Taehyung segurando a sua.

— Vai ficar tudo bem, Yoon.

— Obrigado pelo apoio, Tae — Lentamente Yoongi soltou suas mãos. 

Com uma sensação de vazio, Taehyung observou enquanto Yoongi se afastava, sem sequer olhar para trás. Ele desviou o olhar para suas próprias mãos, sentindo a falta daquele calor reconfortante que as mãos de Yoongi lhe proporcionavam.

— Jin — O pai de Jin o chamou discretamente —, preciso conversar com você, me espere aqui antes de ir embora.

...

Com os olhos embaçados pelas lágrimas, Yoongi vestiu um avental, touca e máscara antes de entrar no quarto onde Hoseok estava. Uma dor intensa o invadiu ao ver seu amigo deitado naquela cama, inconsciente, com tubos e fios conectados ao seu corpo.

— Hobi... — Chorou baixinho — Eu tô aqui... Está me ouvindo? Acorde por favor... Temos que tocar piano juntos... Estou te esperando.

Yoongi chorava sem parar enquanto segurava a mão fria de Hoseok.

— Yoongi, precisamos sair — Disse o médico que estava parado na porta —, eu disse que seria breve.

Com o coração apertado, Yoongi fixou seu olhar em Hoseok, sentindo uma dor profunda ao vê-lo naquele estado. Desejava ardentemente envolvê-lo em seus braços, mas sabia que não podia. Com lágrimas nos olhos, ele saiu da sala do hospital, sentindo-se completamente desolado e perdido. Relutantemente, ele lançou um último olhar para Hoseok, apenas para ser puxado pelo médico, que insistia para que ele saísse do quarto o mais rápido possível. A sensação de impotência era avassaladora, deixando Yoongi com uma mistura de tristeza e frustração.

...

Chegou novamente na sala de descanso e correu para os braços de Taehyung, chorava tanto que não conseguia falar.

— Tae, eu quero ficar aqui.

— Tudo bem meu amor, eu ficarei aqui com você.

— Tae — Jungkook se aproximou —, vou buscar algumas roupas pra vocês, está frio. Vou comprar alguns lanches também, vocês não podem deixar de se alimentar.

Taehyung assentiu, Yoongi se aninhou em seu colo, enterrou a cabeça em seu peito e chorou baixinho.

O pai de Jin se aproximou discretamente e sussurrou o nome do filho. Os dois entraram em uma sala reservada, onde poderiam conversar em privacidade. Jin sentiu um calafrio percorrer sua espinha, uma sensação desconfortável que não conseguia explicar.

— O que houve? É algo com Hoseok? Ele corre algum risco?

— A cirurgia correu muito bem, Hoseok está fora de perigo, o que me preocupa não é sua saúde física.

— Como assim pai?

— Jin, Hoseok só está vivo porque o carro não estava em alta velocidade quando o atingiu, mas ele precisa de ajuda, ajuda psicológica. Isso não foi um acidente, ele estava tentando tirar a própria vida.