Doce e Marrento escrita por llRize San


Capítulo 27
Lágrimas




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A cafeteria estava tranquila naquela tarde, e Jimin sentia-se um tanto entediado. Preferia quando o lugar estava agitado, com clientes por todos os lados, pois as horas pareciam passar mais rápido nesses momentos. Ao olhar para Yoongi, percebeu que seu amigo também estava entediado, compartilhando do mesmo sentimento de monotonia.

— Yoon, sua mãe me disse que você faltou na faculdade hoje, isso não é do seu feitio. Está tudo bem?

— Agora sim, não estava me sentindo muito bem hoje de manhã, mas já passou.

— O que você tinha? 

— Só um mal estar, nada demais. 

— Que bom que está melhor, mas se precisar descansar eu seguro as pontas aqui pra você dar uma fugidinha no banheiro. 

— Obrigado, Chim. Mas estou bem. Juro.

— E como foi o fim de semana com o Hoseok?

— Assistimos filme, comemos pizza, tocamos piano... Foi bem divertido — Yoongi forçou um sorriso. 

— É que você não me parece muito feliz pra quem teve um fim de semana tão divertido.

— Impressão sua, só acordei com um pouco de dor de cabeça, mas já tomei um remédio, estou bem.

Jimin tentava engolir aquela história, sabia que o amigo não estava bem. 

— Por que está usando blusas de mangas longas? Não está com calor?

Yoongi congelou, não queria que Jimin visse o estado do seu braço, Hoseok tinha deixado marcas quando o apertou. 

— Só estou com um pouquinho de frio.

— Será que está com febre? — Jimin tocou sua testa — Sua temperatura está normal. É sério, pare de fazer cu doce comigo, se não estiver se sentindo bem me fala e eu te levo ao médico.

— Não precisa, estou bem. Vamos voltar ao trabalho antes que a bruxa chata encha o saco.

— Ok, então você limpa as mesinhas enquanto eu passo pano no chão.

Aproveitando o fato de o estabelecimento estar vazio, eles se dedicaram a uma limpeza minuciosa. Enquanto Jimin cantarolava animadamente, Yoongi parecia um tanto desanimado. Seus humores eram opostos naquele momento: Jimin parecia saltitar em um campo de margaridas, enquanto Yoongi parecia vagar pelo vale das sombras.

— Tudo brilhando! — Jimin limpou o suor do rosto.

Um rapaz alto e charmoso adentrou a cafeteria com elegância. Vestia um impecável terno e gravata, exibindo um sorriso enigmático em seu rosto.

— Temos um cliente — Yoongi pegou o menu e entregou para o rapaz.

Jimin estava limpando as prateleiras de baixo do balcão, quando se levantou e olhou o rapaz, ficou paralisado.

— O que foi Jimin?

— Esse rapaz, acho que ele não é uma boa pessoa.

— Conhece ele de onde? Quem é ele?

— Ele é primo do Jungkook, o nome dele é Kai.

— Primo do Jungkook? E como você sabe disso?

— Encontrei eles por acaso.

— Hum… Sei… — Yoongi encarou Jimin, sabendo que tinha sido enganado todos os fins de semana que Jimin tinha dito que ia sair com as amigas — Depois resolvemos essa parte do Jungkook. O que quero entender é como você sabe que ele não é uma boa pessoa?

Jimin ficou sem jeito, não queria dizer que já tinha uma certa intimidade com Jungkook a ponto de conhecer um membro de sua família.

— Eu sinto isso — Sorriu sem jeito.

— Jimin Sensitiva agora? — Yoongi cerrou os olhos, desconfiado. 

O rapaz se aproximou do balcão e os dois pararam de conversar. 

— Olá Jimin! Nos encontramos novamente. Que sorte a minha.

— Olá Kai, seja bem vindo ao nosso café — Jimin sentiu-se intimidado por Kai, mas tentou manter o profissionalismo — Estou ocupado agora, desculpe não poder te dar atenção, mas se precisar de algo é só nos chamar — Cortou Kai antes que ele dissesse algo mais que pudesse comprometê-lo.

Kai retomou seu assento e saboreou o café lentamente, mantendo seu olhar fixo em Jimin o tempo todo. Uma sensação incômoda percorreu o corpo de Jimin, sentindo um arrepio na espinha. Os olhos de Kai pareciam penetrantes, como os de um lobo à espreita, esperando pelo momento propício para atacar. A intuição de Jimin e os olhares intensos de Kai o deixavam inquieto, uma certeza crescente de que aquela situação não poderia terminar bem. Preocupado, ele enviou uma mensagem para Jungkook:

"Kookie, seu primo está aqui na cafeteria onde trabalho... Ele não para de me encarar e isso me assusta. Não entendo o motivo, mas algo não está certo."

...

Jungkook pegou as chaves do carro, dominado pela raiva que o consumia. Conhecendo Kai como conhecia, sabia que nada de bom poderia vir dele com esse interesse em Jimin. Dirigiu até a cafeteria em alta velocidade, determinado a confrontar a situação de frente.

Ao chegar, seus olhos encontraram Kai sentado em uma das mesas, com os olhos fixos em Jimin que estava ocupado preparando café para os demais clientes. Jungkook se aproximou e, com uma expressão carregada de raiva, sentou-se na mesma mesa que Kai, encarando-o intensamente.

— O que quer aqui?

— Café — Kai deu de ombros. 

— Com milhares de cafeterias por aí, por que é justo essa?

— Preocupado com o namoradinho?

— Jimin não é meu namorado, somos apenas amigos.

— Amigos? — Kai deu risada — Você não viria correndo até aqui apenas por um amigo. Acho que eu descobri o seu ponto fraco, querido primo.

— Se você ousar tocar em um fio de cabelo do Jimin, eu juro que eu te mato.

— E ainda diz que é apenas um amigo. Se acalme, não vou fazer nada com seu namoradinho, só vim aqui tomar café — Kai deu um gole em seu café, se divertindo com a expressão de raiva em Jungkook.

— Jimin não tem nada a ver comigo. Se tem algum problema resolva comigo, deixe ele fora disso. 

— Engraçado que Jin também não tinha nada a ver com a sua raivinha comigo, e mesmo assim você fez de tudo para que ele terminasse.

— A culpa foi sua, não minha, eu não fiz nada, você o tratava mal. Ele tomou a decisão certa em fugir de você.

— Talvez Jimin também precise de alguém para orientá-lo a fugir de você.

— Eu não trato o Jimin mal, nunca gritei com ele e nunca vou fazer isso, eu o respeito e em hipótese alguma encostaria a mão nele. Diferente de tudo o que você já fez com Jin.

— Eu cuidava dele.

— O prendendo em casa? Batendo nele? Afastando ele da família e dos amigos? Você é doente. Não permitirei que se aproxime do Jimin e muito menos do Jin. Vou protegê-los de você.

Kai se levantou e jogou algumas notas de dinheiro sobre a mesa, antes de sair se virou para encarar Jungkook.

— Você e sua síndrome de herói. Espero que esteja ciente que não pode protegê-los de tudo, querido primo — Kai se retirou com um sorrisinho maldoso, deixando Jungkook ainda mais preocupado.

Jimin se aproximou da mesa de Jungkook, ele estava com uma expressão pesada e soturna, nunca tinha o visto assim. Observou seu rosto e viu as linhas de preocupação formando sulcos sutis em sua testa. Seus olhos, normalmente brilhantes, estavam nublados de inquietação. Isso despertou em Jimin uma profunda vontade de acalmar seus temores e oferecer o conforto que ele tanto precisava.

— Está tudo bem, Kookie?

— Está sim Jiminnie, não se preocupe, você fez certo em me ligar. Caso meu primo o incomode novamente, me ligue, ok?

— Ok, mas ele não fez nada demais, só ficou me encarando, resolvi te avisar porque você me disse que ele não era uma boa pessoa. Mas… está tudo bem agora. Você espera meu expediente acabar pra gente comer alguma coisa juntos? Acho que vou demorar uns quinze minutinhos. 

— Te espero o tempo que for preciso, não vou deixá-lo ir pra casa sozinho. 

— Obrigado, Kookie — Jimin sorriu, seus olhos fechavam quando ele sorria e suas bochechas ficavam rosadas. Jungkook se derreteu, sem forças nenhuma para lutar contra o que estava sentindo. 

“Se apaixonar é um saco... Jimin está se tornando a minha fraqueza” — Pensou Jungkook, sentindo medo de que seu pai descobrisse seu interesse por Jimin. 

...

Naquela noite, Yoongi se preparava para ir dormir quando Taehyung o ligou.

—Yoon? 

— Oi Tae.

— Está tudo bem com você? Não te vi hoje na aula.

— Só estava com dor de cabeça, estou bem, já passou — Yoongi queria contar a verdade sobre Hoseok, mas estava em conflito pois não queria criar desavenças entre os dois. 

— Senti tanto a sua falta.

— Também senti a sua falta — A voz de Yoongi saiu trêmula, estava com vontade de chorar e Taehyung percebeu. 

— Yoon, você está bem mesmo? Posso ir na sua casa?

— Não precisa, estou bem. Já estou até deitado, se você vir vai dar viagem perdida porque não vou levantar não, a gente se vê amanhã na escola — Se Yoongi visse Taehyung naquele momento não ia aguentar e desabaria em lágrimas. 

— Está bem, está bem, então descanse. Estou ansioso pra te ver amanhã, vou te abraçar, te encher de beijos e te dizer milhões de vezes o quanto eu te amo. 

Um sorriso iluminou o rosto de Yoongi, enchendo-o de felicidade. Sentia um desejo intenso de expressar seu amor, mas as palavras pareciam prender-se na ponta de sua língua, como se temessem escapar. Taehyung, por sua vez, não colocava pressão alguma sobre ele, sabia que essas três palavras eram preciosas e queria que Yoongi as pronunciasse apenas quando se sentisse totalmente confortável, em seu próprio tempo.

...

Na manhã seguinte, Yoongi percorria os corredores da faculdade com a cabeça baixa. Era o segundo dia consecutivo em que Hoseok faltava às aulas, e uma sensação de preocupação começava a envolver Yoongi. Ele se questionava se havia sido muito duro com Hoseok.

Absorto em seus pensamentos, Yoongi não percebeu quando Taehyung se aproximou e o envolveu em um abraço. Naquele momento, parecia que todas as preocupações do mundo haviam desaparecido. Taehyung tinha o dom de aliviar o peso que Yoongi carregava nas costas com um simples gesto de afeto.

— Bom dia amor da minha vida! — Taehyung deu um beijinho em sua testa.

— Bom dia Tae, acordou inspirado hoje. 

— Inspirado não, apaixonado, aliás, desde que te conheci acordo ainda mais apaixonado todos os dias. 

— Apaixonado por quem? — Yoongi sorriu esperando a resposta óbvia. 

— Por um gatinho chamado Min Yoongi. 

— Eu não sou um gatinho. 

— É fofo e manhoso como um, mas quando se irrita é capaz de fatiar alguém com as unhas. 

— Seu besta, eu nem tenho as unhas grandes — Yoongi sorriu genuinamente pela primeira vez depois do que aconteceu com Hoseok. 

Com delicadeza, Taehyung pegou em seu braço para trazê-lo mais perto, Yoongi gemeu de dor e se contorceu. 

— O que foi, Yoon? Seu braço está machucado?

— Não, não… estou bem. 

— Você gemeu de dor quando peguei no seu braço.

— Estou bem, foi só um reflexo.

— Você está com blusa de frio nesse calor, me deixe ver.

— Tae, já falei que está tudo bem.

Taehyung o encarou desconfiado, pegou sua mão e puxou a manga da blusa. Ficou horrorizado ao ver os braços de Yoongi, cheios de marcas roxas.

— Quem fez isso com você? — Taehyung estava sério.

— Tae, não foi nada, eu caí da escada.

— Você acha que me engana? Isso são marcas de mãos, como se alguém tivesse te segurado com força... Por acaso eu não sou nada pra você? Alguém te machucou e você nem ao menos quer me contar?

— Tae, eu já falei que não foi nada.

— Foi o Hoseok? Você esteve com ele no fim de semana. O que ele fez com você?

— Ele não fez nada, foi um acidente...

— Acidente? Vou falar com ele. Isso não vai ficar assim. 

— Tae! Não! Deixa isso pra lá, por favor.

— Hoseok está te ameaçando? Ele fez algo com você?

— Não! Claro que não! — Yoongi sentia as lágrimas aflorarem em seus olhos, misturando-se à vergonha e ao medo que o consumiam. Desejava ardentemente evitar que aquela situação se prolongasse, temendo que se transformasse em uma confusão ainda mais intensa.

— Estou vendo pelo seu estado que ele fez algo. Me conte a verdade, por favor. 

— E-ele tentou fazer algo... eu não queria e por isso ele me segurou com força — Conforme ia falando sua voz ia sumindo. Se sentiu sujo e culpado, mesmo sendo a vítima. 

— Yoon, eu fico triste com isso, lamento muito pelo que você passou — Taehyung o abraçou e então olhou em seus olhos — Só quero que saiba que você não está sozinho e principalmente que não é sua culpa. Ninguém merece passar por isso, e é normal sentir uma mistura de emoções após um trauma desse tipo. Nesse momento você precisa buscar apoio e cuidado, fico mais aliviado por você ter compartilhado isso comigo, mas procure aconselhamento profissional, se precisar posso marcar uma terapeuta de confiança, isso vai te ajudar a tirar esse peso. Você é uma pessoa valiosa demais e merece ser tratado com respeito e dignidade. Estou aqui para te ouvir, caso queira desabafar ou se precisar de qualquer tipo de ajuda — Taehyung tentava parecer calmo, mas fervia de ódio por dentro, tentou não demonstrar seus verdadeiros sentimentos naquele momento para não assustar Yoongi ainda mais. 

— Ter você ao meu lado já me ajuda, seu abraço me cura. 

— Fico feliz por poder te apoiar assim, mas por favor não se limite a isso, você precisa cuidar de você. Meus abraços não são o suficiente, promete pra mim que vai na terapeuta?

— Prometo. E você promete pra mim que vai esquecer esse assunto e que não vai arrumar confusão com ele por causa disso? — Yoongi olhou pro chão — Hoseok se arrependeu e me pediu desculpas.

Taehyung respirou fundo, não queria demonstrar seu ódio mas estava ficando cada vez mais difícil. Sua vontade era ir até Hoseok e socar sua cara. 

— Se arrependeu? Te pediu desculpas? É assim que vai ser? Ele faz o que quer sem nenhuma consequência?

— Eu já o desculpei, esquece isso, por favor, foi um erro e já passou, não aconteceu nada... 

— Tudo bem, Yoon — Taehyung suspirou — Isso não importa agora. Quero cuidar de você e te fazer sentir bem, isso é o mais importante. 

Yoongi lutou consigo mesmo, sentindo uma mistura de raiva e confusão. A imagem que tinha de si mesmo como alguém forte e protetor parecia desmoronar diante da situação com Hoseok. Sentia-se impotente diante da possibilidade de seu amigo ter agido de maneira tão prejudicial. Era difícil aceitar que alguém em quem confiava tanto pudesse ser capaz disso. Sentia-se vulnerável e se negava a acreditar que Hoseok tinha tentado fazer tal coisa, ele era seu querido amigo, tinha um bom coração. Não era possível que tudo aquilo tenha sido mentira, Yoongi se sentiu um fraco por ainda acreditar nisso. 

...

O Sr. Jeon, pai de Jungkook, estava imerso em seu escritório, envolto na imponência de sua poltrona. A posição estratégica de sua sala proporcionava uma vista deslumbrante da cidade, revelando a grandiosidade dos arranha-céus e o movimento constante das ruas lá embaixo. De seu posto no topo do edifício, ele contemplava o cenário urbano como um observador atento, ciente do poder e influência que emanava dali.

Ouviu alguém bater na porta e pediu para que entrasse. 

— Sr. Jeon... Trouxe algo de seu interesse — Disse Kai ao entrar no escritório e lhe entregar um pacote.

Ele abriu o pacote com tamanha curiosidade. Retirou alguns documentos e também fotografias e então olhou para Kai com um sorriso triunfante. 

— Então é ele? — Disse examinando uma das fotografias.

— Ele mesmo — Respondeu Kai, sorrindo vitorioso. 

— Então esse é o famoso Park Jimin.


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Notas finais do capítulo

Não mexa com o Chim!

Kook dê um soco no teu primo, e no teu pai também... Por favor.



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