Conflitos do Coração escrita por Yukiko Tsukishiro


Capítulo 13
Sentimentos conflitosos


Notas iniciais do capítulo

Chang Yi questiona...

O jiaoren fica...

Yunhe se encontra...



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Ela se levanta com um pouco de dificuldade e observa um ponto qualquer à sua frente enquanto continuava falando com a voz sem emoção:

— Por que não tratá-lo dessa forma?

Chang Yi fica surpreso ao vê-la responder com uma pergunta, para depois, se refazer e responder:

— Você não é um dos meus súditos.

— Eu sei disso, Beijing-Zunzhu. Eu sou a sua prisioneira. Zunzhu deixou claro mais de uma vez que a minha vida pertencia ao senhor. O senhor mesmo disse após cortar uma mecha do meu cabelo, "Ji Yunhe, no passado, a sua vida pertencia ao Vale do Demônio. Antes de hoje, sua vida era do Grão-mestre. Agora em diante sua vida é minha. Portanto, você não pode morrer a menos que eu queira.". Portanto, considerando as suas palavras, as suas punições e o fato de ter infligido dor em mim ao usar os seus poderes, eu me tornei a sua propriedade, ou seja, a sua nuli ('devedor', 'dependente' ou 'sujeito' sendo um termo para se referir a escravo). O senhor até reafirmou isso recentemente. Portanto, devo trata-lo com o devido respeito. Bem, se eu olhar dessa forma, acho que o mais correto é chama-lo de Nulizhu (mestre de escravos ou mestre de um escravo), mas, o senhor é quem detém um reino e eu acho que esse título não lhe é devido. Devo continuar chamando-o pelo seu verdadeiro título.

Chang Yi havia se assustado quando a sua esposa cogitou a hipótese de chama-lo de mestre de escravos, para depois, ficar aliviado por ela mesmo mudar de ideia e após passar o receio, ele foi tomado por um misto de desespero, dor e tristeza com o distanciamento que surgia entre ambos após eles se casarem pelos costumes da sua espécie. A tristeza era o sentimento mais intenso de todos e sobrepujava os demais.

De fato, Chang Yi fez tal gesto e falou tais palavras quando a tirou da prisão do grão-mestre porque os seus sentimentos de vingança ainda estavam muito frescos, além de não negar que provocou dor nela ao usar seus poderes para que a humana não se privasse de comer e para fazê-la tomar corretamente o remédio, visando a recuperação da sua saúde.

Afinal, foram seis anos planejando a sua vingança ao mesmo tempo em que era ciente de que o motivo real de trancá-la era para mantê-la consigo ao restringi-la, além de impedir qualquer outra tentativa de traição ao isolá-la.

Se a deixasse ter contato com o exterior ou com outras pessoas, principalmente os amigos dela que eram fieis a ela, Yunhe poderia trai-lo facilmente de novo e isso era algo que não podia permitir.

O jiaoren confessava que após ter ficado surpreso pela prisão dela ao descobrir onde a humana se encontrava, o seu amigo monge cogitou a hipótese de ser uma armadilha ou uma farsa para algum plano maligno de ambas.

Inclusive, Kong Ming chegou a considerar a hipótese de que a Mestra guardiã do Vale demoníaco estava por trás de Shunde no plano de enganar e mentir para o tritão ao ponto de somente revelar a sua verdadeira natureza ao apunhalar ele naquele penhasco.

Afinal, havia a sabedoria popular de que os mestres de demônios eram peritos em brincar e manipular o coração dos demônios, com Yunhe possuindo a fama de ter manipulado muitos corações pelo número deles que ela conseguiu subjugar ao longo dos anos ao fazer o que os mestres de demônios se referiam como doma, mas, sem usar métodos violentos. O uso da palavra domar era para soar de forma pejorativa para os demônios ao igualá-los a animais ou bestas e não a seres inteligentes.

Chang Yi ainda se lembrava da dor e do sofrimento enquanto caía do penhasco, assim como a sensação extremamente pungente de ter todos os seus ossos quebrados pela queda porque se encontrava paralisado pelo choque da traição e pelo ferimento em seu coração, fazendo com que o seu corpo se chocasse contra as várias saliências brutais enquanto despencava.

Como resultado, o jiaoren ficou à beira da morte ao ter todos os seus ossos quebrados e vários órgãos danificados enquanto sabia que somente teve uma ínfima chance de sobrevivência porque no final do precipício havia um riacho e a água impediu que a sua vida cessasse.

Por várias semanas, o tritão sentiu dores lacerantes, mas, a pior dor era do seu coração oriunda da traição que sofreu. Quando ele disse ao encontra-la extremamente suja de sangue e ferida da prisão após tirá-la de lá que Yunhe estava, "menos horrível do que o seu coração humano", era verdade. O coração dela era pior do que o seu estado.

Originalmente, ele pretendia puni-la mais rigidamente e até humilhá-la ao usar os sentimentos oriundos da traição que sofreu para restringir qualquer sentimento caloroso que desejava surgir nele ao fazê-la trabalhar como serva subserviente.

Porém, o seu débil estado de saúde que se prolongou mesmo após sair daquela prisão, com o jiaoren desconhecendo o fato de que Yunhe foi torturada e usada para experiências dolorosas por alguns anos dentre os seis anos que ficou na prisão da seita do grão-mestre, o fez se limitar apenas ao confinamento e restrição total.

Ademais, quando havia cogitado colocá-la em um trabalho forçado e servil público com regras extremamente rígidas e usando os seus servos para fiscalizá-la e garantir a sua contenção, assim como a incapacidade de contatar qualquer um dos seus amigos, além de fazê-la ser passível a punições determinadas por ele e que foi simbolizado pelo corte da mecha dela, além de encontrar meios de obriga-la a agir de forma submissa, o tritão não imaginou como se sentiria com esse tratamento como o que ela estava fazendo por si mesma naquele momento.

Chang Yi sempre pensou que lidaria facilmente com isso porque bastava se fixar nos acontecimentos de seis anos, atrás, naquele penhasco.

No final, o jiaoren descobriu que subestimou por completo a estranha influência dela sobre ele apesar de ter ocupado até aquele instante um período que podia ser considerado pífio porque estava vivo há muitas décadas e o seu tempo de convívio com a humana era menor do que dois meses.

Em relação as batalhas e no tratamento contra os inimigos ele era implacável ao ponto de fazer o seu nome ser temido, mas, em relação a Yunhe, ela conseguia se infiltrar facilmente em todas as suas defesas não importando o quanto forte eram, fazendo com que não tivesse qualquer defesa contra a sua influência.

Portanto, somente restou ao tritão usar os sentimentos que o tomaram a seis aos, atrás, para proporcionar alguma resistência por mais débil que fosse e que era facilmente destruída quando a jovem passava mal como quando vomitou toda a comida e o estranho sangue negro porque sabia que o sangue dos humanos era vermelho.

Ele acreditava que a cor negra era proveniente da metade demônio dela porque a sua esposa tinha uma pérola interna como qualquer outro demônio.

Atualmente, era um demônia que vivia no corpo de um humano, algo que o imperador do Norte nunca pensou ser possível a não ser se fosse um mestiço oriundo do cruzamento de um humano e de um demônio ao mesmo tempo em que as crianças oriundas dessa relação conseguiam lidar com as duas naturezas em seus corpos.

Porém, essas uniões eram raras e mais raro ainda eram as crianças frutos dessa relação.

Inclusive, como ele nunca tinha visto ou ouvido sobre a existência de um hibrido em toda a sua vida com as duas naturezas dentro de si, Yunhe se tornou o mais próximo disso que chegou a ver pessoalmente.

Quanto a influência inesperada dela, ela era capaz de fazê-lo repensar em sua vingança e até freá-lo, com ele sentindo isso plenamente somente após reencontrá-la porque até revê-la, o jiaoren não tinha consciência desse nível de influência.

Portanto, foi um choque descobrir sobre esse poder irrestrito dela sobre ele, fazendo os seus planos originais desabarem como um castelo de cartas porque mesmo que a humana não estivesse gravemente doente, o tritão se tornou plenamente ciente de que não conseguiria trata-la como havia planejado por anos e muito menos puni-la fisicamente ou mandar alguém puni-la. Chang Yi era ciente de que nunca teria conseguido dar essa ordem agora que a humana voltou para junto dele.

O que o imperador do Norte podia fazer ao mesmo tempo em que era considerada uma batalha diária árdua era privá-la do que ela mais desejava e fornecer o que Yunhe mais odiava enquanto deveria lidar com as consequências de sua decisão enquanto buscava justificar os seus atos ao impedi-la de se afastar dele e de trai-lo novamente.

O tritão confessava que antes da marcação, quando a jovem continuou o tratando da mesma forma de seis anos, atrás, ele se sentiu satisfeito de uma forma que nunca imaginou, embora não conseguisse definir o sentimento como sendo de fato, satisfação porque ele sequer conseguia compreender muitos sentimentos em relação a ela.

Relembrando o dia fatídico da marcação, o príncipe herdeiro dos oceanos se recorda que a fuga dela o provocou e o atiçou de uma forma desconcertante.

Quando ele pensou em captura-la novamente, o gesto dela de rir e se divertir no lago congelado o deteve, além de deixa-lo fascinado porque teve o vislumbre da verdadeira Yunhe, livre e desenfreada como o vento, e este era um lado que nunca havia presenciado antes, fazendo com que ficasse atordoado e depois imerso em uma contemplação silenciosa.

Inclusive, muitos sentimentos intensos surgiram nele com ímpeto naquele momento e foi como uma implosão desconcertante que o fez ficar paralisado enquanto contemplava a bela cena a sua frente ao mesmo tempo em que a sua mente e coração travavam uma batalha ferrenha e igualmente feroz.

Então, com muito esforço, o tritão consegue empurrar para baixo todos os sentimentos que considerava desnecessários ou que iriam atrapalhar o seu intento, fazendo assim com que conseguisse avançar para intercepta-la enquanto a jovem estava deitada na neve.

Quando ordenou que ela se levantasse após recuperar o semblante frio que buscava usar com Yunhe e um tom de voz igualmente gélido embora houvesse a preocupação velada que a saúde dela piorasse no ar frio da noite considerando o a sua condição física, a jovem se recusou veementemente.

Chang Yi sabia em seu íntimo e assumia agora que a irritação da recusa dela e o posterior aborrecimento que lhe tomou foi ocasionada pela própria raiva que sentiu ao interromper o momento em que a humana estava livre e desenfreada naquele lago, demonstrando assim a sua verdadeira natureza sem qualquer restrição. A interrupção daquela cena o deixou com raiva de si mesmo e para poder lidar com ela nos termos que havia planejado, com frieza e até crueldade, decidiu usar esses sentimentos para restringir ao máximo a influência dela mesmo que fosse fracamente.

A nova tentativa de fuga dela após tentar enganá-lo o havia atiçado além de qualquer restrição pessoal dele e se deixando levar por seus instintos reprimidos por anos, ele a marcou como a sua companheira vitalícia porque a marca do tritão era destinada à sua alma gêmea e também era um casamento, fazendo-o ficar sobre o olhar do Deus do abismo do oceano enquanto garantia ao tritão saber onde a sua companheira estava e o que estava fazendo quando desejasse, assim como o seu bem-estar e sentimentos, tornando-se assim uma forma de proteção, além de ser um símbolo inquebrável de união vitalícia, com os jiaorens marcando um ao outro para demonstrar a sua devoção eterna.

Inclusive, um viúvo não conseguia se casar novamente.

Desde que a marcou, ele lutava arduamente contra qualquer sentimento que queria surgir enquanto era ciente de que tudo que fizesse e falasse em relação a sua esposa estaria sobre o olhar do Deus do abismo.

O tritão nunca imaginou em sua vida que marcaria alguém sem o consentimento dessa pessoa porque o casamento na sua espécie não era como o casamento humano. Era muito mais profundo e inquebrável.

Além de marca-la contra a vontade dela e sem o seu consentimento, ele ocultava o significado da marca e não desejava contar enquanto sabia que se a sua companheira perguntasse diretamente, o jiaoren teria que revelar o que era porque nunca mentia, nem que fosse para salvar a sua vida e se a humana perguntasse o motivo de fundar o reino do Norte, Chang Yi também revelaria que o motivo principal era se vingar.

Portanto, o imperador do Norte esperava que a sua esposa nunca fizesse tais perguntas porque Kong Ming era o único que sabia sobre o real motivo de fundar um reino ao mesmo tempo em que desconhecia o que era a marca dentre os jiaorens, assim como para muitas espécies de demônios. Ele só sabia da capacidade de sentir e ver Yunhe quando desejasse e acreditava que o seu amigo fez isso para poder vigiá-la melhor.

O monge desconhecia o que significava a marca porque o tritão não sentiu vontade de revelar o significado enquanto sabia que bastava o monge perguntar mais detalhes sobre a marca e ele acabaria revelando o significado sendo ciente que se isso acontecesse, o príncipe herdeiro do oceano seria obrigado a encarar mais dor de cabeça porque o seu amigo sempre odiou a mestra de demônios e desejava fazê-lo esquecer dela.

Afinal, para Kong Ming bastava se vingar da humana e depois, seguir a sua vida porque não a achava digna, além de vê-la como uma vilã.

Chang Yi sabia que o monge só desejava o melhor para ele porque havia muitas fêmeas interessadas nele, com ele sendo ciente da intensa atração feminina que provocava em seu entorno.

Portanto, se o jioren revelasse o que era realmente a marca e que havia se casado na cultura do seu povo, com certeza, a sua audição doeria porque o seu amigo iria delirar e reclamar mais do que já fazia, com o tritão não duvidando que ficaria esbravejando indignado na sua orelha por vários dias.

Afinal, o humano já criticava o fato de não fazer o que havia planejado fazer com ela independente do seu estado de saúde. Saber que ele se casou com Yunhe levaria as críticas a outro nível.

O imperador do Norte acabou sendo obrigado a tomar a devida precaução de proibir que os demônios revelassem o que era a marca porque havia versões dessa marcação nas outras espécies e que continham o mesmo significado ao simbolizar o casamento enquanto agradecia o fato do seu amigo monge nunca ter buscado adquirir outros conhecimentos dentre os inúmeros demônios que os cercavam antes da sua proibição.

Enquanto o rosto de Chang Yi era indecifrável ao mesmo tempo em que era visível o seu estado contemplativo, o rosto da humana era o mesmo apesar do seu interior fervilhar de aborrecimento, com este sentimento sendo sentido plenamente pelo jiaoren, assim como qualquer sentimento que a tomasse naquele momento.


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