Lost: O candidato escrita por Marlon C Souza


Capítulo 21
Capítulo 21 - Pacto Sombrio




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O sol despontava no horizonte do Novo México, pintando o céu com cores vibrantes enquanto o hospital vibrava com uma urgência frenética. Um paciente ensanguentado era levado à toda pressa para a sala de cirurgia, uma figura pálida e frágil: Richard Alpert. Seu rosto contorcido de dor contrastava com a agitação ao seu redor. Aquele falo ocorrera logo após Richard ter levado diversos tiros no Aeroporto antes de embarcar com o grupo para Seul.

— O que está acontecendo? — perguntou ele, com uma voz fraca que mal conseguia romper o véu da dor.

Uma médica apressada seguia ao lado de sua maca, tentando acalmá-lo com palavras gentis: — Não se preocupe, senhor. Vamos cuidar de você.

Voltando no tempo, precisamente ao ano de 2007, uma batida na porta ecoou por uma casa em Los Angeles. Richard Alpert, agora um homem comum, atendeu o visitante. Alvar Hanso estava lá, acompanhado de seus imponentes seguranças. Essa visita ocorreu logo após a partida de Alvar e seus homens do apartamento de Kate, em Nova York.

— Magnus? — Richard perguntou, com surpresa e incerteza.

— Olá, Ricardus. Posso entrar? — Alvar questionou, mantendo sua postura impecável.

Alvar Hanso estava sentado na sala de Richard, sua cadeira de rodas elegante contrastando com o ambiente rústico e luxuoso da casa.

— Vejo que a Widmore está te pagando bem — Richard comentou, avaliando a elegância do lugar.

— O que você está fazendo aqui? — Richard perguntou, impaciente.

— Espero que não tenha esquecido que você foi adquirido como escravo para servir a mim. Vim apenas relembrar disso. Agora que finalmente saiu daquela ilha, não terá como fugir do meu controle.

— Isso foi há mais de duzentos anos. Por que agora? A escravidão não é mais permitida.

— Eu não me submeto às leis dos homens, Ricardus.

— Não tenho interesse em seu projeto, Magnus. Se puder sair, eu agradeço.

Alvar Hanso sorriu, seu tom de voz revelando um deboche sutil: — Ricardus, Ricardus. Você acha que pode se livrar de mim assim tão facilmente? Hanbal e seus guardiões não podem mais te salvar.

— Quem é Hanbal?

— Não me surpreende que não o conheça por esse nome. Aaron Littleton talvez soe mais familiar? — Alvar provocou, com um sorriso misterioso.

— Você está ficando louco? Aaron é apenas uma criança de três anos.

— Um dia você entenderá o que estou dizendo, Ricardus. Por enquanto, continue sua vida normalmente. Na hora certa você será meu. — Alvar concluiu, saindo da casa, deixando Richard perplexo com suas palavras enigmáticas.

No presente, Richard finalmente deixava o hospital em seu dia de alta, mas não conseguia deixar para trás a inquietante conversa que tivera com Alvar no dia anterior enquanto estava no leito. Suas palavras reverberavam em sua mente, forçando-o a refletir profundamente sobre seu destino. Determinado a encontrar respostas, ele sabia que precisava colocar a cabeça no lugar. Deveria mesmo embarcar de volta à ilha como Alvar sugeriu? Com um suspiro de exasperação, murmurou para si mesmo: — Maldição...

Decidiu então que, pelo menos, não pareceria tão antiquado como estava. As roupas que recebera do hospital não eram as melhores. Parou em uma loja de roupas, usando o cartão deixado por Widmore como garantia. Rapidamente, adquiriu roupas novas e modernas, uma tentativa de renovar sua aparência. Após a rápida mudança de visual, ele apressou-se em pegar um táxi rumo ao aeroporto.

Ao chegar lá, dirigiu-se à bilheteria de passagens com uma urgência palpável. — Preciso de uma passagem para Sydney. É urgente. — Disse a atendente com uma expressão preocupada.

A atendente olhou para o sistema e, com um semblante pesaroso, informou: — Senhor, os voos para Sydney estão esgotados para hoje. Gostaria de agendar para amanhã?

A notícia deixou Richard visivelmente perturbado. Ele saiu do aeroporto, e do lado de fora, a incerteza pairava em sua mente. Começou a martelar a ideia de que comunicar a Desmond sobre sua sobrevivência talvez não fosse uma decisão sábia. Em vez disso, optou por ligar para Charlie Hume, cuja voz o saudou com surpresa:

— Richard, é você mesmo? Que surpresa saber que está vivo.

Com uma urgência palpável, Richard falou, sua voz carregada de nervosismo: — Escute, não importa o que aconteça, nunca diga ao seu pai que estou vivo.

Charlie ficou perplexo com a demanda inesperada de Richard: — Calma, cara. Me diga, por que está me ligando?

Richard respirou fundo antes de explicar: — Preciso que me pegue aqui nos Estados Unidos. Quero ir com vocês para a ilha.

— O quê? Como sabe que estamos indo para a ilha?

— Não importa como sei. Passei todo o meu tempo na Widmore construindo este momento junto com sua mãe, para que vocês tomassem o controle da ilha. A lista de candidatos de Hugo foi a cereja do bolo. Sei que eles foram na frente para que seu pai não desconfie, e agora você irá coordenar tudo, exatamente com planejado.

O silêncio se estendeu do outro lado da linha enquanto Charlie processava as palavras de Richard. Então, Richard bradou: — Não vai dizer mais nada?

— O que espera ouvir? — Indagou Charlie, com uma pergunta retórica.

— Vou enviar a minha localização para você, Charlie. Mantenha em segredo que estou vivo, desde que eu possa continuar fazendo o trabalho que tenho feito até agora.

— Alguma vez eu já te decepcionei?

— Acredito que não. — Richard concluiu com confiança, e Charlie desligou o telefone.

Richard enviou sua localização para Charlie e, finalmente, guardou o celular. Colocou seus óculos escuros, ponderando se ainda era o mesmo homem desde o dia em que recebeu a inquietante visita de Alvar Hanso, ou Magnus, como ele o conhecia. O futuro incerto se estendia à sua frente, e ele estava prestes a embarcar em mais uma jornada misteriosa em direção à ilha.

No passado, precisamente em 2007, logo após a desconcertante visita de Alvar Hanso, Richard pegou o telefone e fez uma ligação urgente para Penelope.

— Ele esteve aqui hoje. Não faço ideia de qual é o plano dele — compartilhou Richard, referindo-se a Alvar.

No outro lado da linha, Penelope estava em um lugar sombrio: o enterro simbólico de seu pai. O luto envolvia-a, vestida de negro, diante do túmulo que simbolizava a despedida para sempre de seu amado pai. Seu rosto refletia tristeza profunda, pois sabia que nunca mais o veria. Seu coração também se agitava pela volta inesperada de seu marido à ilha, graças à intervenção de seu pai, deixando-a totalmente desconectada da realidade.

— Richard, por favor, não agora. Não quero discutir isso — respondeu ela, desligando o telefone abruptamente.

Alguém se aproximou dela, um abraço confortante. Era Alexander Widmore, também enlutado pela perda de seu tio. Ao lado dele estava Clifford Widmore, extremamente parecido com Alexander, afinal, eles eram gêmeos e Vivian Widmore. Todos vestidos de preto, compartilhando o peso da dor e do luto.

— Quem era, prima? — perguntou Alexander, buscando entender a preocupação de Penelope.

— É um problema que vou ter que resolver — disse ela, mantendo seu foco na despedida de seu pai. Uma mulher se aproximou com Charlie, seu filho, nos braços, e gentilmente entregou a criança a Penelope. Ela o pegou, seus olhos transbordando tristeza.

— O futuro da Widmore ainda é incerto, Penny. Quais são seus planos? — indagou Vivian.

— Por favor, respeitem pelo menos o meu momento de luto — solicitou Penelope com voz trêmula.

— O caixão está vazio — comentou Clifford, referindo-se ao caixão de Charles. — Seu pai pode não estar morto. Os sobreviventes podem estar blefando.

Penelope não conseguiu mais conter sua frustração e dor: — Já chega! — exclamou, afastando-se apressadamente. Seus primos a observaram enquanto ela se distanciava, e Vivian não pôde evitar comentar, mesmo com Penelope já se afastando:

— Você sabe que agora a Widmore está em suas mãos. Não pode permitir que o império que seu pai construiu desmorone dessa forma.

Penelope parou por um momento, as palavras de Vivian ecoando em sua mente, mas depois optou por permanecer em silêncio e continuou a caminhar em direção à saída do cemitério, buscando um momento de paz para lidar com suas próprias incertezas e mágoas.

De volta ao presente, Penelope e Desmond compartilhavam um momento sereno em sua casa em Londres. Ambos acordaram na mesma cama, sorrisos de contentamento iluminando seus rostos. Independentemente do resultado de sua missão, tudo parecia ter se desenrolado como Desmond havia previsto.

— Bom dia, amor — saudou Desmond, com um sorriso, antes de beijar ternamente sua amada.

Ele saltou da cama e se dirigiu à cozinha, onde encontrou sua governanta ocupada preparando o café da manhã. Desmond, porém, interrompeu-a com gentileza.

— Deixe-me preparar o café hoje — ofereceu ele.

A governanta recuou, permitindo que Desmond assumisse a tarefa. No entanto, subitamente, a mente de Desmond começou a se turvar e ele se viu imerso em um momento de agonia. Tudo ao seu redor se transformou em um campo de batalha, com pessoas correndo freneticamente em todas as direções, tentando escapar de uma ameaça iminente.

Desmond ficou paralisado, testemunhando a destruição que se desenrolava diante de seus olhos. Soldados atiravam desesperadamente em civis que, de alguma forma, eram compelidos a agir de maneira feroz e inumana, ceifando vidas inocentes.

Uma grande nuvem negra se aproximava rapidamente, engolindo tudo em seu caminho. Desmond se sentia incapaz de se mover, como se algo poderoso o mantivesse imobilizado. Lágrimas escorriam de seus olhos, pois a visão era terrível, e ele se via impotente para fazer qualquer coisa.

Gritos chamando por seu nome ecoavam à distância, mas Desmond fechou os olhos, mergulhado em lágrimas. Quando os abriu novamente, estava de volta à sua cozinha, com sua governanta olhando-o com preocupação.

— O que aconteceu? — perguntou ela.

— Nada — murmurou Desmond, completamente transtornado.

Enquanto isso, a milhas de distância, Charlie Hume se preparava para decolar com seu avião particular com destino aos Estados Unidos, onde encontraria Richard. A seu lado, estava Tyler Abbadon, visivelmente transformado desde a última vez em que fora visto. Trajava um terno e sua expressão era mais séria.

— Então ele não morreu — comentou Tyler.

— Tenho certeza de que ele morreu, Tyler. Seja o que for que está vivo nos Estados Unidos, não é o Richard que conhecemos — respondeu Charlie.

— Por que não o deixamos lá? — sugeriu Tyler.

— Neste ponto, Richard pode atrapalhar nossos planos. Seja qual for o plano dele, não podemos arriscar — explicou Charlie, suspirando. Eles embarcaram no avião e partiram.

Dentro da aeronave, Tyler voltou a falar com Charlie: — Meu tio me contou muitos segredos sobre a ilha. Mas não sei se estou preparado para isso.

Charlie ofereceu uma perspectiva tranquilizadora: — Matthew era um gênio. Ele ajudou a erguer a Widmore e, ao mesmo tempo, mantinha o equilíbrio entre os desejos de Jacob na ilha. Ele era o guardião da ordem no mundo. Nós estamos apenas mantendo o legado do meu avô e do seu tio Matthew Abbadon, Tyler. Somos a nova geração de protetores do mundo.

— Seu pai não sabe o que estamos fazendo. Por que não contamos a ele? — questionou Tyler.

Charlie ponderou por um momento antes de responder: — Meu pai nunca entenderia a complexidade de nossa missão. Proteger o mundo é o dever da Widmore e do guardião. Meu avô foi um herói nas sombras. Se meu pai souber que estamos envolvidos nisso, ele vai querer que paremos com o projeto. Ele não compreende a importância de nossa missão.

Tyler então tocou em um ponto delicado: — E quanto a Alvar Hanso? Não acha que ele tentará nos impedir?

— Enquanto os guardiões estiverem na ilha, ele não conseguirá chegar lá — afirmou Charlie.

— Richard pode estar trabalhando para ele agora — sugeriu Tyler.

Charlie revelou sua estratégia: — É por isso que tentamos matá-lo no aeroporto nos Estados Unidos. Ele é a carta na manga de Alvar Hanso. Se ele se unir a Wilbert na ilha, tudo estará perdido.

— Então por que estamos indo atrás dele? — questionou Tyler.

— Não estamos indo atrás dele. Vamos à antiga estação Poste de Luz da Dharma em Los Angeles para descobrir a localização atual da ilha. Fui informado de que ela se moveu no tempo novamente, de acordo com a estação da Widmore na Antártida — explicou Charlie.

Tyler ainda parecia confuso: — Então não estamos indo resgatar o Richard?

Charlie olhou para a janela do avião, perdido em pensamentos, antes de revelar sua verdadeira intenção: — Como eu disse, não iremos nos encontrar com ele nesta vida.

Essas palavras deixaram Tyler atordoado e perplexo, enquanto o avião cortava os céus em direção ao destino incerto que os aguardava.

Em 2007, Penelope encontrava-se sentada em seu quarto na antiga casa de seu pai, com Charlie descansando tranquilamente em seu berço. As vestes usadas no enterro ainda a envolviam enquanto ela permanecia imóvel, seu olhar fixo na parede. O peso da perda e da tristeza era esmagador, quando, de repente, alguém bateu à sua porta.

— Vá embora — gritou ela, com a voz trêmula.

— Senhora Hume, tenho algo do seu pai para a senhora — disse o senhor do outro lado da porta.

Penelope enxugou as lágrimas e se levantou, dirigindo-se à porta. O homem, vestindo um terno formal, entregou-lhe um conjunto de documentos.

— O que é isso? — perguntou ela, com a voz distante.

— Seu pai deixou estes documentos caso não voltasse vivo da ilha. Ele sabia que era uma missão suicida. Esperava que você lesse depois dos eventos recentes.

— Obrigada — murmurou ela, pegando os papéis e fechando a porta com um gesto rápido.

A papelada continha informações cruciais sobre a ilha, a Dharma e uma carta pessoal. Com curiosidade, Penelope começou a ler:

"Querida, se estiver lendo isso, é porque morri. Espero que entenda que tudo o que estou fazendo é para o bem do mundo. Peço perdão por ter sequestrado seu marido e trazê-lo comigo para a ilha. Desmond possui um potencial extraordinário para salvar a humanidade de uma possível destruição.

Há um homem extremamente poderoso que deseja tomar o controle da humanidade, e espero que compreenda que, neste momento, estou tentando evitar o caos total, o que significa que talvez eu não volte mais.

Espero que compreenda o papel da Widmore em manter o mundo a salvo. Esses documentos contêm informações preciosas sobre a ilha, a Dharma, Benjamin Linus, os Guardiões da ilha e, principalmente, sobre o homem mais perigoso do mundo: Alvar Hanso.

No passado, ele me enganou e me fez construir a Widmore com o objetivo de roubar o poder que reside na ilha sem ter que chegar lá. Quando descobri suas verdadeiras intenções, ele criou a Iniciativa Dharma para alcançar o mesmo objetivo. Assim, toda a energia e poder da ilha seriam extraídos e trazidos até ele, sem que precisasse chegar lá. Também falhou.

Seu dever é proteger aquela ilha. Capacite pessoas, ajude o novo guardião a protegê-la e, acima de tudo, assuma meu lugar nas Corporações Widmore. Treine meu neto para auxiliá-la e sucedê-la no futuro. Amo vocês. Charles Widmore."

As palavras do pai deixaram Penelope chocada. Ela começou a chorar desesperadamente, amassou o papel em suas mãos e, com raiva, atirou-o contra a parede, juntamente com toda a documentação. Embora soubesse que seu dever era assumir o lugar de seu pai, ainda havia uma pontada de amargura em seu coração por ter sido separada de seu marido.

Penelope olhou para seu filho no berço, fechou os olhos por um momento e, em seguida, respirou profundamente. O dia seguinte trouxe uma agitação à sede das Corporações Widmore em Londres. Penelope chegou elegantemente vestida, chamando a atenção dos funcionários. Em um anúncio surpreendente, ela declarou:

— Pessoal, a partir de hoje, sou a nova proprietária das Corporações Widmore. Estou assumindo o controle total desta empresa.

As palavras dela foram recebidas com aplausos entusiasmados, e um sorriso determinado iluminou seu rosto.

No presente, Penelope estava ao lado de seu marido, observando-o perplexa desde a visão que ele tivera na cozinha.

— Dess, o que diabos aconteceu com você? Você está agindo de forma estranha — comentou ela, preocupada com a distância que ele parecia manter.

Desmond esboçou um sorriso forçado, tentando acalmá-la.

— Estou bem, Penny. Desculpe por te preocupar tanto.

Ela não estava disposta a aceitar uma resposta evasiva.

— Não me minta, Desmond. Você definitivamente não parece bem — disse ela, sua voz carregada de frustração e raiva, sentindo-se traída pela aparente falta de transparência do marido.

Desmond, relutante, decidiu tomar um banho e começar o dia, afastando-se de Penelope.

Nos Estados Unidos, Richard estava absorto lendo notícias em seu celular enquanto estava sentado em um banco em uma praça no Novo México. Foi então que James se aproximou, sentando-se ao seu lado e iniciando uma conversa direta.

— Por que você ficou por aqui? — indagou James, demonstrando preocupação genuína.

— Digamos que algo me impediu de embarcar — respondeu Richard, mantendo-se evasivo.

James não se deu por satisfeito.

— Algo? Seria alguém?

— Fui baleado e acordei em um hospital. Se estou vivo, é um verdadeiro milagre.

— Você é um andarilho zumbi com mais de 200 anos. Se isso já não é um milagre, já não sei mais o que é.

Richard suspirou, cansado da situação.

— Escute, o que você está fazendo aqui, James? Não deveria estar cuidando da sua fazenda?

James tinha uma pergunta urgente em mente.

— Não tenho tempo pra brincar de fazendeiro. Quero saber como está minha filha. Vocês a levaram a dias e não tive se quer uma notícia.

Richard revelou a gravidade da situação.

— Eu não sei o que houve com eles. Estava hospitalizado, lembra?

James estava à beira do desespero.

— Escute aqui, zumbi. Se minha filha sofrer um único arranhão, vou processar a Widmore até o último centavo. Já não estão mais pagando minha indenização, e agora a levaram para essa loucura. Você não tem ideia do tamanho do processo que vou movimentar.

Richard estava indiferente às ameaças de James. James, em um ato de raiva, agarrou a camisa de Richard, preparando-se para desferir um soco.

— Dê-me um único motivo para não socar seu rosto até ele ficar irreconhecível.

Richard, no entanto, parecia alheio à situação, seus olhos perdidos em pensamentos distantes. James finalmente soltou-o, confuso com o comportamento anormal de Richard.

— O que diabos está acontecendo com você?

Richard, em um momento de sinceridade, respondeu:

— Eu morri.

Aquela fala deixou James perplexo. Não conseguia assimilar o que Richard queria dizer com aquilo.

Em 2007, Richard vagava pelas ruas movimentadas de Los Angeles, mergulhado em seus pensamentos. Sentia o peso de suas decisões e buscava desesperadamente um refúgio para clarear a mente. Acabou entrando em um bar decadente, onde se acomodou em um banco, com um copo de bebida em mãos.

Enquanto tomava sua bebida e se permitia afogar nas lembranças, uma voz familiar quebrou seu silêncio. Frank, o piloto que também havia enfrentado os mistérios da ilha, sentou-se ao seu lado de forma casual.

— Olá, Richard — cumprimentou Frank, como se o encontro fosse uma simples coincidência do destino.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou Richard, surpreso com a reviravolta do destino.

Frank suspirou, exalando frustração.

— Fui expulso do meu cargo de piloto. Tenho vindo aqui para afogar as mágoas e esquecer os horrores que presenciei naquela ilha. — Frank levou o copo aos lábios, bebendo de forma pesarosa.

Richard deixou escapar um sorriso cansado. Sentia o peso da ilha sobre seus ombros, mesmo a quilômetros de distância.

— Não importa o quanto eu tente fugir daquela ilha, ela sempre parece me encontrar.

Frank ergueu as sobrancelhas, intrigado com a declaração de Richard.

— Meu amigo, vou te contar um segredo. Nunca vi nada como o que vivenciamos naquela ilha. Uma fumaça preta que se transforma em pessoas mortas. Foi demais para mim. Mas, acredite, depois de tudo, não duvido mais de nada. Estou aqui, sentado ao lado de um homem com mais de 200 anos de idade — comentou Frank, tomando um gole de sua bebida com um misto de fascínio e descrença.

Richard riu sinceramente, apreciando a sinceridade de Frank.

— O que você vai fazer agora? — Indagou Richard.

— Estou desempregado, meu sonho acabou. Pretendo encontrar minha filha e tentar me reconciliar com a mãe dela.

— Parece um bom plano. Boa sorte. — Disse Richard, levantou-se e saiu, deixando Frank sozinho.

Frank permaneceu bebendo sua cerveja, quando um homem entrou no bar, chamando a atenção de todos os presentes. Era Alvar Hanso, uma figura enigmática e poderosa.

Alvar se aproximou de Frank com sua cadeira de rodas, deixando-o perplexo.

— Frank Lapidus, imagino. — Comentou Alvar.

— Quer um autógrafo? — Indagou Frank, bebendo sua cerveja. Alvar riu.

— Sou Alvar Hanso, dono da Fundação Hanso. Quero lhe oferecer um emprego, amigo. Quero que seja meu piloto particular.

Frank sorriu, mas algo na proposta de Alvar o fez gelar por dentro.

— Ah bom. Um dos homens mais ricos e poderosos do mundo veio lá da Dinamarca a um bar em Los Angeles me oferecer um emprego? Desculpa amigo, estou em um dia ruim.

— Frank Lapidus, se eu fosse você não recusaria o emprego que estou oferecendo a você. Se quer garantir a segurança de Jean e Anne.

Os nomes mencionados por Alvar atingiram Frank em cheio. Jean era sua filha e Anne, sua ex-esposa. O ódio e o medo o dominaram instantaneamente.

— Não mexa com minha família.

— Não se preocupe, Frank. Não fizemos nada à elas, ainda. Só vim lhe oferecer uma oportunidade. Está desempregado agora, irei pagar bem.

Frank, com os olhos cheios de desconfiança, concordou, percebendo que não tinha escolha.

— Por que eu?

— Porque você foi àquela ilha, duas vezes. Você é um ótimo piloto e também um ótimo atirador. Sei que você, quando era militar, cumpriu bem seu papel.

— Se sabe da ilha, imagino que seja realmente Alvar Hanso, o homem por trás da Dharma.

— Aceita a proposta?

— Eu tenho escolha?

— Boa. Preciso que comece o quanto antes a atuar para a Hanso. Nesta altura, precisamos encontrar um homem chamado Wilbert DeGroot. Hoje ninguém sabe da sua existência, mas ele é filho dos fundadores da Dharma. Ele será útil para reerguer a iniciativa.

Alvar ligou sua cadeira de rodas e saiu dali, deixando Frank pensativo. Não podia arriscar a vida de sua filha e ex-esposa, e essa proposta sinistra o obrigava a seguir esse caminho, ainda mais sombrio do que qualquer coisa que já havia enfrentado.


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