Almas Gêmeas escrita por seere


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores.

Eu sinceramente não sei muito o que dizer sobre essa fic que se escreveu sozinha, já que nada aqui saiu como eu imaginei inicialmente. Eu seriamente pensei em chamá-la "O Drama de Madara", já que é basicamente isso. 5 mil palavras de Madara sendo dramático. É isso, essa é a fic. Se quiserem desistir eu vou entender, se quiserem dar uma chance, boa leitura. Espero que gostem.



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Desde o dia em que ele descobriu quem era sua alma gêmea, Madara imaginou que deveria amá-la. Era isso que as histórias falavam. De um amor sublime e único no mundo. Então Madara sabia que, com o tempo, ele iria amá-la. Ele não conseguiu.

Quando encontrou aquele garoto estranho no rio, ele nunca pensou na possibilidade de ser sua alma gêmea. Por tudo que ouviu de sua mãe e os mais velhos do clã enquanto crescia ele imaginou que encontraria seu par dentro do próprio clã. Era esperado, desejado e preferível que assim fosse, afinal, o sharingan era uma arma. A arma mais poderosa dos Uchiha. Ter um sharingan fora do clã era impensável e, honestamente, assustador. Mas ali estava ele. Paralisado diante de um garoto que obviamente não era um Uchiha e claramente era sua alma gêmea.

O acalmou um pouco o pânico que sentia foi ver que o garoto parecia tão assustado e nervoso quanto ele. Naquele dia eles se despediram sem falar muito. Ambos muito confusos sobre o que tudo isso poderia significar.

Madara foi para casa com o coração acelerado e a cabeça girando com cenários e mais cenários horríveis. Ele não contou a ninguém sobre o encontro no rio.

Três dias depois ele ainda não sabia o que fazer.

Sua mãe sempre lhe contou histórias sobre as almas gêmeas. Sobre aquela pessoa que significaria para ele mais do que palavras poderiam explicar. Aquela pessoa que o entenderia com apenas um olhar, que compartilharia seus pensamentos e suas dores. Que faria sentido quando tudo o mais parecia um caos. Madara não sentiu nada disso.

Poderia haver algo errado com ele?

Uma semana depois ele havia se acalmado o suficiente para tentar ir ao rio novamente. Talvez, se sua alma gêmea estivesse por lá, ele poderia compreender melhor. Sem o susto da descoberta. Talvez, ele pensava, talvez houvesse algum engano.

O garoto estava lá. E levantou a cabeça assim que ouviu Madara se aproximando. Ele também parecia incerto, inseguro. Seus olhos se encontraram e ele soube então, não havia engano. Ele sentiu vontade de gritar.

O garoto, Hashirama ele aprenderia, deu um sorriso tímido como saudação. E Madara respirou fundo, aquela era sua alma gêmea, medos do clã a parte, aquela era a pessoa feita para Madara, ele poderia fazer isso, conhecê-lo. O amor, ele sabia, viria com o tempo. Eles ainda eram apenas crianças.

Após o segundo encontro Madara achou ridículo toda a desconfiança e medo. Hashirama era bom. Eles eram amigos, Madara podia dizer. Era como se eles se conhecessem durante toda uma vida e não apenas alguns dias. Hashirama era divertido, ainda que irritante. Ele não contou se qual clã era e nem Madara, mas ambos sabiam que o outro era shinobi. Não tinha como não ser.

Hashirama lhe contou sobre os irmãos perdidos para a guerra e Madara compartilhou sua própria perda. E quando Hashirama falou sobre seu sonho de paz, Madara sentiu seu coração apertar. Ele achou então que poderia amar Hashirama.

Quando tudo deu errado ele lamentou a perda da amizade. Seu coração se partiu por ter que escolher entre seu amigo (sua alma gêmea) e seu clã, mas ele sabia que tinha feito à escolha certa. Hashirama era bom, mas também era um Senju. No fim, era um engano. Os deuses haviam errado e Madara lamentou em silêncio.

Quando eles assumiram a liderança de seus respectivos clãs as disputas diminuíram, mas não cessaram. Madara ainda estava muito preso aos anos de guerra, seu clã ainda muito ferido e de luto pelas vidas perdidas. Hashirama falava de paz, mas Izuna sussurrava sobre demônios e armadilhas, mentiras e traições. Madara conhecia Izuna toda a sua vida, Hashirama era sua alma gêmea. Ele escolheu seu clã, uma e outra vez. Mas aquela dor em seu peito não ia embora.

Hashirama nunca desistiu. E em momento algum usou sua ligação de alma gêmea contra ele. Madara poderia respeitá-lo por isso.

Madara ainda não o amava.

Quando os tratados de paz começaram a chegar, Madara leu todos eles. Izuna leu e os dispensou. Hikaku leu e dizia o que era razoável e o que não era. Os anciões torceram o nariz e gritaram como era um ardil Senju para atrair o Uchiha para a morte. Madara parou de mostrar a eles. Ele também nunca respondeu.

A próxima vez que ele encontrou com Hashirama, fora do campo de batalha, foi em uma missão simples aos arredores do país do Vento. Hashirama pareceu surpreso ao vê-lo, mas logo o mesmo sorriso idiota brilhava em seu rosto. Madara tentou resistir ao puxão da sua ligação, mas quando Hashirama – o tolo, incrivelmente estúpido, cérebro de árvore – o abraçou, Madara entendeu mais um pouco sobre o que sua mãe falava. O caos de seus pensamentos se acalmou. Aquela pessoa estúpida, terrivelmente confiante que ainda acreditava em sonhos e ideal, era sua alma gêmea. Madara não duvidou mais disso, pois, no fundo, ele era tão estúpido e confiante quanto Hashirama. Ele retribuiu o abraço.

E eles conversaram. Por um dia inteiro eles conversaram. Sobre a guerra, sobre a paz e sobre a vila. Hashirama ainda acreditava nos sonhos de paz que um dia tiveram e Madara percebeu que acreditava em Hashirama. Eles se separaram sem falar sobre almas gêmeas. Madara não sabia como se sentir sobre isso.

Quando o próximo tratado de paz chegou, Madara mostrou para Hikaku primeiro. E os dois planejaram. Ele lidaria com Izuna depois.

Izuna não gostou de ter sido deixado de fora, ele retaliou, gritou com Madara, com Hikaku, com tudo e sobre tudo. Foi então que Madara percebeu que Izuna estava com medo. Apavorado. Ele não confiava nos Senju. Madara então compartilhou seu segredo. O que ele nunca havia dito a ninguém.

Quando ele terminou, Izuna ficou em silêncio por um longo tempo e depois olhou diretamente para Madara.

—Você o ama?

Madara não era mais uma criança. A ideia de amor já não soava tão avessa como quando ele tinha 10 anos e seu melhor amigo tinha um cabelo de tigela ridículo e impossível de levar a sério. Eles mal se encontraram fora do campo de batalha, cartas e tratados dificilmente eram o suficiente para o que quer que fosse. Mas Madara se lembrava das histórias de sua mãe, ele sabia o que era ter uma alma gêmea, sabia o que significava e ainda assim Madara não conseguiu responder Izuna.

 Seu irmão o evitou por dois dias inteiros antes de pedir para ver os tratados novamente. Madara mostrou a eles, Izuna os pegou e saiu. Foram mais três dias de silêncio. Mas quando ele voltou tinha o último tratado nas mãos com alguns pontos circulados e rabiscos por todo o pergaminho. Madara sabia que havia uma chance.

As terras do clã Nara foram gentilmente cedidas como terreno neutro para um primeiro encontro para discutir os termos dos tratados. Era a primeira vez que tantos membros dos clãs se encontrariam fora do campo de batalha. Cinco representantes de cada lado mais seus líderes. E foi quando Madara soube o porquê de Hashirama nunca ter falado sobre ser sua alma gêmea, mesmo quando se encontraram sozinhos ou em suas cartas particulares.

Hashirama havia se casado.

Izuna pareceu surpreso e olhou discretamente para Madara, esperando uma reação violenta. Esperando que as coisas dessem errado antes mesmo de começar. Izuna não estava feliz com o Senju sendo a alma gêmea de seu irmão, mas também não esperava que a dita alma gêmea simplesmente se casasse com outra.

Madara não falou nada. E mais uma vez se perguntou se os deuses não haviam errado.

Foram necessárias mais três reuniões até o tratado ser considerado satisfatório. Madara suspeitava fortemente que o real motivo era que ninguém mais aguentava tanta política. Até Izuna parecia mais propenso a reclamar com Tobirama Senju sobre os anciões do que contra Tobirama Senju com os anciões. E isso dizia muito sobre o cansaço mental de todos eles.

Mas estava feito. O passo havia sido dado. A paz iria acontecer. Hashirama e Madara apertaram as mãos. Hashirama ainda com o sorriso estúpido no rosto, olhos brilhantes e coração aberto. E Madara se perguntou.

A vila começava a ganhar forma. O espaço havia sido decidido e as plantas começavam a sair do papel. Madara podia jurar que nem mesmo durante a guerra ouviu seu irmão amaldiçoar tanto Tobirama Senju. Aparentemente o irmão mais novo de Hashirama era insuportavelmente detalhista e atrasava todo o processo com sua chatice crônica (palavras de Izuna não de Madara).

Em contra partida de todo o antagonismo dos irmãos mais novos, os irmãos mais velhos pareciam ter se reconectado e recuperado a irmandade de anos atrás. Foi tão fácil cair ao lado de Hashirama de novo, como se nunca tivessem se separado. Era tão natural quanto respirar. E Madara se perguntou mais uma vez, como fez boa parte da sua vida, o que havia de errado com ele que não podia amar sua alma gêmea.

Não foi até um ano depois que alguma luz foi lançada sobre as dúvidas que o assolavam.

A vila já estava pronta, ou, pelo menos habitável. Havia detalhes a serem finalizados, é claro. Comércios a serem feitos, convites a outros clãs que poderiam se interessar na ideia de uma vila unida. Mas era uma vila. Havia casas, postos comerciais e até mesmo um hospital. Era uma vila. Se não perfeitamente era completamente funcional. Tinha tudo o que precisavam de imediato e havia espaço suficiente para crescer.

As tensões entre Uchiha e Senju ainda era uma coisa, mas todos se esforçavam para tentar serem menos antagônicos. Se ao menos Izuna Uchiha e Tobirama Senju parassem de jogar jutsus de fogo e água em cima um do outro todos os dias. E era pelas menores coisas, Madara percebeu.

O dia começaria calmamente, todos fazendo sua parte pela paz que cada dia mais estavam convencidos de que era possível, real. Até que um enorme dragão de água surgiria de algum lugar seguido por uma imensa bola de fogo. E toda a calmaria acabaria.

Na primeira vez que aconteceu Madara e Hashirama temeram que a paz acabasse ali mesmo, a vila seria o novo campo de batalha e seria destruída, junto de todos os seus sonhos e esperanças. Ambos correram até seus irmãozinhos, tentando avaliar os danos e diminuir a tensão entre os clãs. O motivo da aparente repentina desavença precisou ser explicado pelo menos cinco vezes. Nem Madara e nem Hashirama podiam entender o porquê um convite para almoço poderia gerar tamanha destruição.

Na segunda vez foi por um relatório preenchido errado. Na terceira alguma coisa sobre um olhar torto? Na décima vez Madara finalmente percebeu que era por nada. Os dois apenas estavam sendo antagônicos porque podiam. Madara desistiu deles depois disso, mas tanto ele quanto Hashirama os fizeram prometer manter os danos à vila mínimos. Se eles queriam brincar de matar um ao outro que fizessem isso em um lugar afastado. E foi assim que os campos de treinamento foram criados. Todos tinham o bom senso de ficar longe do campo de treinamento 7.

Honestamente, Madara nunca pensou que o irmãozinho sério e inteligente de Hashirama podia ser tão pirralho quanto o seu próprio irmão. E, por curiosidade, Madara comentou isso com Hashirama no próximo encontro para bebidas e conversa fiada, mas o cérebro de árvore apenas riu e disse que Tobirama sempre foi um pouco pirralho. E que estava feliz que os dois estivessem se dando bem. Madara duvidou que isso fosse “se dar bem”.

Depois disso Madara percebeu também que nunca havia, de fato, conversado com Tobirama Senju. Eles falavam, é claro. Assuntos da vila, durante reuniões, mas nunca havia conversado um com o outro. Parte da repentina percepção foi graças a Izuna que não passava um dia sem reclamar sobre o Senju mais novo, fazendo Madara se perguntar se Hashirama passava pelo menos problema todos os jantares com seu próprio irmão. Nessa altura Madara já sabia mais coisas sobre Tobirama do que de todas as conversas não conversas que teve diretamente com o homem.

E foi aí que a curiosidade apareceu.

Ele conhecia o Demônio Branco. Conhecia uma imagem de terror e medo do campo de batalha, mas não conhecia o que havia por trás de tudo aquilo. Ele ouvia histórias de Izuna e Hashirama sobre uma pessoa que ele, percebeu, não conhecia e não podia associar à figura que, por anos, foi o pior pesadelo de tantos Uchiha. Ele queria mudar isso.

Começou tão bem quanto se podia imaginar.

As primeiras tentativas foram, honestamente, um fracasso. Tobirama, Madara percebeu, era desconfiado por natureza. O repentino interesse de Madara por ele foi tratado com desconfiança e cautela. Ele nunca foi rude, mas parecia tenso na maior parte do tempo.

Madara não desistiu.

Semanas de conversas curtas e não muito pessoais deram frutos quase um mês depois. Quando seu convite para um almoço foi recebido com uma confirmação relutante, mas não desconfiança aberta. Pequenas vitórias. Seguidas por outras pequenas mais. Madara estava muito orgulhoso de si mesmo.

Foi quando as coisas começaram a ficar confusas.

Ele não tinha percebido quanto tempo gastava (desfrutava) ao lado de Tobirama até seu irmão acusá-lo de tentar roubar seu amigo—rival. Madara certamente não passava tanto tempo assim com o mais novo. Izuna estava apenas sendo um pirralho dramático que não gostava de dividir, fosse seus amigos ou qualquer outra coisa.

Hashirama também teve a mesma reclamação dois dias depois, quando o convidou para treinar, mas Madara recusou dizendo que já havia prometido ajudar Tobirama com um novo jutsu que ele estava tentando melhorar. Hashirama acabou seguindo ele até o campo de treinamento apenas para reclamar com o irmão mais novo estar roubando o melhor amigo dele. Tobirama apenas revirou os olhos e apontou que Hashirama ainda tinha uma pilha de acordos comerciais para revisar e que não estava abaixo dele reclamar com Mito que Hashirama estava tentando fugir do trabalho. Nenhuma ameaça funcionava melhor do que mencionar a esposa do homem.

Madara riu da sorte do amigo, mas quando se virou para Tobirama o encontrou pensativo.

—O que é?

—Você podia ter ido com ele, você sabe – Madara franziu o cenho, sem ver de onde isso vinha. –Sei que pedi sua ajuda, mas não se sinta obrigado a ficar.

—Não estou – Madara foi rápido em garantir, talvez rápido demais, mas havia algo no rosto de Tobirama que Madara não gostou de ver. –E, sinceramente – ele precisava deixar claro. –Prefiro treinar com você – o olhar cético de Tobirama poderia tê-lo ofendido, se ele não soubesse de onde vinha a descrença. –Estou falando sério.

—Não posso imaginar como – Madara gostou de pensar que o braço cruzado não era uma postura defensiva. –Sei que minhas habilidades não são ruins, mas comparado a meu irmão seu que não represento muita ameaça para você em uma luta.

—Em um combate de vida ou morte, talvez – Madara deu de ombros. –Mas não é disso que se trata, não é? Hashirama pode ser mais próximo a mim em questão de habilidade, mas é como bater numa parede muito resistente a maior parte do tempo, tudo sobre força e resistência ridículas – Madara contou como vitória quando Tobirama sorriu, quase não lá, mas ele havia aprendido a ver as pequenas mudanças de expressão. –Com você é diferente, eu realmente preciso pensar e organizar uma estratégia de combate, pois sei que você não vai me atacar diretamente com tudo o que tem, pois sabe que perderia. E quando penso que finalmente consegui ultrapassá-lo você aparece com algo novo e eu preciso repensar em tudo novamente. Na maior parte do tempo não sei se quero matar você ou elogiá-lo. Finalmente sei como Izuna se sentia.

Tobirama não respondeu nada por um tempo e Madara se preocupou, por um momento, que o outro fosse ir embora, mas quando o mais novo apenas deu de ombros em meio a um suspiro Madara pode soltar a respiração que nem percebeu que estava perdendo.

—Se você diz.

—Sim, eu digo. Agora me mostre aquele jutsu que você falou.

Madara realmente deveria esperar qualquer coisa de Tobirama a essa altura, mas ainda conseguia se surpreender com a mente incrivelmente genial e criativa dele. Sério? Clones completamente sólidos e funcionais para combate? Deuses, Madara acha que poderia ter se apaixonado ali mesmo, derrubado no chão por um ataque conjunto de dois Tobiramas perfeitamente sincronizados. Ele se apoiou nos braços enquanto olhava encantando para os dois. Tobirama parecia igualmente encantando com os resultados do jutsu, seu sorriso era um pouco maior, mais aberto e fazia coisas estranhas ao coração de Madara.

—E então? É o que esperava? – perguntou ainda do chão, um sorriso animado com os olhos indo de um para outro, tentando ver alguma diferença entre ambos e não encontrando nenhuma.

—Sim. Funciona perfeitamente bem, o dreno de chakra está bem menor do que das primeiras tentativas, mas ainda alto para ser usado como jutsu padrão – e Tobirama começou a divagar sobre como poderia melhorar isso ou aquilo, Madara estava satisfeito em apenas sentar e assistir aquela mente brilhante trabalhar. Tão distraído em seus pensamentos que perdeu a pergunta de Tobirama. –O que?

—Seu sharingan pode diferenciar clones normais, não é? E quanto a esse?

Madara se surpreendeu por um momento. Não que fosse um tabu ou qualquer coisa assim, mas desde que podia lembrar Madara nunca havia usado seu doujutsu em suas lutas-treino com Tobirama. Para ele pedir isso tão casualmente o pegou desprevenido. E sua hesitação foi perceptível o suficiente para Tobirama parar por um minuto e encará-lo até descobrir o que poderia haver de errado. O que, para seu crédito, ele descobriu quase imediatamente.

—Ah, desculpe – o pedido de desculpas não era o que Madara esperava. –Estou acostumado com Izuna usando seu sharingan em nossas lutas, não foi minha intenção deixar você desconfortável. Esqueça que perguntei.

Madara balançou a cabeça, ainda meio perdido, mas logo superou a surpresa.

—Não, não se desculpe – Tobirama olhava para ele ainda incerto. –Eu achei que deixaria você desconfortável caso usasse meu sharingan. Por isso fiquei surpreso quando você perguntou. Só isso.

—Por que eu ficaria desconfortável?

—Achei que, depois de anos lutando contra isso você poderia não querer, sei lá, ver – soou incerto mesmo para os ouvidos de Madara. A verdade era que os Uchiha se incomodavam um pouco com o medo que as pessoas ainda pareciam ter de olhar diretamente nos seus olhos, mas eles entendiam que coisas assim levariam tempo.

—É estúpido, se esperamos que essa vila dê certo, precisamos confiar uns nos outros – era a lógica simples que Madara percebeu que Tobirama seguia, se você queria que algo fosse feito, faça. Se você promete algo, cumpra. Era simples assim na mente de Tobirama e o irritava, Madara notou, quando as pessoas não pareciam ver o porquê era tão simples quanto isso.

Madara apenas sorriu e balançou a cabeça, não em derrota, mas em compreensão.

—Muito bem, vamos ver esse se seu jutsu impossível pode enganar meu sharingan.

Com um resmungo de “não é impossível se aconteceu”, Madara deixou o chakra fluir para seus olhos e sentiu seu doujutsu se ativando. E, quem diria, o clone podia enganar seu sharingan. Claro, em uma primeira olhada rápida era realmente difícil dizer qual era o original e qual era o clone, funcionaria, Madara percebeu, se ele não fizesse ideia de que havia um clone em primeiro lugar. Mas Madara sabia que um era falso e, sabendo onde procurar, não demorou a ver as pequenas diferenças. Não em aparência, nisso eram idênticos, mas nos detalhes mais técnicos.

—Talvez teste amanhã com Izuna, mandar um clone para treinar com ele pela manhã enquanto fica comigo e Hashirama na torre? E quando ele vier reclamar eu pergunto sobre o que ele está falando, falo que você passou o dia comigo e Hashirama na torre e deixo-o achar que enlouqueceu de vez.

—Os clones não foram feitos para pregar peças em irmãos desavisados, por mais que eles mereçam.

—Não é “pregar peça”, pense nisso como um experimento.

Tobirama era um pirralho, Madara se lembrava. Ele iria fazer isso mesmo quando disse que não e mesmo que não acreditasse na desculpa fraca de “experimento” que Madara deu. Até o final da semana Izuna estava começando a se preocupar com sua saúde mental. Madara apenas riu dele e disse para ele parar de ser ridículo. Eles queriam ver quanto tempo demoraria até que ele percebesse.

Izuna ficou envergonhado e irritado quando finalmente entendeu, depois de pegá-los nos campo de treinamento. Dois meses depois. Ele jurou vingança. Tobirama (original e clone) e Madara apenas riram.

Por volta do sétimo mês desde que Madara começou a, de fato, se dar bem com Tobirama o líder do clã Uchiha começou a perceber que poderia estar com problemas. No começo eram coisas sem importância, automáticas mesmo, até que Izuna apontou que era estranho que Madara soubesse tanto sobre Tobirama. Comida era perdoável, eles almoçavam juntos com bastante frequência, mas saber que esse ou aquele cheiro incomodava ou qual chá ele deveria oferecer a Tobirama depois dessa ou daquela reunião já era um pouco demais.

Madara tentou explicar que Tobirama às vezes sentia dores de cabeça depois de ficar horas tentando fazer um Nara aceitar que isso ou aquilo precisava ser feito, por tanto o chá x seria melhor, mas às vezes ele apenas precisava relaxar os músculos após uma cansativa hora de tencioná-los para se impedir de pular no pescoço de algum Shimura. Ele tentou explicar as diferentes expressões de Tobirama, Izuna jurou que seu amigo—rival ainda tinha a mesma cara de paisagem de sempre. Madara disse que ele era estúpido.

—E eu achava que Hashirama deveria ser sua alma gêmea.

Não foi dito com nenhum propósito. Izuna apenas falou. Mas aquilo congelou Madara. Mas, era verdade, não era? Madara pensou em Hashirama, que era sua alma gêmea. Hashirama cujo casamento Madara nunca pensou realmente como traição. Hashirama que Madara mal falou nos últimos meses. Hashirama que Madara, desde que conheceu, sabia que deveria amar acima de todos os outros. Hashirama que Madara não amava.

Madara pensou em Tobirama, nas pequenas coisas que ele não deveria saber, mas sabia. Nos pequenos gestos que ele não deveria entender tão bem, mas entendia. Nos silêncios confortáveis que poderiam durar horas e nunca parecer estranho. Na paixão de Tobirama, refletida em seu olhar e sua voz, toda vez que ele falava sobre suas invenções e ideias. Na expressão severa, mas sorriso suave e elogios raros, mas sinceros para seus pequenos diabinhos que o seguiam como patinhos implorando por mais uma lição.

Madara pensou em Tobirama que ele não deveria amar, mas amava.

Izuna percebeu o silêncio tenso do irmão, o olhar de quase pânico e se surpreendeu por essa reação tão forte.

Aniki? Está tudo bem?

—Izuna – a voz fraca de seu irmão assustou Izuna, o que faria Madara soar desse jeito? –Eu amo Tobirama.

Izuna piscou e fez uma expressão estranha.

—Bem, sim? – ele realmente não entendia porque Madara parecia tão perdido. -É meio óbvio na verdade. Eu estava começando a me preocupar que teria que te dizer isso eu mesmo.

Madara não se acalmou. Se tudo ele ficou ainda mais agitado. Porque Izuna estava dizendo aquilo como se não fosse nada? Como se fosse perfeitamente natural Madara amar outro que não sua alma gêmea, a pessoa que deveria significa o mundo para ele. Ele não entendia.

—Madara? – a voz de Izuna era baixa, e foi só quando a mão de seu irmão tocou seu ombro que Madara percebeu que estava sendo chamado. –Madara, qual é o problema? Você amar Tobirama não é o fim do mundo, honestamente eu não sei o que você vê nele, mas... – e Izuna continuou suas divagações. Madara sabia que era a forma dele tentar descobrir o que havia de errado, mas sinceramente ele não estava ouvindo nem pela metade.

—Você não entende? – a pergunta saiu em um sussurro, calando Izuna na metade da frase. –Eu não posso amar Tobirama.

E, era a verdade não era? Não importava o que seu coração poderia querer, ele não podia amar Tobirama, pois Tobirama não era sua alma gêmea. Ele não podia amá-lo.

—Por que não?

Madara olhou confuso para Izuna por um momento. Izuna sabia o motivo.

—Ele não é minha alma gêmea.

Izuna olhava para ele como se Madara tivesse dito a coisa mais estúpida e idiota do mundo.

—Ainda não vejo qual é o problema aqui, caso tenha esquecido sua própria alma gêmea é casada, e não com você.

Madara não tinha uma resposta boa para isso. Ele abriu e fechou a boca como um peixe, tentando e falhando em rebater Izuna, fazê-lo entender porque Madara não podia amar Tobirama, mas sua mente estava em branco.

Ele não havia se esquecido do fato de Hashirama ser casado, mas sempre pareceu tão certo, Hashirama era de Mito e Mito era de Hashirama. Eles podiam não ser almas gêmeas, mas nunca antes havia existido um par tão perfeito quanto eles, Madara estava feliz pelo seu amigo. Honesta e sinceramente feliz.

—Madara, se Hashirama pode amar outra pessoa, porque você não?

Ele sabia que Izuna estava certo. Em sua mente ele sabia que não havia nada de errado nisso, mas não podia ser assim tão simples, podia? Madara não pode ter passado anos perdendo a cabeça por nada. Se Hashirama amava outra pessoa era culpa de Madara, que não pode amá-lo como uma alma gêmea deveria, certo? Não havia nada de errado com Hashirama, Izuna estava sendo estúpido. Madara era o problema aqui.

Ele tentou explicar isso à Izuna. Que ficou cada vez mais e mais confuso, o julgamento era pesado nos olhos de seu irmãozinho. Então ele tentou contar o que sua mãe, a mãe de ambos, havia dito, todos aqueles anos atrás, Izuna era pequeno, ele poderia não se lembrar, mas assim que Madara terminasse de falar ele finalmente entenderia. Ele concordaria com Madara.

Quando o silêncio caiu após sua explicação perfeitamente racional, Madara suspirou aliviado. Certo de que Izuna havia entendido. Ele não estava preparado para o que veio.

—Tobirama é minha alma gêmea.

Madara nunca se sentiu tão vazio e toda a sua vida. O que Izuna estava dizendo?

—O que?

—Tobirama é minha alma gêmea – Izuna continuou repetindo aquilo como se não significasse anda, como se ele não tivesse tudo o que Madara mais queria. –Nós descobrimos isso depois de Konoha, aquela primeira briga de jutsus? Foi por causa disso – o olhar sério de Izuna era a única coisa que prendia Madara no lugar. –Nós descobrimos, e começamos a dizer tudo o que odiávamos um no outro, criticamos as menores coisas, coisas sem importância, só porque podíamos. Então brigamos, e continuamos a brigar, mas apesar disso não há ninguém em toda essa vila em que eu confie mais do que confio em Tobirama – uma pausa. –Isso não quer dizer que eu queira dormir com ele.

—Mas, ele... você... vocês

—Somos almas gêmeas, sim. Mas é isso. Às vezes eu fico irritado sem motivo, então eu vou até Tobirama e ele luta comigo, isso ajuda a acalmar minha mente. Saber que tem alguém ali que eu posso atacar com tudo e que vai me atacar com tudo de volta e, no final, tudo está bem. Nenhuma mágoa, nenhum ressentimento. E às vezes ele precisa de uma pausa, precisa descarregar por ter que lidar com os anciões. E como você é covarde de mais para dar aquilo que ambos claramente querem, é meu dever ajudar o pequeno Tobi a aliviar suas frustrações.

No silêncio que se seguiu Madara ouviu o suspiro frustrado de Izuna.

—Madara, você ama a mim, você ama Hikaku, nosso clã, essa vila. Você ama muito, pessoas, lugares, comidas, o que quer que seja. E você ama Hashirama. Você ama sua alma gêmea. Nem todo amor precisa ser romântico.

Agora, veja bem, Madara não era estúpido. Ele não era. Ele sabia disso perfeitamente bem, era como Izuna disse. Ele amava seu irmãozinho e amava Hikaku. Ele amava sentar no engawa quando o clima estava mais fresco e só sentir o vento em seu rosto. Ele amava o caos que Konoha podia chegar a ser, pois isso significava que sua vila, que ele tanto amava, estava crescendo e mais e mais pessoas estavam ficando confortáveis lá. Ele sabia que havia muitas formas de amar e ser amado.

Mas ele havia criado certa expectativa sobre toda a coisa de almas gêmeas. Sua mãe e seu pai eram almas gêmeas, as mais próximas que Madara já conheceu. E ele observou e desejou um dia que pudesse amar sua alma gêmea tanto quanto seu pai amava sua mãe. Era frustrante e assustador para ele sentir que não conseguia amar sua alma gêmea da mesma forma que viu em seus pais. Apaixonados.

A mão de Izuna em seu ombro o trouxe de volta.

—Agora, por favor, vá falar com Tobirama. Eu cansei de ser o grande sábio aqui, não combina comigo, se as mulheres perceberem que sou mais do que um rostinho bonito elas vão esperar que eu realmente fale com elas.

Isso arrancou um sorriso de Madara pelo menos. Ele falaria com Tobirama. Só, não hoje.

Ou, como se viu, não até meses depois. E eles não falaram. Izuna ficou frustrado com a covardia demora de Madara e apenas falou com Touka sobre o drama todo, que por sua vez falou com Mito e, entre os três, eles formaram o plano perfeito para prender os dois idiotas juntos até que eles se resolvessem.

Funcionou. Graças a Tobirama é claro. Madara continuava covarde demais para dar o primeiro passo e Tobirama estava, sinceramente, ficando frustrado. E um Tobirama frustrado é um Tobirama agressivo. Demorou uma semana para Madara conseguir olhar nos olhos de Hashirama de novo. E mais duas para ele parar de corar toda vez que ficava sozinho com Tobirama na mesma sala.

Tobirama achava adorável, mas frustrante já que Madara fugiria no segundo seguinte. Mas, felizmente, tudo se resolveu quando Tobirama, com Mito cobrindo suas costas para Hashirama, enganou Madara para uma missão com ele. Foram quatro semanas de férias bem merecidas onde Tobirama finalmente arrancou toda a vergonha de Madara.

Não que Izuna aprecie quando Tobirama passa a noite na casa deles. Há coisas sobre o irmão mais velho que um irmão mais novo não quer de forma alguma ouvir, ver ou saber. Obrigado.

FIM


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Notas finais do capítulo

E é isso. Agradeço a todos que chegaram até aqui, espero que tenham gostado.

Fic revisada por mim, mas algum erro pode ter passado, sintam-se livres para apontar caso encontrem.

Críticas e sugestões são sempre bem-vindas.



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