Um Reino de Monstros Vol. 4 escrita por Caliel Alves


Capítulo 19
Capítulo 4: A proporção de um milagre - Parte 3




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Saragat tentou atingi-lo com as suas sombras, mas o inimigo desviava dos seus ataques cobrindo as mãos com energia mágica. Era a primeira vez que ele via alguém rebater sua magia divina usando apenas a própria energia mágica.

Que tipo de monstro esse cara é? Como alguém pode desviar conjuração com as mãos nuas? Nalab, mais do que nunca, eu preciso do seu poder.

Zarastu, aproveitou o momento para concentrar a sua energia mágica de modo pontual.

— Pelo seu empenho, eu vou mostrar a você uma magia de verdade.

— Deusa que refrigera a minha alma, escuta a voz desse servo... Escudo Nébula.

A energia mágica começou a se acumular no dedo indicador do rei dos monstros. O conjurador adversário sorriu. Aquela era uma mera Balázio, uma forma mais fraca do Projétil de Luz e que podia ser disparada com os dedos.

A pequena esfera ficou ali dependurada no ar. Brilhando ávida por destruição. Saragat imaginou que haveria algo mais ali.

— Aumente o poder do seu escudo, conjurador.

— Nem Tell usa uma magia dessa...

Thunz, a esfera de energia foi disparada quando Zarastu flexionou o seu polegar. Entretanto, ao longo da trajetória, a esfera cresceu. Era tanta energia comprimida que quando ela ficou em seu tamanho normal, estava maior que um Projétil de Luz.

O oponente ampliou as defesas, mas era tarde. A esfera trespassou a espiral de sombras e atingiu o ombro direito do mascarado, que tombou de joelhos.

Desse jeito eu vou morrer antes de fazer a minha próxima oração.

***

Tell golpeou com a espada, mas o inimigo se mostrava muito mais veloz. Era como um fantasma. Com as suas garras poderosas, o lobisomem socava a areia, criando cortinas de poeira onde pudesse se esconder. O general atroz era exímio em batalha. Sagaz e muito forte.

Era impossível saber onde e quando seria atingido novamente. O garoto já tinha uma perna e um antebraço ferido com as garras do licantropo. O mago-espadachim tentou aplicar mais um golpe, mas Sirius desviou, mantendo uma distância segura.

— Essa é a diferença entre mim e você, humano. Como derrotar aquele que você não pode atingir?

O sorriso lupino era assustador, mas o garoto se manteve de pé. Não iria retroceder.

— Eu me lembro de você, general Sirius. Você invadiu a casa de meu avô.

— Seu avô? Refresque minha memória, tenho baixo limiar para fracassados.

— Vovô Taala não era um fracassado!

O jovem acumulou a sua energia mágica na Justiceira e fixou a base de ataque.

— Nunca lhe disseram que a teimosia pode acabar lhe custando a vida?

— Onde está o meu avô Taala? O que fizeram com ele?

— Já lhe disse, fedelho, tenho amnésia quando se trata de fracassados!

— Argh! Flux Lux!

— Uivo Demoníaco.

Com as ondas sonoras projetadas pelo seu focinho, Sirius desintegrou a magia de Tell. O garoto sentiu o impacto por todo o seu corpo, que enrijeceu. Era um urro ensurdecedor, que fazia os músculos tremerem. A espada pesava uma arroba.

Droga, desse jeito nem sequer terei forças para me mexer.

Quando o general atroz parou, os ouvidos do rapaz zumbiam. A rajada sonora percorria o seu corpo como uma descarga elétrica. A cabeça latejava. Os olhos se tornavam pesados e os ouvidos sangravam. Quando Tell já pensava em desmaiar, alguém berrou em seu ouvido:

— TELLLLLLL! Acorde, garoto, lembre-se dos seus objetivos.

— Index? O que você está fazendo aqui?

— Vim dar uma forcinha ao meu amigo.

— Pensei que você tinha que se preservar para proteger o livro?

— Preservar você também é uma forma de proteger o livro.

E sumindo no ar, deixou uma pequena fumaça para trás. Por incrível que pareça, o grito do Guardião do Monstronomicom despertou o jovem para a batalha. Cada fibra do corpo do flandino agora vibrava como um só. Apontando a espada para o oponente, ele desafiou:

— Você me pegou desprevenido, monstro, mas agora é você quem irá sofrer.

— Realmente é sofrível lutar contra um garotinho. Uivo Demoníaco.

— Dessa vez não, Projétil de Luz.

Sirius foi atingido no céu da boca. A fumaça da explosão encobriu a sua face lupina.

Criança infeliz! Então ele descobriu um modo de me atacar, esperava acabar com isso sem usar as minhas garras.

— Hahahaha, se ferrou! Toda vez que você tem que usar essa técnica, tem que abrir o bocão pra acumular energia divina e transformar a vibração das próprias cordas vocais em rajadas sonoras.

— Existe um motivo para que eu odeie crianças, Tell de Lisliboux, e de todas, você é a que eu mais odeio nesse mundo!

Ambos voltaram a entrar em choque. Tell estocava com a ponta da lâmina, mas o lobisomem se esquivava numa velocidade ainda maior. Não importava em que direção o garoto golpeasse, o outro sempre acabava se desviando.

Assim eu nunca irei derrotá-lo, tenho que ganhar tempo até... não, espere, o que estou dizendo? Nem sempre os meus amigos estarão por perto pra me proteger. Devo confiar mais em minhas habilidades e menos na sorte!

A dupla de combatentes não se cansava de trocar golpes. Tell sangrava. Uma hemorragia não era boa. O garoto deu um Alizé, fazendo com que Sirius desse um grande salto no ar.

— Cura Benedicta.

— Muito sábio de sua parte forçar a minha evacuação do perímetro para se curar. Mas como vai se curar desse ataque? ­Garras das Trevas.

E colocando os braços em forma de X, o licantropo disparou rajadas de energia negra.

São apenas oito, posso desviar...

O jovem pensou em saltar e ir desviando das garras de energia, mas a cada metro percorrido, dobravam de tamanho. Quando a primeira cravou-se na areia, explodiu.

Tell foi lançado longe. Antes que pudesse refletir, as outras atingiram o solo. Evadiu usando da sua habilidade. Mesmo assim as ondas de choque provocaram ferimentos em seu corpo.

— Mesmo que as minhas Garra das Trevas não o atinjam diretamente, a explosão delas com certeza irá matá-lo. Vejo que já não consegue mais segurar a sua espada.

Arfando muito, o jovem usou a lâmina como apoio e ser ergueu com dificuldade. Os hematomas preenchiam o seu rosto. Parte da roupa havia sido consumida pelo fogo.

— Do aço, pelo aço!

***

Fluosh, esse era o som que o vestido oasiano de Letícia fazia ao entrar em contato com o vento do deserto oasiano. Com movimentos rápidos, a alquimista desviava-se dos ataques do terrível capitão Angá.

As criaturas tinham corpo humanoide, mas de aparência lupina como os lobisomens. Em sua horrenda face, a cabeça de um tamanduá, com uma juba leonina a adereçar o pescoço. Os braços terminavam em quatro garras afiadas como adagas.

Com suas pernas vigorosas, num pequeno flexionar, garantia grandes saltos sobre o inimigo, que só podia se desviar para continuar vivo.

Como muitos outros membros do Batalhão Furioso, o capelobo investia na velocidade e ataques fatais. Letícia percebeu que os golpes do adversário eram muito diretos, mas poderosos o suficiente para causar grande estrago. Defender-se e evadir dos seus ataques não estava surtindo efeito como estratégia de batalha para Letícia.

— Transmutação Aeriforme – Zéfiro!

Quando Angá tentou socá-la, a parede de vento o lançou a dezenas de metros.

Que desgraçado, só agora eu pude respirar. Não espere!

Antes que pudesse esboçar alguma reação, a alfonsina foi projetada aos ares. A língua do capelobo se enlaçou em sua perna, e mesmo a dezenas de metros, ele teve força para jogar o corpo de sua inimiga ao céu. Letícia apontou sua pistola para a língua de Angá, mas quando apertou o gatilho, o monstro a jogou no chão com violência.

— Pensou que ficaria longe de mim, sua vaca? Eu vou mutilar todo o seu corpo e enviar para a academia militar alfonsina num jarro por cortesia da Horda.

A militar levantou do chão limpando a areia do vestido. A estampa regional intercalava flores e estrelas à moda oasiana. A jovem soprou uma mecha de cabelo que teimava em cair em cima do olho.

— Você me chamou de “vaca”?

— Pensei que estivesse acostumada, sua meretriz, huohuoho.

— Você é muito linguarudo, sabia?

— Não fique tão nervosa. Logo vou acabar com você e não precisará sofrer tanto como os seus companheiros.

— O problema dos monstros é que vocês não sabem fazer matemática.

Angá fez uma careta, contorcendo ainda mais a sua face aterrorizante. A alquimista abriu um dos coldres que estava em sua cintura e separou algumas munições. Pegou sua pistola e a municiou.

É a primeira vez que tento isso. Geralmente os alquimistas usam pequenos projéteis perfurantes, explosivos ou não-fatais. Mas ninguém nunca comprimiu transmutações dentro de projéteis para dispará-las. As próprias armas de fogo nasceram de uma necessidade de proteger o alquimista na ausência ou incapacidade de servir-se de sua energia mágica para transmutações, além de lhe dar a capacidade de combater a grandes distâncias. Se tudo der certo, estarei criando uma arma alquímica ainda mais poderosa. Estou tão ansiosa!

— E então, garota? Você vem ou eu vou?

— Não precisa pedir duas vezes.

Letícia passou a disparar várias vezes na direção do seu adversário. Ele só conseguia se proteger se desviando em alta velocidade.

— Não vai me acertar, parece que a sua mira está enferrujada!

— Na verdade, eu acertei bem onde eu queria.

Fulululushim, atrás de Angá, uma grande cortina de ventos se elevava do solo ao céu. Um ciclone passou a arrastar tudo a sua volta com extremo poder.

O capelobo tentou evadir, mas o vento foi mais forte. O ciclone o jogou para cima e ele sumiu na cortina de areia. O grito do monstro ecoou na ventania. Quando ela se dissipou, Letícia contou os cartuchos e calculou que para criar um ciclone como aquele, ela só precisava de quatorze projéteis de Éolo.

A alquimista tentou caminhar até os seus companheiros. Mas as suas pernas começaram a afundar na areia. Tentou atirar, mas uma linha viscosa e avermelhada atou todo o seu corpo. Era nojento como aquele membro serpenteava pelo seu corpo. Em pouco tempo ela estava submetida a força de Angá. O capelobo ria sadicamente.

— Desgraçado, como você sobreviveu?

— O lugar mais seguro num turbilhão é em seu centro. Tive dificuldades de sair das paredes de vento, mas com a minha língua, eu escapei laçando uma rocha com ela. Depois disso mergulhei na terra com a minha conjuração Mergulhador Subterrâneo.

Quanto mais ele falava, mas a sua língua constringia o corpo da alfonsina. A militar estava perdendo o fôlego. A arma caiu no chão. Todo o seu corpo doía.

— Me... largue seu... arf...

— Isso, sua maldita, morra lentamente.

O capitão estava no interior da terra. Ele resolveu erguer a cabeça acima do solo para assistir a sua vítima sufocar. Admirou o corpo de Letícia. Suas coxas torneadas, seus seios pequenos e belos. Seu cabelo curto emoldurando o rosto. Ela lhe daria uma boa diversão se não estivesse no meio da batalha.

Um brinquedo assim não se deve desperdiçar, mas estou no meio de uma batalha. Concentre-se, seu monstro idiota! Não queira receber uma nova punição de Sirius.

— Você não... arf-cof... é muito inteligente, não é?

— E porquê?

— Eu domino todos os tipos de transmutação.

De súbito, uma descarga elétrica de cor avermelhada correu pelo corpo da militar alfonsina. O monstro foi atingido em cheio.

Angá não teve outra reação a não ser largar a mulher e mergulhar na terra novamente.

Letícia sentiu o corpo tremer. Atingir a si mesma com aquela poderosa transmutação foi perigoso, mas ao menos, havia se desvencilhado das garras do inimigo. O perigo, no entanto, não havia cessado. O capelobo estava lá, há espera para atacá-la novamente.

Espere! Mesmo mergulhando na terra ele tem que respirar em algum momento. Levando em conta que ele deve ter uma boa capacidade pulmonar. Droga! Eu devo ser mais esperta. A Real Academia Alfonsina não forma gente burra, e eu tenho que fazer valer a pena o posto que adquiri na RFE.

— Transmutação Metálica – Tapeçaria de Ferro Real.

Todo a areia em uma grande extensão se tornou uma massa de ferro de espessura equivalente a um metro. O ferro negro formava uma mancha enegrecida no deserto.

Essa vai ser uma daquelas lutas de resistência. Quem vai resistir por mais tempo: sua capacidade pulmonar Angá ou minha energia mágica?

Passaram ao menos cinco minutos inteiro. Manter uma transmutação tão grande por tanto tempo estava consumindo muito de sua energia mágica. Letícia suava frio.

De repente, houve choques numa parte da placa de ferro. Ela começou a se dobrar para fora. E quando estourou, revelou Angá. O capelobo estava com todo o seu pelo eriçado. A língua silvava no ar. O peito arquejava.

— Vaca alfonsina, onde está você? Vou arrancar a sua cabeça!

— Tente na próxima!

— Maldita!

Zlinsh, uma grande corrente elétrica em forma de machado voou em direção ao monstro. Ele não teve tempo de evadir, o golpe viera de cima. Quando a transmutação o atingiu, explodiu em uma enorme bola de fogo. Parte da plataforma se destruiu, provocando uma onda de choque de grande extensão.

Letícia desceu de uma pilastra que ela fez com a transmutação.

Droga, minha energia mágica se esvaiu muito no último ataque. A Transmutação Elétrica – Fúria de Xangô consumiu muito da minha energia mágica. Dei muito de mim nessa luta, melhor recuperar um pouco as energias.


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