O Desafio Culinário da Primeira-dama escrita por teffy-chan


Capítulo 1
Capítulo Único – Sai da Minha Cozinha


Notas iniciais do capítulo

Oneshot especial de dia dos namorados.
A história se passa antes do Torneio Xamã começar;
Essa é minha primeira fic de Shaman King, então peguem leve comigo, por favor.
Boa leitura^^



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Dividir uma casa alugada tinha suas vantagens e desvantagens. Você podia dividir a conta do aluguel, que era absurdamente barato só porque o lugar era mal-assombrado, por exemplo. Mas havia certa desvantagem em morar na mesma casa que o seu noivo. Principalmente no dia dos namorados.

— Yoh — Anna abriu a porta da sala abruptamente, sobressaltando o garoto, que assistia TV — O que pretende fazer hoje?

— O que? — ele piscou, estranhando a pergunta — Bem, é fim de semana então eu estava planejando visitar o Manta mais tarde e passear…

— Passear? — ela ergueu uma sobrancelha.

— Treinar! Eu quis dizer treinar! — Yoh corrigiu-se a tempo — Ele gosta de observar meu treinamento, por isso pensei em chamá-lo — ele desviou o rosto, fugindo do olhar assustador da garota e seus olhos recaíram sobre o calendário — Você… vem comigo?

— Hoje não. Estarei ocupada, então não tenha pressa para voltar — respondeu simplesmente.

— Está bem — Yoh calçou os sapatos, entendendo que estava sendo praticamente expulso da própria casa — Então, até mais tarde.

— Yoh — ela chamou — Mande um “oi” para o Manta por mim — falou antes de retornar para a cozinha.

Depois que Yoh saiu, Anna encarou os utensílios domésticos com atenção. Estava acostumada a cozinhar, ela e Yoh dividiam essa tarefa. E também já tinha dado chocolate a ele antes, no entanto, como o noivado deles foi arranjado quando ainda eram crianças, ela costumava comprar chocolates prontos. Essa era a primeira vez que ia tentar fazer chocolates caseiros.

Precisavam ficar perfeitos. Seu orgulho e reputação como futura primeira-dama do Rei Xamã estavam em jogo afinal.

 

 

 

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— Então a Anna te expulsou de casa?

— Basicamente sim.

Embora tivesse dito que ia treinar, Yoh acabou caminhando pela cidade sem rumo definido. Realmente encontrou Manta no caminho por mera coincidência, e acabou retornando ao seu plano original de ficar de bobeira. Agora os dois conversavam em uma lanchonete.

— Ela te mandou um “oi”.

— O que? — Manta recuou contra o encosto da cadeira — Isso é estranho, ela nem se importa comigo. E você disse que estava indo treinar, certo?

— A Anna provavelmente sabe que eu menti — o garoto confessou.

— E como você pode estar tão tranquilo? — Manta exclamou.

— Está tudo bem. Ela só queria uma desculpa para me tirar de casa hoje, então deixou passar dessa vez — Yoh explicou — A Anna sempre fica assim no dia dos namorados, já estou acostumado — ele sorriu — Embora hoje ela parecesse um pouco mais agitada do que o normal.

— A Anna vai fazer chocolates para você? Não consigo imaginá-la fazendo algo assim — Manta comentou. A imagem que tinha de Anna era de uma garota assustadora e determinada em se tornar a primeira-dama do Rei Xamã que bateria em qualquer um que discordasse dela em qualquer coisa..

— Ela me dá chocolates desde que ficamos noivos — Yoh contou, surpreendendo o amigo — Se bem que ela sempre compra chocolates prontos.

— Isso é mais a cara dela — Manta respondeu — Duvido muito que alguém como ela seja capaz de preparar chocolates caseiros.

— Ei, ela é uma boa cozinheira — Yoh defendeu — Mas entendo o que quer dizer, a Anna tem uma personalidade difícil.

— Personalidade difícil é bondade sua — Manta murmurou mais para si mesmo.

— Bem, o que posso dizer? Éramos muito novos quando ficamos noivos, minha avó não deixava nem a gente mexer no fogão — Yoh riu com a lembrança — Então era impossível ela preparar algo para mim. Mas a Anna comprava chocolates todos os anos.

— Não sei se fico emocionado com o gesto dela ou assustado com essa história do fogão — Manta comentou.

— Não se preocupe com isso. É só eu voltar para casa no fim da tarde que vai ficar tudo bem.

 

 

 

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Não era só isso que precisava para ficar tudo bem. Anna estava tendo dificuldades com seu plano. Tirar Yoh de casa foi a parte fácil. Estava seguindo a receita que escolheu, bombons não muito elaborados, porém exageradamente doces, do jeito que Yoh gostava. Mas era difícil se concentrar enquanto uma dúzia de fantasmas falavam no seu ouvido sobre assuntos aleatórios.

Essa era a desvantagem de ser uma Xamã que morava em uma casa mal-assombrada. O aluguel era barato, mas você via os fantasmas que assombravam a casa o tempo todo e tinha que aguentar eles tagarelando no seu ouvido.

— Querem parar com isso? — ela exclamou após errar a receita pela terceira vez por causa da fantasma de uma cozinheira famosa que a rodeava — Calem a boca, eu preciso me concentrar!

— Você está fazendo errado! Precisa colocar o leite primeiro…

— Para quem são esses chocolates?

— Queria ter um corpo para provar um, parecem tão bons…

— Não seja idiota, ela está cozinhando para alguém que ama!

— Mandei pararem de tagarelar! — Anna gritou novamente — Escutem aqui: O Yoh gosta de conversar com vocês, por isso tanto faz para mim se estão aqui ou não. Mas se continuarem me atrapalhando, vou expulsar todos à força!

— Não, isso não!

— Por favor, tenha piedade!

Em poucos segundos todos os fantasmas desapareceram, escondendo-se em algum outro cômodo da casa.

Anna suspirou, voltando a se concentrar na receita. Claro que não pretendia expulsar os fantasmas, mas precisava dizer alguma coisa para que a deixassem em paz. E ameaças sempre funcionavam.

Ou foi o que ela pensou.

— Então é assim que estão usando o cacau agora? Que desperdício.

Anna virou-se para ver quem era o fantasma que ousava desafiar a pouca paciência que tinha e deparou-se com Ukemochi.

— Você ainda está aqui? Por que não foi embora junto com os outros fantasmas? — Anna fingiu não se importar com a presença dela, retornando ao que fazia.

— Estava curiosa para saber como vocês andam usando as sementes que forneci quando estava viva — Ukemochi encarou a panela por trás de seu ombro — Não acha que tem pouco cacau?

— É chocolate — Anna corrigiu.

— Cuja matéria-prima é o cacau, certo?

— Olhe, eu sei que você não é um fantasma comum — Anna suspirou, tentando se acalmar — Sei como cuidava das plantações e que fornecia alimentos em abundância quando estava viva. Também sei como se animou em preparar um banquete quando soube da visita de Tsukuyomi e da morte terrivelmente injusta que teve. Lamento que isso tenha acontecido. Mas isso não te dá o direito de interferir na forma como eu cozinho.

— Não quer mesmo meus conselhos? Posso te ajudar a preparar algo com um sabor esplêndido…

— Tenho certeza que pode, mas não precisa — Anna respondeu — Como um dos fantasmas disse antes, eu estou cozinhando para alguém especial, então preciso fazer isso sozinha.

— Mas você nem está seguindo a receita direito…

— É claro. O Yoh prefere chocolate ao leite e gosta de coisas extremamente açucaradas. Por isso coloquei mais açúcar e menos chocolate do que a receita manda.

— Parece que você não precisa mesmo dos meus conselhos afinal — Ukemochi sorriu — Você será uma ótima esposa quando crescer.

— Claro que serei. Eu sou a noiva do futuro Rei Xamã — Anna sorriu de volta.

 

 

 

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Quando o sol estava se pondo, Yoh voltou para casa. Entrou em silêncio, tentando localizar a presença de Anna. Se a garota ainda estivesse ocupada com sabe-se lá o que, ele daria meia-volta e sairia correndo.

Seu plano falhou miseravelmente quando Anna abriu a porta de supetão, assustando-o pela segunda vez naquele dia.

— Oi, Anna — Yoh riu nervoso — Hm, já cheguei.

— Bem vindo de volta — respondeu tranquilamente, o que era um bom sinal — Tem um minuto?

— É claro — ele a seguiu até a varanda.

— Espere aqui um pouco — ela pediu e voltou para dentro de casa.

Yoh encarou o pôr do sol enquanto esperava pela noiva. Sabia que ela provavelmente ia trazer chocolate como fazia todos os anos, mas era sempre constrangedor.

— Aqui — Anna voltou e sentou-se ao lado dele — Não deu tempo de embrulhar, desculpe. Feliz dia dos namorados — ela lhe estendeu uma vasilha com bombons

— Obrigado — Yoh sorriu e aceitou os doces.

Droga, por que era sempre embaraçoso? Já tinha recebido outros presentes dela antes. Talvez fosse aquela data. Comeu um bombom para disfarçar o embaraço e notou algo diferente. O bombom não era de nenhuma marca que ele conhecia. Não era chocolate importado, era? Não… se fosse, Anna teria feito questão de entregar em uma caixa com idioma estrangeiro.

Mas espere… o chocolate não veio em caixa nenhuma. Não tinha nem aquelas fitinhas de presente. Agora que reparava melhor, estavam em uma vasilha da própria casa.

— Anna, por acaso são…

— Chocolates caseiros — ela confirmou.

Yoh voltou a observar a vasilha de chocolates, um tanto admirado. Por isso não reconheceu o sabor, Anna nunca tinha preparado chocolates caseiros antes. Estava mesmo se perguntando onde ela tinha arranjado aqueles bombons tão doces sem precisar de muito cacau para isso… foi por que ela mesma tinha feito. Anna podia ser temperamental às vezes, mas conhecia muito bem seus gostos.

— Se não gostou é melhor dizer logo. Não vou ficar zangada — Anna falou diante da falta de reação dele — Irei me esforçar mais no ano que vem.

  — Não, não é isso! — Yoh exclamou — Estão ótimos, Anna, de verdade.

— Preciso que seja sincero, Yoh — ela pediu — Não precisa dizer que está bom só para me agradar.

— É verdade, estão muito bons — Yoh insistiu — Aqui, prove um — sem pensar no que fazia, ele pegou um bombom e o levou até a boca de Anna, mas ela virou o rosto para o outro lado.

— Fui eu quem cozinhou, acha que não provei antes de dar para você?

— Tem razão — Yoh sorriu, só então percebendo o que tinha feito. Comeu o bombom que ela tinha recusado.

 Notou então que a face dela estava levemente corada. Provavelmente tinha ficado desconcertada com o gesto. Era estranhamente reconfortante saber que ele não era o único a ficar constrangido com aquela data.

— Yoh – Anna voltou a encará-lo – Espero que saiba que não estou te dando chocolates apenas porque a tradição manda. Você é meu noivo e eu te amo — colocou a mão sobre a dele e sorriu.

— Eu sei.  Obrigado por ter se esforçado para fazer esses chocolates. Também te amo — Yoh sorriu de volta e apoiou  mão nas costas dela, puxando-a para um abraço.

Uma pequena parte dele temeu que a garota recusasse o gesto, Anna não era muito de demonstrar afeto, mas ela não recuou. Suspirou de surpresa, mas depois relaxou e apoiou a cabeça no ombro dele.

Era raro ela baixar a guarda assim, sempre foi muito orgulhosa e autoritária quando estavam junto dos amigos e parentes. Só acontecia quando estavam sozinhos, principalmente nessa época do ano.

— Ei, Yoh… — Anna chamou depois de algum tempo em silêncio — Você não tem nenhum arranhão e nem parece cansado… você não treinou hoje, não é?

— O que? — ele a soltou a afastou-se dela por instinto — É que… eu ia treinar, mas… eu, bem…

— Deixa pra lá — Anna suspirou.

— Sério? — ele arregalou os olhos. Geralmente a garota lhe daria um sermão por faltar ao treino.

— Não quero brigar hoje, é dia dos namorados — ela levantou-se — Mas amanhã vou te dar um treinamento especial. E garantir que você se torne o próximo Rei Xamã, ouviu? — ela cruzou os braços.

— Entendido… — Yoh suspirou derrotado. Ela tinha voltado ao normal.

Yoh sabia que a noiva fazia isso para o seu bem, ele mesmo era preguiçoso demais para cuidar do próprio treinamento, e a personalidade difícil de Anna era uma ótima motivação para seguir à risca o treinamento.

Bem, Yoh sabia que esse era o jeito de Anna ajudá-lo a realizar seu sonho de se tornar o próximo Rei Xamã.  Não importa se ela tinha um temperamento difícil ou se exibia raros sorrisos, tão doces quanto aquele chocolate, Anna era a garota que ele amava e que tinha certeza de que ficaria ao seu lado para sempre.


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Notas finais do capítulo

Caso queiram saber mais sobre Ukemochi, têm mais informações aqui:
https://cacadoresdelendas.com.br/japao/ukemochi-o-mito-da-deusa-dos-alimentos-no-japao/