Ela soltou um suspiro enquanto observava seu reflexo no espelho. Estava ansiosa. Em parte porque aquela era a primeira vez que ia em um encontro em meses e o segundo motivo era por ser com alguém que nunca tinha visto pessoalmente antes.

Aquela ideia surgiu durante um dos muitos dias em que se encontrava com os amigos para beber depois do expediente. Ela, a única solteira do grupo, ria das tentativas deles de escolher alguém para si.

Muitas foram as tentativas, algumas renderam algumas conversas e alguns passos de dança em baladas aleatórias de Seul com uma ou outra pessoa. Nenhum dos flertes foi para frente e não se importava muito com aquilo. Apenas ia navegando naquela aventura e nas oportunidades dadas de vida.

Às vezes elas rendiam novas amizades e outras notas mentais daquilo não desejava pra si em um relacionamento.

Ao contrário dela, os amigos achavam as falhas nada legais, virando quase uma questão de honra encontrar alguém para ela e foi assim que o nome do rapaz com quem sairia naquela noite entrou na roda. Todos estavam animados o aguardando depois de tantos convites negados, mas o mesmo não apareceu.

O nome dele sempre era citado na roda de amigos, mas foi Yuna que inocentemente brincou com a possibilidade de um encontro a cegas entre eles. Ela só não tinha entendido bem como as brincadeiras foram se desenhando até o ponto dela achar aceitável a idéia e tudo tomar o contorno de verdade. Mas ali estava a mesma agora, analisando a roupa que tinha escolhido para o tal encontro com o mesmo olhar de uma mãe procurando algo amassado e desarrumado  na roupa dos filhos.

Não era nada muito uau, mas era algo confortável que transmitia sua personalidade. Os longos cabelos pretos tinham grandes mechas verdes se destacavam sobre a blusa de gola alta preta sem mangas que usava. Uma calça jeans mais folgada em um tom de azul clarinho e um tênis branco completavam o visual despojado.

Rindo de seu próprio nervosismo, ela pegou sua bolsa, a jaqueta preta que havia separado mais cedo e deixado em cima da cama, seu celular e as chaves. Com um suspiro saiu de casa, mas não antes de enviar duas mensagens.

A primeira para Yuna, dizendo que estava saindo e pedindo para que a mesma lhe mandasse boas energias para que aquela aventura desse certo e a segunda para Seo Changbin.

"Estou a caminho."

~v~

Ele estava tenso. Caminhava de um lado para outro de tão nervoso que estava, o que só se tornou maior quando recebeu a mensagem dela avisando que estava a caminho.
Ela gostaria dele? Ele se perguntava internamente.

Christopher e Han o haviam enchido de coragem antes de deixar a academia onde trabalhava para encontrá-la. Eles o disseram para se divertir e o aconselharam para que agisse normalmente  que assim tudo daria certo. Ele agradeceu todo o apoio de ambos e repetiu aqueles incentivos como um mantra.

Agora parado próximo a entrada da lanchonete ele aguardava. Observando ao redor, vez ou outra tirando o celular do bolso, buscando alguma mulher que se assemelhasse à jovem da foto, ele tentava relaxar.

Não demorou muito para a avistar. O cabelo era inconfundível mesmo a distância e aquilo o fez sorrir.

Ela parou observando ao redor buscando por ele, que acenou chamando sua atenção. Quando a jovem devolveu seu sorriso, ele pode sentir todas as forças de suas pernas desaparecendo. Ela era belíssima!

Eles não desgrudaram o olhar um do outro até que estivessem frente a frente.

Ela nunca havia imaginado que se veria tão encantada por alguém que via pessoalmente pela primeira vez. Ele era mais bonito do que a foto que o mesmo usava como perfil. Nela ele estava com uma blusa que dizia Academia 3Racha e parecia intimidante com a pose que fazia junto aos pesos. Já ali, apesar de suas roupas pretas cheias de detalhes em metal e ombros largos, o efeito proporcionado pela foto e pelas roupas se dissipava com o sorriso gentil que o mesmo levava no rosto, o fazendo parecer fofo.

"Você é bem diferente da foto do seu Kakao. Digo, você parecia…Como posso descrever…"

"Um rato de academia?"

"Não! Bem… Quero dizer também."

A risada do rapaz fez com que ela relaxasse. Estava com receio dele acha-la boba pela forma como tinha tirado um pré conceito dele só por uma foto, mas ali estava ele fazendo joça com a própria aparência.

"Tranquilo. Todo mundo que me fala que pareço intimidador como um pitbull ou um buldogue francês"

"Você parece menos intimidante de perto. Seu sorriso me lembra de um coelho."

"Isso é algo que eu não esperava ouvir hoje."

"Não é todo dia que te chamam de fofo?"

"Não mesmo."

As risadas cobriram o caminho da entrada até a mesa da lanchonete. Por mais que não desejasse passar o carro à frente dos bois, não podia negar que estava encantada com o rapaz.

Eles haviam começado a conversa pelo protocolo que normalmente roteava um encontro: "Onde você mora?", "Quantos anos você tem?", "O que faz da vida?" e antes que pudessem dizer o que aconteceu exatamente eles estavam ali conversando sobre animes, doramas e músicas enquanto comiam seus dogkebi.

"Twice é muito bom! Você tem que dar uma chance."

"Eu acho fofo demais. Sei lá, acho que não combina comigo."

"Então você prefere algo mais sombrio e soturno, entendo."

"Eu pareço tão sombria assim?", Ela disse rindo da forma como ele mexeu as pontas dos dedos em frente ao próprio rosto para dar ênfase no que dizia.

"Você mesmo disse que não gosta do conceito fofo. Então dark deve ser algo que você ache interessante."

"Você está falando com a pessoa que chora no banho ouvindo Love Way do WayV. Eu sou tudo menos dark. Você vestido assim parece mais dark do que eu."

"Me lembra de te manter longe do meu amigo Christopher. Ele tem um vídeo meu dançando Likey que sinceramente espero que você permaneça escondida na memória do telefone dele"

"Fique tranquilo, eu não vou molhar a mão do seu amigo pra me enviar ele no chat. Só vai acontecer um pequeno acidente financeiro na conta dele e esse vídeo vai chegar pra mim por livre e espontânea vontade."

"Pelo visto vou ter que encontrar outro sócio."

"Uhum! Você já experimentou esse aqui?" Ela disse apontando pro próprio lanche.

"Não. Quando venho aqui costumo pedir sempre o tradicional."

"Tire um pedaço do meu. Isso está muito gostoso!"

Ela aproximou o lanche do rapaz que entreabrindo os lábios se aproximou para morder um pedaço do lanche. Antes que ele conseguisse tirar um pedaço, a jovem puxou a guloseima para si com uma risada que mais se assemelhava a de uma criança arteira.

"Ei!"

"Foi mal! Eu preciso me posicionar melhor. Tente novamente agora."

Changbin observou atentamente a mulher a sua frente, até perceber que tanto ela quanto ele estavam com as bochechas queimando. Com um olhar que carrega dúvida, ele se aproxima novamente, pegando um pedaço do lanche.

Depois de alguns segundos mastigando, o rapaz abriu um sorriso.

"Está muito bom mesmo. Aqui, pegue um pedaço do meu."

Eles trocaram olhares cheios de provocações não ditas. Não foi surpresa nenhuma quando ele agiu da mesma forma que ela.

As risadas de ambos pintaram todas as nuances daquele encontro. Ambos pareciam se conhecer a anos, tamanha a sintonia entre eles.

Quando terminaram seus lanches, os mesmos decidiram continuar o encontro caminhando até uma praça próxima dali. Por mais que nenhum deles admitisse, ambos não desejavam dizer adeus tão cedo.

Ao mesmo tempo, nenhum deles conseguia entender como do nada eles passaram de duas pessoas brincando de se empurrar um ao outro levemente com os ombros, para duas pessoas andando de mãos dadas como um casal.

"Sua mão se encaixa perfeitamente na minha, sábia?"

A frase dele arrancou um sorriso dela que cresceu ainda mais quando ele passou o polegar de cima para baixo dos seus dedos.

A voz de uma jovem cantora teceu uma atmosfera romântica na praça. We Fell in Love in October, falava sobre ver uma única pessoa como o centro de seu mundo e o que era mais engraçado, é que ali ao lado daquele que até a pouco tempo atrás era apenas um desconhecido, ela se sentia como o ser mais único do universo.

Era outubro, afinal, e ali sob as estrelas ela tinha certeza que amava a visão daquele homem que caminhava calmamente ao seu lado.

[...]Você é tão bonita e eu amo essa vista
Nós nos apaixonamos em outubro, por isso eu amo o outono [...]

Seo Changbin não se considerava uma pessoa que se apaixonava tão facilmente. Ele acreditava que aquelas histórias sobre se apaixonar no primeiro encontro meio piegas e algo retirado de livros baratos de banca que o namorado do irmão mais novo gostava de ler. Pelo menos até aquele momento.

"Acho que assim como sua mão completa a minha, seus lábios também devem completar os meus. "

Eles pararam por um momento. Bem ali sobre as estrelas e sem se importar com os olhares daqueles que passavam ao redor. Os rostos se aproximaram e as respirações e os lábios se fundiram naquele pequeno espaço.

Ao redor deles havia os acordes finais da canção e o som de dois corações sincronizados. Enquanto na mente deles apenas uma única certeza que eles queriam pertencer um ao outro.

[...]Minha garota, minha garota, minha garota
Você vai ser a minha garota[...]