Nunca é tarde para recomessar - fremione escrita por Anna Carolina00


Capítulo 1
Teenage Dream


Notas iniciais do capítulo

A primeira música tinha ser Teenage Dream, que é só um ponto de partida gostosinho para um romance fofo dos dois.



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Era estranho estar de volta, como se todo aquele vexame ainda estivesse congelado em uma fotografia. Não era fácil voltar à estaca zero nos relacionamentos aos quase 30 anos, mas pelo menos havia o grande alívio de saber que tudo havia acabado. Ele estava no passado e o presente era, de fato, um presente.

Ronald e eu crescemos juntos como amigos, tivemos a fase do namorico e foi natural para nossas famílias que isso resultasse em um relacionamento sério. Entretanto, cada um seguiu um caminho depois da escola implicando um relacionamento a distância. Eu não perderia a chance de me tornar a cientista que tanto sonhei, ainda que isso me consumisse uma década de estudos. Quando voltei de surpresa para a Inglaterra e encontrei meu amado aprontando da forma mais literal possível, reconheci vários sinais vermelhos que já eram claros em nossas conversas por telefone, só me faltava um motivo razoável para acreditar.

Agora havia. De todo modo, isso era passado. Começar do zero funcionava em experimentos científicos, só esperava me lembrar de como funciona com gente de verdade.

  —As pessoas ainda vão em jantares de solteiros? Devo me inscrever em aulas de dança ou alguma academia?

—Mione, não estamos mais nos anos 90. Você está há pelo menos uma década atrasada no que diz respeito à paquera — Gina me respondeu enquanto tomávamos chá, céus, como senti falta de chá de verdade — Mas está certa em precisar ver gente! E gente de verdade, não seus amigos da escola que já estão casados com filhos e só conhecem pessoas casadas.

Era engraçado ouvir isso da minha melhor amiga, considerando que ela era casada com duas crianças e esperando uma terceira em uma barriga geometricamente perfeita. Ainda assim, possuía mais experiência com namoros do que a garota precocemente apaixonada pelos livros e iludida pelo caçula do vizinho.

—Eu… Posso ir a muse…— vi seu rosto franzindo como um recado—... Ou um bar — e então se alegrou — com música ao vivo. Talvez karaoke? As pessoas ainda fazem isso? 

—Nunca fizemos isso, querida.  Mas é um bom começo, fique aberta às possibilidades. O amor da sua vida não vai bater à sua porta em um DeLorean te chamando para uma aventura.

—De volta para o futuro! Você disse que era coisa de criança!

—É, eu vi o filme com meus filhos, Hermione. Tente falar de economia ou qualquer bobice da TV quando estiver em um encontro. Não sobre um garoto que volta no tempo e quase beija a própria mãe.

Gina estava certa no fim das contas. Eu quem bateria na porta do futuro amor da minha vida. 

Meu cubículo pago com o salário de professora universitária ainda não era muito mobiliado, nem havia espaço para tal, mas era uma questão de honra conseguir de volta algumas caixas que meu pais deixaram com Rony antes de mudarem para a Austrália. Eles pensavam estar entregando para meu futuro marido… E isso soa tão estúpido agora que mal posso acreditar que concordei. Precisava evitar  qualquer contato direto e definitivamente não queria colocar a caçula dos Weasley no meio dessa bagunça, então liguei para Fred, o irmão do meio da família Weasley que por sorte ainda tinha anotado em minha agenda. Os cinco anos de diferença sempre nos colocou meio distantes de Fred, assim como os demais irmãos mais velhos. Estudávamos juntos na escola e ele já estava no ensino médio, depois faculdade. Quando me mudei para o Canadá, já havia anos que ele já não morava com os pais. Mas eu lembrava o suficiente das festas de Natal para não soar completamente estranho pedir que ele buscasse minhas coisas na casa do irmão.

—Sem problemas. Pode vir buscar sexta à noite? Podemos jantar, colocar o papo em dia. Canadá deve ter sido uma experiência extraordinária!

Apesar de não saber que papo teríamos para colocar em dia, aceitei.

 

“Fred Weasley, escultor de brinquedos” era o que dizia a placa no endereço, que vinha com as instruções de subir as escadas ao lado da loja. Ele não havia feito direito? Ou contabilidade? Achei que todos os Weasley tinham alguma carreira profissional de destaque. Tenho certeza que seu irmão gêmeo, Jorge, era engenheiro de alguma empresa de automóveis. Lembro do Rony empolgado comentando em uma ligação sobre o irmão o levando para conhecer os lançamentos. Me pergunto se já estava com ela nessa época.

Todo ambiente me lembrava filmes de terror, mas tentei manter em mente que nossas famílias eram amigas. Talvez fosse alguma pegadinha… E eu poderia lidar com uma pegadinha, certo? Só pegaria minhas coisas e voltaria para casa.

Tudo ficou ainda mais estranho quando notei que o lugar estava iluminado por velas quando a porta se abriu.

—Boa noite, senhorita Granger. Acredito que seja adequado lhe informar que você foi sorteada para a grande oportunidade de ter um encontro com o senhor Fred Weasley. Para o jantar —Ele estava mais velho do que eu imaginava, uma barba rala e um sorriso discreto, como se tentasse manter a pose, eu também tentava não rir da situação inusitada —  teremos massa fresca com cogumelos e camarões acompanhada de vinho! 

Definitivamente era uma pegadinha. Lembro da fama dele ser o engraçado dos Weasley. Logo fui guiada para uma mesa e o anfitrião puxou a cadeira para que eu me sentasse.

—Fred, eu…

—Tudo bem, não precisa falar nada. Você merece o esforço para fazer isso tudo! Quando falei com Roniquinho, não acreditei… Mas não vamos falar do passado, certo? O presente existe para ser apreciado!

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, vi-o espetar um camarão e o levar à boca. Segundos depois, o mais velho fez uma expressão terrível como se estivesse engasgado e o rosto ficou tão vermelho quanto seus cabelos.

—Fred!

Corri para segurá-lo. Pessoas e animais podiam ter suas diferenças anatômicas, mas era fácil reconhecer que o rapaz estava passando por uma reação alérgica e felizmente as aulas teóricas serviram para ajudá-lo a se livrar de qualquer resquício de frutos do mar. Em meio ao descontrole, o forro se foi levando o vinho e a prataria da mesa. Acendi as luzes e apaguei as velas. Em segundos,  o ambiente romântico se espalhou no chão como uma massa fresca.

Olhei para o ruivo. Ele parecia procurar em meus olhos algum sinal de raiva, mas a única coisa que eu podia lhe dar era um sorriso, que foi evoluindo para uma risada e logo estávamos nós dois rindo de toda a situação. Estirados no chão, dois adultos riam inconsequentemente. 

—Então… Existe uma chance  considerável de eu ser alérgico a camarão…

—Oh! É mesmo? Se você não tivesse falado eu não teria percebido…

—Pelo menos estou avisando agora, imagina se você me chamasse para comer camarão? Seria bem vergonhoso… Eu poderia ter um ataque e destruir a mesa ou algo assim.

Eu gostava desse humor autodepreciativo em um adulto, todo mundo ao redor parecia tão sério sobre tudo que me esqueci como era refrescante ser uma adolescente fazendo tolices. Talvez não fosse tão ruim assim começar do zero. 

—O que estava pensando em fazer?! Se matar? Parar num hospital ao causar um incêndio, pelo menos.

—Não me ofenda, Hermione. Se eu fosse me matar, eu teria formas muito mais engenhosas de executar isso. Alergia alimentar? Coisa de amador!— ele parecia genuinamente arrependido, talvez não fosse uma pegadinha no fim das contas—Eu...meio que... Pensei em fazer algo legal para você. Agora que está solteira… Não sei, fazer algo assim iria impressionar você?

—Devo admitir que fiquei bastante impressionada— Ainda riamos um pouco de toda a situação — De onde tirou a ideia do camarão?

—Não existe exatamente um manual sobre encontros e meus irmãos insistem em me lembrar que já passei da idade, então tentei caprichar. Bem, acho que devia ter experimentado o prato enquanto cozinhava.

  —Você quem cozinhou?

Perguntei entusiasmada, isso lhe despertou um sorriso sincero.

—Siga-me para a cozinha, querida.

 

 Havia um pacote de farinha e uma cartela de ovos sobre o balcão. Fred havia feito a massa sozinho?

—Bem, não quero me gabar, mas garanto que esse macarrão seria a melhor coisa que já comeu em sua vida…

—Então prove! —Desafiei-o — Eu fui sorteada para um encontro com Fred Weasley, certo? O encontro pode ser passar uma noite cozinhando juntos o que, ouvi dizer, será a melhor coisa que comerei na vida!

 

***

Cozinhar com Fred foi definitivamente mais agradável do que o jantar que havia planejado antes. Fizemos a massa, um molho com almôndegas (nada de camarão) e comemos no balcão da cozinha com o que restou do vinho de antes… Pelo menos o vinho havia sido certeiro!  

Conversávamos sobre os rumos que seguimos e foi bom poder falar sobre os estudos sem precisar fazer parecer um sonho mágico que se realizava.

—... E foi assim que sobrevivi um mês de nevasca a base de macarrão instantâneo e batata.

 

You think I'm pretty without any makeup on
You think I'm funny when I tell the punch line wrong
I know you get me, so I let my walls come down, down

 

Ele ria enquanto me servia mais um taça. Estava evitando, mas precisava tocar no assunto “Ronald”.

—O que exatamente seu irmão disse quando foi buscar meus pertences? Posso ter entendido errado, mas não acho que a ideia desse encontro tenha vindo do nada.

Havia um charme incomum em alguém daquele tamanho parecer constrangido, quase vulnerável, no meio de uma conversa casual. Fred não parecia estar se esforçando para soar como alguém que não era, pelo menos não agora.

—Todo mundo meio que já sabia que vocês não estavam mais juntos, — todo mundo menos eu, aparentemente — ele já levava a namorada para reuniões de família a meses. A moça parecia… Simpática. 

Tentei não parecer furiosa com o elogio à mulher, mas era inevitável. De todo modo, não havia como saberem que aquilo tudo acontecia às custas de me iludir, mas isso é culpa unicamente do caçula dos Weasley. Ele continuou.

—Rony deu a entender que você me pediu para buscar suas coisas na casa dele porque queria me ver, como uma desculpa. Depois de tantos anos, você tinha… Nutrido algum interesse. Eu sei, soa muito estúpido agora que falo em voz alta, mas na hora fazia algum sentido.

Ele me olhava ansioso esperando alguma resposta. Não tinha culpa pelo irmão que tinha feito e foi de fato uma companhia agradável. Senti como se tivesse 15 anos outra vez e recebesse meu primeiro flerte num bilhetinho deixado em minha carteira. 

Um sim era apenas um sim, no final das contas.

 

Before you met me, I was alright
But things were kinda heavy
You brought me to life

 

—Estamos no novo milênio. Vida nova, casa nova. Seria bom ter uma companhia para sair. E definitivamente prefiro isso a voltar a comer macarrão instantâneo sozinha.

— Isso é um convite, Hermione?

— Acredito que a palavra da moda para isso seja paquera.

Sorrimos. Ele me acompanhou de volta para casa. Esqueci minhas caixas, o que felizmente criou mais uma oportunidade de nos vermos novamente. A próxima de muitas, eu espero.

You make me feel like
I'm living a teenage dream
The way you turn me on, I can't sleep
Let's run away and don't ever look back
Don't ever look back


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Notas finais do capítulo

Primeiro capítulo... Minha intuição me diz que teremos 3 a 5 destes. Espero que tenham gostado!



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