— Wednesday, para com isso! – Enid bufou zangada - Parece que não confia em mim!

— Em você confio cariño – Explicou a menor – É naquela anaconda do Paraguai que não consigo confiar.

A lupina segurou o riso pelo apelido inventado para Ajax, seu ex namorado e atual colega de trabalho. O górgona era cameraman na mesma empresa em que a loira trabalhava, o que desde sempre causou desconforto na Addams que, sempre sentia-se insegura, como se os votos que fizeram no dia do casamento não fossem nada. Isso irritava Enid profundamente, tinha a impressão de que estavam de volta a adolescência, logo no começo do namoro, quando Ajax ainda corria atrás dela e a Addams tentava fatia-lo.

— Deixa de ser infantil Wed! – Bronqueou, recebendo um revirar de olhos – É apenas trabalho! Não vai acontecer nada entre nós dois.

— Por que não pode ser outra pessoa?

— Porque essa matéria é minha, Addams! Trabalhei nela durante meses! Todo ano eu cubro o evento de moda de Paris, desta vez não vai ser diferente.

— Mas só vocês dois, por duas semanas, em Paris – Cada frase parecia amargar mais ainda a boca da latina – Não gosto disso.

— Gostando ou não, vai aceitar, pois é meu trabalho – Enid deu as costas, voltando sua atenção para a mala que estava organizando.

— Vai me largar aqui sozinha, com dois bebês? – Wednesday tentou sua última cartada, apelar para o lado emocional da mamãe loba – Vamos sentir sua falta.

— Não vou largar ninguém, porque eu vou voltar – Enid riu levemente – E eles não são mais bebês, eles têm seis anos.

— Não é você que sempre diz que eles sempre vão ser nossos bebês? – A morena fez biquinho, derrotada.

Enid piscou levemente surpresa, Wednesday raramente agia assim, com muita manha. Na realidade, ela nunca agia com manha alguma. Isso mostrava que, ela estava de fato incomodada com sua partida, talvez até temerosa com a presença de Ajax, como se de fato ele representasse alguma ameaça, coisa que nunca representou. Achou por bem, confortar a esposa, pressionando as palmas das mãos em suas bochechas, obrigando-a a encarar seus olhos azuis brilhantes.

— Eu só tenho olhos para você mi amore. Nada, nem ninguém, vai me fazer deixar de te amar.

— Promete Enid?

— Claro que sim – Beijou a ponta de seu nariz – Eu sou completamente apaixonada por você e sempre vou ser. Porque te amo e só desejo a ti – Viu a Addams assentir com seu típico sorriso, quase que imperceptível – Não deixe que esses sentimentos tomem conta de você, Ajax não é nada, por outro lado você é completamente tudo!

— Você é meu tudo – Wednesday tomou seus lábios, sendo correspondida imediatamente, com um pouco de sorte, faria a licantropo se atrasar para pegar seu voo prendendo-a em seus braços durante o beijo.

— Você não vai me prender aqui Wed – Enid riu quebrando o beijo. Ela conhecia a esposa suficiente, aquela artimanha não funcionaria.

— Eu tinha que tentar – Deu-se por vencida, ajudando a lupina com a organização de sua mala de viagem.

[...]

Não fazia nem três dias completos da partida de Enid. O quarto do casal parecia tão vazio sem a presença dela, diferentemente da residência, que estava muito bem preenchida. Lúcifer fazia muito bem o papel de “alegria” da casa. Correndo para cima e para baixo, fingindo caçar sua irmã – ou talvez, de fato ele estivesse tentando faze-lo, mas Larissa era esperta demais e sempre conseguia escapar. O que deixava o filhote bem frustrado.

Quando as crianças retornavam da escola, aproveitavam da liberdade que Wednesday lhes proporcionavam. Enid nunca, jamais, em hipótese alguma, deixaria que eles usassem um maçarico industrial para assar alguns marshmallows na cozinha. No fim do dia, todos arrumavam-se e sentavam-se na sala-de-estar, esperando a ligação da loira, agindo como se naquele dia não tivessem brincado de desarmar uma bomba e quase levado a casa aos ares. Alguns segundos e Wednesday não teria visto a arte dos filhos, cortando o fio correto antes do contador chegar a zero, não houve bronca, apenas um alerta sobre na próxima, serem mais rápidos ao desarmar o explosivo.

— Oi mon cher – Enid pronunciou contente, ao vislumbrar a imagem de Wednesday na tela de seu notebook, ao lado dela seus filhos sentavam comportados e bem arrumados, com suas roupinhas formais, igual a latina – Olá meus amores!

— Olá mamãe! – Responderam em uníssono.

— Cara mia – Addams cumprimentou com seu jeitinho simples. Percebeu que a licantropo encontrava-se no mesmo quarto de hotel que das outras vezes que fizera chamadas de vídeo, atrás do corpo magro de Enid, tinha-se o vislumbre da cama de casal, que estava vazia. E como estamos falando da lupina, obviamente a cama encontrava-se uma bagunça de roupas coloridas. Wednesdsay desviou os olhos da bagunça da esposa para focar-se no seu belo rosto, pixelado pela tela do notebook– Como está o trabalho?

— Muito bem, infelizmente quase não dá pra dormir – A loira coçou o olho, cansada, deveria ter dormido apenas 4 horas naquele dia – Tem tanta coisa acontecendo, uma notícia atrás da outra – Contou empolgada.

“Fofoqueira” – Wednesday pensou em dizer, mas guardou para si. Enid trabalhava com o mundo dos famosos, era normal que precisasse ficar atenta a tudo e qualquer notícia além de moda, lhe gerava mais engajamento nas mídias sociais e pontos extras com seus superiores na empresa. Pontos que no final do ano, rendiam a lupina algumas folgas prolongadas, para curtir com a família.

— Mas e vocês crianças? – Enid mudou de assunto, querendo interagir mais com os filhos que muito bem educados, esperavam a conversa entre as mais velhas acabar - Como estão meus bebês?

— Eu fiz um novo quadro! – Lúcifer foi o primeiro a falar, empolgado puxou da mesa de centro uma tela colorida – Veja mamãe!

— Que lindo! – A licantropo sorriu contagiada pela alegria do filho, a tela que ele segurava em frente a câmera era uma bagunça linda de cores, feitas com os dedinhos do pequeno – Essa é a floresta do nosso quintal?

— Exatamente! – O menor sorriu satisfeito – Fiz ela assim, colorida, porque é mais bonita.

— Realmente, fica parecendo quando está no outono – Complementou encantada com o sorriso de Lúcifer, neste momento ela teria dado vários beijinhos nas bochechas do filho, ficou triste por não poder, mas seguiu em frente, voltando-se para Larissa – E você minha princesa das trevas? – Enid preferia ter parado em “princesa”, mas Larissa gostava do complemento que Wednesday inventará certa vez. E desde então, apelidos carinhosos para a loirinha só eram aceitos se tivessem um lado mais “sombrio”, por assim dizer.

— Hoje o Lion comeu dois ratos – Informou, para complementar ergueu sua tarântula gigante que ganhará anos atrás da latina. Enid observou a aranha peluda pela tela, parecia bem maior do que pessoalmente, e acredite, ela é enorme, a maior que a licantropo já viu.

— Que legal...!? – A mulher não soube se isso era bom ou ruim, mas viu Larissa sorrir do seu jeito contido, então deveria significar que era algo bom – Espero que esse seja o limite do Lion, vai dar trabalho comprar tantos ratos para ele comer.

— Eu mesmo os caço – Larissa pareceu ficar ofendida, Enid desculpou-se – E o Lúcifer sente o cheiro de longe – Complementou.

— Sou bom com caçadas – informou o garoto orgulhoso.

— Não é não – A gêmea rebateu – Se fosse, já teria me capturado faz tempo.

— Eu não faço, porque não quero!

— Conta outra, você é péssimo nisso.

— Mas vou aprender logo, logo – Lúcifer cruzou os braços irritado – Não é mama? A senhora não vai ensinar?

— Sim, claro – Wednesday confirmou, era um plano que as mulheres tinham de fazer junto com os filhos: levarem as crianças para acampar alguns finais de semana na floresta e aprenderem a caçar – Assim que sua mãe voltar.

— Vou te ensinar tudo sobre farejar e seguir presas! – Enid bateu palmas animada.

— Legal, vou ser melhor que o Tio Joel! – O pequeno lobisomem exclamou feliz, não notou Enid franzir a testa do outro lado da tela, mas Wednesday percebeu e muito bem.

— Quem é Joel, querido? – Seu tom de voz parecia meio desinteressado, mas os olhos estavam vidrados na tela, a espera de uma resposta.

—  Amigo da mama – Larissa respondeu dando de ombros – Ele é guarda-florestal.

— Ah, entendi – Enid sorriu, mas sua mente começava a dar voltas. Amigo? Como assim, amigo? Wednesday não tinha amigos! Ela sabia disso muito bem, porque ela mesma era amiga dos amigos da latina e não tinha conhecimento algum sobre esse tal de Joel – E onde vocês conheceram ele?

— No shopping! – Lúcifer quem respondeu agora – Ele comprou sorvete pra gente.

— Ah que legal, ele comprou sorvete! Muito legal ele... – Enid sentiu algo que a tempos não sentia, sempre teve confiança na esposa e por isso, desde a formatura em Never More, a loira não sentia mais ciúmes.

— Cara mia? – Wednesdsay percebeu a mudança súbita de humor da mulher, mas não entendeu o motivo. Antes mesmo que pudesse pedir licença para os filhos, para que pudessem conversar melhor em particular sobre o que lhe afligia, batidas foram ouvidas na porta do quarto de hotel.

— É o Ajax – Enid informou chateada, observou as horas no relógio do notebook - Temos uma entrevista com um grupo de estilistas daqui a alguns minutos. Preciso ir.

— Tudo bem, bom trabalho – Wednesday desejou (desejou cortar a cabeça de Ajax) despedindo-se.

— Tchau mamãe! – Os gêmeos despediram-se.

Enid soltou beijinhos no ar e abanou as mãos, dando tchau. Por fim a lupina desligou a chamada.

“Ela não me disse, “Eu te amo” – Pensou a latina, estranhando. Enid gostava de sempre frisar aquelas palavras para ela, todos os dias, principalmente quando viajava.

[...]

Joel Glicker era um homem com seus trinta e poucos anos. Alto, músculos firmes, utilizava óculos de grau. Seu cabelo estava sempre alinhado, mesmo passando maior parte do tempo por baixo do chapéu de guarda-florestal. Havia sido transferido para aquela cidade a algumas semanas e havia odiado tudo desde então. Até avistar certo dia, andando no shopping, a mulher mais linda que já virá. Roupas pretas e uma bota de salto alto, foi assim que Wednesday passou por ele no dia de sua folga. As mãos ocupadas por um copo de café da Starbucks e uma bolsa de couro preta. Ela nem percebeu seu olhar sobre si – e se notou, fingiu que não – continuando seu caminhar até a livraria ali perto.

Joel lembrava-se muito bem daquela mulher. Wednesday Addams, seu primeiro amor. Se conheceram em um acampamento, quando crianças, apaixonaram-se e namoraram durante aquele verão, até o Glicker ter que se mudar por causa das suas alergias. Nunca mais tiveram contato e desde então, ele não conseguiu esquece-la de fato, sua personalidade era bem forte e marcante, impossível não lembrar. Vê-la ali era como um sonho, quantas vezes não imaginou reencontra-la? Decidiu então, após recuperar-se do choque, aproximar-se.

— Com licença? – Chamou de longe, sabia que ela não era receptiva a aproximação de desconhecidos. Quando teve os olhos negros sobre si, segurou a respiração em excitação e então continuou – Me reconhece?

— Deveria?

A voz monótona e desinteressada de Wednesday não lhe causou espanto, era exatamente como lembrava, talvez com a diferença de estar bem mais madura. Não deixou-se abalar e sorridente continuou:

— Joel Glicker – Apresentou-se, levantaria a mão em sua direção, mas as chances dela nunca aperta-la de volta eram altas – Acampamos juntos, lembra? – Addams levantou a sobrancelha pensativa – Tínhamos treze anos... – Wednesday negou, não lembrava dele - Demos nosso primeiro beijo...

— Ah – A latina não parecia realmente surpresa ou animada com a lembrança, apenas aliviada de lembrar quem ele era – O garoto das alergias.

— É, eu tinha muitas – Riu descontraído – A quanto tempo, não?

— Sim – Wednesday não queria perdurar aquela conversa, mas não seria grossa de lhe dar um fora, principalmente porque ele lembrou dela, mesmo tendo se passado anos. Porém, estava apenas a espera dos filhos que entraram na livraria para comprarem algo do agrado deles e logo retornariam para casa.

— Você ta linda – Joel elogiou, encantado demais com a beleza da mulher.

— Obrigada – Wednesday estreitou os olhos desconfiada, não soube identificar se foi um elogio sincero ou uma espécie de cantada.

— Você não tem cara de que frequenta shoppings – Joel tentou puxar conversa, cada vez mais se aproximando, tão lentamente que a Addams quase não notou, mas ainda estavam distantes, então a latina continuo parada.

— Acredite, não gostaria de estar aqui – Ela realmente preferia estar em casa e não ceder aos pedidos dos filhos, talvez assim nunca tivesse encontrado com o namorado de infância.

— Deve ter tido um motivo muito grande pra vir então – Concluiu o homem.

— O melhor de todos – Foi o que a latina respondeu ao avistar os filhos virem em sua direção, cada um com um livro recém comprado, eles pareciam contentes com a nova aquisição, o que deixava a mulher satisfeita e feliz.

— Mama, encontrei um livro sobre tortura medieval – Lúcifer anunciou sorridente, levantando a sacola com o tal livro – Esse é diferente do que a senhora tem em casa, depois eu lhe empresto – Informou.

— Obrigada – Agradeceu a mais velha, o pequeno havia pensado nela também ao pegar aquele item, achou fofo ele lembrar dela.

— Quem é esse? – Larissa olhou o estranho de cima abaixo, ele parecia meio pasmo, a boca totalmente aberta e o olhar perdido.

— Um conhecido – Wednesday deu de ombros.

— Ah... Eu... É que... – Joel parecia perdido, sua mente dava voltas tentando formar frases coerentes – Filhos? – Foi o que disse após alguns segundos processando o que acabará de ver. Percebeu que não fora claro suficiente quando notou a família trocar olhares – Digo, você tem filhos! Uau! Pensei que... Que nunca teria – Sua voz foi morrendo no final, ainda surpreso com a descoberta.

— Crianças, apresentem-se – Wednesday tinha orgulho na voz e os filhos imediatamente fizeram uma breve reverencia, elegantes, igual todo Addams ao apresentarem-se.

— Me chamo Larissa Addams.

— Sou Lúcifer Addams.

— Prazer, Joel, amigo da mãe de vocês – Ele entendeu perfeitamente quem escolherá o nome de cada filho.

— Bem, vamos embora, foi um desprazer revê-lo Joel – A latina despediu-se com sua forma atípica. Quando estavam prestes a dar alguns passos, o homem voltou a falar:

— Eu estava indo pra praça de alimentação – Informou, não queria que ela fosse embora, percebeu que teria sua atenção se conseguisse conquistar as crianças – Vocês não querem tomar um sorvete? É por minha conta.

— Oba, sorvete! – Lúcifer sorriu dando meia volta.

[...]

Quando Enid saiu da área de desembarque junto a Ajax, notou sua família lhe esperando atrás da linha de “apenas passageiros”. Larissa apontou para a loira fazendo com que Lúcifer e Wednesday que estavam distraídos, voltarem sua atenção para observar ela aproximar-se, empurrando suas malas consigo. Quando chegou perto suficiente, os três lhe abraçaram, a lupina sentiu-se acolhida, trocou um selinho com a esposa e beijou a bochecha dos filhos.

— Que saudades eu estava de vocês meus amores!

— Também sentimos sua falta – Wednesday sorriu levemente.

— Vamos pra casa? Estou tão cansada – Enid ignorou o comentário, estava louca para encher a latina de beijos, porém aquela pequena dúvida sobre o tal amigo Joel, lhe deixava enciumada e meio ranzinza, lhe impedindo de fazer o que desejava, não queria brigar – Quem empurra o carrinho?

— Eu! – Lúcifer se prontificou tomando para si o carrinho com as malas, Larissa se apoiou próximo as rodinhas, sendo carregada pelo irmão.

— Está tudo bem? – A latina questionou, havia notado a mudança de assunto da esposa. Enid normalmente lhe encheria de beijos ou choraria emocionada por lhe reencontrar.

— Está... É que-

— Wed! – Ajax interrompeu a conversa.

 Enid revirou os olhos, pretendia contar suas aflições a latina, mas agora seria impossível. Wednesday fechou a cara com a aproximação do ex da esposa.

— É Wednesday – Corrigiu lhe.

— Foi mal – Deu de ombros, continuaria lhe chamando pelo apelido até o dia em que aquilo não fosse lhe matar de fato – Como foram as coisas por aqui? Cara, você deveria ter visto, as coisas lá na França foram tão, uau!

— O que porra é uau? – Wednesday realmente não tinha paciência alguma com o górgona – Quer saber, esquece, não quero saber.

— Nossa, ta brava por que? Já sei, é que passou esses dias sem transar né?

— Ajax, você não tem quer ir pra casa não? Ou sei lá o que? – Enid interferiu, a mais baixa entre os três parecia cada vez mais irritada.

— É verdade, tenho que ir dar uma olhada na minha filhinha – O górgona pareceu realmente só lembrar-se da família agora – É a vida né, quem manda virar pai – Pareceu cansado, mas tinha um sorriso no rosto – Vou lá, a gente se vê por aí, Wed.

— Me segura – Foi o que a latina disse antes de ser segurada rapidamente por Enid, que utilizando-se de sua força sobre humana lhe agarrou com firmeza, impedindo que Wednesday batesse em Ajax.

— Você tem que se controlar! – Enid pediu impaciente, só quando o moreno sumiu entre a multidão foi que ela largou a morena, agora um pouco mais calma.

— Eu não o suporto! 

— Eu sei, Wed. Eu sei.

[...]

Não houve tempo para elas conversarem de fato. Quando chegaram em casa, Enid foi constantemente seguida pelos filhos que estavam com saudades. Wednesday ficou responsável pelo jantar enquanto a licantropo tomava banho e os filhos desarrumavam a mala dela – simplesmente por quererem ajudar – encontrando ali, dois embrulhos com seus nomes. Eram algumas lembrancinhas que a loira havia trago. Após o jantar, Enid colocou os filhos na cama e foi descansar da viagem.

Wednesday estava ficando louca, o comportamento de Enid estava lhe deixando preocupada. Sem beijos, sem “eu te amo”, sem sexo. Fora que, a lupina parecia lhe evitar usando os filhos como uma desculpa para não terem um tempo juntas. O que estava acontecendo? Esperaria o dia seguinte para conversar melhor com ela. Enid não lhe escaparia.

Quando a loira acordou, – muito tarde naquele sábado – notou que havia uma bandeja com café da manhã em cima da cama, no lado onde a latina dormia. Viu as rosas negras enfeitando a bandeja e o cartão com a letra impecável da Addams escrito “Amo-te, cara mia”. Enquanto degustava as torradas, Enid sentia-se meio mau, uma sensação desconfortável, como se fosse vomitar a qualquer momento. Chegou à conclusão que, emotiva do jeito que era, estaria ficando doente por guardar seus sentimentos para si e não os compartilhar com a esposa que, estava sendo muito carinhosa e paciente.

 - Acordou agora?

Os olhos de Enid moveram-se em direção a voz de Wednesday que acabará de adentrar o quarto. Parecia que havia saído, pois estava usando os coturnos favoritos.

— Levei as crianças para a mansão – Informou enquanto retirava os calçados, ficando mais confortável de meia – Assim você pode descansar mais.

— Eu gosto da companhia deles – Enid entendia o que a esposa quis dizer, porém preferiu fingir que não.

— Vou busca-los mais tarde, não se preocupe – Esclareceu a menor, indo até a cama e sentando-se ao lado da bandeja vazia, as rosas e o cartão ainda repousados na prataria – Pensei em termos um tempo pra gente.

— Me sinto um pouco enjoada – Avisou ao notar a malicia por trás dos olhos da esposa, ela realmente não estava muito bem.

— Foi algo na comida? – Wednesday preocupou-se, a lobisomem muito dificilmente ficava doente.

— Estou assim desde que acordei, não foi sua comida – Esclareceu. Ficaram em silencio por alguns segundos, até Enid resolver tocar no assunto que tanto lhe incomodava – Quem é esse Joel?

— Hm? – Wednesday estranhou a pergunta repentina, mas respondeu – É um cara que conheci quando criança, no acampamento.

— Entendi...

— Por que a pergunta?

— Não é nada, é que eu achei estranho, sabe, você nunca mencionou ele...

— Nem lembrava da existência dele – Addams deu de ombros, até que então notou algo que a fez esboçar um sorriso – Espera... Está com ciúmes?

— Que? Com ciúmes? De onde você tirou isso? – Enid fingiu-se de desentendida – Por que eu teria ciúmes de um cara que eu nunca vi e nem ouvi falar até pouco dia atrás? Quando nosso filho mencionou ele...

— Caramba Enid, você realmente ta com ciúme! – A latina parecia se divertir, agora aliviada em descobrir a causa do comportamento estranho da loira – Logo você, que reclama tanto comigo...

— O que foi? Agora é proibido ter ciúmes? Não pode mais? – Cruzou os braços irritada, virou a face para longe do olhar penetrante da morena.

— Você fica tão linda com essa cara de emburrada – Addams sorriu ao ver a expressão da esposa suavizar com suas palavras – A anos eu não via você assim, enciumada – Riu.

— Pare com isso – Enid fez biquinho – Não tem graça!

Wednesday não pôde conter a vontade de beijar aquele biquinho fofo, tomou os lábios da lupina para si, sendo correspondida imediatamente.

— Não precisa se preocupar com ele e nem com ninguém – Wednesday beijou sua testa de forma terna – Eu sou apenas sua.

— Promete?

— Claro que sim, cara mia.

Abraçaram-se, Enid descansou a cabeça no ombro da morena, sentindo seu enjoo lhe abandonar. Sentia-se bem melhor.

— Engraçado como os papeis se inverteram, não é? – Wednesday comentou ainda mantendo a loira em seus braços – Era você que estava me confortando assim, dias atrás.

— Verdade... – Enid refletiu achando tudo aquilo muito irônico – Ei Wed.

— Sim mi amore.

— Eu te amo – Separou-se levemente, apenas para olhar fundo nos seus olhos.

— Eu também te amo – Wednesday sussurrou de volta, devolvendo o olhar apaixonado.

Ciúmes é algo humano, impossível de ser evitado, no fim, conversar sobre o que sentiam era sempre o melhor caminho. Tudo estava resolvido. Mais tarde, ainda naquele dia, enquanto Wednesday tomava banho, a campainha tocou e quando Enid abriu a porta, deparou-se com o tal Joel segurando um buquê. Esta é uma história que a latina nunca saberá, mas a lupina transformou-se parcialmente e correu atrás do homem, lhe arranhando todo e rasgando suas roupas, o guarda-florestal correu com seus retalhos estrada a fora, sem olhar para trás. Foi assim, que nunca mais ouviram falar sobre Joel Glicker.