The girl from LA escrita por Ka Howiks


Capítulo 6
Capítulo 6: Portas abertas


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores! Estou amando os comentários de vocês kkk.

Aqui vai a continuação de mais um capítula de " The girl from LA". Preparem suas pipocas porque hoje está recheado de emoções e perigos.

Beijos e boa leitura.



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Pov Felicity Smoak

 

Eu estava apavorada.

 

Não somente por estarmos completamente sozinhos com um maluco, mas por esse maluco estar com uma arma praticamente colada à testa de Oliver. Só havia o visto sério dessa forma uma vez, quando estávamos na represa e um tiro fora soltado ao longe. Seus ombros estavam arqueados, as mãos, embora o homem que eu achava que se chamava “ Billy” não pudesse ver estavam fechadas em punho, pronto para o combate, e o rosto…

 

O rosto estava completamente tenso.

— Ela não vai com você.- sua voz soou fria, em uma ameaça clara.- E vai precisar muito mais que uma bala pra me impedir de quebrar a sua cara se encostar em um fio de cabelo dela.

 

Fiquei em choque. Oliver não parecia estar para brincadeira ao dizer aquilo. Billy, que segurava a pistola, se enfureceu ainda mais, colando a ponta do cano da arma em Oliver. Ele não pareceu sentir medo, tampouco demostrou reação alguma, ao contrário, manteve seu olhar firme, que ao meu ver intimidava Malone. Eles, aparentemente, já se conheciam.

 

E não se gostavam.

 

Nenhum pouco.

 

Isso poderia explicar nossa situação.

 

Mas eu estava preocupada, inferno, e se ambos tivessem uma richa Billy a levaria a diante. Oliver não podia se machucar.

 

Eu não podia deixá-lo levar um tiro.

 

Principalmente por minha causa. Seria um baque muito grande assistir novamente alguém que eu me importo se ferir por minha causa. Seria insuportável…

 

Fechei os olhos, tentando controlar minha tremedeira e colocando a mente para trabalhar. Poderíamos negociar, e assim ninguém sair ferido.

— Tire a arma dele.- aumentei a voz, tentando parecer confiante. Malone desviou os olhos de Oliver e me encarou.- Alguém está ferido?- perguntei, o vi assentir. Ponderei a ideia. Era meio óbvio de onde ele era, um dos caras das fazendas ilegais é claro, e como doutor Lance ia uma vez no mês cuidar das pessoas de lá eles poderiam estar precisando realmente de ajuda. Reuni toda a minha coragem e disse:.- Certo, eu vou.

— Felicity…- Oliver virou o rosto. A expressão perigosa sumira, dando lugar a preocupação.

— É o único jeito.- sussurrei, Oliver balançou a cabeça. Segurei em sua mão.- Tem alguém ferido, eu vou ajudar.

— Certo. Desce do carro, estamos perdendo tempo.- interrompeu Billy, ainda com a arma apontada.

— Eu vou com você.- disse Oliver.- E não me peça pra ficar.- cortou minha frase.- Isso está fora de questão.

 

Trocamos um olhar demorado, e após alguns segundos assenti.

— Ele vai comigo.

— Meu chefe não vai gostar.- retrucou, encarando Oliver.- O Queen não é bem-vindo em nossas terras.

— E eu não gosto de ter essas porcarias apontadas pra minha cara, ou de ser sequestrada. Mas cá estamos nós.- rebati, irritada.

— É pegar ou largar Malone.- continuou Oliver.- Escolha. 

 

Malone pensou. Sua mão continuava firme a arma, mas o dedo se recusava a apertar o gatilho. Prendi a respiração, sentindo um arrepio. Ele estava tão perto de efetuar um disparo…Seu dedo roçava o gatilho.

 

E chegava mais perto.

 

E se afastava.

 

Por sorte, Billy abaixou a arma, me fazendo soltar o fôlego novamente.

— Deixem tudo e pro carro, agora.

 

Larguei minha bolsa, e no momento em que o mesmo iria me revistar Oliver entrou na frente, e em uma conversa silenciosa e mortífera, entramos no veículo. Nós dois fomos no banco de trás, e a cada quilômetro, Billy nos encarava pelo retrovisor. O clima era pesado, e o céu acinzentado parecia deixar a situação ainda mais mórbida. Observei Oliver de esguelha, a procura de tentar me acalmar. Seu maxilar estava trincado, postura ereta, olhar fixo a frente, atento a qualquer movimento. Foi então que me toquei. 

 

Oliver havia assumido sua versão de Tenente.

 

Pronto para um combate.

 

Não estávamos exatamente em uma guerra, mas acredito que o mesmo já havia vivido situações similares. A maneira que mal piscou com o revólver em sua testa, a frieza...Eu podia enxergar, em seus olhos azuis tão tormentosos que alguns desses pesadelos o perseguiam ainda, no entanto, neste momento, ele não parecia ligar como das outras vezes que o vi ficar incomodado com o assunto “exército”. Eu não sabia o que Oliver havia feito, e não importava, ele era uma boa pessoa.

 

Tão boa que estava disposto a tomar um tiro por mim.

 

Segurei em sua mão. Oliver virou o rosto e me observou. Embora tenso, seu pequeno e caloroso aperto em minha mão teve um efeito calmante. Se ele não estivesse aqui, se tivesse ficado no carro, eu tinha certeza que não iria conseguir lidar com tudo isso. Mas eu não estava sozinha.

 

Estava com Oliver.

 

E íamos sair dessa, juntos.

 

De repente me senti melhor.

 

Saímos da estrada principal, entrando em uma trilha de terra por dentro da floresta. Era fechada, úmida, e se não estivéssemos em uma situação de vida ou morte eu a acharia linda. Não contei quanto tempo andamos, mas logo me deparei com um portão de madeira, onde dois caras armados faziam guarda. Billy fez um aceno, e imediatamente entramos. Entreabri os lábios.

 

Muitas pessoas estavam aqui.

 

Haviam casas bem construídas, cabanas mais ao fundo, e até uma “pequena área de lazer” mais à frente, onde um sofá estava exposto perto de uma fogueira, que tinha como objetivo diminuir o frio. Assim que descemos, senti a mudança de temperatura, sem saber ao certo se eu estava tremendo de medo ou pela brisa congelante que soprava. Aqui era silencioso. Pessoas nos olhavam e cochichavam assustadas. Billy fez sinal para que esperássemos, indo conversar com outro homem que nos encarava profundamente, como se esperasse o momento de autorização para nos matar.

 

Parecia ansioso.

 

De repente ficou difícil respirar.

— Está tudo bem.- a voz suave de Oliver ao meu lado me fez fechar os olhos.- Eu não vou deixar nada acontecer com você, ok?- senti sua mão segurar em meu ombro, e ao abrir meus olhos novamente pude sentir por seu olhar que era verdade.

— Só estou nervosa.- forcei um sorriso. Encarei ao redor mais uma vez, notando que também haviam crianças.- Onde fica a droga?

— Embaixo da terra.- murmurou.

— Isso é loucura, Oliver.- fiquei indignada.- Olha essas pessoas, como que a polícia fecha os olhos para uma coisa dessas?

— Suspeito que eles tenham algum contato da polícia. Não podemos simplesmente acusá-los, precisamos de provas.- disse um pouco irritado.- Slade é esperto demais para deixar isso acontecer.

— Quem é Slade?- perguntei, seu olhar se tornou duro novamente, e encarou ao redor.

— Alguém que eu espero que você não conheça.

 

Seu tom fora um pouco hostil, o que me fez entender que seu relacionamento com esse tal de Slade também não era um dos melhores. Oliver não era bem visto aqui, era como se fossemos o centro das atenções em meio aquele mar de armas. Uns estavam mais perto e nos encaravam fixamente, outros mais ao fundo eram neutros, porém também nos encaravam.

— O que você fez pra ser tratado com tanta hostilidade?- sussurrei.- Malone parecia prestar a descarregar uma arma em você.

— Billy é um imbecil. Acha que pode fazer o que quer por trabalhar com Slade.- respondeu, revirando os olhos.- Uma vez tentou roubar uma pessoa na cidade.

— E você impediu.- afirmei. Claro que ele faria isso. Oliver parecia o tipo de cara que sempre se colocaria em perigo para proteger as pessoas.

 

Como estava fazendo agora, estando aqui comigo.

 

De repente me senti culpada.

— Ah, me desculpe. Se eu não tivesse aceitado seu convite nada disso estaria acontecendo.- balancei a cabeça. Ele estaria em casa, seguro, não com risco de ser baleado.

— Eu apareceria aqui de qualquer forma.- fiquei confusa.- No momento em que eu descobrisse que Billy trouxe você pra cá eu apareceria imediatamente. Não haveria escolha.

 

Nossos olhos se encontraram, e aquela sensação enigmática que nos rodeava desde o almoço apareceu. Era confuso, estranho e estava me deixando louca, mas naquele momento eu apenas sorri. Oliver fez o mesmo, sem deixar de me observar. Seus lábios se entreabriram, mas foram cortados pelo o chamado de Malone, nos tirando de nosso momento particular. Por um momento esqueci que estávamos aqui.

 

De volta a aterrorizante realidade.

 

Mas que maravilha.

— Pode vim.- um segundo homem ao seu lado, um pouco mais alto, cabelos escuros e jovem nos chamou. Demos um passo, quando Oliver foi barrado por Billy.

— Você não.

— Eu vou aonde ela for.- Billy trincou o maxilar, e Oliver simplesmente continuou, o ignorando.

 

Andamos até uma casa de madeira, onde estava mais vazio. O homem de expressões suaves e até mesmo um pouco amigáveis abriu a porta. 

— Já estava na hora Rory.- uma voz grave arrepiou minha nuca ressoou pela a sala.- Demoraram muito.

 

Avistei a figura da voz sinistra, que estava deitado em uma maca do lado esquerdo da sala. Ele deveria ter seus quarenta ou cinquenta anos, barba grisalha, aparentemente alto e forte. Seu rosto se virou para a porta, o que me fez dar um passo para trás. Ele usava um tapa-olho, e sua cicatriz( seja lá o que a causou) o atravessava como um risco. Embora estivesse com dor, suas expressões se fecharam assim que me viram.

— Cadê o doutor Lance? Eu pedi o doutor Lance!- gritou.

— Foi o Billy.- Rory deu de ombros.

— Ela é médica, os encontrei na estrada.- respondeu Malone, cruzando os braços.

— E o que ele está fazendo aqui? Sabe que não é bem-vindo em minha região Queen!- rosnou.- Sabe muito bem o que acontece com quem não segue minhas regras.- Oliver lançou um olhar indiferente.

— Como vai Slade.- cumprimentou.- Não muito bem, suponho.- seu tom fora irônico.- Acredito que seu sucessor irá ficar muito contente com isso.

— O que ele está fazendo aqui?- repetiu a pergunta, ignorando Oliver. O que me deu tempo de apertar seu braço, o repreendendo pela brincadeira. Slade estava nervoso, estávamos em uma área de risco, não era o momento para brigar com o chefe.

— Ela não viria sem ele.

 

Slade suspirou fundo e assentiu, voltando a se deitar. Me aproximei da maca, retirando panos brancos enrolados em sua coxa, e ao finalmente vê-la fiz careta.

 

Era um ferimento profundo.

 

E estava muito feio.

 

Não que fosse incomum, já havia cuidado de ferimentos a bala em meus tempos na emergência. Examinei um pouco o machucado, levantando um pouco sua perna, o que o fez gemer. Merda.

 

Era muito ruim.

 

Pelo menos a bala não estava ali.

— Aparentemente foi uma ponto 22.- me inclinei. Levantei a perna mais uma vez, concluindo o pensamento.- A bala atravessou.

— Entende de armas doutora?- perguntou Slade, com a voz arrastada.

— Um pouco, mas o bastante para saber quando alguém precisa ir a um hospital.- respondi.

— Todo ferimento a bala é notificado a polícia, se eu aparecer vão me prender.

— Está me ouvindo?- perguntei, irritada.- Você precisa ir a um hospital e fazer uma cirurgia. Não posso fazer nada disso aqui sem meus equipamentos. O sangue está jorrando...

— Rory, a leve ao estoque.- Slade me cortou.

— Por aqui moça.

— T-tá.- falei confusa. Peguei os panos novamente e os pressionei na perna de Slade.- Segure aqui.- pedi a Billy, que imediatamente tomou meu lugar.- Vamos.

 

Saímos da casa, atravessando o acampamento. Oliver estava ao meu lado, novamente em sua postura de tenente. Andamos até chegarmos em outra casa, onde Rory abriu a porta e se virou para nós.

— Sejam rápidos.

 

Assim que entrei entreabri os lábios, chocada. Haviam muitas coisas ali, divididas em prateleiras, desde luvas cirúrgicas a seringas, a antibióticos e remédios que só poderiam ser usados em caso de ferimentos graves, como esse. 

— Como eles conseguiram tudo isso?- perguntei a Oliver.

— Quentin deve deixar o que pode quando vem aqui.- respondeu.

 

Sua explicação me fez pensar no doutor Lance novamente. Ele poderia ser, sem sombra de dúvidas, uma das pessoas mais irritantes no planeta Terra, mas esse seu lado bom, caridoso, se arriscando em vir aqui na toca dos leões para cuidar de pessoas me fazia vê-lo de outra forma.

 

Queria que nossa relação fosse diferente.

 

Eu tenho muito o que aprender com ele.

 

Peguei uma cesta e recolhi tudo o que precisava. Oliver me ajudou a pegar um medicamento na prateleira mais alta, e quando me entregou, segurou em minha mão.

— O quão grave é a situação de Slade, Felicity?- me encolhi.- Preciso saber, para que caso alguma coisa dê errado eu tenha um plano B de nos tirar daqui.- assenti, ele estava certo.

— Me surpreende ele estar vivo.- cochichei.- Ele está perdendo muito sangue, a bala pode ter afetado um nervo ou uma artéria. Mesmo que eu consiga parar o sangramento, os equipamentos aqui não são o suficiente. Eu…- respirei fundo.- Não sei se vou conseguir salvá-lo.

— Faça o que puder. E depois vamos embora- assenti. Sua mão tocou meu ombro.- Vamos sair daqui, eu prometo pra você.

— Eu realmente espero. Espero mesmo.

 

Voltamos ao lado de fora, onde Rory nos aguardava. Os acompanhamos em silêncio, até que decidi olhar para os lados e encontrar uma garota jovem, devia ter no máximo seus dezoito anos, com uma barriga enorme. Nossos olhares se encontraram, e em questão de segundos, pude sentir que ela queria minha ajuda. Dei um passo para o lado, mas ela se afastou, assustada, se distanciando de nós, mas antes disso, notei que Rory a observava. A mesma sorriu em sua direção, e balançou a cabeça negativamente. O ouvi dar um suspiro pesado e continuar a caminhar, agora com a cabeça virada para frente.

 Billy pareceu aliviado ao me ver, principalmente por soltar os panos e se afastar com uma feição enjoada. Slade me encarou profundamente, me fazendo prender a respiração.

— Minha vida está em suas mãos.

— E aparentemente a minha está nas suas também.- meu comentário o fez sorrir.

— Não irá lhe acontecer nada, se eu viver.- garantiu.- A ordem é clara.

— Oliver também está nessa sua espécie de medida protetiva?- seu rosto se fechou.

— Foi suicidio ele decidir aparecer.

— Se algo o acontecer, eu não faço nada.- falei firme.- Nós dois temos que ficar bem.

 

Slade me analisou com o rosto impassível. Eu não sabia com quem estava lidando. Sabia que era o chefe, mas o quão perigoso era e as coisas que havia feito era um mistério pra mim. No entanto, aqui estava eu, negociando minha vida e a de Oliver com um criminoso, que parecia decidir se levaria minha oferta a sério ou se meteria uma arma na minha cabeça. Tentei demonstrar confiança, retribuindo seu olhar. Slade assentiu.

— Você é corajosa.- comentou.- Está bem. Ninguém toca nos dois, deem a ordem.- Billy bufou.- Algum problema em como dirijo minhas coisas Malone?

— Nenhuma senhor.- se apressou em dizer.

— Ótimo. E você.- apontou para mim.- Comece agora.

— Vamos lá.

 

***

A noite não tardou a aparecer, e com ela, mais problemas. Além da temperatura ter caído drasticamente( embora a casa fosse quente, a cada momento em que a porta era aberta a brisa congelante se apoderava de nós) a situação de Slade não estava melhorando. Não havia hipótese alguma de eu operá-lo, especialmente porque isso também poderia matá-lo. Ele estava ficando mais fraco, falava pouco, e eu julgava que em algumas horas estaria inconsciente. Sentia seu corpo quente e suado, em estado febril por conta do ferimento, algo que eu consegui cuidar. Mas o restante....

 

O restante simplesmente não cooperava.

 

Eu estava começando a ficar apavorada.

 

Não que eu demonstrasse. Em meus anos como médica, aprendi que manter a concentração e transmitir serenidade em momentos conturbados eram essenciais. Oliver permaneceu ao meu lado, me ajudando com tudo o que podia. Nesse momento, o mesmo apertava o torniquete, mas ao folgá-lo um pouco, mais sangue jorrou. Respirei fundo.

 

Precisava pensar em alguma coisa.

— E então?- perguntou Rory, que estava sentado, assim como Billy, em uma poltrona à nossa frente.

— Se deixarmos o torniquete por mais de duas horas vai cortar a circulação.

— Então por que não costura?- sugeriu Billy, entediado.

— Não dá. Primeiramente, eu não tenho os equipamentos necessários para isso. Ele poderia pegar uma infecção e…

— Morrer.- completou como se não fosse nada. Billy retirou sua pistola da cintura, e a limpou com sua blusa, distraído.- Se não fizer nada ele morre, se fizer ele também morre…- seu olhar se ergueu até mim, irônico.- Mas que tipo de médica incompetente é você, afinal?- o olhei irritada. Ele estava tentando me provocar, não iria cair nessa.

— Ela tem feito mais que você.- o comentário de Oliver o fez trincar o maxilar.- Ficar sentado o vendo morrer parece um programa satisfatório pra você, não é Billy?

— O que disse?

— Cala a boca e os deixe trabalhar.- Rory interrompeu.- Pense em uma solução doutora.

 

O agradeci pelo o olhar, e o vi, de forma discreta, me lançar um sorriso de canto. Rory poderia trabalhar para Slade, mas era sem sombra de dúvidas, uma das pessoas mais humanas daqui. Voltei a focar no problema, agora estampado em minha cara. Se algo ocorresse com Slade…

 

Precisava falar a verdade a Oliver.

 

Me aproximei, fingindo ver alguma coisa no torniquete, e me inclinei.

— Ele não vai sobreviver se perder mais sangue.- sussurrei. Oliver fingiu bem, se mantendo concentrado.

— O hospital…

— Ele não vai ter esse tempo.- suspirei.- Não sei se consigo fazer isso.

— Consegue sim.- seu olhar encontrou o meu.- É, sem sombra de dúvidas, uma das pessoas mais capacitadas que já conheci. Vai encontrar uma forma. Só pense.

 

Sorri com seu comentário. Era visível que nós dois estávamos tramando algo, pois ao olhar para o lado, Rory e Billy tinham os olhos fixos em nós dois. Notei também, uma faca jogada em uma pequena mesinha, o que me deu uma ideia.

— Pensei em algo.- cochichei.- Mas é muito cruel.

— Vai o manter vivo?- assenti.- Então temos uma opção.

— O que vocês tanto falam aí?- perguntou Billy, irritado.

— Pegue a faca.- indiquei o ponto.- Oliver caminhou até lá.- E a aqueça no fogão.

 

O mesmo obedeceu imediatamente, enquanto eu retirava o torniquete. Limpei um pouco do sangue, mas ao tocar na ferida, Slade gemeu alto, a erguendo por reflexo.

— Vocês dois? Aqui agora. Imobilizem a perna.

— O que vai fazer?- perguntou Rory.

— Oliver? Solução salina e álcool para esterilizar.- ignorei sua pergunta. Não havia tempo, depois eu explicaria.

— Entendido

 

Após alguns minutos, Oliver se juntou a nós. Billy arregalou os olhos ao ver o ferro quente e me encarou, chocado.

— Vai queimar ele?

— É isso ou nada. Alguma sugestão?- nenhum dos três respondeu.- Ótimo. Agora o segurem firme. Oliver? No três você derrama o álcool. 1...2...3!

 

O líquido foi derramado, e no momento seguinte encostei a faca. Slade soltou um grito agudo e se contorceu de dor, mas os braços dos rapazes o manteve parado. Ficamos assim por um tempo, até que finalmente retirei o ferro, respirando aliviada. O sangramento havia parado.

 

Menos um problema.

— Por que ele não está se mexendo?- perguntou Billy.

— Ele perdeu sangue, e a dor que sentiu foi imensurável, é normal desmaiar em casos assim.- respondi, limpando o ferimento. Billy sorriu.

— Ele está morrendo, não está?- perguntou, sacando sua arma.- Vocês dois acham que somos idiotas?

— Abaixa isso Malone.- falou Oliver.- Ela está fazendo o possível…

— Eu acho que vocês estão tramando alguma coisa. Os cochichos....Não me agrada.- continuou. Prendi a respiração ao vê-lo engatilhar a arma e a apontar para mim.

— Tira essa porcaria dela, agora.- o tom de Oliver foi autoritário, o que o fez sorrir.

— Gosta dela, não é?- se virou para Olver.- Seria uma pena ver um rostinho tão jovem caído no chão…- seu comentário fez Oliver fechar as mãos em punho, e o encarar friamente.- Mas aparentemente não são mais úteis. Não sabemos se ele vai acordar.

— Você ouviu o que eu falei? Isso é completamente normal…- engoli em seco com sua proximidade.

— Sua vida pela a dele, esse era o trato.

— Ele ainda está vivo.- respondi, encarando profundamente seus olhos. Não havia nenhum resquício de tristeza ali, ele parecia sentir prazer em dizer que Slade estava morto.- Ao menos que você o mate. 

 

Minha acusação não o abalou, o que me fez ter mais certeza ainda da verdade. Slade estava inconsciente e com isso, Malone aparentemente tinha o total controle. Se ele morresse…

 

Se ele morresse não teria que seguir mais regras.

 

Ele faria as regras.

 

Senti minha espinha gelar.

 

Aquilo, sem sombra de dúvidas, não estava sob meu controle. Eu poderia salvar Slade, mas isso não garantia que ele ficaria vivo, ainda mais com Billy por perto. Dei um passo para trás, assustada. Aquilo era um crime de ódio, e eu e Oliver éramos os primeiros de sua lista.

—  Você é linda.- tocou meu rosto. Fechei os olhos em repulsa.- Uma pena. Realmente uma…

— Eu disse pra tirar essa porcaria dela.

 

E então aconteceu.

 

Em um momento Billy me tinha nas mãos, e no outro fora arremessado contra o chão. Ambos se enfrentaram em uma luta corporal, onde Oliver, ao meu ver, tinha mais vantagem. Ele era rápido, forte, sabendo exatamente quando e como aplicar cada golpe.

 

Parecia imponente.

 

E Billy, bom, Billy se esforçava para sair do chão. Rory os interrompeu, pedindo que Oliver se afastasse. O mesmo deu as costas, e Malone, como um covarde, pegou sua arma. Oliver estava completamente em sua mira, indefeso, e naquele segundo, eu senti a pior sensação do mundo. Era como perder alguém, e o mais irônico era que isso novamente era por minha causa. Fiquei sem ar e soltei um grito, que chamou a atenção de Rory. Seu braço imediatamente fora ao de Malone, o empurrando para o lado, não rápido o bastante para não atingir Oliver. O disparo foi feito, e ecoou no fundo de minha alma.

 

Aquilo não podia ter acontecido.

 

Não podia.

 

Um nó se formou em minha garganta, assim como a queimação em meus olhos. Corri desesperada até ele, que levou sua mão à cintura do lado esquerdo, onde sangrava. O toquei com as mãos trêmulas, rezando para que não fosse nada grave.

 

Eu não podia perdê-lo também

 

Não podia…

 

Tentei controlar meus pensamentos, assim como minha respiração. Ele precisava de mim, e eu faria o impossível para não deixá-lo morrer.

— Eu preciso que você se sente.- falei com a voz falhada.- Eu…- reprimi um soluço.- Você vai ficar bem. eu prometo. Só tenho que…

— Felicity.

— Eu não consigo nem fazer a merda uma cirurgia aqui.- sorri, desesperada. Apertando o cabelo.- Mas vou conseguir. Você não pode…

— Lis.- sua voz calma, e tão íntima teve o poder de me calar. Seu olhar apontou para baixo, onde levantou um pouco a blusa.- Raspão. Está tudo bem.

 

Me abaixei, indo verificar para ter certeza. Claro que estava sangrando, o corte estava bem aberto, nada que uma agulha não resolvesse. Mas a bala não estava ali. Respirei fundo, e instintivamente o abracei, fechando os olhos.

 

Oliver estava bem.

 

Não fora nada grave.

 

Seus braços me apertaram, firmes e fortes, me prendendo a si. Ouvir seu coração, assim como a respiração quente que batia em meu pescoço me tranquilizou, e naquele momento, aquelas duas coisas se tornaram as mais importantes para mim. Me afastei, somente para encará-lo e logo em seguida ver as duas figuras masculinas, que discutiam.

— Perdeu a cabeça?- Rory gritou.- Se ela morrer e Slade acordar estamos fudidos. Tem ideia disso?

— Ele…

—Ele está vivo, você querendo ou não.- Malone fechou a cara.- Não é surpresa que você deseje a morte dele. Está cansado de trabalhos imbecis.

— Você e sua garotinha teriam muito mais privilégios com a morte dele do que eu.- seu comentário, bem planejado por sinal, tirou a confiança de Rory.- Poderia viver o seu felizes para sempre.

—Escuta aqui.- o puxou pela gola. Seu olhar assassino, misturados a postura descontrolada deixava claro que, o que fosse dizer, não era um comentário brando.- Slade me deixou no comando, então enquanto ele estiver ali- apontou para a maca- você segue as minhas regras. E caso ocorra algo com Slade, sabe muito bem que está na minha lista.- seu rosto se fechou.- Mas Slade está vivo, e as regras são: os dois vivem e cuidam dele, e você vai respeitar isso.- o cortou.- Porque senão, quando ele acordar, eu vou fazer questão de contar detalhadamente o quão leal você foi.- pela primeira vez vi medo nos olhos de Billy.- Sabe como Slade lida com traidores, Jackson é um exemplo claro e recente, e não ache que ele vai ser misericordioso.- um sorriso assombroso tomou conta de seus lábios.- É chamado de Exterminador por um motivo.

 

Um silêncio carregado se fez presente, onde a única coisa que eu ouvia era minha própria respiração e a de Oliver, que segurava minha mão. Rory largou Billy, ainda com o rosto mortificado e deu sinal para que Malone saísse. O mesmo não pensou duas vezes. Seu olhar nos encontrou, e Oliver, por reflexo, me trouxe para perto, com o braço contornando minha cintura. As coisas estavam confusas agora, e após essa quase morte, não sabia em quem podemos confiar.

— Não vou machucá-los.- explicou. Seu rosto se suavizou.- Podem confiar em mim.

— Confiar nos homens de Slade não me parece algo viável.- rebateu Oliver, o analisando. Rory suspirou.

— Ele salvou sua vida, eu vi.- nossos olhares se encontraram.- Mas isso não significa que esteja do nosso lado.

— Não sou tão ruim quanto pareço, mas isso não vem ao caso.- deu de ombros.- É muito conhecido aqui, Queen. Slade tem um ódio admirável por você, mas o mais interessante de tudo, ele ainda sim, o respeita.- Rory o encarou, fascinado.- Gostaria de saber o porquê.

— Águas passadas.- foi tudo o que respondeu.- O que disse foi verdade? Sobre nós?

— Tem minha palavra.-  assegurou.- Desde que Slade viva.- Oliver sorriu.

— Muito conveniente.- seus olhos se semicerraram.- Claramente você não daria essa ordem, é notável quando um homem tem um olhar assassino, o que me faz perguntar, como uma pessoa jovem como você veio parar aqui.- foi a vez de Rory sorrir.

— Águas passadas.- repetiu sua frase, com diversão. Ambos pareciam estar construindo uma espécie de amizade estranha.- Sobre Slade, infelizmente terão que passar a noite aqui.- suspirei, o pesadelo não acabava.

— Vou terminar de limpar os ferimentos então. E você.- Encarei Oliver, séria.- Sentado no sofá, cuido de você depois.

— Sim senhora.- bateu continência. Rory sorriu.

— São um belo casal, a propósito.- arregalei os olhos, sem graça. Olhei para Oliver novamente, que apenas sorriu, parecendo satisfeito com seu comentário.

— A beleza é toda dela como pode ver.- Seu olhar continuava preso ao meu, e um sorriso discreto se formou em seus lábios, o qual eu retribui com carinho, e o coração acelerado.

— Bobo.

 

Balancei a cabeça divertida, me concentrando em cuidar do machucado de Slade. O mesmo parecia bem, a febre e o suor haviam sumido, e pela a primeira vez no dia, eu vi esperança.

 

Estávamos conseguindo.

 

Iamos salvá-lo

 

E pelos últimos acontecimentos, eu até me ajoelharia para que isso ocorresse.

 

***

 

Peguei o pequeno kit e preparei os utensílios para cuidar do pequeno ferimento de Oliver. Após cuidar de Slade, que dormia tranquilamente, com Rory ao seu lado, eu e Oliver fomos colocados para o lado de fora, em gesto claro de vigilância. Um sofá fora colocado em frente a casa de madeira onde estávamos poucos momentos atrás, e uma fogueira fora acesa. Estava frio, muito frio, tanto que dava para perceber que os homens pertos de nós, encostados às árvores, estavam conversando pelas fumaças que soltavam a cada momento em que abriam os lábios. Pontos brancos começaram a cair do céu escuro, em pequenos flocos, se espalhando ao nosso redor. A neve era fina, mas eu acreditava que até amanhã de manhã já teria formado um tapete branco por toda a floresta.

 Não falei muito com Oliver desde o pequeno incidente. Ele estava sentado, me aguardando pacientemente. Não que eu estivesse chateada com ele, suas intenções eram nobres. Malone parecia disposto a realmente me machucar, mas mesmo assim…

 

Mesmo assim ele havia se colocado em perigo.

 

Em um gesto imprudente.

 

E isso me irritou.

 

Eu não sabia como Oliver resolvia esse tipo de coisa em seu tempo de campo, mas hoje as coisas foram longe demais. Era como ter voltado ao passado, onde eu estava com Ray, e juntos discutíamos, e por minha culpa… Engoli em seco, fechando os olhos. Eu até podia ouvir seu grito desesperado.

 

“Felicity!”

 

Fechei os olhos, tentando me controlar. Não queria me sentir culpada, mas às vezes, tudo o que me restava era culpa e remorso.

 

Não queria me sentir assim com Oliver também. 

— Você está chateada.- comentou quando me aproximei. Não respondi.- Lis…

— O que estava pensando?- perguntei, deixando finalmente minha fúria sair.- Lutar com um homem armado, em um lugar onde claramente não somos bem-vindos!

— Ele ia machucar você, não tinha escolha.- revirei os olhos.

— O que você fez foi imprudente Oliver, e por minha culpa levou um tiro. Sabe como eu me sentir?- o encarei, sentindo meus olhos marejarem.- Já perdi pessoas importantes por minha causa, e ver você hoje se atirando para a morte como se não fosse nada me lembrou isso.- seus olhos me observavam atentos, com os lábios entreabertos.- Então sim, eu estou chateada, porque por um segundo achei que perderia você também.

 

 Abaixei o olhar, me sentando ao seu lado. No momento em que minhas mãos tocaram sua blusa o mesmo as segurou, me fazendo encará-lo novamente. Seu lábios se entreabriram, incertos.

— Me desculpe.- pediu sincero.- Não queria que se sentisse assim.

— Tudo bem, contando que não faça de novo.- sorri de canto.- Sei que é do seu feitio se arriscar e salvar todos, mas enquanto estivermos aqui, me prometa que por mais forte que seja o desejo que quebrar a cara de Billy, você vai se controlar.

— Eu prometo.- assegurou. Seu tom fora claro, firme e sem brincadeiras. Sorri comigo mesma, essa deveria ser sua voz ao fazer um acordo em sua época de tenente. Oliver me olhava curioso quando assenti, satisfeita.

— Ótimo. Agora eu preciso que você tire a roupa.- suas sobrancelhas arquearam, divertidas.

— Como você é direta.- minhas bochechas queimaram por sua provocação.- Achei que fosse mais carinhosa.

— Não deveria me provocar. Sou a mulher que vai limpar um ferimento seu. Posso complicar as coisas.- o encarei, desafiante. Oliver sorriu, e levou o dedo indicador aos lábios, em sinal de silêncio.

— Não falarei mais nada.

 

Coloquei as luvas, e pedi para que erguesse a blusa. A bala havia atingido a pele um pouco mais acima quando passou, o que me fez pedir para que levantasse um pouco mais os panos. Meu pedido fez Oliver hesitar por um momento. Seus olhos estavam diferentes, pareciam preocupados com alguma coisa, e ao mesmo tempo, incomodados. Não entendi sua mudança de humor, estávamos tão bem, o que poderia...Me calei por um instante. Oliver puxou a blusa, e olhava para um ponto atrás de mim,  completamente petrificado, enquanto eu….

 

Eu não sabia ao certo o que dizer.

 

Oliver era um homem forte, como eu já havia imaginado. Seu corpo era bem definido, carregado por músculos. No entanto, o abdômen continha algo a mais. Suas cicatrizes se diversificavam de tamanho. Algumas do lado esquerdo, outras do direito, cortavam sua pele em linhas retas, que se recusaram a sair. Havia uma maior, também em sinal de risco, que se destacava dentre as demais. Engoli em seco.

 

Ele havia passado por muita coisa.

 

Sofrido muita coisa.

 

E apesar de tudo, se negava em desistir. Era claro que ele não queria falar sobre isso, acredito que explicá-las para mim o faria voltar a cada um desses momentos horrorosos, então não falei nada, apenas me concentrei no que eu tinha que fazer. Foi difícil não olhá-lo com outros olhos, não nojo ou agonia pelos machucados, mas compaixão e uma certa admiração. Ele era uma pessoa tão boa.

 

Com um passado terrível.

 

Mas mesmo assim se tornou alguém bom.

 

Eram poucas as pessoas que tinham esse feitio. Novamente Oliver Queen me surpreendia.

 

Fiz o curativo e dei sinal para que abaixasse a blusa. Oliver o fez imediatamente, ainda sem me olhar. Ele parecia terrivelmente angustiado, e em um gesto de solidariedade com uma ideia idiota, puxei a manga de minha blusa, deixando exposto meu pulso. Não se comparavam às dele, mas acho que o faria ver a situação de uma forma mais simples e leve.

— Eu também tenho uma. Dois parafusos e uma placa.- Oliver a olhou com atenção, segurando meu braço e passando o polegar por cima da cicatriz quase apagada.

— Você estava surfando ou andando na neve?- perguntou, sorri, balançando a cabeça.

— Um drogado veio pra cima de mim na emergência com um canivete. Precisamos de três seguranças para tirá-lo de cima de mim.- dei de ombros. Oliver entreabriu os lábios, surpreso.

— Eu...eu ia falar isso, era minha próxima opção.- soltei um riso baixo, que o contagiou.- É muito corajosa depois disso ter voltado a trabalhar.- suspirei.

— Medicina é a minha vida- sorri nostálgica.- Claro que os primeiros anos foram horríveis, mas depois... Eu me sinto viva fazendo isso, sabe?- o encarei. Oliver assentiu, como se realmente me entendesse.

— Sua mãe deve ter ficado orgulhosa.- seu comentário, embora inocente, não podia ter me atingido mais. Eu já havia aceitado, havia muito tempo, mas mesmo assim não havia um dia que eu não sentisse falta dela.

— Ela não viu, infelizmente. Morreu quando eu tinha 11 anos de uma doença grave.- Oliver apertou minha mão.- Foi a partir dali que eu decidi que era isso o que eu queria, salvar pessoas, para evitar que outras famílias sentissem o que eu senti.

— É muito bonita sua ação.- comentou em tom suave e caloroso, encontrei seus olhos, agora mais tranquilos, longe daquele mar tormentoso.- Bom, quando entrei pro exército não fora por motivos tão nobres.

— Todos os seres humanos estão fadados a pelo menos uma vez caírem nas tentações dos pecados capitais, não se sinta envergonhado em compartilhar.- falei com humor, tentando deixar o clima leve, o que pareceu funcionar. Oliver sorriu mais uma vez.

— É, talvez.- sorri.- Bom, quando entrei era pra na realidade, fugir dos problemas. Em casa estava uma porcaria, Thea era nova, e minha mãe estava cada vez mais focada na empresa família…- revirou os olhos.- Quando meu pai morreu foi uma loucura.

— Sinto muito.- falei solidária.

— Tudo bem.- sorriu tristemente.- Todos nós procuramos uma forma de aliviar a dor, não é? De fugir dela.

— É.- concordei, um pouco aérea com sua última frase.- Isso é errado? Querer um pouco de paz?- perguntei, um pouco desesperada. Não que eu estivesse fugindo, ás vezes sentia que sim, e pelos os comentários sobre mim, era como se eu estivesse cometendo um crime.- Querer tentar recomeçar, mesmo que seja longe de casa?- me concentrei nos olhos azuis de Oliver, que refletiam as chamas perto de nós. Ele me olhava tão atentamente, como se pudesse realmente entender o significado de minhas palavras…

 

Como se já tivesse passado por isso.

 

E por um minuto, eu acreditei que sim.

— Não é errado querer viver Felicity.- disse devagar, com dificuldade.- Mesmo que seja longe de onde viemos. Lar, não necessariamente é onde nascemos, mas sim onde nos sentimos bem, seguros, onde somos livres e podemos ser nós mesmos. E se isso for errado- sorriu sarcástico- mais uma vez eu questiono o que é justiça e o que não é.

 

Sua frase me deixou reflexiva, perdida em meus próprios pensamentos. Viver, tão fácil dizer…

 

E tão díficil de se fazer.

 

Houveram dias que eu sequer queria abrir os olhos.

 

Perder o meu filho fora um golpe muito baixo pra mim, e tudo o que eu pude fazer, por quase quatro meses, era ficar deitada em uma cama, vendo o tempo passar, anestesiada. Ainda viva,

 

e ao mesmo tempo não.

 

Eu ainda sentia aquela dor, mas não queria sentir sozinha, eu precisava falar.

 

Ou iria enlouquecer, como Tommy disse.

 

Encarei Oliver novamente, sentindo meus olhos marejarem. Era claro que ele havia notado minha mudança, sua postura era ereta, o semblante preocupado, e sua mão apertava a minha, como se tivesse o poder de tirar o que fosse que eu estava sentindo. Reuni coragem, e em uma voz trêmula disse:

— Preciso te contar uma coisa, porque se não eu…- engoli em seco, Oliver assentiu, me dando espaço.- Lembra aquele dia em sua casa, em que você me encontrou chorando no banheiro?

— Lembro.- sua afirmação transmitia dor, como se não gostasse da lembrança.- Tem certeza que quer conversar sobre isso?

— Eu preciso.- sorri fraca.- Eu amo crianças, sabe? Amo mesmo.- Oliver sorriu, tentando me acompanhar.- Quando me casei esse foi o primeiro pensamento, “um filho”.- revirei os olhos.- Claro que não tentamos de primeira, ambos médicos, é muito complicado conciliar tempo e família.- fiz uma pausa. Minha boca parecia seca, sem forças, mas eu precisava...Oliver se aproximou um pouco mais, sem largar minha mão. Seu apoio me deu coragem.- Mas então, depois de um tempo,eu engravidei. Um menino, Lucas.

—É um nome muito bonito.- lágrimas grossas escorriam por minha bochecha, quentes comparadas ao frio.

— É.- minha voz falhou. Fechei os olhos.- Eu fiquei daquele jeito em sua casa porque Lyla me contou as maravilhas de ser mãe, e quando eu olhei pra Sara…- solucei.- Eu perdi meu filho, Oliver. Mesmo eu e Ray sendo médicos, mesmo fazendo tudo direitinho...Eu falhei.

 

Seus braços me envolveram, me mantendo apertada a si. Eu sentia meu corpo tremer, e embora eu tentasse controlar os soluços, eles não poderiam ser mais audíveis. Era tanta dor, tanta coisa guardada há tanto tempo comigo, esse peso…

 

Eu me senti livre pela primeira vez, sem julgamentos ou comentários maldosos.

 

Senti como se eu estivesse em um lar.

 

Oliver me balançava, e falava palavras doces. Eu estava totalmente agarrada a ele, e continuaria, pois se eu soltasse, acho que não aguentaria passar por isso.

 

E eu só queria que passasse.

 

Queria poder estar bem de novo.

 

Aos poucos minha respiração se acalmou, assim como a tremedeira, e a mente, sempre tão perturbada, pareceu dar uma trégua. Ergui a cabeça, apoiada em seu peito, e o encarei. Seus olhos me encontraram imediatamente, gentis, preocupados e cheios de compaixão. Manteve seu braço em minha cintura, e com o outro, levou sua mão até meu rosto, onde desenhou meu queixo com o polegar, o deslizando por minha pele. 

 

Aquilo foi bom.

 

Reconfortante.

 

E carinhoso.

— Não foi sua culpa o que aconteceu.- sussurrou.- Não pode se culpar.

— Eu sou da área, Oliver. Deveria ter feito mais exames. Poderia…- seu dedo indicador ficou entre meus lábios.

— Não foi sua culpa.- repetiu, firme.- Nem de seu ex marido. Foi uma fatalidade. Não havia como prever.

— Houveram dias que eu só queria morrer.- o aperto em minha cintura aumentou.- Eu não quero mais isso. Quero viver, não sobreviver.

— Você vai, e se precisar de apoio eu estou aqui.- assenti.- Sei como é essa sensação. Ser nosso próprio inimigo, é aterrorizante.- fez uma careta, em sinal de repúdio.- Mas você vai vencer, já está vencendo. É muito, muitoenfatizou- corajosa. E forte. Mesmo sendo irritante.

— Até onde eu saiba essa é a sua melhor especialidade.- Soltamos um riso baixo, o qual teve o poder de me deixar boba por alguns minutos. Estremeci com uma brisa mais forte.

— Deixa eu pegar o lençol.

 

Me afastei, sentindo imediatamente sua falta. Não estava tão longe, Rory o deixou perto de nós, já que passaríamos a noite a céu aberto. Ele era um bom rapaz, perdido, como todos nós, mas ainda sim continha bondade. Oliver retornou, se sentando ao meu lado. Jogou o lençol por cima, e eu rapidamente me aconcheguei nele mais uma vez, deitando minha cabeça em seu peito. Oliver me abraçou, e com a mão livre segurou a minha, brincando com nossos dedos. Permanecemos naquele silêncio gostoso por longos segundos, até que eu finalmente o encarei. Tentei a todo custo controlar minha curiosidade, que devia estar explícita, já que Oliver arqueou as sobrancelhas.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Todas que quiser.- sorriu de canto.

— Como conseguiu suas cicatrizes?

 

Oliver aparentemente já aguardava que eu fizesse esse tipo de pergunta. Suspirou fundo, escolhendo, ao meu ver, o que contaria ou não.

 

Esperei ansiosa.

— As do lado esquerdo foram em uma missão. John estava comigo, caímos no grupo inimigo e eles me torturaram para obter respostas.

— Doeu muito?- minha pergunta poderia soar boba, mas saber que Oliver havia sofrido dor não me agradava nem um pouco, ao contrário, me dava vontade de protegê-lo dessas coisas.

— Um pouquinho.- sorriu divertido, encarando meus olhos.- Não se preocupe, é passado. Agora eu estou aqui com você.

— Com um ferimento na cintura, mas que karma Oliver.- brinquei, o deixando mais leve. Oliver riu abertamente, chamando a atenção de dois guardas da floresta, que nos encararam aborrecidos.

— Desculpe.- pediu, tentando ficar sério.- É que você é...É tão única, com frases tão suas.

— Isso é um elogio?

— É sim.- sorriu, me encarando profundamente.- Pode acreditar.

— Hum.- fingi desconfiança, mas na realidade eu estava derretida.- As do lado esquerdo foram de onde?

— Afeganistão.- o olhei chocada.- E umas do direito foram em Kandahar

— E a maior? Também do lado direito.- seu semblante perdeu o brilho, e por minutos Oliver não disse uma palavra. Apertei sua mão, tentando lhe dizer que estava tudo bem.

— Lian Yu.- foi tudo o que respondeu, encarando a fogueira.

—Lian Yu.- repeti,  notando que aquele local em particular era diferente dos outros mencionados. Por seu tom, Oliver ainda não estava preparado para falar dele.- Não queria ser intrometida. Se um dia quiser…

— Não foi intrometida.- me corrigiu, voltando a me encarar. Seu tom fora um pouco brusco, mas ele não parecia irritado comigo, mas sim consigo mesmo.- Me desculpe.- pediu.- É que...Esse lugar...Céus, como eu posso explicar?- murmurou angustiado

— Não precisa explicar, somente se quiser.- sorri.- Todos nós temos fantasmas Ollie, e no momento certo, vamos enfrentá-los. Se não está pronto agora tudo bem. Mas quando tiver, e se quiser— enfatizei- pode falar comigo.

 

Oliver me analisou. Seus olhos percorriam minha pele, e o semblante tenso e mortificado, voltara a sua calma costumeira. O vi sorrir, e balançar a cabeça.

— Se decidiu? Vai me chamar de Ollie agora?- perguntou. Sorri travessa.

— Talvez sim, tenente.- o provoquei.

— Lis.- disse meu apelido com certo prazer.- Lhe cai bem.

— Obrigada por me ouvir. Eu...Eu não costumo falar disso pra ninguém.- disse sincera. Oliver levantou minha mão e beijou a ponta de meus dedos, exatamente como fez em sua casa.

— Eu também não.- seu sorriso me encantou.- Pra algumas pessoas essas marcas são um completo mistério.

— Obrigada por confiá-las a mim então.

— Obrigado por confiar seu mistério a mim também.

 

Nossos olhos se cruzaram, e por minutos tudo o que eu queria fazer era observá-lo. Desde o brilho no olhar até o sorriso maravilhoso, deixando seus lábios um pouco abertos. Eles pareciam macios, quentes.

 

Me imaginei os beijando.

 

Deveria ser bom.

 

Muito bom.

 

Mas eu não podia, ou melhor, não deveria, especialmente pela situação tão delicada em que nos encontrávamos. Mas era algo incontrolável, um desejo devasso, que sussurrava em minha alma para que fosse atendido.

 

Eu queria beijar Oliver.

 

Já sabia disso há muito tempo.

 

Mas nunca havia deixado esse sentimento ficar tão evidente.

 

Eu o encarava abertamente, e sabia disso. Meu corpo oscilou, pendendo para frente, querendo contato. Estávamos próximos o suficiente para eu sentir sua respiração, mas ainda sim…

 

Ainda sim era longe demais.

 

Eu o queria mais perto.

 

E inferno, como eu o queria perto.

 

Ergui a cabeça, a procura de lucidez, mas tudo o que encontrei foi desejo. Seu olhar oscilava entre meus olhos e minha boca, completamente tentado a se aproximar, e ao mesmo tempo, tentava permanecer longe. Suspirei, me aproximando um pouco mais, encostando nossos narizes. Oliver soltou um suspiro, deleitado. O vi engolir em seco, e tentar conter sua mão que se ergueu, tocando meu resto, hesitante. Era doce, era eletrizante.

Era bom.

Me prepara para me aproximar ainda mais, quando sua voz rouca me alertou.

— É melhor dormir Felicity.- Oliver fechou os olhos com força, tentando permanecer sã. Mais controlado, virou o rosto para o lado oposto, nos tirando daquela bolha energética e doce.

 

Recuperei a consciência.

 

Ele estava certo. Não seria bom fazer isso acontecer, em especial hoje, onde estávamos tão vulneráveis. Me dei por vencida e deitei em seu peito, fechando os olhos.

— Vai dormir?- sussurrei.

— Não. Estou trabalhando.- respondeu. Um pequeno gemido o escapou, e o senti mexer as pernas, o que me lembrou de uma coisa.

— Tem alguns analgésicos na malinha.- indiquei  o ponto ao nosso lado.- Caso suas dores comecem, pegue um.

 

Passou um tempo até ele responder.

— Obrigado.- sua voz saiu estranha, soava grata, e ao mesmo tempo emocionada. Não soube o porquê, estava cansada, e meus olhos pendiam. Aquele mistério ficaria para outro dia.

— Boa noite Oliver.

— Boa noite Lis.

 

***

 

Eu nem percebi quando dormi.

 

Não que fosse difícil, Oliver era um ótimo travesseiro, e acredito que após todo o estresse do dia, meu corpo pode finalmente ter um momento de paz. Abri os olhos devagar, me habituando à claridade. Era branca, com troncos marrons que se espalhavam por toda parte. Sorri.

 

Realmente havia nevado.

 

Estranhei que meu cabelo estivesse seco. Pelo o horário em que dormi, era claro que deveria ter secado. Abaixei o olhar, notando que estava completamente seca, e ao virar o rosto, e encontrar Oliver em pé balancei a cabeça, descrente.

 

Era claro que ele havia colocado todo o lençol em mim.

 

Fofo, mas se não estivéssemos em um ambiente com temperaturas negativas era aceitável, o que claro, não era. Oliver sofria muitas dores por sequelas de guerra, e se atirar a um mar gelado em plena madrugada não parecia o jeito certo de aliviar. Me levantei, ainda sonolenta, mas consciente o bastante para o dar uma bronca. Seu sorriso divertido se desmanchou, já sabendo o que o aguardava.

— Bom dia?- tentou mudar de assunto.

— Queen.- uma ruga surgiu entre suas sobrancelhas.

— Ela me chamou de Queen, estou ferrado.- brincou.- O que eu fiz?

— Você sabe o que fez.- me aproximei.- Ficou doido? As temperaturas estavam baixíssimas. Ficar descoberto só pioraria sua situação.

— Eu tomei um dos analgésicos se isso a faz se sentir melhor.- sorriu amarelo. Bufei.- Você estava tremendo de frio. O que eu poderia fazer?- perguntou.- Sou treinado pra aguentar esse tipo de situação, você não.

— Isso…- ergui o dedo em riste. Oliver ergueu as sobrancelhas, me desafiando a falar.- Você é um chato.- sorriu convencido.

— Aparentemente eu ganhei a discussão.- provocou. Seus olhos me percorreram, atentos.- Como está?

— Bem. E você?- olhei imediatamente sua cintura.- Precisamos trocar os curativos.

— Depois.- olhou para os lados.- Nossa hospitalidade acabou. Billy passou por aqui e bom… Tirou seu pequeno kit, dizendo que só deveria ser usado em Slade.

— Desgraçado.- revirei os olhos.- Alguém tem que dar um jeito nesse cara.

— Eu gostaria. Mas estou proibido no momento.- lamentou.

— Está mesmo.- o lembrei.- Ordens médicas.

— Sim senhora.

 

Sorrimos, até que meu olhar se fixou em um ponto atrás de Oliver. A mesma menina que vi ontem no estoque estava aqui. Parecia receosa, mas ao mesmo tempo determinada. Sua mão tocou a barriga, e me olhou discretamente. Entendi seu sinal, e segurei no braço de Oliver.

— Vem comigo.

 

Andamos até a lateral da casa. Não haviam guardas aqui, todos que estavam à noite pareciam ter abandonado seus postos.

— Troca de turno.- Oliver sussurrou.- Temos alguns minutos.

— Certo.- a encarei.- Como é seu nome?

— Acho que não precisa do meu nome para me examinar, não é?- arqueei as sobrancelhas, surpresa com sua grosseria.

— Sabe que estamos nos arriscando ao atendê-la, né?- disse Oliver, ganhando sua atenção.- E por sua ação de nos trazer até aqui, posso presumir que não querem que vá ao médico.- o rosto da garota se contorceu, nervosa. Encarei Oliver, sorrindo com sua perspicácia.

 

Ele era realmente bom no que fazia.

— Então, senhorita…?

— Evelyn. Evelyn Sharp.- me respondeu, receosa.- Consegue examinar o meu bebê?

— É claro que consigo. Não detalhadamente mas...

— Umas coisas tem aparecido no meu rosto, e eu não sei se é normal.- disse aflita.- Por favor.- clamou.

— Certo. 

 

Fiquei à sua frente, examinando o pescoço e o rosto. Encontrei as manchas descritas, e após uma boa olhada sorri. Eu tive algumas, eram bem irritantes, sempre me levavam a loucura para ir a algum evento social, mas não eram nada demais.

— São completamente comuns no período de gestação. É conhecida como a “máscara da gravidez”.

— São horríveis.- fez careta.

— Não posso deixar de discordar, embora a maquiagem seja nossa grande aliada nesses momentos.- a vi sorrir timidamente. Encarei sua barriga, bem acentuada, que começava a ter um espaçamento dentre a barriga e os seios, conhecida como queda de ventre.- Sabe que está quase na hora?

— Sei sim.- disse com pesar, acariciando a barriga.

— Quantos anos você tem, Evelyn?- minha pergunta parecia ter a perturbada.

— Dezoito.- respondeu em tom baixo.

— O seu namorado ajuda você?- quis saber. Ter um beber era uma missão muito complicada, principalmente em sua situação.

— Ele é um fofo, chega a ser irritante.- revirou os olhos, o que me fez sorrir.- Às vezes parece que vou enlouquecer.

— Sei como é.- encarei Oliver que sorriu, segurando em minha mão.- Quantos anos ele tem?

— Vinte e dois.

— Vinte e dois.- repeti.- De qualquer forma, deveria procurar um hospital.

— Eu vou tê-lo normal.- disse firme.

— Tem certeza?

— Tenho. Além disso…- se calou, olhando para os lados.- Além disso não sei se me deixariam sair.

— Mas você está grávida.- falei irritada.- É compreensível…

— Não quando sabem que você tem uma ligação com Slade.- sorriu de forma triste.- A polícia me procuraria, e os caras aqui não querem isso.

— E o que você quer?- insisti. Seus lábios se entreabriram, e fecharam novamente. arrumou a postura.

— Não importa o que eu quero.- retornou a postura marrenta.- E isso não é da conta de vocês.

—É verdade. Mas você é mãe agora, não pode pensar só em você. Vai entender isso logo.- meu comentário teve o poder de a deixar abalada.- E se precisar de ajuda, a clínica Lance está aberta.

— Eu…

— Evelyn? Não fale mais uma palavra.

 

Rory apareceu, furioso. Seus passos eram duros, e o fuzil que carregava pendurado como uma bolsa em seu pescoço balançava de tão rápido que ele caminhava. Oliver imediatamente me colocou atrás de si, já que aparentemente Rory não estava bravo com Evelyn.

 

Mas sim conosco.

 

Ele estava muito furioso.

— Perdeu o juízo?- perguntou a Oliver.- Acha que pode sair assim interrogando as pessoas?

— Rory…

— Agora não Evelyn.- se desvencilhou de sua mão, dando um passo em nossa direção. Apertei o braço de Oliver, o trazendo para trás comigo.- Você não sabe quem eles são.

— Ela…

— Ele é o Queen ,e pelo o que Slade disse trabalhou nas forças armadas.- encarou Oliver com desprezo.- Eu os protegi, o salvei de Malone, e é assim que agradece?

— Se você calar a boca e deixar a sua namorada explicar- Oliver falou em tom suave, o que pareceu o irritar ainda mais.- vai saber o que aconteceu.

— Ela não…

— Ah, por favor.- o cortei, irritada.- Você mesmo disse que ele é das forças armadas, não seja idiota de mentir na cara de um soldado, o trabalho dele é esse. -Meu tom o deixou surpreso.- Eu vim aqui a pedido de Evelyn para examiná-la, se você não se esqueceu, eu sou médica.

— Examiná-la?- perguntou surpreso, dando um passo para trás. A postura de Oliver relaxou, e com a mão ainda na minha, me trouxe para o seu lado.- Você a examinou? Como ele está?

— Não dá pra saber muito, estou sem nada aqui.- mostrei as mãos.- Mas ela está fisicamente bem, os dois, e seu filho está chegando.- sorri animada.- Você é o pai?

— Não. Conheci Rory assim.- o interrompeu. Não acreditei muito em suas palavras, mas se ela queria omitir essa parte da história deveria ter um motivo.

— Certo. Bom, é isso. Agora pode apontar essa porcaria para o outro lado?- pedi, indicando a arma.

— Desculpe.- pediu envergonhado.- E você?- se virou para Evelyn, segurando seu rosto com ambas as mãos, em um gesto carinhoso.- Vá pra casa. Sabe que Billy está no nosso pé.

— Tá.- concordou irritada, antes de o dar um beijo. Evelyn era pequena, o que a fez ficar na ponta dos pés para alcançar seus lábios.- Cuidado.

— Você também.

 

Rory a encarou como um bobo apaixonado, a assistindo caminhar. Ao notar que não estava sozinho, arrumou a postura, deixando o sentimentalismo de lado.

— Um conselho?- disse Oliver, que também o observava.- Disfarce.

— O quê?

— O que sente por ela.- o rosto de Rory se retraiu.- É notável que a ama. Slade, se descobrir, vai usar isso.- sua frase o assombrou.- Disfarce.

— Obrigado. E sobre a consulta…

— Nada aconteceu.- pisquei, o fazendo sorrir.

— Vamos. Slade acordou, e já deve estar me xingando pela demora.

 

Respirei fundo. Voltaríamos a toca do leão, e eu rezava para que ele estivesse bem. Na casa haviam três homens agora, sendo um deles Billy, que com cortes no lábio pelo os socos recebidos de Oliver nos encarou furioso. Oliver o desafiou a falar alguma coisa, o encarando fixamente, mas caso abrisse a boca teria que revelar o motivo da briga, e todos sabiam quem sairia como culpado. Malone abaixou a cabeça, encarando o chão. Ha!

 

Babaca.

 

Onde estava toda aquela pose agora?

 

Também o encarei, sem medo. Slade estava sentado, com o curativo para trocar. Fiz o que pediram, ensinando os demais como fazer nas próximas horas.

— Parabéns. Você sobreviveu.- sorri forçadamente.- Agora podemos ir embora?- seu olhar me percorreu demoradamente, indo dos pés à cabeça. Não soube o que ele estava fazendo, ou o que estava planejando, mas a forma que inclinou a cabeça, como se eu fosse uma espécie de aberração, me irritou.

 

E me assustou, causando arrepios. 

 

Slade podia ser bem sinistro. Ele não era como os outros ao redor. Seu olhar era maldoso, a forma de falar, enganava por ser suave, e pelo pouco que convivemos, pude perceber que todos aqui tinham muito medo dele.

 

“Exterminador”

 

Engoli em seco, apertando as mãos.

— Sumam daqui.- foi tudo o que disse.

 

Suspirei aliviada, mas embora isso fiquei extremamente irritada. Eu salvei a vida dele, e tudo o que ganho é um “sumam daqui”? Me preparava para rebater quando Oliver tocou em meu ombro, indicando que deveríamos sair.

— Mas que mal agradecido!- esbravejei.

— Esse é o Slade. Nunca dá o braço a torcer.

— Ele é um idiota.- cruzei os braços.

— É sim.- sorriu Oliver.- Vão nos deixar na estrada. Os ouvi conversando.- sussurrou.- De lá, se o carro ainda estiver, voltamos com ele, ou pedimos carona.

— Parece muita coisa.- reclamei. Eu estava cansada, com frio e assustada, tudo o que queria era ir pra casa.- Por que não…

— Socorro!

 

Olhei para o lado, em alerta, quando encontrei um homem correndo com uma mulher nos braços. Ela não estava bem, nada bem. Seu rosto estava pálido, e suas mãos pendiam do corpo, fracas. Assim que me avistou veio a nosso encontro, apavorado.

— Me ajude por favor. Ela começou a tossir e vomitar....

— Dedos arroxeados.- segurei sua mão.- Você teria uma lanterna? Pode ser a do celular. Isso. Obrigada.- abri sua boca, iluminando a garganta.- Merda, está fechada. Temos…

— Saia de perto dela!- gritou Billy.- Slade mandou que fossem embora.

— Tem uma pessoa morrendo aqui.- apontei. desesperada.- Eu…

— A ordem é clara. Agora se afaste.- mandou.

— Ela pode morrer. Quer mesmo carregar essa culpa?- Billy sorriu.

— Só vai ser mais uma, não tem problema. Agora fora.

— Oliver?- o encarei, angustiada.

— Nós vamos levá-la.- falou firme.- Você e Slade podem ser idiotas, mas ela não tem culpa disso. Eu ajudo a carregá-la, vamos.- falou com o homem do chão, que assistia a cena, assustado.

— É minha paciente, e eu vou cuidar dela.- gritei ao vê-lo se aproximar com a arma apontada para nós.- Você pode se achar o quanto quiser, mas não é um deus para decidir quem vive e quem morre. Ela vai conosco.

— Ela não vai.

— Billy? Abaixe a arma.

 

Uma voz conhecida soou ao fundo. Notei uma caminhonete, parecida com a que eu e Oliver carregamos os móveis de Lance parando abruptamente. Quentin, Tommy e Sara desceram, preocupados e receosos. Billy recuou com o chamado de Lance, que se aproximou, parecendo aliviado ao nos ver. Seu olhar se focou em mim, e na moça que Oliver segurava.

— Já disse que não gosto dessas porcarias quando estou aqui.

— Desculpe doutor.- pediu, o que me fez franzir as sobrancelhas.- Ordens de Slade.

— Sei. - falou descrente.- Felicity?

— Ela está com a garganta fechada, assim como as vias áreas. Não está respirando.- expliquei. Quentin segurou sua mão, notando as manchas roxas.-

— Tommy?- o chamou, sem tirar os olhos da mulher e de mim.- Pegue um corticoide e o prepare para inserir na veia.Vai nos dar tempo de ir para o hospital. Oliver? A coloque no carro.

— Eles não podem ir!

 

Armas foram engatilhadas de todos os lados. A voz de Slade soou potente, e o mesmo apareceu, embora mancando, não poderia estar melhor. Encarou Lance ao meu lado, que retribuiu o olhar, sem se abalar. Tommy, que estava mais atrás, imediatamente fechou a cara e arrumou a postura, caminhando com Sara até onde eu e Oliver estávamos, em uma espécie de barreira de proteção. Slade olhou um a um, se demorando em Sara, seguindo para Quentin. Pessoas começavam a ver o que estava acontecendo, nos tornando o centro das atenções.

— Eles não vão.- repetiu.

— Se eles não vierem, vou chamar o xerife.- disse Quentin em tom duro, me surpreendendo. O encarei, depois Slade, se contorcendo de raiva.

— Me ameaçando a essa altura da vida? Temos um acordo doutor.- sorriu de forma provocativa.

— Você deixa a população longe das suas coisas. Não foi o que aconteceu.- rebateu Quentin.- Sequestrou Oliver e minha médica. Ele e Felicity são também as pessoas que, devido ao nosso acordo, estariam protegidos. Não foi o que aconteceu aqui.

 

Meu coração acelerou, e eu simplesmente sorri. Quentin nunca havia me protegido daquela forma, na realidade, sempre achei que ele me odiasse. Mas aqui estamos, Lance discutindo com um mafioso por nossa causa.

— Além disso, nosso acordo também me deixa cuidar das pessoas daqui. Então Laura- apontou para a mulher, quase inconsciente.- Vai comigo.

— Eu disse para não se moverem!- berrou mais uma vez. Quentin parou, irritado, e o encarou.

— Ela vai pro hospital, e não vai ter nenhuma ligação com você, eu garanto.- prometeu.- É conhecido por sua inteligência Slade, não banque o burro agora.

 

Slade pareceu pensar. Quentin indicou que entrássemos no carro, mas o homem ao lado de Oliver, que falava com Laura, foi barrado.

— Ela vai. Ele fica.- ordenou Slade.

— Cuidem da minha esposa, está bem?- pediu. Quentin tocou em seu ombro.

— Ela está em boas mãos.

 

Oliver a deitou no banco em cima de mim e de Tommy, que trocou de lugar com Sara, para me ajudar a cuidar da paciente, e no momento em que se preparava para subir, foi chamado por Slade.

— Fique longe daqui.- o ameaçou. Oliver trincou o maxilar, o encarando friamente.- Porque da próxima vez, eu não vou arriscar perder a chance de enfiar uma bala na sua cabeça.

 

Me arrepiei. Slade não estava para brincadeira, sua voz foi autoritária, forte.

 

e extremamente animada.

 

Como se sentisse prazer com aquilo.

 

Oliver fechou a porta. O carro começou a andar, e nos distanciamos daquele acampamento, deixando o desespero para trás. Encarei Oliver mais uma vez, que também cansado, retribuiu um sorriso.

 

Estávamos em casa.

 

Tudo acabaria bem.

 

***

Graças ao cara lá de cima, chegamos a tempo no hospital. Laura foi levada para emergência, onde passou longas horas, mas segundo Tommy, estava estável e fora de risco. Oliver, embora não quisesse, também fora examinado, devido ao ferimento de bala, que agora se encontrava bem limpo e seco. Sara ficou conosco a todo momento, fazendo perguntas e mais perguntas, às quais eu nem sabia como estava respondendo. Meu corpo estava pesado, minha mente agitada, e a sensação de medo ainda me percorria. Ter uma experiência onde colocam um revólver em sua direção pode causar traumas, e eu notei isso ao pular de susto com dois enfermeiros, que tocaram em meu ombro, avisando que Quentin e Tommy já estavam retornando.

  O bar, assim que chegamos pelo  horário do anoitecer após o hospital estava fechado. Pelo o que ouvi, minha situação com Oliver já circulava por toda a cidade, e que todos estavam bem preocupados. Passamos um bom tempo ali, conversando e discutindo. Escutei por Sara, que ela, Thea, Tommy e Roy nos procuraram em diversos lugares após a ligação de Caitlin a Quentin, dizendo que não estava conseguindo falar comigo. Foi ele que encontrou o carro, e pediu para trazerem até aqui, e foi ele também, ligando os pontos, que descobriu nossa localização. O vi esbravejar algumas vezes, principalmente por Sara o repreender por ameaçar Slade.

— Você não é policial!- elevou a voz.- Acha que Slade vai aceitar isso em uma boa?

— Acho. Eu cuido dele há anos, e por minha causa, muitos dos homens dele e o próprio- enfatizou.- não estão mortos.

— Mas…

— O acordo é que eu vá lá cuidar das pessoas. Não Tommy, não Felicity, eu.- apontou para o peito.- Se não impusermos limites, eles não vão parar. Virgin River é calma por isso, não vou dar o braço a torcer.

 

Sorri, estávamos sentados em volta do balcão. Oliver estava ao meu lado, e ouvia com atenção o que Quentin dizia. Tommy checava minha pressão pela quarta vez, a pedido de Quentin. Não neguei, pois vi, por trás daquele carrancudo que ele realmente estava se importando.

— Tudo certo, Lis.- tirou o equipamento do meu braço.- Embora a palidez você está bem. Deve se alimentar direito.

— Obrigada.- agradeci. O mesmo apertou minha mão e se levantou, guardando as coisas na bolsa. Olhei para Lance, que ainda discutia com Sara.- Doc?- o chamei.- Obrigada também.- meu agradecimento o pegou desprevenido. Seus lábios se entreabriram, mas fecharam, até que limpou a garganta e deu de ombros.

— Fiz o que tinha que fazer.- sorri. Quentin não era um homem sentimental, não demonstraria isso agora.- É melhor os deixarmos descansar.

 

Sara me abraçou fortemente, dizendo que amanhã ficaria grudada a mim o dia inteiro. Tommy perguntou se queria que ele me acompanhasse, mas dispensei. O céu estava escuro, e embora meu carro estivesse bem ali na frente eu não sentia vontade alguma de ir a pousada. Ainda estava assustada, meu corpo parecia dar pequenos choques, e a cada vez que eu fechava os olhos...Ah,

 

Via Slade

 

E Billy

 

Com aquele maldito revolver apontado para meu rosto. 

 

Oliver fechou a porta, aparentemente exausto. Não tivemos muito tempo para conversarmos hoje, e por conta disso, quis ficar mais um pouco. O vi caminhar dentre as mesas, me observando até que se sentou em um banquinho alto ao meu lado, virando o corpo de frente para mim. Fechei os olhos com o toque de sua mão em meu rosto.

— Como você está?- perguntou preocupado. Abri os olhos e suspirei.

— Não sei dizer. Às vezes sinto que estou lá ainda, naquele pesadelo e que a qualquer momento…- estremeci. O rosto de Oliver endureceu e seu corpo chegou mais perto, virando, com delicadeza, meu rosto de frente para o seu.

— O xerife foi avisado a ficar rondando por Virgin River, e além disso, eu jamais deixaria nada acontecer com você Felicity. Nunca.- seu tom fora firme, como se de fato fizesse uma promessa. Sorri, colocando minha mão sob a sua que se encontrava em meu rosto e a acariciei.

— Eu sei. Levou um tiro por mim. Não faça mais isso.- o repreendi.- Ver você machucado me aterrorizou.- Oliver sorriu de canto.- Teve sorte.

— Não vou me defender porque sei que isso a deixará brava.- sorri. Oliver analisou meu rosto.- Parece cansada.

— Você também.- suspiramos. Olhei para a porta, sem querer sair.

 

Eu não queria ir.

— Não precisa ir.- sussurrou. Encarei Oliver.- Pode dormir aqui.

— Oliver...Não sei se é uma boa ideia.- suspirei. Depois de ontem e nosso quase beijo, acho que dormir no mesmo lugar não seria uma ideia inteligente, principalmente por minha causa.

— Tenho um quarto sobrando aqui, esqueceu?- comentou.- Você pode ficar nele se quiser, pelo o menos hoje até que se acalme. Isso que passamos não foi fácil, e já está escuro.- apontou.- Fique.

 

Seu pedido, misturado a uma voz manhosa me fez ceder. Era claro que eu queria ficar, Oliver me passava uma sensação de segurança inexplicável. Mas ainda sim...Ainda sim eu tinha medo dessa nossa conexão.

 

Por conta de Ray.

 

Por conta de meu passado.

 

Por conta de mim mesma.

 

Mas ao encarar seus olhos doces e gentis, eu sabia que havia perdido a batalha. Apenas assenti, o que o fez sorrir como um menino.

 

Eu gostava daquele sorriso.

 

Até demais.

— Só não tenho roupa aqui. E eu realmente queria tomar um banho.- comentei. Oliver pareceu pensar.

— Use uma das minhas. Apenas pra dormir.- deu de ombros.- Vem, deixa eu te levar até o banheiro.

 

Subimos uma escada que nos levou até o andar superior. Não era nada grande, apenas um corredor com duas portas, que deveriam ser os quartos. Oliver abriu o primeiro, e imediatamente reconheci aquele como seu espaço. Era organizado como a casa, e mesmo que ele não passasse muito tempo aqui, estava bem limpo também. A cama estava forrada com um lençol de listras azuis, quais eu adorei. Sob a cômoda, encontrei uma foto sua e de Dig, ambos fardados, o que me fez sorrir.

 

Então esses eram o Sargento Diggle e o Tenente Queen.

 

Que tenente bonito…

 

O risinho de Oliver, que mexia em uma das gavetas, me fez fechar os olhos. Era claro que eu havia falado alto, não seria eu se não tivesse os jeitos mais geniosos possíveis de me meter em situações constrangedoras. Segurei o quadro, os observando, ambos sérios, e com algumas medalhas no peito.

— Não sabia que era um Tenente condecorado.- brinquei. Oliver sorriu e caminhou até o meu lado.- Meus parabéns.

— Era meu trabalho, e no mínimo, eu deveria o fazer direito.- cruzou os braços. Arqueei as sobrancelhas.

— Tão prestativo, mas sempre que recebe um elogio por suas ações acha que não os merece.- balancei a cabeça.

 

Isso era a cara do Oliver.

 

O mesmo sorriu de forma tímida e apontou para a cama.

— A roupa e a toalha.

— Ok.

 

Oliver saiu, e ao fechar a porta fui correndo para o banheiro. Liguei o chuveir, retirando meu colar e o pendurado no cabide, e simplesmente me taquei lá dentro, molhando o cabelo e deixando que a água quente me percorresse por inteiro, e com isso, tirasse aquele peso do meu corpo. Ocorreram tantas coisas...Em um momento, achei que ia morrer, depois fui sequestrada, achei que morreria de novo e então estava aqui, no bar de Oliver.

 

Era muita coisa para pensar.

 

Sem contar ainda a parte emocional, que quase me fez cometer uma besteira ontem. Era claro que Oliver era lindo, sem sombra de dúvidas, mas ele era muito, muito mais que isso.

 

Eu estava começando a sentir algo por ele.

 

E estava ciente disso

 

Mas ainda sim tinha medo.

 

E ao mesmo tempo não.

 

Não era para todo mundo que eu falava sobre a perda do meu filho com Ray. Era um assunto tão complicado e doloroso que eu o guardava sempre para mim, mas naquela noite...Naquela noite eu me senti bem em contar.

 

E depois foi como retirar um peso.

 

Mas, infelizmente, haviam coisas que eu ainda não estava pronta para compartilhar, nem com Caitlin, nem com Oliver, nem com ninguém. Terminei o banho, deixando o cabelo molhado. Me senti mais leve, e ao finalmente voltar ao quarto coloquei sua blusa e a calça de moletom. Me olhei no espelho sorrindo, dando uma voltinha.

 

Oliver tinha um cheiro bom.

 

Muito bom.

 

Poderia dormir agarrada a sua blusa.

 

Peguei o colar novamente, analisando as palavras gravadas.

 

“ Nem a ciência pode explicar meu amor por você”

 

Sua frase típica me fez sorrir. Além de médico, Ray amava saber das coisas, todas elas, especialmente sobre o poder que a nanotecnologia poderia ter se, aplicada corretamente, em pessoas. Poderia destruir coágulos sanguíneos ou até mais.

 

Era uma de suas principais pesquisas.

 

 E ele passava horas naquele escritório…

 

Principalmente quando começamos a discutir.

 

Fechei os olhos. Não queria ficar triste agora, eu estava exausta, com medo e com a mente extremamente pesada. Segurei o colar por mais um tempo, e naquele instante, ao olhá-lo tão detalhadamente, hesitei em colocá-lo.

 

Aquilo era novo.

 

Jamais deixei de colocá-lo um único

 

Mas eu simplesmente não podia deixá-lo jogado por aí, e por isso, peguei meu casaco e o coloquei lá dentro. No momento em que fechei o zíper da jaqueta Oliver apareceu com uma bandeja. Nossos olhos se encontraram, o fazendo parar abruptamente, com os lábios entreabertos. Seu olhar me percorria dos pés à cabeça, e por segundos ficamos assim, apenas nos observando.

 

Não sei porquê, mas fiquei extremamente nervosa.

Oliver engoliu em seco e fechou os olhos, como se se controlasse.

Me perguntei o quê.

— Fiz um chá de camomila e peguei um de nossos doces. Não comemos direito hoje.- Limpou a garganta, olhando para os lados.

— É verdade.- concordei. Apertei as mãos.- Já comeu?

— Não…

— Por que não toma um pouco de chá então? A caneca é grande.- sugeri. Oliver, ainda sem me observar, assentiu, se sentando na ponta da cama. Fiz o mesmo, assoprando o chá e fechando os olhos.

 

Tomei o primeiro gole, soltando um suspiro.

 

Era maravilhoso.

— Acho que na outra vida fui inglesa, porque amo essas coisas.- Comentei, Oliver sorriu, e aceitou a xícara quando a entreguei, também se deliciando com o chá.

— Thea que ama essas coisas. Não que eu não goste, mas pra me acalmar sempre preferi um bom whiskey.- soltei um riso baixo, balançando a cabeça.

— É uma boa opção também.- concordei. Peguei um pedaço da torta de frutas vermelhas, observando Oliver.- Acho que nós dois vamos cair que nem pedra na cama hoje, né?

— Realmente espero que sim.- murmurou em tom baixo. Não soube bem o porquê mas acariciei suas costas, o passando conforto, já que aparentemente algo o incomodava.

 

Oliver, que estava curvado e encarava o chão, arrumou a postura ao sentir meu toque, virando o rosto. Seus olhos azuis, intensos e misteriosos me observavam de uma maneira inexplicavelmente reconfortante. Minha mão subiu até seu ombro, se agarrando ali. Eu estava sentindo de novo.

 

E aparentemente Oliver também.

 

Eu via sua luta interna que o fazia desviar o olhar de meus lábios a cada segundo. Oliver inclinou o corpo um pouco mais, me fazendo prender a respiração ao sentir seu hálito quente bater em meu rosto.

 

Eu queria beijá-lo.

 

E Oliver parecia querer me beijar também.

 

Mas algo nos impediu.

 

Nossos passados, com certeza, era um dos maiores motivos, formando barreiras. Éramos pessoas quebradas, traumatizadas para se dizer a verdade.

 

Deveria ser por isso que tínhamos essa coisa.

 

A conexão mágica.

 

E que conexão…

 

Estremeci com o toque de Oliver em meu rosto. Seus olhos estavam nublados, escuros, desejáveis, e eu, vendo tudo isso me senti a mulher mais linda do mundo. Mas Oliver era um homem bom, jamais se aproveitaria de uma situação delicada, e por isso, ao invés de me beijar, colou seus lábios em minha testa, e suspirou.

— Devemos dormir.- sua voz soou rouca.- Boa noite Lis.

— Boa noite Oliver.

 

E me olhando mais uma vez, se levantou, limpando o rosto. Era óbvio que estava afetado. Seus passos foram rápidos, ombros tensos, e eu não podia julgá-lo, pois permaneci como uma estátua no lugar em que estávamos.

 

Completamente perdida.

 

Oliver mexia comigo.

 

Mais do que eu gostaria de admitir.

 

Tentei dormir, o que se tornou uma tarefa difícil, já que minha mente não me deu folga. Me levantei, a procura de um copo d’água. Abri a porta com cautela, era madrugada, e Oliver deveria estar dormindo, mas quando passei pela porta de seu quarto congelei. Eu ouvi um grito sofrido, como se estivesse sendo machucado. Poderia ser Billy, a mando de Slade, que deixou claro que queria a cabeça de Oliver depois de hoje. Eu não podia deixar que o machucassem.

 

Não de novo.

 

E reunindo toda a coragem que eu tinha entrei, em alerta. Oliver estava jogado no chão, se contorcendo. Estava suado, com o rosto contorcido em linhas tensas, e os braços rígidos.

 

Em um pesadelo.

 

Ouvi outro grito.

 

Oliver balançava a cabeça, como se negasse algo, e apesar dos olhos fechados, haviam lágrimas, muitas lágrimas.

E-Eu sinto muito.- gaguejou.- Eu não queria, não podia deixá-la…- sua voz falhou.- Shado…

 

Eu não sabia quem era, mas por seu tom, carregado de um choro vindo do fundo da alma indicava que era alguém especial. O ajudei a deitar na cama, nesses casos nunca era bom acordar a pessoa, especialmente se ela sofria de terror noturno.

 

Oliver sofria de terror noturno.

 

Meu coração se apertou mais uma vez.

 

Permaneci ao seu lado, e quando sua respiração se suavizou, assim como seu rosto, beijei sua testa. Ele sempre cuidava tão bem de mim, me ajudando em minhas crises que eu jamais cogitaria que ele sofria desse tipo de coisa. Era claro que ele se tornava distante ao falar do exército, seu rosto endurecia, as palavras se tornavam respostas padronizadas, e eu entendia, e tentava ajudá-lo, falando algo sem graça, o fazendo rir e dando espaço. Mas aquilo, ah, aquilo era muito pior  Ele não merecia passar por essas coisas, era uma pessoa magnífica, sempre ajudando todos ao redor, mas negligenciava quando era para cuidar de si mesmo.

 

Eu iria ajudá-lo.

 

No que fosse preciso.

 

Teríamos uma conversa amanhã.


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Notas finais do capítulo

Capítulo cheio de emoções, hein, hahaha. Espero que tenham gostado. Comentem muito e até a próxima!



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