The girl from LA escrita por Ka Howiks


Capítulo 4
Ás vezes só precisamos falar


Notas iniciais do capítulo

Boa noite meus leitores! Como estão? Aqui vai mais um capítulo quentinho para vocês!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808472/chapter/4

Pov Felicity

 

Tudo estava correndo bem nessa última semana, que passou como um flash. Quentin continuava no meu pé, e metade do tempo tudo o que eu fazia era esterilizar os equipamentos, ler ainda mais as fichas dos pacientes, cuidar de alguém na triagem ou apenas fazer café. Era tedioso, e minha vontade de gritar cada vez mais com o doutor somente crescia, mas desde a nossa última discussão ele parecia ter se comportado.

 Claro que com os pacientes Quentin era uma pessoa completamente diferente. Se tornava atencioso, alegre, até fazendo piadas. Todos pareciam amá-lo e ter um certo tipo de admiração, e o melhor de tudo.

 

Ele os tratava da mesma forma.

 

Fosse alguém considerado “bem de vida” na cidade, ou alguém com menos privilégios. Ele tratava todos iguais.

 

Sem exceção

 

Tinha que admitir que ele era um profissional excelente.

 

Nesse momento eu, Tommy e o Lance estávamos avaliando a ficha de Nicole. Como havia sido eu a anotar os exames, Quentin julgou necessário eu estar presente na pequena reunião no fim da tarde, momento em que ficamos sossegados. Os únicos barulhos eram dos passarinhos e do vento da fora que soprava pela cidade. Aparentemente faria frio à noite. Fiquei surpresa pelo convite, mas soube no instante seguinte, por sua  cara carrancuda ao me informar que isso havia tido um dedo de Tommy, que sorriu para Quentin, em aprovação. Logo após o mesmo me mandou um “beijinho” no ar.

— O que mais Linda disse?- perguntou Quentin, concentrado na ficha.

— Disse que Nicole parece estar piorando, o que indica que os medicamentos…

— Não estão funcionando, eu sei.- me cortou. Suspirei, tentando manter a paz.- E o que mais?

— Se me deixar falar vai descobrir.- Quentin ergueu o olhar, me encarando friamente.- Posso?

 

Ele não respondeu.

 

Apenas fez um movimento mínimo.

 

Já era um começo.

 

— Como eu estava dizendo.- limpei a garganta.- Os medicamentos parecem não estar funcionando, e que a menina não continha crises de asma antes.

— Ela realmente não tinha nenhum quadro relacionado a isso.- comentou Tommy.- Em todos os exames que fizemos, principalmente com o hospital de Eureka, nunca nos deu indício de nada.

— Cuido de Nicole desde que nasceu.- disse Quentin.- E somente de uns meses pra cá ela veio apresentar esse tipo de comorbidade.

— Pode ser alguma coisa que os exames não pegaram.- sugeriu Tommy.- E só veio se desenvolver agora. Ela tem oito anos, certo?

— A idade em que as crises frequentemente começam são nos primeiros cincos anos. Eu a examinei, ela não tinha nada.- esfregou o rosto.

— Talvez possam ser os genes. Alguém da família que já tenha sofrido dessa doença. Um avô, avó…

— É uma boa teoria, mas pelo o olhar concentrado da senhorita Smoak eu adoraria ouvir o que ela tem a dizer.- Quentin me deixou confusa.-É a primeira vez que a vejo tão quieta, e pelo o julgamento em seu rosto não parece achar as opções avaliadas até o momento viáveis.

 

Dois olhares se viraram para mim, aguardando alguma coisa. Fui pega de surpresa, em geral eu teria que elevar a voz caso Quentin quisesse me ouvir, mas hoje foi diferente. Ele queria minha opinião.

 

Foi estranho

 

Muito estranho

— Bom…- comecei incerta.- Eu a examinei, a vi de perto…- cocei o pescoço.- Os genes são uma hipótese boa, não devemos descartá-las.- Tommy piscou.- Mas não acho que esse seja o caso da Nicole. Como o senhor disse, ela tem tido crises de uns tempos pra cá, carregada de tosses e chiado, sintomas comuns, mas e se até a falta de ar for a resposta de algum sintoma?- Quentin me olhava concentrado.- Uma alergia. E quando essa alergia ataca…

— Consequentemente a falta de ar vem.- completou, pensativo.- E o que desencadearia essa alergia?

— Poeira, algum alimento, produtos de limpeza...A lista é extensa.- disse. Quentin assentiu, e por seu olhar distante, estava cogitando alguma coisa.

— Vamos descobrir o que a está causando alergia. Até lá mudaremos os medicamentos...O que foi Tommy?- se interrompeu. O moreno nos olhava estranhamente divertido.

— Nada.- se encostou na cadeira ao meu lado.- Só acho bonitinho nós três trabalhando em equipe.- Quentin entendeu sua indireta, pois bufou e focou seu olhar nos papéis, os arrumando para colocar na gaveta.- Quando não estão tentando se matar formam uma bela equipe.

— E você fala demais.- o interrompi. Pude ver, entre os papéis, que Lance sorriu com minha fala.

— É isso o que eu ganho por ser um bom amigo.- limpou uma lágrima inexistente. Revirei os olhos.

 

Tommy era impossível quando queria

— Já estou vendo passar o dia de amanhã inteiro com você, Thea e Oliver, podem fazer uma competição.- resmunguei.

— Sabemos que eu ganharia, embora Thea seja uma competidora à altura.

— Oliver…

— O terceiro lugar é dele, mas o primeiro…- sorriu convencido.- Meu ou de Thea, certeza.

— Vão passar o dia com os Queens?- Quentin perguntou, entrando na conversa. Assenti.- Vejo que já se enturmou, Sara não para de falar de você.- se levantou, pegando o casaco sob sua cadeira do outro lado da mesa.- Boa sorte amanhã, eles não são pessoas fáceis.

— Sabe que está falando da sua filha, né?- enfatizei.

— Sim, eu vivo com ela há mais de vinte anos. Tome meu aviso como um conselho.

 

Soltei um riso baixo. Quentin tentou permanecer sério, mas foi em vão, sorrindo de canto. Eu e Tommy ficamos novamente para fechar a clínica. O dia já estava escuro, e amanhã eu teria que acordar cedo para me arrumar. Não que eu estivesse nervosa.

 

Porque não estava.

 

Talvez um pouquinho…

 

Ah, quem eu queria enganar? Era claro que estava nervosa. Conheceria a casa de Oliver, e ainda passaríamos um dia inteiro juntos. Não da forma que fazíamos, isso era um pouco mais íntimo. Talvez assim eu pudesse ajudá-lo um pouco. Porque ele me ajudava.

 

Muito

 

Principalmente em momentos inoportunos.

 

Como o do carro.

 

Não é algo que eu posso controlar. Todas as vezes que estou em um carro e o vidro começa a ficar úmido eu me desespero. Lembro de Ray, e daquele trágico dia onde...Me assustei com o barulho de vidro quebrando, e quando abri os olhos, notei que o copo havia escorregado da minha mão. Suspirei

 

Precisava me controlar

 

Principalmente para amanhã

 

Fui atrás de uma vassoura e uma pá, mas no momento em que saí da cozinha escutei cochichos baixos. Me escorei na parede da sala, que me deixava escondida, mas ainda me permitia ver a porta de entrada. Quando meu olhar chegou lá, tudo o que eu queria fazer era vomitar. Helena estava aqui, e Tommy…

 

Tommy parecia disposto a deixá-la sem ar.

 

Soltei um suspiro desgostoso.

 

Por que ele não poderia me esperar ir embora? Tinha alguma dificuldade nisso? E agora minhas opções eram esperá-los terminar de rasgar a roupa, que se tornaria meu pesadelo por semanas, ou interrompê-los

 

Nenhum dos dois parecia algo que eu queria fazer

 

Eu vou matar Tommy.

— Deixa eu ir com você…- escutei a voz manhosa de Helena, que tinha os olhos fechados enquanto Tommy beijava seu pescoço.

— Eu gostaria muito.- sorriu, dando um selinho demorado. Sua mão subiu pelas costas de Helena, até chegar em seu rosto e acaricia-lo.- Mas não posso.

— Por quê?- perguntou aborrecida. Ao que parecia, o jogo de sedução não havia funcionado.- É só um almoço.

— De Oliver e Thea.

— E daí?- arqueou as sobrancelhas.- Vamos Tommy, não vai fazer mal algum…

— Não é minha casa para convidá-la, sabe se fosse você seria a primeira da lista.- abafei a risada.

 

Tommy era muito cara de pau.

 

Estou vendo agora o que ele quis dizer sobre o primeiro lugar. Ele e Thea travariam uma batalha sangrenta.

— Eu sei.- cedeu. Helena passou seus braços no entorno do pescoço de Tommy e o trouxe para perto.- E sei quando alguém está me enrolando.

— Quem é essa pessoa?- perguntou, a fazendo sorrir.

— Você sabe. Estamos saindo há um tempinho...Não acha que está na hora de…

— Tommy! Achei a pasta que você queria.

 

Caminhei rapidamente pela sala, impedindo que Helena finalizasse a sua frase. Era óbvio o que ela iria falar, e pelo olhar agradecido de Tommy eu havia o tirado de uma bela enrascada. Continuei meu teatro, caminhando sorridente até os dois.

— A pasta está na cozinha.- informei.- Olá Helena.

— Novamente nos encontramos, sempre em momentos prazerosos.- Embora o sorriso, seu tom fora extremamente ácido.

— Digo o mesmo.- forcei um sorriso.

— Soube que vai amanhã nos Queens.- me segurei para não revirar os olhos.- Oliver a convidou?

— Foi um convite mútuo dele e de Thea.- dei de ombros.

— Já é aceita na família.- zombou. Suspirei, olhando para Tommy.

 

“ Ou a tira daqui ou eu mesmo vou chutá-la”

 

Ele pareceu entender bem.

— Ainda temos trabalho. Então Helena…- indicou a porta.- Nos vemos depois.

— Mas eu ia perguntar…

— Estamos atarefados, muito atarefados. Não é Tommy?

— Sim, muito atarefados.- concordou, ficando ao meu lado.- Ligo pra você depois?

— Tá.

 

Seu tom foi seco, e a forma como me encarou deveria equivaler a um banho de energias pesadas. Helena saiu, e Tommy colocou sua mão sob meu ombro.

— Obrigado.

— Minha vontade é de matar você.- esbravejei, o fazendo recolher a mão.- Mas por sorte, eu estou em um bom dia.

— Agradeço a Deus por isso.- balancei a cabeça, divertida.- Estou em uma enrascada.- se sentou no sofá da sala. O segui, ficando ao seu lado.- Não sei como dizer pra ela que…

— Você não quer mais transar com ela.- revirei os olhos.- Helena, Tommy?Sério?

— Ah, ela é legal. Bem flexível também.- arqueou as sobrancelhas. O dei um empurrãozinho no ombro,

— Você não vale nada.

— Eu sei.- deu de ombros.- Já aceitei isso. Mas a questão é que agora ela quer um relacionamento.

— Diga a ela o que sente, verdadeiramente.- expliquei.- O mundo seria mais fácil se as pessoas apenas soubessem conversar.

— Olha só, estou diante de alguém experiente.- brincou.- então me diga, doutora Smoak. Como digo a Helena que não quero mais nada sem levar um tapa na cara?

— Não posso prometer não levar um tapa.- rimos juntos.- Mas fale, vai ser melhor pra você.

 

Tommy assentiu em silêncio. Seu rosto se virou pra mim, com um sorriso provocativo no rosto.

— Vai passar o dia na casa do Oliver, então.- revirei os olhos e me levantei.

— Você também vai.- peguei a vassoura e a pá, indo limpar o vidro. Tommy me seguiu.- Não vai ser nada demais.

— Vocês estão próximos.- se encostou no armário, cruzando os braços.- Gosta dele?

— Eu estou aqui há um mês e pouco, não deu tempo de…

— Então está considerando?- seu sorriso se ampliou. Suspirei fundo.

— Ter um relacionamento não é a minha prioridade agora.

— Nunca é, somente acontece.- deu de ombros. Bufei.

— Diz o homem que dorme com uma mulher por semana.

— Eii, eu sou um romântico, sabia?- tentei não rir.- Sei que isso não vai durar muito, e um dia, quando eu estiver cansado de me aventurar…- revirei os olhos.- vou achar uma mulher.

— Coitada.- ouvi seu resmungo brincalhão.- Relacionamentos são mais complicados do que a teoria diz Tommy. Amor…- suspirei.- Mesmo depois de encontrá-lo as coisas não são fáceis. Sei bem.

 

Não que eu não amasse Ray. Mas antes...Antes de nos “separarmos” estávamos brigando muito, principalmente pela minha ideia de querer um filho. Tentávamos, e a cada resposta negativa via sua cara de decepção. Ele estava cansado daquele sofrimento

 

Eu também

 

Mas queria tentar

 

Nunca pude imaginar que mais sofrimento estava por vir.

 

Balancei a cabeça, espantando os pensamentos. Tommy havia abandonado a postura sarcástica e me encarava com atenção, como se soubesse de algo que não deveria.

 

Me concentrei no chão.

— Foi por isso que veio pra cá?- perguntou.- Um amor mal acabado?

— Não exatamente…- suspirei.- É complicado, e eu não estou pronta para falar sobre isso.

 

Tommy não disse mais nada. Mas antes de sair, me olhou mais uma vez.

— Você e Oliver são parecidos.- o encarei confusa com a mudança de assunto.- Ele também não gosta de falar dos problemas. Mas a questão não é gostar, e sim precisar.— engoli em seco.- Ou uma hora vai explodir.

 

Assenti, voltando a nos concentrar. Tommy pegou uma sacola para colocarmos o lixo, e após fecharmos tudo, senti sua mão novamente em meu braço. 

— Saímos às 10:50. Thea quer que cheguemos cedo lá. Vou estar em frente a pousada esse horário, ok?

— Certo. E Tommy…- o chamei mais uma vez.- Um almoço de sábado é um ótimo lugar para contar ao parceiro que quer terminar.- o vi rir, e me mostrar o dedo do meio.

— Só não faço isso por causa de Thea. Helena eu consigo lidar.

 

***

Acordei mais cedo do que o planejado.

 

Claro que eu tentei dormir, mas após rolar de um lado para o outro, me emaranhando nos lençóis decidi que era hora de levantar. Abri a janela e senti o ar fresco de Virgin River, que com dois passarinhos sobrevoando perto da minha janela me davam um bom dia. O sol também estava presente, mais intenso do que nos últimos dias. Agradeci por isso, por mais que eu gostasse de dias frios sentia falta do calor escaldante de Los Angeles, não que estivesse muito quente, mas o clima abafado de hoje deixava um sinal de que eu não precisava me preocupar com agasalhos. 

 

Bom, era hora de começar a me arrumar.

 

Tomei um banho demorado, lavando bem o cabelo. Tentei fazer algum penteado, mas quando se tratava dessas coisas eu era péssima.

 

Caitlin sempre teve mais jeito que eu.

 

E por falar nela…

 

Atendi sua chamada de vídeo, colocando o celular na cômoda enquanto eu tentava decidir, olhando para o espelho, o que fazer com meu cabelo.

 

“- Olha ela toda arrumada.- brincou.”

— Acho que nunca senti tanto a sua falta como hoje.- resmunguei, jogando a presilha pelo quarto.

 

— Só por isso? Que ingrata!”

— Sabe que te amo.- a observei, notando os trajes casuais.- Está de folga?

 

“- Sim. Vou sair um pouco. O hospital está me matando esses dias Lis…- levou a mão a cabeça, como se estivesse com dor.- Mas hoje vou aproveitar. Sair pra dançar, beber uns drinques…

— Que delícia.- sorri nostálgica, sempre fazíamos essas coisas juntas.

 

“- Poderiamos marcar de novo, caso você voltasse.- suspirei. Caitlin, assim como dezenas de pessoas não entendiam o porquê que eu não queria voltar para Los Angeles.- Se você parasse de fugir…”

 

— Se formos por esse caminho vamos discutir, e eu acredito que não foi essa a sua intenção quando me ligou.- Caitlin suspirou, mas assentiu contrariada.- O que faço com o meu cabelo?

 

“- Deixa ele solto, apenas finalize a escovação.- sorri.- O que vai vestir?”

— Está quente, estava pensando em uma blusa…

 

— Ah não, nada de blusa.- me interrompeu.- Abre essa mala e pegue um vestido...Já sei!- gritou, dei um pulo de susto.- Aquela roupa que compramos na viagem pra Nova York!”

— Tem certeza? Me parece um pouco…

 

Exagerado nada. Você vai vestir ele.- mandou. Arqueei as sobrancelhas por seu tom autoritário.- E coloque um tênis. Está ótimo. O Queen vai babar ao ver você assim.”

— Não estou me arrumando por causa de Oliver.- rebati incomodada. Não era por causa dele.

 

Era?

 

Mente traidora!

 

“- Sei.- disse descrente.- Ele é um fofo pelo o pouco que conversamos. Apenas aproveite o dia, ok? Esqueça o celular, esqueça tudo e apenas aproveite, você merece.- assenti.- Não é um crime você ser feliz, sabia?”

 

Fechei os olhos e apenas concordei. Eu sabia do que ela estava se referindo, e não, eu não estava pronta. Não conseguia me imaginar amando alguém, era como se eu tivesse um bloqueio.

 

Tudo o que eu sentia relacionado a esse sentimento era frio.

 

Tentei parecer alegre, para não preocupá-la.

— Tenho que terminar de me arrumar. Vou sair com Tommy ás 10:50.

 

“- Tommy? Ele é bonito que nem o Oliver?”

— É. Ele é bem bonito.- rimos juntas.- Os dois parecem modelos aqui.

 

“- Agora entendi o porquê que você não quer sair dessa cidadezinha.- brincou, divertida.- Se cuida, ok? Te amo.”

— Também amo você, nevasca.

 

Antes de desligar a mesma me mostrou a língua, em reprovação ao apelido. Caitlin era sem sombra de dúvidas a pessoa mais sincera do planeta terra, e por conta disso, e sua falta de voltava ao disfarçar o desapontamento, muito de nossos amigos a apelidaram de Nevasca, por seu humor congelante, que também era muito, muito divertido.

 Finalizei a escovação e procurei a roupa indicada. Era um macacão simplesmente maravilhoso! Marrom com uma listra amarela na frente, com duas pequenas fendas que mostravam um pouco da minha cintura, sem deixar de contar com as costas nuas. Ele era leve e bonito, perfeito para um almoço. Coloquei um par de brincos pequenos prateados, e o colar…

 

Não consegui tirá-lo

 

Então o deixei aqui, escondido em meio a um segundo colar.

 

Passei uma maquiagem leve, completando meu look com o tênis branco e um batom nude. Peguei uma bolsinha de lado, onde deixei minhas coisas e um casaco. Até a noite poderia esfriar. Cumprimentei Dinah ao descer as escadas, sendo elogiada pela minha roupa. Ela era uma boa pessoa, e pelo o tempo que estou vivendo aqui descobri que é muito companheira, e com um forte senso de justiça. 

 Me distraí um pouco mexendo no celular quando uma buzina me fez erguer o olhar. Tommy estava com o vidro aberto, usando um óculos de sol preto e com seu sorriso costumeiro.

— Olhem só essa mulher população de Virgin River!- disse em voz alta ao sair do carro.- Ela está comigo, ouviram?

— Tommy!- o repreendi. Um casal de velhinhos que descia as escadas nos encarava de forma divertida.- Virei piada para os idosos.

— Não diria piada. Você está sexy.- balancei a cabeça. Já havia me acostumado com os “elogios” de Tommy.

— Vai precisar muito mais que isso pra me conquistar.- brinquei.

— Eu adoraria o desafio, mas você me conhece, sabe sobre os meus podres.- lamentou.- Além disso, Oliver me mataria também.

 Seu comentário me deixou confusa. Por que Oliver o mataria?

 

E por que sua frase havia me deixado tão feliz?

 

Eu queria saber o que eles tinham conversado. Mas Tommy parecia longe demais para notar isso.

— É. Eu sei bem que você é mulherengo- voltei, tristemente, ao primeiro tópico.-. Inclusive salvei sua pele ontem.- o lembrei.- E ainda tive que ouvir os barulhos nada discretos seu e de Helena.- senti o nojo voltar a me atingir.

— Então. Você me ajudou ontem…- começou. Cruzei os braços.

 

Lá vinha uma bomba.

— E eu meio que, sem querer.- apontou.- Sem querer acabei dormindo com Helena ontem. E ela me perguntou novamente se poderia ir, me deixando sem saída, então eu meio que…- me lançou olhos pidões.- meio que disse que eu ia ir com você na casa dos Queens, no seu carro. Já que você não conhece o lugar.

— Você o quê?- quase gritei.- Perdeu a cabeça Tommy? Helena já me odeia…

— Por isso mesmo. Uni o útil ao agradável. Se ela soubesse que eu iria com você não pediria pra ir.- suspirei.

 

Infelizmente fazia sentido.

— Você é uma peste.- o vi sorrir.- Entra logo no carro.

— Sabia que ter uma amiga mulher teria seus privilégios.

 

Ri sozinha. Tommy se apossou do banco do passageiro. Seu olhar, atento, vagou pelo carro, notando cada detalhe.

— É uma BMW bem bonita.- comentou, passando a mão no banco.- De couro vermelho pra combinar com a cor de fora...Simplesmente sensacional.

— Se quiser os deixo um pouco sozinhos, assim podem namorar.- dei partida. Liguei o rádio, passando até achar uma música boa.

— Deixa essa...Isso.

 

Era uma música da Taylor Swift. Franzi as sobrancelhas, o encarando surpresa.

— Tommy Merlyn, você escuta Taylor Swift?

— É “ Shake it off”. Qualquer ser humano com vida social conhece essa música.- se defendeu. Foi impossível não rir.- Agora acelera. Se nos atrasarmos por minha causa Thea vai me matar. 

 

***

 Estacionei o carro ao lado de um gramado. Meus olhos correram até a casa um pouco mais a frente. O modelo não era diferente dos anteriores, em um estilo campestre, era feita de madeira e tinha dois andares, o segundo com duas pequenas varandas, cada uma pertencente a um quarto. No térreo havia uma escada de pedra bem finalizada, que dava a porta da frente, onde pelo o barulho, as visitas já haviam chegado. Tommy foi na frente, tocando a companhia. Thea a abriu imediatamente, passando direto por Tommy.

— Ah, aí está você.- me abraçou.- Está linda Lis.

— Obrigada.- dei uma voltinha.

— Só tem a Lis aqui, né Speedy?- Tommy reclamou.

— Se acostume. Atualmente a única pessoa que tem a atenção de Thea é a Felicity.

 

Sua voz me arrepiou.

 

Oliver estava encostado à porta, sorrindo de canto. Seu cabelo estava molhado, a barba bem aparada, e a roupa casual que usava o deixou ainda mais atraente. Seu olhar encontrou o meu, e por minutos ficamos assim, sem dizer nada, até eu perceber que não estávamos sozinhos.

 

Oliver pareceu notar também.

 

Limpou a garganta.

— Seja bem-vinda.

 

Pendurei meu casaco no cabide, e observei os arredores. Era uma casa grande, espaçosa, e muito, muito charmosa. A sala tinha uma parede de pedra branca, onde havia um espaço para a tv e logo abaixo, uma lareira pros dias frios. Seguindo meu campo de visão, uma parede separava outro cômodo, qual eu acreditava ser a cozinha, e uma escada no canto levava ao outro andar. Sara estava sentada no sofá, rindo com uma mulher que deveria ser a esposa de John. Ambas levantaram quando me viram.

— Finalmente.- Sara me abraçou.- Lyla, essa é Felicity.

— Um prazer.- me cumprimentou com um sorriso doce.

— O prazer é meu senhora Diggle.

— Ah, por favor, sem formalidades.- pediu.- Me chame apenas de Lyla.

— Digo o mesmo. Quer dizer…- me embaralhei.- Não é pra me chamar de Lyla, até porque não faria sentido nenhum você me chamar assim sendo que esse não é o meu nome…- sorri sem graça.

 

Eu precisava imediatamente parar com isso.

 

Ouvi o riso de Oliver, que escutava nosso diálogo.

— Bem que me disseram que você era engraçada.- brincou Lyla.- Já volto. John está lá fora preparando o almoço, e Sara está o ajudando.

— A vontade.

 

Quase implorei para que ela saísse, assim poderia me esconder, e morrer de vergonha. Oliver pareceu ler meus pensamentos, pois balançou o indicador em negativa.

— Nada disso.

— Mas eu nem fiz nada.- menti, sorrindo de forma angelical. Oliver semicerrou os olhos e se aproximou.

— Sabe que consigo ler bem as pessoas, não é?

— Isso está incluso no seu pacote de multitarefas?- provoquei. O mesmo balançou a cabeça, divertido.- Bom, então me diga, o que você vê?

— Além de sua expressão aterrorizada pelo o momento com Lyla?- revirei os olhos.

— Além disso.

— Bom. Além disso, eu vejo uma mulher impaciente…-soltei um riso baixo.

— Olha quem fala.

— Deixa eu terminar a minha observação.- assenti divertida, fechando um zíper invisível em minha boca.- Uma doutora cuidadosa e mandona com seus pacientes…- sorri.-  Que está absurdamente linda hoje.



Senti minhas bochechas queimarem. Encarei Oliver, quando o mesmo arqueou as sobrancelhas e sorriu, me deixando sem graça.

— Vocês dois!- a voz de Thea me fez desviar o olhar, e eu agradeço aos céus por isso. Mais alguns minutos e eu faria alguma besteira.- Vamos lá pra fora.

 

Thea se aproximou e enlaçou seu braço ao meu, saltitante. Encontrei o olhar de Oliver, e o vi mexer os lábios em um silencioso “desculpe” pela irmã. Apenas dei de ombros e pisquei.

 

Os Queens eram engraçados.

 

Pra uma cidade pequena eu jamais imaginei que minha vida se tornaria tão divertida.

 

***

O dia estava sendo divertido.

 

A parte externa da casa não poderia ter me deixado mais encantada. Além da varanda onde estávamos e a pequena área gourmet, as escadas nos levavam a um pequeno deque sob um riacho, com confortáveis poltronas e a vista maravilhosa da floresta ao horizonte. O namorado de Thea, Roy, chegou pouco tempo depois. Um rapaz bom pelo o que percebi, é completamente apaixonado. Os dois me fizeram sorrir.

 

Era bonito.

 

Assim como a família de John.

 

Sua filha de sete anos não me deixou em paz. Ela era um amorzinho, sorridente e com uma energia infinita. Agora no momento jogavamos cartas, e Sara estava sentada em meu colo, me ajudando a decidir o que fazer. A rodada seguiu, e ouvi seus resmungos quando pela quarta vez eu venci.

— Você está roubando.- acusou Roy.- Não é possível.

— Os perdedores sempre inventam acusações falsas.- fingi soberba, os fazendo rir.- Por que não admite que não consegue me vencer, Roy? Está começando a ficar feio pra vocês.

— Não conhecia esse seu lado competidor doutora Smoak.- disse Oliver.

— É ruim?

— Na verdade lhe caí muito bem.- sorrimos. Seus olhos brilharam de repente.- Acho que achei minha parceira para os jogos deste ano.

— Ah, mas não achou mesmo.

 

Thea e Oliver, assim como os demais, começaram a discutir da forma mais engraçada possível. A Queen mais nova o acusava de ter roubado na versão anterior, o que o deixava desclassificado para as desse ano, enquanto Tommy e Sara pensavam em táticas para vencer uma espécie de lançamento. John limpou a garganta, os chamando atenção.

— Não acham que devemos explicar a Lis pelo o menos o porquê que estão discutindo antes de se matarem?- perguntou. Nenhum respondeu, voltando a se atacar.

— Eu não vou deixar você vencer!- Thea cerrou os dentes.- A vitória é minha!

— Igual a do ano passado?- zombou Oliver. Thea pegou uma almofada do pequeno sofá e o acertou.- Aí Speedy!

— Trapaceiro! Todo mundo sabe que você roubou!

— Pode provar?- provocou Oliver, a deixando vermelha.- Então pronto. 

 

Levei a mão à boca, abafando uma risada. John, desistindo de interrompê-los, se sentou ao meu lado, balançando a cabeça em reprovação.

— Ficam piores que crianças na temporada de jogos.- Soltei um riso baixo.

— Dá pra ver que são bem competitivos.

— Competitivos?- ergueu a voz.- Você vai pro céu por uma definição tão modesta.

—Ah, não podem se tornar uns monstrinhos.

— São piores que monstros, Felicity. Quando se trata de jogos, todos aqui viram os mais baixos e trapaceiros possíveis.

— Isso inclui Lyla também?- perguntei, a escutando dizer que o prémio de uma tal corrida seria dela. John assentiu.- Coitadinho.- o abracei, nos fazendo rir.- Fica preso nesse meio de loucos.

— É um final de semana torturante.- fingiu pesar.

— Como funciona?- perguntei, curiosa.

— Isso vai corrompê-la, e eu vou perder a única pessoa sã quando isso chegar. Mas é melhor apresentá-la logo ao nosso mundo.- disse em tom dramático.- Mas vamos lá. Como você sabe, todos os anos fazemos festas para arrecadar dinheiro. Uma dessas é chamada de “ Os jogos do lenhador”.

— Por que lenhador?- John sorriu.

— Você é mesmo impaciente, hein?- pisquei.- É uma forma de homenagear os homens e mulheres pioneiros que fundaram Virgin River, e acontece no topo de uma montanha. Todo ano fazemos isso, e todos tem que se vestir como um lenhador.

— Por quê?- acabei rindo em minha frase.- Eu estou parecendo sua filha, não é?

— Sim, você está.- brincou.- Bom, fazemos isso como parte da homenagem, e porque lá no topo é um frio desgraçado.- assenti, divertida.- E tem jogos, comida, e alguns presentes para os visitantes.

— Parece legal. Não vi a parte maligna ainda.

— Olhe pra sua frente. Os jogos do lenhador corrompem qualquer um.

 

Eles ainda discutiam, o que me fez rir. Não era possível que pessoas tão centradas quase se matassem nesses jogos, ou talvez, só talvez, eu ainda não estava acostumada com a competitividade das pessoas da região. Parecia insano.

 

E eles levavam o prêmio muito a sério.

 

Seria engraçado assistir.

— Deixa eu acabar logo com isso.- se levantou.- Pessoal!- os fez calar a boca.- Eu adoraria ouvir as ameaças de todos vocês, mas acho melhor comermos.

 

Comida, no final das contas, sempre vencia.

 

Oliver colocou uma mesa na varanda, onde nos deliciamos com o almoço. Acho que essa deveria ser a vantagem de ter dois bons cozinheiros e uma especialista em doces em casa. 

 

Eu estava comendo muito.

 

E se pudesse comeria mais.

 

 Oliver estava dando comida a Sara, a pedido da menina. Observei a interação dos dois encantada. O brilho nos olhos de Oliver, e a forma cuidadosa que cuidava dela era linda.

 

Ele parecia amar crianças.

— Ele é padrinho dela.- a voz de Lyla me despertou. Virei o rosto, vendo seu sorriso discreto.- John e Oliver sempre foram muitos próximos, e pelo o olhar da minha filha não erramos na escolha.

— Não mesmo.- sorri boba, os olhando rapidamente.- Por que Sara?

— Ah, essa é uma boa história.- sorriu animada.- Minha gravidez foi de risco, principalmente porque o trabalho de John sempre fora muito perigoso.- suspirou cansada. A encarei com atenção.- Nunca saber se o amor da sua vida vai voltar de uma missão é um sentimento terrível.

— Missão?- franzi as sobrancelhas.

— John serviu o exército. Era do mesmo batalhão que Oliver.

 

Aquela informação me pegou de surpresa.

 

Encarei Oliver novamente, brincando com Sara. Jamais cogitei que ele tivesse trabalhado nas forças armadas. A constante mania de ajudar as pessoas, a falta de cuidado com os próprios ferimentos…

 

Fazia sentido agora.

 

Mais uma vez Oliver Queen me deixava fascinada.

— Foi onde se conheceram?- perguntei, voltando a prestar atenção.- Oliver e John.

— Sim. Cuidavam um do outro. Achei justo, pela a quantidade de vezes que Oliver salvou meu marido de deixá-lo como padrinho da nossa filha.

— É. Não poderiam ter escolhido alguém melhor.- Lyla sorriu.- Mas então, por que Sara?

— Desviamos do tópico.- riu.- Bom, como eu disse, minha gravidez era de risco. E o riscos de eu sofrer um aborto eram altíssimos…- segurei em sua mão, a passando força. Embora Sara estivesse bem, o simples pensar de uma mãe em perder seu filho era torturante.

 

Muitas vezes quase fatal.

 

Principalmente quando as coisas não saíam como o esperado.

 

Tentei focar em Lyla.

— Fizeram um procedimento que impediria que isso ocorresse.

— A cerclagem. Conheço.- seu olhar se tornou curioso.- Não se esqueça que sou médica, e já atuei muito nessa área. Sei os procedimentos.

— Ah, claro. Esqueci disso por um momento.- sorriu.- Bom, fizemos o que você já sabe, e nesse meio tempo eu tive que ficar em repouso absoluto. Então Sara bateu o pé e disse que cuidaria de mim até o bebê estar bem.- olhou para a loira do outro lado da varanda, que ria com Tommy, Thea e Roy.- Ela foi uma amiga essencial, e por causa dela nossa garotinha está aqui. Não havia outro nome para escolher.

 

Seu olhar caloroso a Sara me contagiou. As palavras de Quentin começavam a fazer sentido. 

 

“ Esses pacientes são minha família”

 

Realmente eram, e todos se tratavam como uma, conseguia sentir o amor aqui.

— Mas e você?- perguntou de repente.-Não pensa em ter filhos?

 

Sua pergunta me deixou paralisada.

 

Tentei ignorar o bolo que havia se formado em minha garganta, e a sensação de estar com as mãos suadas e o coração acelerado. Era uma pergunta simples, um sim ou não bastavam.

 

Se era tão simples, por que eu não conseguia responder como uma pessoa normal?

 

Porque eu nunca seria normal.

 

Não depois de tudo.

 

Foquei em minha respiração.

— Não...Não sei se eu seria uma boa mãe.- foi tudo o que respondi, olhando para os lados.

— Ah, isso é prática. Eu era terrível nos primeiros meses com Sara. Amamentar então? Parecia que eu iria perder o meu peito!- riu. Tentei acompanhá-la, em um riso forçado.- Mas é tão gostoso quando você sente seu filho no colo…

— Pode me dizer onde é o banheiro?- perguntei, tentando fugir.- Estou apertada.

— Depois da cozinha.

 

Me levantei imediatamente, sentindo meus olhos arderem. Eu não podia perder o controle hoje, havia dito isso mais cedo. Deveria ser um dia leve, divertido.

 

E não um em que eu chorava em um banheiro.

 

Eu já estava chorando em um banheiro.

 

Abafei um soluço com as mãos, tentando não fazer barulho. Lyla me lembrou de minha gravidez, de todos os planos e momentos aguardados que eu teria, e simplesmente não vieram. Era injusto.

 

A vida havia me roubado aquilo.

 

E eu queria de volta.

 

Mas não podia ter.

 

Isso era o que mais doía.

 

Doía ter que fingir a todo tempo que eu estava bem, quando na verdade não estava. Doía ver o olhar julgador de Caitlin, que embora discreto, me acusava de não saber lidar com a minha própria vida, e como uma criança fugiu de casa. Doía o comentário de todos ao redor.

 

Doía o sentimento de culpa.

 

Que há quase dois anos não me deixava em paz.

 

Ás vezes doía respirar.

 

Como agora.

 

A porta foi empurrada, já que eu notei, tarde demais, que havia a deixado encostada. Oliver apareceu, e de repente ficou preocupado. Seu olhar me percorreu, e como se soubesse exatamente o que fazer, segurou em minha mão.

— Vem comigo.

 

E eu fui.

 

Não que tivesse ideia de onde estávamos indo, eu apenas o segui, certa de que, não importasse o lugar, isso me ajudaria. Oliver tinha esse feito de nos fazer confiar em suas decisões, e por mais que minha mente me alertasse o perigo, naquele instante eu confiei. Retornamos à sala, subindo as escadas no canto da parede. Me deparei com um corredor, com três portas, sendo duas de um lado, e uma do outro. Entramos na primeira, mas eu não reparei em muita coisa.

 

Eu precisava me acalmar.

 

Isso era um fato.

 

Nos sentamos em uma cama de casal, onde Oliver pegou ambas as minhas mãos e as esfregou, soprando para que ficassem quentes. Estavam geladas, muito geladas. 

— Tudo bem.- disse sua voz suave.- Não precisa se esconder aqui.

 

Então eu chorei.

 

Chorei muito.

 

Chorei por raiva de estar chorando, e depois por quão ingrata a vida estava sendo. Eu vinha tentando, não merecia um pouco de felicidade?

 

Por que então eu sentia, todos os dias, que alguém estava afiando uma faca em minha pele?

 

Era uma batalha diária, e momentos difíceis tendem a nos marcar mais do que os bons, infelizmente. Havia tempos em que eu simplesmente não via saída, e me via presa a um quarto abafado, sem janelas, e com a porta trancada. Eu queria sair dali.

 

Mas estava difícil demais.

 

Oliver me abraçou, balançando meu corpo junto ao seu. Uma de suas mãos fazia carinho em meu cabelo, enquanto a outra me mantinha prendia a si, em um aperto firme, indicando que não me soltaria. Deitei minha cabeça em seu peito, e aos poucos fui me acalmando, sentindo meu corpo relaxar, e aquela agonia torturante, que parecia sem fim, finalmente se dissipou, como uma chuva de verão. Respirei fundo e ergui o rosto. Oliver me olhava com carinho e um misto de preocupação.

— Melhor?

— Muito.- agradeci.- Obrigada.

— Não fiz nada demais.- sorriu.

— Fez sim, mais do que poderia imaginar.

 

Sorrimos um para o outro. Oliver deixou de me fazer cafuné e levou a mão até meu rosto, limpando as lágrimas restantes com cuidado. Seu gesto fora simples, mas aqueceu meu coração de uma maneira inexplicável. Me senti conectada a Oliver. Estávamos em silêncio, sozinhos, e seu abraço era a única coisa que parecia me dar forças para entender que eu conseguiria sim sair daquilo que eu estava passando. Que tudo acabaria bem,

 

Que tudo estava bem.

 

Eu não queria sair dali.

 

Oliver também não.

 

Mas não podíamos ficar muito tempo fora. Estávamos em sua casa, e se alguém nos encontrasse assim faria suposições. Claro que Oliver mentiria, não falaria o que realmente havia acontecido, mas isso levaria somente a mais suposições, e aquilo soava cansativo demais para mim. Com dificuldade, me libertei de seu abraço, sentindo como se alguma coisa me faltasse no momento em que levantei. Oliver permaneceu sentado, enquanto meus olhos percorriam o quarto pela primeira vez. Era bonito, com cores claras e bem organizado. Sua cama de casal ficava perto da porta que deveria levar a pequena varanda, que estava infelizmente fechada, mas pelas vidraças da porta francesa, eu ainda conseguia ver o lado de fora.

 

Era um lindo jardim.

 

Olhei seus móveis, desde o guarda-roupa, o tapete embaixo de uma poltrona e os nichos com livros. Fui imediatamente a seu encontro, vendo desde clássicos como Shakespeare, sendo o conto mais lido “Uma noite de verão” pela quantidade de vezes que as páginas pareciam folheadas, até histórias contemporâneas, como Harry Potter, meu favorito. Peguei “ Relíquias da morte” e encarei Oliver, divertida.

— Não me diga que você é uma fã perdida da saga.

— Eu sabia que tinha alguma coisa especial em você. Não é um “trouxa”.- Soltamos um riso baixo pela referência. O devolvi a estante, pegando um livro de capa dura.- “A república" Platão.- o olhei impressionada.- Como você é eclético.

— Esse tipo de livro eu geralmente leio quando eu não estou sóbrio- brincou, indo parar ao meu lado.- É ótimo refletir sobre a vida quando não se está sã.

— Deve ser mesmo.- rimos. Olhei o livro com atenção.- Deve ser interessante.

— Pode lê-lo se quiser.- deu de ombros.- Me devolvendo está ótimo.

— Então você é ciumento com os livros?- sorri.- Prometo que vou cuidar bem dele.

— Ah, eu espero. Levo promessas muito a sério.- piscou. Seu olhar foi a porta.- Acho que temos que ir.

— Espera.- segurei em seu braço.- Como meu rosto está?

— Normal?- franziu o cenho.- Não deveria?

— A maquiagem, Oliver.- apontei.- Está borrada?

— Por incrível que pareça, não.- suspirei, aliviada.- Mas se quiser retocá-la o banheiro é ali.- Apontou para uma porta de madeira ao nosso lado.- Digo pra Thea que teve um imprevisto.

— Obrigada, sério. Acho que jamais conseguirei dizer o quão importante foi sua atitude hoje.

— Não precisa retribuir. Ficar bem já é um grande presente.

 

Oliver sorriu de canto e saiu, me deixando completamente sozinha. Continuei olhando o lugar em que o mesmo estava pouco tempo atrás, com uma sensação estranha em meu peito. Eu não sabia o que de fato havia acontecido hoje, mas compartilhamos um momento muito íntimo.

 

Eu gostei.

 

E algo me dizia que haveria muitos outros.

 

***

 Logo o Crepúsculo surgiu, pintando o céu azul de Virgin River em dezenas de cores. Após o meu ocorrido, voltei a varanda, onde ninguém pareceu notar o meu deslize temporário. Oliver me olhava mais vezes do que eu poderia notar, como se checasse, a cada minuto, se eu estava bem. Sorri em forma discreta, agradecendo pelo o olhar. Sua ação fora muito nobre, e eu ainda refletia sobre ela. Quando eu estava com Oliver me senti segura.

 

Isso era raro.

 

Estava começando a me assustar.

 

Após um dia regado de conversas e piadinhas, ajudamos os Queens a recolherem as coisas. Sara dormia no ombro do pai, enquanto Lyla recolhia seus brinquedos. Thea, Roy, Tommy e a Sara adulta limpavam a área externa, já eu ajudava recolhendo a louça e a colocando na pia. A cozinha, por coincidência, se tornou nosso lugar de encontro.

— Já vamos indo. Obrigada pelo dia incrível, Oliver.- Lyla o abraçou.- Sara se divertiu bastante.

— Deu pra perceber.- brincou, indicando a menina sonolenta.

— Acho que eu também já vou.- se espreguiçou Sara.- O dia foi cansativo.

— Foi mesmo.- concordei, mas ao olhar a pia um pensamento me recorreu.- Vou demorar mais um pouquinho, somente para terminar a louça. Tudo bem pra você, Tommy?

— Eu posso ajudar…

— Não, não pode.- cortou Thea, e em um lapso, o segurou pelo o braço.- Você vai embora.

— Mas eu estou com a Lis.

— Eu e Roy vamos levá-lo. Tenho que dar uma passadinha no trailer, para ver se está tudo em ordem.- ouvi o resmungo de Oliver, que ao olhar a irmã balançou a cabeça. A vi sorrir e dar de ombros, o respondendo em sua pergunta secreta.- Já arrumamos lá fora, tudo bem pra vocês em cuidar da cozinha?

— Por mim tudo be…

— Ótimo. Então estamos indo.- me cortou, saltitante.- Até amanhã irmãozinho.

 

Thea arrastou todos para a porta, sem deixar de lançar um sorriso provocativo para Oliver. Queria saber do que se tratava, mas pelo o rosto de Oliver, contrário e ao mesmo tempo aborrecido achei melhor pular o tópico.

  Voltamos a cozinha, e quando me dirigi a pia o mesmo colocou sua mão sob meu ombro.

— Deixa comigo. Você não precisa...

— Mas eu quero.- insisti.- É o mínimo.- o vi suspirar.- Posso pelo menos secar, então?

— Tá.

 

A torneira era a única fonte de barulho. Eu estava aprendendo, com o tempo, que as noites de Virgin River eram bem silenciosas, tirando o barulho do vento que fazia minha janela balançar quando estava aberta.

  Peguei os pratos do escorredor e os empilhei, abrindo a parte de cima do armário para colocá-los, como Oliver indicou. Observei suas costas. Era incrível como até assim aquele homem era bonito.

— Vai me deixar sem graça.- ouvi seu riso baixo, me fazendo fechar os olhos.

— Eu tenho que parar com isso.- revirei os olhos. Essa minha mania já havia me colocado em dezenas de situações catastróficas.

— É uma das coisas que mais gosto em você.

 

Oliver virou o rosto brevemente, apenas para sorrir pra mim. O vi voltar a se concentrar, enquanto eu permanecia como uma boba encostada ao armário. Suspirei, indo terminar de secar os outros utensílios. Ele estava sendo tão legal, me ajudou em um momento difícil hoje.

 

E nem tinha ideia do porquê de eu ter ficado daquele jeito.

 

Acho que merecia uma resposta.

— Oliver, sobre mais cedo…-tentei focar no que eu tinha a dizer, e não como me sentia.- Eu só queria dizer…

— Não tem que contar. Não precisa contar.- me encarou de forma séria.- Sei que, quando se trata de sentimentos, é confuso demais tentar explicá-los, principalmente quando não os compreendemos muito bem.

 

Não desviei o olhar dessa vez.

 

Permaneci o encarando demoradamente, analisando cada detalhe, agora em uma nova perspectiva. Pelo o relato de Lyla, Oliver servirá o exército. Devia ser dai então a constantemente mania de não se achar “perfeito”. Eu não sabia o que ele havia passado, as experiências que havia vivido, mas seja lá o que fosse, isso havia o deixado com certo receio de si mesmo. A guerra mudava o homem, e sem sombra de dúvidas, deveria ser o lugar “ideal” para nos colocar frente a frente com nossos piores inimigos.

 

Que era nós mesmos.

 

Uma batalha que muitas vezes perdíamos sem ao menos lutar.

 

Eu sabia bem. 

 

Terminamos de guardar o restante da louça. Sequei as mãos em um pano e me espreguicei. O dia poderia ter sido cheio, mas eu não poderia estar mais elétrica.

— Quer beber alguma coisa?- sugeriu.

— Um suco, ainda preciso dirigir.- o vi sorrir.

— Mas que responsável.

— Temos que ser, não é?

 

O vi retirar uma jarra da geladeira, e como se lembrasse de alguma coisa, pediu licença, indo em direção à sala. Servi o suco em nossos copos, e dei um gole demorado. Oliver apareceu com um livro não mão.

— Você ia esquecer.- me entregou, sorri mais uma vez.- É um bom livro, linguagem antiga, mas o recomendo. Nos faz questionar o que é “justiça”.

 

Seu comentário me deixou reflexiva, e sem que conseguisse mais me segurar falei: 

— Deve ser difícil para um ex combatente de guerra ver mais do que uma definição de justiça.- Oliver parou imediatamente o que estava fazendo. Virou o rosto, surpreso.- Lyla me contou.

 

O loiro assentiu, abaixando o olhar. Soltou um suspiro pesado, como se controlasse as próprias emoções. É claro que eu não deveria ter falado isso, principalmente quando eu não havia contado quase nada de minha vida desde que cheguei. Pensei em fazer um pedido de desculpas, mas seu olhar achou o meu, e balançou a cabeça em um aceno positivo, concordando com algum pensamento interno. 

— Tenente.- disse após um tempo.- Eu era tenente.

— Imagino que deva ter visto muita coisa.- falei, sentindo vontade de abraçá-lo. Oliver suspirou pesadamente.

— Vi sim, muita coisa. Muita coisa...- repetiu mais para si mesmo do que para mim.- Mas eu tinha John, que me ajudava a manter a cabeça no lugar. Podem ter havido momentos trágicos, em que eu realmente pensava que iria morrer…- seu olhar se tornou vago, como se voltasse a aquele tempo. Em um impulso, segurei em sua mão, mostrando que estava aqui, não lá.- Vou parecer um louco ao dizer isso, mas sinto falta às vezes.

— Não vejo sinal algum de loucura nisso.- seus lábios formaram um sorriso pequeno.- Era sua casa também.

— É. Passar mais de cinco anos servindo faz aquele pedaço se tornar nosso.- sua mão se encaixou a minha, e com o polegar, o vi massagear meu pulso.- Não é fácil deixar uma parte da vida para trás, por mais dura que tenha sido.

— É, não é.- suspirei. Eu amava minha casa, amava tudo em Los Angeles. Mas depois da perda…- Chega a ser insuportável as lembranças, mas quando lembramos o motivo que nos fez sair de lá…

— Vemos que não temos que voltar.- entreabri os lábios, afetada.

— Exatamente.- franzi as sobrancelhas.- Exatamente.

 

Aquela conexão estranha se apoderou de mim mais uma vez, fazendo meu coração acelerar. Era intrigante a forma como que, em pouco tempo, eu me achasse tão parecida com Oliver. Éramos diferentes, claro, cada um com sua maneira de lidar com a dor, mas ambos estavam destruídos, eram apenas pessoas com traumas que tentavam viver.

 Sustentei o aperto em nossas mãos, o fazendo olhar pra mim.

— Obrigada por ter compartilhado um pouquinho da sua história comigo, sei que não é fácil.- o fiz sorrir.- Então, tenente Queen.— chamei seu nome com graça.

— Algum problema com a minha posição no exército doutora Smoak?- seu sorriso era provocativo. Arqueou as sobrancelhas, me desafiando a responder.

— Jamais.- brinquei.- Na realidade o cai muito bem, tenente.- o fiz soltar um riso baixo.

 

Descobri que estava começando a adorar as risadas de Oliver.

 

Era bom saber, embora os traumas, que ele não havia se tornado uma pessoa amarga.

 

Gostaria de ser assim também.

— Como eu estava dizendo. Acho que lhe devo alguma pergunta.

— Como?- perguntou confuso. Ainda estávamos de mãos dadas, e eu não sentia vontade nenhuma de soltá-las.

— Você falou de si para mim, acho justo que mereça saber de alguma coisa.- dei de ombros. Era justo.

 

Só esperava que ele não questionasse mais cedo. Aquela era uma dor que eu não conseguiria compartilhar ainda. Oliver pareceu ponderar, olhando para cima, quando seu olhar me percorreu, parando em meu pescoço. Engoli em seco.

 

Essa também não seria uma pergunta fácil

— O colar...- começou com cautela.- Você é casada?

 

Suspirei, podando um pouco a história.

— Já fui, não sou mais.- Oliver assentiu, me lançando um sorriso solidário.

— Vão resolver, tenho certeza.- sorri de forma irônica.

— Não, não vamos não. Acabou.- encontrei seu olhar. Oliver assentiu, e recolheu sua mão, cruzando os braços.

— Sinto muito.

— Tudo bem.- sorri, se ele soubesse…- É uma história longa.

— Quando estiver pronta para falar sobre sabe onde me encontrar.- sorri.- Por mais complicado que seja, às vezes só precisamos falar.- deu de ombros.- O alívio é instantâneo.

 

E ele estava certo.

 

Jamais imaginei que no dia de hoje nós dois trocariamos confidências tão íntimas. Oliver sobre o exército, eu sobre Ray.

 

Quem diria.

 

A coisa mais louca era que eu estava me sentindo bem por falar com ele, e eu não fazia isso com quase ninguém, nem mesmo com Caitlin.

 

Me senti assustada,e talvez fosse hora de eu ir.

— Obrigada, de novo.- rimos.- Foi um dia incrível Oliver.

— Foi mesmo.- concordou.- Eu te acompanho até o carro.

— Sempre um cavalheiro.

 

Peguei o livro e o casaco pendurado perto da porta e saímos, em uma caminhada silenciosa. Entrei dentro do carro, abaixando o vidro para falar com ele mais uma vez.

— Te vejo amanhã?- perguntou.

— É melhor preparar um almoço bem delicioso pra mim, hein?- o vi sorrir.

— O prato do dia será em em sua homenagem. Tenho que agradar a minha cliente mais exigente, mas ela é bem difícil.- balancei a cabeça, divertida.

— Vamos ver, tenente.

— Vai me chamar assim agora?

— Talvez. Estou me decidindo entre esse e Ollie.- o fiz rir.

— Não sei qual dos dois é pior.

 

— Ah, pode deixar a escolha por minha conta.- brinquei.- Até amanhã, Oliver.– Até amanhã, Felicity.

 

Parti, o olhando pelo retrovisor. Cheguei rápido à pousada, já que com mais de um mês eu já havia me habituado com as estradas. Somente quando retirei os sapatos e me livrei da maquiagem foi que me dei conta do que havia acontecido.

 

Eu precisava ligar para Caitlin.

 

No terceiro toque a linha ficou aberta. Pela falta de barulho de uma balada, ela já deveria estar em casa, assistindo alguma bobagem e bebendo um bom vinho.

 

Tínhamos esse costume.

— O que está maratonando dessa vez?

 

— The good doctor. Estou no episódio em que o Shaun dá um buquê de flores pra Carly porque quer transar com ela.- ri, esse sem dúvidas era um dos meus episódios favoritos.

— Ele não está errado, está?- a ouvi rir.- E como foi o dia?

 

“- Bom…- suspirou.- Vi Barry hoje.”

— Ouch.- gemi em desgosto.- Ele estava com ela?

 

“- Sim, um lindo casal a propósito. Perguntaram de você."

— O que respondeu?

 

“- Que você estava atendendo em outro lugar, cidade pequena. Ficaram surpresos por uma médica tão talentosa sair do mais famoso hospital da cidade”.

— Não é do feitio de Barry falar uma coisa dessas.

 

“- E não foi. Disse a Iris que você não precisava de um hospital com nome para ser talentosa, e se todos os médicos pensassem assim estaríamos perdidos. Ela pareceu meio incomodada.”

— Cada um pensa de uma forma, não posso julgá-la por isso.- suspirei. Claro que me incomodava esse tipo de comentário, especialmente porque mesmo eu não estando mais lá, as pessoas insistiam em falar.- Mas e depois? O que você fez no dia?

 

“- Passei na praia de Santa Mônica. Estava um inferno quente aqui hoje. Fui em uns restaurantes e depois vim pra casa. Mas e você? Como foi nos Queens?”

 

Suspirei.

— Foi...Foi legal.- sorri.- Jogamos muito, e eles cozinham absurdamente bem.- meu sorriso se desmanchou, tomei coragem para falar.- Oliver perguntou do colar.

 

Fechei os olhos, segurando as lágrimas. Caitlin não disse uma palavra, embora eu escutasse sua respiração. Eu a sentia aqui do meu lado, com a sensação de que a cada minuto ela me abraçaria.

 

“- O que respondeu?- perguntou com cautela.”

— Ele estava achando que eu estava casada.- ri em tom irônico, um soluço me escapou.- Disse que eu e Ray não estávamos mais juntos.

 

Isso é um começo, Lis.- falou em tom doce.- Está começando a falar sobre isso, é bom.- assenti.- Talvez seja a hora de tirar o colar.”

— Eu não consigo.- falei exasperada, segurando na aliança.- É como se estivesse ligado a mim. Não posso.

 

— Faz quase dois anos Felicity. Você precisa aceitar…”

— Eu sei o que eu tenho que fazer.- a cortei, irritada. Tentei controlar a respiração, não queria discutir com caitlin.- Amanhã conversamos.

 

“- Não pode fugir pra sempre, sabe disso.- engoli em seco.- Te amo.”

— Eu também te amo.

 

A ligação foi encerrada, e eu me deitei na cama, sem me dar o trabalho de trocar. Eu estava cansada, exausta. Foram muitos sentimentos em um único dia. Eu sabia que precisava tentar tirar o colar, mas era impossível, e sem forças, dormi agarrada a ele, com os pensamentos longes.

 

Alguns em Oliver

 

Ele estava me fazendo questionar muita coisa, e principalmente, sentir muita coisa.

 

Eu estava com medo.

 

E não sabia como agir, pois da última vez que me entreguei a alguém acabei destruída. Suspirei, cansada. Eram perguntas demais, perguntas que eu responderia amanhã.

 

Ou depois

 

Precisava descobrir as respostas primeiro.





Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

e aí? O que acharam dessas revelações? Comentem!

Beijos e até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The girl from LA" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.