The girl from LA escrita por Ka Howiks


Capítulo 1
Capítulo 1: Virgin River


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Como estão? Aqui vai o início de uma long fic que venho trabalhando há bastante tempo. Meu planejamento era termina-la completamente primeiro e depois postar os capítulos, porém, decidi fazer um teste piloto para saber se vocês irão gostar da história.
Sem mais delongas, boa leitura : )



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Pov Felicity 

 

10:00

 

Eu estava dirigindo a horas,

 

Não sei bem se tomei uma boa decisão.

 

Claro que eu havia pensado sobre isso umas trezentas mil vezes, tanto que minha cabeça começava a doer. No entanto, acho que o meu pequeno momento de explosão, onde me irritei( com todas as razões do mundo) ao receber aquela maldita carta cooperou para que eu parasse de adiar e finalmente pegasse a estrada. Não era fácil recomeçar, principalmente neste momento, mas eu precisava.

 

Ou Iria terminar de ruir.

 

Minha vida inteira estava em Los Angeles, minha casa, as pessoas que eu amo…

 

As lembranças

 

A dor

 

E mágoas que eu queria esquecer.

 

Não estava sendo fácil lidar com tudo, não que eu não tivesse quem me apoiasse. Caitlin Snow, minha melhor amiga e irmã sempre esteve ao meu lado nos tempos difíceis, faça um sol escaldante ou as tenebrosas tempestades que eu tanto odiava. Cursamos nossa faculdade de medicina juntas, conseguindo emprego em um dos melhores hospitais da cidade. Foi onde conheci meu marido, bom, ex marido.

 

Ray Palmer.

 

É difícil falar dele no passado.

 

Éramos realmente muito bons juntos, e eu o amava, amava muito,  mas por adversidades da vida, que mais uma vez me pregou uma peça, não estamos mais juntos.

 

E por muitas vezes eu me culpava por isso.

 

E por muitas vezes eu quero dizer o tempo todo.

 

Segurei na aliança que eu guardava em forma de um colar improvisado e suspirei. Olhei o celular, checando o GPS. Não havia mais sinal de prédios, e pelo o que pude notar já estava andando há um bom tempo em um âmbito florestal. Será que eu havia seguido o caminho certo?

 

Poderia ter pegado outra estrada...

 

Um grito me fez erguer os olhos novamente. Pisei no freio com brusquidão, trêmula. Eu não podia, não podia…

 

Não podia ter atropelado uma pessoa.

 

Consegui parar a tempo, mas sem não antes encostar um pouco na perna do rapaz, que caiu, assim como um cone. Me encostei no banco, suando frio.

 

Não era assim que eu imaginava começar minha nova vida.

 

— Por favor não esteja morto, por favor não esteja morto…- pedi enquanto saia do carro, apressada.- Ai meu Deus!- levei a mão à boca ao vê-lo segurando a perna.- Você está bem? Não se mexa!-Pedi enquanto me ajoelhava.- Onde dói?

 

— Não está...Aí!- resmungou quando apertei seu tornozelo, estudando o ferimento.- Você sabe o que está fazendo?

 

— Sou médica.- informei ainda sem olhá-lo.

 

— Médica?- perguntou em tom confuso.- A garota de Los Angeles?

 

— Sim. Como sabe…

 

Nesse instante perdi completamente a capacidade de falar. Não sei se por seus olhos azuis, ou pela forma charmosa que sorria, ou então pelo formato de seu rosto com uma barba bem desenhada...Era um homem bonito, muito bonito, tão bonito que sinceramente eu achava um crime alguém conter tantos níveis altos de beleza enquanto algumas pessoas eram desprovidas desse presente.

 

— Você não faz parte dessa porcentagem, posso assegurá-la disso.- seu sorriso se ampliou. Fechei os olhos rapidamente.

 

Eu necessitava parar de falar em voz alta.

 

Ou em algum momento alguém iria me chamar de louca.

 

— Você não é louca.- minhas bochechas queimavam. Escutei seu riso baixo.

 — E você é um cavalheiro por pensar assim.- o vi sorrir, acabei por retribuir.- Bom, Não é nada grave, apenas luxou por conta da batida. Claro que é um diagnóstico precipitado, eu precisaria levá-lo ao consultório, que por sinal eu nem sei onde é…- suspirei cansada.

— O doutor Lance não lhe passou o endereço?

— Sim, mas eu viria semana que vem, então a data para conhecer o local…- me calei, o encarando desconfiada.- Como sabe que vou trabalhar com o doutor Lance?

— Cidade pequena.- deu de ombros, mas notando que eu não havia entendido nada continuou.- Moro em Virgin River.

— Então atender o meu primeiro paciente machucado por minha falta de descuido não vai soar bom, né?- o vi rir. Sua risada era gostosa, não do tipo forçada, mas espontânea e realmente verdadeira, que contagiava quem estivesse por perto.

—  Posso fazer uma recomendação, dizer que a senhorita, além de extremamente bela- sorri sem graça.- é uma excelente profissional que ajudou um pobre rapaz em uma beira de estrada com o carro quebrado.

— Seu carro está realmente quebrado ou vai dizer isso para eu parecer a mocinha?- brinquei.

— Não teria tanta criatividade para criar uma história, mas as circunstâncias realmente a favorecem.- deu de ombros.- posso apenas tornar isso mais fácil.

— E o que esse bom moço ganharia em troca?

— Um drink talvez.- mordi os lábios.- Mas médicos são muito ocupados.

— Posso abrir uma exceção.- pisquei.

— Vou ficar feliz com o convite. Senhorita…?

— Felicity, Felicity Smoak.

— Oliver, Oliver Queen.

 

Sorrimos quando abaixei os olhos, um pouco envergonhada. Mau havia chegado em meu destino e já, aparentemente, parecia ter flertado com um deus grego.

 

Estava gostando dessa mudança.

 

Mas uma parte  de mim se incomodou. Balancei a cabeça e tentei focar.

 

— Eu preciso que você venha comigo.- o vi franzir as sobrancelhas.- para tirar pelo menos um raio x. Não seria de bom tom deixá-lo abandonado aqui.- o mesmo parecia pensar. Olhou para seu carro na lateral da estrada e em seguida para mim.- São ordens médicas.- fingi seriedade.

 

— Então você é mandona?- me encarou com interesse.- Ok, doutora.

 

— Bom menino,

 

Rimos juntos. O ajudei a sentar no banco do passageiro, não que não conseguisse andar, mas não queria que forçasse o machucado. Ainda não sabia ao certo se era uma lesão séria, e se meu bom amigo lá de cima estiver me ouvindo agora, sabe que minhas pressas referentes a essa dúvida clamam para uma resposta negativa. Partimos, sem não antes o homem dizer que seu carro seria guinchado, algo que me deixou mais aliviada.

 

— Você não deve pegar a direita.- comentou de repente. O lancei um olhar interrogativo.

— O GPS.- indicou.

— Não vai levá-la para o centro da cidade, e sim para a represa.

 

— Mas aqui diz…

 

— Confie em mim, sei que é muito cedo.- deu de ombros.- Mas conheço essa cidade como a palma da minha mão.

 

Confiança

 

Começar novos ciclos exigiam.

 

Mas eu não sabia se conseguiria fazer isso novamente

 

Apertei o volante com força. Senti seu olhar em mim, mas decidi não virar o rosto. Oliver permaneceu quieto por alguns minutos, e eu o agradeci mentalmente. Quando eu dirigia o carro se tornava um espaço de reflexão, reflexão que muitas vezes não eram boas...

 

— Há quanto tempo está em Virgin River?- perguntei evitando que minha linha de raciocínio se completasse.

— Pouco mais de 5 anos.

— Nossa, é bastante tempo.- o olhei rapidamente.- A cidade é boa?

— Sim, e todos se tratam como família, algo que eu aprecio muito nesse lugar.- sorriu.- Posso lhe fazer uma pergunta?

— Acho que pela nossa situação você pode me perguntar o que quiser.- brinquei.- Uma quase morte deixa as pessoas reflexivas.

— Eu já tive ferimentos piores, pode acreditar que um machucadinho no pé não é nada pra mim. Mas como são ordens médicas…- lamentou em um suspiro profundo.- é claro que eu vou respeitá-las, por hoje.

— Parece que vamos ter problemas então. Você não me parece o tipo de pessoa que aceita ordens com facilidade.- o olhei mais uma vez.- Estou certa?

— Um pouco.- piscou, balancei a cabeça, divertida.

— Típico. Mas qual era a pergunta?

— O que a trouxe a Virgin River?

 

Entreabri os lábios, surpresa. Esperava por qualquer coisa, menos uma pergunta certeira, tão certeira que até eu mesma evitava respondê-la. Por que eu decidi me mudar para cá?

 

Por que estava cansada da vida na cidade?

 

Por que queria recomeçar?

 

Ou por que queria fugir?

 

Nenhuma resposta parecia suficiente, exceto a última, a qual engoli em seco. Oliver deve ter notado meu desconforto, pois arrumou sua postura e continuou: 

 

— Outro dia você me responde então?- o agradeci pelo olhar e assenti timidamente.- Ok, bom, como você é uma garota de Los Angeles não deve ter ideia das atrações maravilhosas que a cidade oferece, posso recomendar algumas.

 

— Eu adoraria.

 

E assim seguimos conversando. Oliver me contou várias coisas, as festas típicas que a comunidade fazia todos os anos, onde todos os moradores se juntavam e comemoravam aos bons tempos, falou sobre a vegetação e paisagens lindas, quais eu estava louca para conhecer, além de me indicar dois lugares para comer, incluindo um bar, que pelo o que me contou, havia virado o ponto de encontro na cidade.

 Não demorou muito para chegarmos, e ao finalmente entrarmos no que parecia um vilarejo entre as montanhas meu coração acelerou. O sol ao fundo, alto por estar se aproximando do meio dia, iluminava as enormes montanhas, algumas tão altas que pareciam tocar as nuvens. Era belo, com árvores e mais árvores entre as casas de cores diferentes, que se destacavam em meio a vegetação. Me perdi por breves segundos na ampla vista, que transmitiam serenidade. Pude notar também as pessoas ao nos aproximarmos do centro, todos pareciam felizes, concentrados em seus afazeres.Oliver indicou que virássemos à esquerda, ganhando minha atenção novamente. A estrada nos levou a uma enorme casa branca com uma pequena varanda, que continha duas cadeiras de balanço. A porta de madeira polida, parecia trancada, o que me fez suspeitar se a clínica estava em funcionamento. Semicerrei os olhos para ler a pequena placa na entrada.

 

“ Consultório médico Lance”

 

“ Estamos abertos”

 

Sorri com a imagem. Abri a porta e imediatamente corri até Oliver. O mesmo, como pude observar, já havia posto o pé no chão, o que me fez sorrir.

 

Ele não era paciente.

 

Tinhamos algo em comum.

 

— Eu te ajudo, vamos.- coloquei seu braço sobre meus ombros.

 

— Isso é desnecessário.- murmurou enquanto caminhávamos.

— Enquanto eu estiver cuidando de você tem que obedecer as minhas regras.

 

O vi sorrir mais uma vez. Toquei a campainha e aguardamos em silêncio. Oliver era um pouco pesado, não tanto quanto deveria, pois sabia que ele estava sustentando maior parte de seu peso sem que eu percebesse, e seu braço ao redor de meus ombros era nada menos do que um gesto de respeito ao meu pedido de querer ajudá-lo. Um barulho de chaves no outro lado da porta foi ouvido quando a mesma foi aberta, revelando um senhor conservado trajando um jaleco branco. Seus olhos se arregalaram ao encarar Oliver.

 

— Santo Deus! O que aconteceu com você?

 

Não deixou que explicássemos, pois no momento seguinte já havia dado passagem para que entrássemos. Eu gostei do interior, era rústico, mas bem organizado, sendo aqueles lugares que convidam pessoas a se sentarem e tomarem um café da tarde. Era aconchegante.

 

Com uma paz inexplicável.

 

Passamos pelo o que deveria ser a sala de espera, com cadeiras e sofás, até seguirmos a uma porta branca, que quando aberta revelou ser a sala de atendimento. Colocamos Oliver sentado na maca.

 

— Muito obrigado querida, mas posso assumir daqui.- comentou pegando sua maleta. Entreabri os lábios.- Não sei como o convenceu a vir aqui. Oliver é um dos meus pacientes mais difíceis quando se trata de cumprir ordens médicas.

 

— É mesmo?- coloquei as mãos na cintura e o lancei um sorriso irônico. Oliver me olhou da maneira mais inocente possível, o que me fez segurar uma risada.

 

— Isso não é verdade senhor Lance.- tentou se justificar.- Só acho que o senhor sempre passa tempo de repouso demais pra mim. Sou um homem ocupado.

— Um homem ocupado também precisa prezar a saúde.- o médico o advertiu. Oliver ergueu os braços em sinal de redenção.

 

— Um bom soldado sabe reconhecer uma batalha perdida.

 

— E nós sabemos que você foi um excelente soldado.

 

Oliver o lançou um sorriso de canto e abaixou o olhar, aparentando desconforto. Um minuto de silêncio se passou  quando decidi falar algo, em solidariedade ao que fez no carro.

 

— Ele precisa de um raio x.- informei.- Acredito que não seja nada grave, o trouxe aqui apenas para ter certeza.

 

— Como sabe que ele precisa de um raio x?- O doutor Lance, que pedia parar Oliver assinar a ficha me encarou com olhos interrogativos.

 

— Sou Felicity, Felicity Smoak.- estendi a mão. Seu olhar endureceu.

 

— Sua nova funcionária.- explicou Oliver.- ela é muito boa, me encontrou na estrada depois de uma queda a caminho daqui.- partilhamos um sorriso cúmplice, mas no momento em que encontrei o olhar do senhor Lance engoli em seco.

 

— A garota de Los Angeles.

 

Seu tom foi ríspido, até um pouco desdenhoso. Recolhi a mão, desconfortável ao ser analizada tão minuciosamente. Doutor lance me encarou por mais alguns segundos carregados, até que decidiu voltar a ver a ficha.

 

— Deveria vir somente semana que vem.- comentou distraído.

 

— Eu sei, mas achei que seria uma boa ideia.

— Achou é?- sorriu em tom irônico.- Esse é o problema da geração atual, pensam demais e sabem de menos.

— A prefeita me informou que não haveria problema…

— Para Pollard nunca há problema, sempre se metendo onde não deve.- resmungou.- Eu disse que não precisava de ajuda no consultório, já tenho o doutor Merlyn, mas ela me ouviu?

— Me desculpe pela interrupção, mas acho que dois médicos para atender uma população de 600 pessoas é realmente um número pequeno.- devo ter falado algo errado, pois o vi abaixar a ficha com brusquidão e me encarar severamente, como se estivesse se controlando para não explodir. Dei um passo para trás, de autopreservação.

 

— O que disse?- perguntou em tom baixo, se mostrando mais irritado do que eu havia imaginado. Engoli em seco.- Acha que não somos capacitados?

 

— Eu não…

 

— Que não cuidamos da população?- sorriu em tom irônico.- Eu sabia que estava certo. Convidar uma médica acostumada a trabalhar em cidade grande era uma péssima ideia. Você não vai se acostumar com aqui, e dúvido muito que terá o mesmo zelo que temos pela nossa população.

 

Meu rosto se contraiu. Eu não ia ficar parada escutando um homem mau educado e sem escrúpulos dizer o que eu era capaz ou não de fazer. Minha irritação deve ter ficado visível, já que Oliver parecia estranhamente preocupado.

 

— Doutor Lance.- respirei fundo, dando um passo em sua direção.- Eu nem sempre trabalhei em Los Angeles, sei que sou plenamente capaz de atender qualquer pessoa.

 

— Eu não preciso de você.

 

— Mas a questão não é você.- ergui a voz. Respirei fundo mais uma vez.- A questão é a comunidade, são as pessoas daqui que precisam de nós.

— Você é desqualificada para o serviço.

 

— Bom, eu tenho um contrato que garante que eu vou trabalhar aqui,a vaga é minha.- rebati.- E agora peço que saia da sala, pois temos uma pessoa para atender.

— Ele é meu paciente!- falou com o maxilar trincado.

— Eu o achei primeiro, o que o torna minha responsabilidade.- disse no mesmo tom.- Agora pode me informar aonde fica o raio X?

 

A contragosto o mesmo cedeu, indicando a sala seguinte. Me seguiu até lá com Oliver, o ajudando a realizar o exame. Após algum tempo retornamos a sala, onde pude com calma analisar o exame. Sorri com o feito.

 

Não estava quebrado

 

E o amigo lá de cima me ajudou mais uma vez.

 

— Não é nada grave senhor Queen, pode ficar tranquilo.- o vi soltar um suspiro de alívio.- Mas…- continuei.- Recomendo três dias de repouso, e todas as noites faça uma compressa quente além de passar essa pomada anti-inflamatória aqui.- murmurei enquanto escrevia a receita.- Após isso pode retomar a vida normal.

 

— Obrigado doutora Smoak.- sorri.- Acho que devo ir.

 

— Você está sem carro, quer que…

 

— Desculpe o atraso!

 

Um homem alto de cabelos escuros apareceu, trazendo consigo uma sacola que pelo cheiro, eram rosquinhas. O vi pendurar seu casaco e se virar sorridente. O encarei boquiaberta.

 

Será que todos os homens daquela cidade eram bonitos assim?

 

— Diggle me ligou. Disse que Oliver avisou que estava com o carro quebrado, mas ao chegar lá não o encontrou…- se calou.- Você está bem? aconteceu alguma coisa?- perguntou preocupado indo verificá-lo. O dei passagem.

 

— Estou ótimo Tommy.- falou Oliver revirando os olhos.- Só um inchaço no pé, nada demais.

 

— Achei que estava morrendo, nunca vem aqui a não ser que esteja no leito de morte.- foi impossível não rir. Oliver piscou e fez sinal de silêncio, algo que seu amigo deve ter notado.- Eu não havia a visto aí, me desculpe.- lançou um sorriso galanteador, estendendo a mão.- Doutor Merlyn, mas pode me chamar de Tommy.

 

— Felicity Smoak.- apertei sua mão, sem graça.

 

— Smoak?- repetiu o sobrenome, como se o conhecesse.- Ah, a garota de Los Angeles.

 

— Parece que esse apelido pegou por aqui.- balbuciei. Balancei a cabeça.- Encontrei seu amigo vindo para cá.

 

— Que sorte a do Ollie por encontrar você.- seu sorriso se ampliou diante da cara de repreensão do amigo.- Bom, eu o levo pra casa, vamos. E Felicity.- se virou para mim.- Seja bem-vinda, quanto mais ajuda melhor.

 

— Penso o mesmo.

 

Lancei um olhar irônico ao doutor Lance, que estava de cara fechada. Recomendou algumas coisas a Oliver, e após nos despedimos, voltei para dentro do consultório. O senhor Lance me chamou até sua sala, indicando que eu me sentasse a cadeira à frente.

 

— Começamos com o pé errado.- suspirei.- Eu não quero ser um problema doutor lance, quero ajudá-lo.

— Já disse que não preciso de ajuda, mas como não há escolha…- lamentou.- você fica. No entanto…- cortou minha felicidade.- Esse é meu consultório senhorita Smoak, e enquanto estiver aqui obedecerá às minhas ordens. Tudo bem?

 

— Claro.- assenti. Seu sorriso se ampliou.

 

— Ótimo, nosso dia só está começando.

 

***

 

A tarde não havia sido nada parecida como eu imaginei. Pela minha conversa com o senhor Lance achei que começaríamos do zero, não pude estar mais errada. Ele me deixou ficar, mas isso não significava que havia de fato me deixado trabalhar. Atendemos três pacientes hoje, uma com sinais claros de asma, e quando eu estava pronta para examiná-la, Lance aparecia, os levando até sua sala. Fiquei somente na triagem, e não que eu não gostasse, longe disso

 

Mas eu queria fazer o meu trabalho.

 

E para conseguir isso eu teria que ter a paciência de uma santa.

 

O lado bom foi Tommy. O moreno era extremamente engraçado. Me explicou tudo, desde os pacientes presentes, as principais doenças que circulavam na região até as demais pessoas que atendiamos a domicílio. Pela forma que falava de cada um pude notar que os considerava muito mais que simples pacientes, eram família.

 

O comentário de Oliver mais cedo é verídico.

 

Sorri com o fato.

 

Já era noite, e uma brisa gelada cortava as árvores. Decidi fechar o consultório, dando tchau ao doutor que apenas assentiu de cara fechada. Suspirei desgostosamente.

 

— Ele é assim mesmo.- ouvi a voz de Tommy atrás de mim.- Mas garanto a você que por trás dessa casca grossa há um homem muito bom.- falou com respeito.

— Ele pode ser um homem bom, mas precisa me odiar tanto?- perguntei. Tommy sorriu.

— Quentin gosta de tudo do jeito dele, precisa ser paciente.

— Não sou muito boa com isso.

— Por isso vocês dois brigam tanto, ele também não é, são parecidos.

 

Entreabri os lábios, mas não tinha nada a dizer. Limpamos tudo, e ao finalmente descermos as escadas suspirei, cansada.

 

— Sabe aonde é sua casa?

 

— Oliver me explicou, obrigada.- sorri.- Até amanhã doutor Merlyn.

— Até amanhã Felicity.

 

Caminhei até meu carro, me jogando no banco. Não demorei muito ao encontrar a residência, mas assim que a avistei a olhei horrorizada.

 

Não era assim na foto.

 

Definitivamente não era.

 

Liguei a lanterna do celular e andei com cautela até um chalé abandonado. Encarei a foto novamente, em seguida a casa.

 

— Só pode ser brincadeira.

 

Suspirei fundo ao abrir a porta.

 

— O interior não podia…Ser pior.

 

Aquilo era definitivamente uma casa abandonada. Gritei com o barulho de esquilos, que correram para fora com a porta aberta. Os móveis estavam estragados, a lareira totalmente acinzentada, e o restante…

 

Não gostava nem de pensar no que aconteceu aqui.

 

Disquei o número imediatamente.

 

“- Felicity? Olá querida.- sorriu.

 

“- Oi senhora Pollard, é que eu estou na casa e…

 

“- Não é linda?

 

“- Na verdade…

 

“-Claro que faltam alguns reparos…

 

“- Alguns? A senhora não me disse isso quando assinei o contrato.

 

“- Você não iria querer vir.

  

“- Bom, mas agora estou aqui, e garanto que não vou dormir como a branca de neve no meio da floresta!- suspirei irritada.

  

“- Quentin precisa de você.

 

“- Não precisa, ele deixou claro isso hoje e…- fechei os olhos.- Foi uma péssima ideia. Eu não devia…

 

“- Não termine isso!- me cortou, angustiada.- Nós vamos arrumar sua casa, eu prometo, enquanto isso vou tentar conseguir um quarto na pousada da cidade.

 

“- Tentar?- quase gritei.

 

“- Por que não vai ao Queens enquanto não ligo? Assim pode beber alguma coisa, se acalmar…- segurei a língua para não respondê-la como queria.- Te ligo daqui a pouco.

 

“- Mas…”

 

A ligação foi finalizada antes que eu pudesse resolver alguma coisa. Encarei o telefone irritada e depois a casa.

 

Um bar era bem melhor do que essa casa assombrada.

 

Voltei para o carro. Meu corpo estava cansado, havia sido um dia cheio,e o pior de tudo era que eu nem sabia onde iria dormir. Poderia dormir aqui, mas duvido muito que no outro dia estaria bem.

 

Doutor Lance adoraria isso…

 

Cheguei ao centro novamente, procurando o Queens. As ruas eram calmas, com luzes florescentes, mas logo mais à frente pude ver movimento. Havia pessoas na praça, rindo, enquanto outros estabelecimentos estavam cheios também. Andei um pouco mais até encontrar, ao lado do rio, o nome Queens. Desci, arrumando minha jaqueta vermelha. Peguei a bolsa e segui nervosa. Era um lugar animado, elegante em certo tom. A entrada continha um deque de madeira enorme com mesas com guarda-chuvas ao lado do rio, local que seria bom para tomar um café da manhã. Ao entrar, risadas e música eram ouvidas de todos os quantos. As mesas eram bem dispostas, sendo as mais aconchegantes ao lado da parede, pois tinham a companhia de sofás confortáveis. Pude notar também um pequeno palco ao fundo, que deveria ser de música ao vivo.

 

As festas pareciam animadas.

 

Caminhei até o balcão, encarando a enorme estante de vidro com diversas garrafas de bebida expostas.

 

Eu precisava de alguma coisa.

 

— Boa noite. O que a senhorita gostaria…- uma voz conhecida me fez erguer o olhar, me surpreendendo.- Felicity?

— Oliver? O que faz aqui?

— Bom, segredo.- se inclinou, deixando seus lábios próximos de minha orelha, o que me fez prender a respiração.- Eu trabalho aqui.- sussurrou.

 

Parei para refletir por um momento. Oliver Queen…

 

Queens…

 

— O bar é seu?- perguntei incrédula. Seu sorriso disse tudo.- Claro, “ Queens”.

 

— Muito esperta.- sorri de canto. Mas me lembrei de uma coisa.

— Você não deveria estar aqui. E sim na cama.- o repreendi.

— Não está doendo. Consegui dirigir normalmente.- meu olhar se estreitou.- Não vai ficar zangada comigo, vai?

— Eu deveria.- fingi estar chateada.- Mas o dia foi longo demais.

—Tão ruim assim?

— Quentin não me deixa fazer o meu trabalho e o pior não foi isso.- o vi puxar um banquinho do outro lado, se sentando de frente para mim.- O chalé, é terrível. Está aos pedaços! Eu encontrei um esquilo lá, um esquilo— gesticulei. O vi prender a risada.- isso não é engraçado.

— Tem razão.- tentou se conter. Foi em vão, e acabei por acompanhá-lo.- Já sabe onde vai ficar?

— A prefeita disse que em uma pousada.- dei de ombros.- Disse que “iria tentar”.

 

— É melhor do que em uma cabana recheada de esquilos.- me fez rir novamente. Oliver nessas últimas 24 horas havia me divertido mais do que nos últimos meses.- Ela vai conseguir, e não se preocupe, garanto que não passará a noite na rua. Tenho um quarto sobrando qualquer coisa.

— Não quero abusar.

— Não será incomodo nenhum.- sorri timidamente.- Me parece que precisa beber alguma coisa, para ser mais preciso, algo com álcool. O que deseja? Pina colada…

 

— whiskey.- o vi arquear as sobrancelhas.- o que foi? a “ garota de Los Angeles” não deveria beber algo forte?

— Só estou surpreso. E preocupado. Pra você pedir algo tão forte o primeiro dia aqui não deve ter sido nada fácil.- suspirei ao pegar o copo, e o virei de uma vez.

— Você conhece o doutor Lance?

— Doc, ele se sente mais confortável. Mas sim, foi o que lhe falei.

— Cidade pequena.- conclui, Oliver sorriu.

— Já está pegando o jeito.- brincou.- Ele é uma pessoa com alguns traumas. Perdeu a esposa de um modo cruel, por isso é tão reservado e fechado.

— Nossa.- murmurei perplexa. Me solidarizei de repente. Eu sabia melhor que ninguém como era perder alguém que amamos.

 

É doloroso.

 

Corrosivo.

 

E muitas vezes nos deixa na cama por dias.

 

— Ollie! Fala pro Diggle que eu quero aquele peixe maravilhoso.- uma voz animada me tirou de meus pensamentos. Virei o rosto para encarar uma mulher loira, sorridente.

 

— Recomendo esse pra você também.- Oliver se virou para mim.- Garanto que vá gostar.

 

— Vou aceitar sua recomendação mais uma vez.- pisquei. 

 

— Sara, essa é Felicity.

 

— A garota de Los Angeles.- completou. Suspirei.

 

Aquele apelido ia me seguir por dias.

 

— Nossa, você é mais bonita do que falaram.- minhas bochechas queimaram

— Obrigada.- agradeci envergonhada.- Um prazer.

 

— O prazer é todo meu.- apertou minha mão, seu sorriso era malicioso.- Sara Lance.

 

— Lance?

 

— Ela é filha do doc.- explicou Oliver.

 

— Já conheceu meu pai? Que Deus a tenha.- me olhou com pena.- Ele pode ser esse rabugento, mas garanto que é uma manteiga derretida.

— Vamos ver.- forcei um sorriso.

 

— Ollie? Pra viagem.

 

— Ok.

 

O vi piscar novamente pra mim e entrar pela porta da cozinha. O observei nesse movimento, analisando seu corpo.

 

Ele não parava de ficar mais lindo…

— A população feminina de Virgin River pensa a mesma coisa.- riu Sara. Fechei os olhos.

— Tenho mania de falar em voz alta, desculpe.- não sabia onde enfiar a cara. Céus,

 

Devia ter ficado com os esquilos.

— Você é engraçada, e fofa, vai se dar bem aqui.- comentou de repente.- Se precisar de uma amiga ou qualquer recomendação pode me ligar, ok?- passou seu número.- Seja bem-vinda a Virgin River.

 

Descobri, pelo o pouco que conversamos que Sara era a filha mais nova do doutor Lance, sendo a mais velha chamada Laurel, advogada que não morava aqui. Sara me contou várias coisas, inclusive sobre a forma que a cidade funcionava. Pelo o que entendi, a fofoca era algo muito rápido no vilarejo. Oliver voltou, trazendo nossos pedidos. Sara se despediu e saiu, lançando um olhar a Oliver qual eu não entendi muito bem. Me concentrei na comida, e ao sentir o gosto dos vegetais que acompanhavam o prato suspirei.

— É delicioso.- falei de boca cheia. Oliver se sentou a minha frente.- Você que fez?

— Esse não. Diggle é nosso especialista em peixes. Mas da próxima vez que vir faço algo pra você.

— Eu vou cobrar.- sorri. Meu telefone tocou.- Só um instante.

 

Era Pollard, com a notícia mais satisfatória do mundo. Oliver me aguardou pacientemente, e pelo o meu sorriso vi que o mesmo já sabia o que havia acontecido.

— Eu te levo. faço questão, até porque esta começando a ficar tarde.- pensei em negar, mas a pousada ficava longe, e eu não queria o risco de encontrar os esquilos novamente.

— Ok.

Terminei o jantar e saímos, sem deixar de pagar. Oliver foi com seu jeep na frente, indicando o caminho. Pelo o que eu entendi o carro era de seu amigo, já que o do mesmo se encontrava na oficina.  Logo pude avistar uma casa bem iluminada, completamente amadeirada também. O que a tornava diferenciada era o segundo andar, pintada de branco, enquanto as janelas de vidro estavam cobertas por cortinas. Era um lugar bonito, em harmonia com a natureza, e o melhor de tudo, calma.

 

Tudo o que eu precisava.

— Chegamos.- me ajudou a descer do carro.

 

Peguei minhas malas no porta-malas, sendo uma levada por Oliver e caminhamos, em silêncio.

 

— É bonita.

— Sabia que você iria gostar.- sorriu.- Seu quarto é o 7.

— Como sabe?

— Pollard me ligou, pediu para que eu convencesse Dinah a te deixar . E bom…funcionou.

— Todos te ouvem muito aqui, né?- perguntei encarando seu rosto. Oliver deu de ombros.

— Só tem que ser gentil.

 

Um sorriso se formou em meus lábios. Continuamos a caminhar até chegarmos finalmente na porta, me virei para Oliver.

 

— Obrigada, por tudo. 

— Não precisa me agradecer.- piscou. Ficamos em silêncio. Uma sensação estranha me atingiu. Talvez eu devesse convidá-lo a entrar…

 

Mas a casa nem era minha…

 

O que eu estou fazendo?

 

— Bom, boa noite.- me despedi, antes que falasse alguma besteira.- Obrigada novamente.

 

— Não precisa agradecer.

O vi virar as costas e parar. Oliver me olhou mais uma vez, parecendo incerto do que iria falar. Prendi a respiração.

 

— Eu estava pensando…- começou sem jeito.- se você gostaria de dar um passeio amanhã pela represa, antes do trabalho. Tudo bem se estiver ocupada e preferir…

 

— Eu quero.- respondi rapidamente. Fechei os olhos, e mais recomposta respondi novamente.- Eu adoraria Oliver.

 

— Te encontro aqui amanhã às 7h então?

 

— Vou estar esperando.

 

O vi sorrir e então partir, agora decidido. Balancei a cabeça ao entrar, divertida.

 

Parecia que eu iria sair amanhã.

 

Me surpreendi comigo mesma. Desde de Ray e...o que aconteceu eu não havia conseguido sair muito com outras pessoas, sempre engatavamos uma conversa monótona, desinteressante.

 

Mas com Oliver foi diferente.

 

Eu queria verdadeiramente ir

 

Sorri mais uma vez. Deveria ser a atmosfera nova que me deixou tão relaxada que esqueci minhas dores um momento.

 

Será que seria sempre assim?

 

Ou essa medicação passaria com o tempo?

 

Olhei meu colar escondido em minha blusa com um sorriso triste.

 

Nem tudo pode ser esquecido.


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Notas finais do capítulo

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