Zona de Conforto - CIP escrita por Casais ImPossíveis


Capítulo 1
Capítulo Único - Zona de Conforto




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Apenas dois anos atrás aquele seria o último lugar onde se imaginaria ver Alex Mercer. Claro, sendo tímido como era não gostava de estar no meio de tanta gente, seu medo de ser pego fazendo algo errado não lhe permitia beber e os caras de sua antiga escola não eram assim os maiores simpatizantes da causa gay para fazerem amizade com ele, então não tinha nem o que fazer em uma festa como aquela.

Mas ali estava ele.

Trocar de escola foi uma das melhores escolhas que fez na vida, não havia mais bullying e, embora tenha demorado um pouco graças aos seus traumas, ele fez vários colegas ótimos e dois amigos incríveis. Logo começaram a aparecer convites para ir em “rolezinhos”, fossem eles do tipo dar uma voltinha na praça e comer em alguma lanchonete ou luauzinho na praia e festas enormes de arrasar quarteirão.

E é claro que no que início Alex, aquele poço de desconfiança, ficava sempre relutante em aceitar os tais convites por achar que todos estavam só fingindo ser legais com ele enquanto armavam alguma pegadinha super cruel e extremamente elaborada, mas com o tempo ele foi processando que aparentemente as pessoas podiam de fato gostar da sua companhia, o que era estranho e incrível ao mesmo tempo.

Ok, ele ainda não gostava de festas. Talvez o costume de não estar nesses ambientes o tivesse influenciado ou o fato de que sempre tinha alguns sem noção que decidiam não sair dos locais fechados para fumar e deixavam tudo com cheiro de fumaça ou então como a música era sempre alta demais para conversar sem gritar... Enfim, todos esses e vários outros motivos faziam com que festas não fossem seus “rolezinhos” favoritos, mas sempre acabava indo.

Por quê?

Bem...

O primeiro motivo atendia pelo nome Luke Patterson. E pode acreditar ele era um ótimo motivo para sair para qualquer lugar. Luke tinha uma energia frenética e um sorriso cativante ao extremo, qualquer um que encarasse por mais de três segundos aquela expressão empolgada com grandes olhos castanhos e brilhantes dele seria convencido a topar qualquer ideia, até as mais malucas. E Alex já sabia disso com toda a certeza por experiência própria.

E o segundo motivo, que por sinal era ainda mais irresistível, atendia por Reginald, ou simplesmente Reggie, Peters.

Esse era especial porque além da animação, que não chegava a ser tão frenética quanto a de Luke, Reggie tinha uma ternura no olhar e uma inocência fofa na voz que deixava Alex tão confortável que ele poderia estar na festa mais barulhenta ou no lugar mais caótico do mundo e ainda assim estaria em paz. A sensação era não só incrível como indescritível.

E então os dois se juntavam e Alex não tinha como dizer não. E o pior era que mesmo que esses ambientes fossem o contrário do que lhe agradava, ele sempre acabava se divertindo com seus amigos e não podia reclamar porque o saldo era mais positivo do que negativo.

E esse era um momento de saldo positivo.

A música dentro da casa estava estourando e o cheiro de fumaça estava começando a incomodar, então Luke aceitou ir com Alex para a varanda de trás onde tinha um sofá enorme e muito surrado, mas mesmo assim bem confortável. Algum tempo depois Reggie surgiu ali no meio de um ataque de riso que Alex estava tendo graças a história que Luke estava contando sobre uma garota com quem tinha saído uma vez e o encontro foi um completo desastre.

— Reginald! — os dois exclamaram animados ao vê-lo ali.

— Onde você tava? — Alex perguntou, limpando algumas lágrimas de riso do canto dos olhos com o polegar.

— Tava vendo se tinha alguma coisa além de batatinha pra comer. — Reggie respondeu enquanto dançava mesmo que a música soasse muito mais baixa ali. — To com fome.

— Nossa, eu nem ia falar nada, mas eu também. — Luke comentou colocando a mão na barriga e franzindo as sobrancelhas.

— Então somos três. Que tal a gente dar o fora daqui e comer um dogão? — Alex propôs, não vendo qualquer vantagem em continuar na festa e pensando que com certeza um dogão cairia muito bem.

— Eu até topo, mas antes o senhor me deve uma dança. — Reggie respondeu com um sorriso enquanto estendia uma mão para o loiro sem parar de balançar o corpo.

— Ah, qual é? Você sabe que eu não sei dançar. — Alex murmurou corando de leve.

— Ah, e daí? O Luke também não sabe dançar e ele dança comigo de vez em quando. — argumentou, erguendo uma sobrancelha.

— Ei! Eu sei sim. — replicou Luke levantando do sofá e fazendo um passinho. — Vai dizer que isso não é irado?

— É legalzinho, mas não quebra a minha linha de raciocínio, ainda quero a minha dança. — Reggie insistiu, sorrindo para Alex. — Vem.

— Na próxima festa eu prometo que danço, pode ser? — propôs com um sorriso tímido.

— Não caio mais nessa, toda vez você diz isso. — reclamou e cruzou os braços tentando parecer sério. — Hoje eu vou bater o pé, não saio daqui até você me dar o que é meu por direito.

Alex tomou ar para dizer algo antes que sua mente pensasse em algo para dizer, então olhou para trás ao perceber que a música mudou daquela batida pop chatinha e repetitiva por um ritmo lento e suave, gostosinho até.

— Viu só? Isso é um sinal do universo dizendo pra gente não dançar.

— Ou muito pelo contrário, vai ver esse é universo dizendo “Vai lá, Alex, dança com seu amigo”. Você não precisa saber dançar música lenta, só coloca as mãos na minha cintura, aí eu coloco as minhas nos seus ombros e a gente balança devagarzinho. — argumentou, voltando a sorrir e estendendo a mão mais uma vez.

Involuntariamente Alex ficou muito vermelho e tentou dar alguma desculpa, mas estava nervoso por algum motivo e só conseguiu gaguejar alguma coisa que nenhum dos outros dois conseguiu entender.

— Qual é, cara? Admite que ele te ganhou no argumento e vai dançar. — Luke disse com um ar de diversão na voz.

— Tá bom, tá bom. Uma dança. — o loiro aceitou a derrota e levantou do sofá.

— Legal! — Reggie exclamou tão empolgado que Alex sorriu pensando consigo mesmo que valeria a pena fazer isso para vê-lo feliz assim, mesmo sendo um baita mico.

Como o combinado Alex colocou as mãos na cintura do moreno enquanto ele repousava os braços ao redor de seus ombros e os dois começaram a se balançar suavemente. Os olhares se conectaram mais rápido do que o esperado e de forma tão intensa que nenhum deles saberia explicar bem o que estava acontecendo.

Alex quase teve o impulso de beijar Reggie antes mesmo da música terminar, mas para a sua sorte Luke acabou cortando o clima sem querer e sem perceber.

— Caramba, vocês ficam tão fofinhos dançando juntos. — ele disse quebrando a bolha ao redor dos dois.

— Quer saber? Eu nem to vendo, mas sei que concordo. — Reggie respondeu com seu jeitinho meigo.

— Cala a boca vocês dois. — Alex ralhou sentindo a vermelhidão se espalhando por seu rosto. — E aí? A gente já pode ir comer o dogão? To morrendo de fome.

Os outros dois responderam “já é” praticamente em uníssono e os três saíram da festa, indo para a lanchonete que mais costumavam ir. Lá Luke se empolgou com a ideia de todos irem para sua casa e virar a noite assistindo filmes e toda a energia caótica dele acabou contagiando os amigos que toparam mesmo não tendo levado roupas ou qualquer outra coisa necessária em uma festa do pijama, mas dariam um jeito.

O plano de virar a noite não deu lá muito certo, primeiro Reggie apagou no sofá usando um pijama de Luke que ficava muito largo e embora Alex tenha rido disso, fez o mesmo alguns minutos depois e Luke também se deixou vencer pelo sono, dormindo em cima de uma monte de almofadas no chão.

No dia seguinte Alex acabou acordando antes dos amigos, então foi sentar no balanço de madeira na varanda primeiro para garantir que não faria barulho e não incomodaria os outros dois, segundo porque estava um tanto quanto pensativo e o ar fresco da manhã lhe faria bem.

De tão perdido que estava em seus pensamentos ele só percebeu que não estava mais sozinho quando ouviu a voz meiga e alegre de Reggie.

— Posso sentar com você?

— Uh... Claro, senta aí. — Alex respondeu com um sorriso fraco, dando dois tapinhas no espaço vazio ao seu lado.

— Você... Tá bem? Não sei dizer porque, mas to te sentindo meio retraído desde o dogão de ontem. — constatou Reggie, dando uma risadinha assim que percebeu o que tinha dito. — Quer dizer... Mais retraído que o modo Alex normal.

— Porque me pergunta coisas se sabe que eu não sei mentir pra você? — perguntou e em seguida deu um suspiro.

— Eu não sabia disso, mas eu só pergunto porque me importo com você. — murmurou com um sorriso doce e gentil. — Então você não precisaria mentir pra mim mesmo que soubesse como fazer isso. Me diz o que aconteceu.

— O que aconteceu é que a nossa amizade é uma das coisas mais importantes do mundo pra mim. Claro que minha amizade com o Luke também é muito importante, mas especialmente com você porquê... Estar contigo é como encontrar o ponto mais pacífico do mundo, quem sabe até do universo inteiro, e saber que pode chamar esse lugar de casa. É assim que ser seu amigo me faz sentir. — Alex explicou enquanto gesticulava sem parar com as mãos que já estavam começando a suar de nervosismo.

— Isso... Foi lindo. — o sorriso de Reggie aumentou o máximo que cabia em seu rosto. — Mas... Qual é o problema nisso?

— Que eu não posso me dar ao luxo de te perder e ser tão íntimo me faz querer nunca esconder nada de você. — continuou a explicação ainda sem chegar ao ponto mais importante.

— Porque acha que pode me perder ou que tem que esconder alguma coisa? Eu não to entendendo mais nada. — indagou, fazendo uma expressão confusa extremamente fofa.

Alex respirou fundo para falar, mas ainda assim sua frase travou na metade. — To com medo que as coisas fiquem estranhas entre nós quando eu contar que...

— Quando contar que... — Reggie o incentivou a continuar colocando a mão por cima da dele e apertando de leve.

E depois de mais uma respiração, dessa vez ainda mais longa, Alex finalmente conseguiu por seus sentimentos para fora. — Quando eu te contar que ontem, na hora que a gente estava dançando juntos, eu quis tanto te beijar que quase beijei. Se o Luke não tivesse começado a falar eu teria feito sem pensar.

Reggie precisou de um momento para processar aquela informação, mas então voltou a sorrir sem soltar a mão do amigo, e disse.

— Posso confessar uma coisa?

— Claro que pode. Fica à vontade. — Alex respondeu meio nervoso, mas aliviado pelo amigo não parecer bravo ou enojado.

— Eu meio que torci pra você fazer isso? — Reggie disse ficando com as bochechas e as orelhas muito vermelhas, embora o sorriso doce não lhe abandonasse.

— F-fa... Fazer o que? — claro que Alex tinha uma ideia do que aquela frase queria dizer, só queria ter certeza.

— Me beijar, seu bobo. — confirmou o óbvio e deu uma risadinha envergonhada.

— Tá falando sério? — perguntou sentindo a respiração e o coração acelerando.

— Tão sério que você pode fazer agora. Se ainda quiser, é claro. Eu... Não sei se foi só o calor do momento. — respondeu ficando ainda mais vermelho.

— Definitivamente não foi coisa de momento. — Alex disse com um sorriso começando a se espalhar pelo rosto.

— Então me beija logo, bobão. — Reggie revirou os olhos e riu.

Alex acabou rindo também, porém logo colocou delicadamente a mão na bochecha de Reggie e uniu seus lábios em um toque macio e sutil que pareceu fazer o mundo ao redor sumir por completo e milhares de borboletas se agitarem em ambos os estômagos.

No entanto essa suavidade não durou muito, logo suas línguas se encontraram e tudo ficou mais intenso, dava para ver o desejo dos dois mesmo que o beijo fosse lento e até bonito de se olhar.

— Ai, caramba! — exclamou Luke interrompendo sem querer outra vez, fazendo os amigos se separarem no susto. — Eu até diria não acredito, mas eu acredito cem por cento. Torci tanto por isso. Vocês são muito fofos juntos.

— Como assim torceu por isso? — Alex perguntou franzindo as sobrancelhas.

— Já faz um tempo que eu sei que você gosta do Reggie e ultimamente eu tava achando que ele gostava de você também, mas só tive certeza ontem quando vocês dançaram. Foi uma gracinha. — Luke respondeu com aquela energia eufórica de sempre.

— Você não pensou em me contar? Eu só percebi que gostava dele ontem. — Alex disse em tom revoltado.

— E eu só cheguei a cogitar isso ontem. — Reggie resmungou com a mesma revolta.

— Sério? É que vocês são tãããããão óbvios. — Luke constatou não conseguindo segurar uma risada. — Mas, já que não era óbvio pra vocês, fico feliz que tenham percebido e que vocês estejam juntos agora.

— Então tudo bem pra você estarmos juntos? — Alex perguntou com um grande sorriso.

— Espera aí, então a gente tá junto? Tipo junto mesmo, namorando? — Reggie indagou com um sorriso maior ainda.

— Se você quiser, eu com certeza quero. — o loiro respondeu todo bobo apaixonado.

— Eu to super de acordo. — o moreno disse no mesmo tom.

— E é claro que eu to bem com isso. Mais que bem, eu to muito feliz por vocês estarem tão felizes e fofos. Eu amo vocês. — Luke disse sorrindo quase tanto quanto o novo casal.

— A gente também te ama, cara. — os dois disseram em uníssono e abriram os braços.

Luke correu para abraçá-los e assim começava um novo capítulo na vida dos três amigos, um capítulo chamado: Dois Garotos Apaixonados e Sua Voluntária, Feliz e Eufórica Vela.


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