Elisabeth se lembrava daquele dia como se não tivesse passado tempo algum.

Na sua situação, talvez o tempo perdesse mesmo sua importância. O terror daquele dia se gravara em seus ossos, sua pele, sua carne... O mundo de Elisabeth sempre fora silencioso, mas com a garganta em carne viva ela sabia que havia gritado com todas as forças que tinha em seu corpo, diante do berço vazio de sua filha. Ela lembrava de ter se perguntando centenas de vezes quem faria uma coisa dessas, roubar sua pequena Charlotte? Jamais teria imaginado que, anos depois, seria ela mesma a roubar o bebê do berço.

Elisabeth observava sua versão mais nova. Ela parecia tão feliz quanto era possível naquele mundo desolado, ao lado do único homem que amara e da filha que tinham trazido ao mundo. E Elisabeth, a mais velha, sentiu os olhos umedecerem com o desprezo de uma dor antiga, o desprezo por si mesma, pois ela era a pessoa que mais havia odiado no mundo. E mesmo sabendo que seu papel era importante, ainda assim não teria a recompensa que queria. Finalmente teria a filha nos braços outra vez. Mas, da mesma forma, não por muito tempo.

Enquanto sua versão mais nova conversava com Noah sobre um paraíso livre de dor, ela pegou o bebê e sentiu seu peso reconfortante nos braços, o lugar de onde nunca deveria ter saído.

Com a criança no colo e já distante do casal que acabava de perceber a desgraça caída sobre eles, Elisabeth olhou para trás mais uma vez, pensando que talvez o ódio também fosse tão cíclico e vicioso quanto o tempo.

A jovem mãe ajoelhada rezava com todas as forças para que a pessoa que tivesse roubado sua filha um dia conhecesse aquela dor, um dia sofresse como ela.

A velha mãe, com o bebê nos braços, deixou para trás aquele tempo com a certeza de que suas pragas eram justas.

Acredite, eu sofri.