Um Reino de Monstros Vol. 3 escrita por Caliel Alves
O primeiro a subir a íngreme encosta de pedras foi Saragat. Usando de suas conjurações, ele logo alcançou o topo. Em toda a extensão do paredão ele colocou grampos. E dentro das alças dos grampos, ele pôs um fio de sombra, este ia se afinando a cada metro vencido. Mesmo assim o encapuzado manteve a resistência do fio.
O mascarado deu um esticão no fio de sombras para mostrar que era muito seguro.
— Vamos, Tell, você vai primeiro.
— Tá.
O garoto atou o fio de sombras à cintura, e então deixou que o servo de Nalab absorvesse o fio. Index seguia o jovem voando ao seu lado. Através de uma polia fixa, o companheiro elevou o mago-espadachim montanha acima.
— Como foi à viagem?
— F-foi t-tudo b-bem.
O filho de Taran tremia devido ao frio, já era noite e o vento das montanhas castigava.
Mais uma vez o processo foi feito. Com um novo puxão no fio, Rosicler foi à passageira dessa vez. Como haviam estabelecido em outrora, Saragat a puxou devagarzinho de propósito. Ao chegar no alto, ela resmungou:
— P-porque t-tu d-demorou t-tanto s-seu m-maldito?
— Ah, sai daí, vai, menina.
E empurrando a ladina, o encapuzado abriu uma nova vaga e o fio de sombra serpenteou pelas rochas até chegar ao solo. Letícia atou o fio em Z. O armeiro subiu contemplando a vista da sua terra montanhosa tão amada.
Não demorou muito para que a alquimista pudesse ver o fio novamente. Ela atou-o a si e subiu pela encosta.
Espero que não tenhamos surpresas demais na 3º Estação...
A vista era linda, a lua brilhava tão perto que dava a ilusão de poder ser tocada.
Slinsh, esse era o som que o fio de sombras fazia ao passar pelos grampos.
— Hã, o que é isso, parou de repente?
O fio como a militar havia notado, deixou de correr, durante minutos a garota foi atingida pelo frio, ela pegou uma barra de chocolate e a comeu.
Corro o risco de ficar gorda, mas me recuso a morrer de frio.
A sombra se pôs a se mover novamente, de modo lento, e quando ela chegou ao restante do grupo, havia cerca de seis purificados. Com certeza os monstros não facilitariam para os heróis.
***
Quando Z abriu as portas de sua oficina, lágrimas vieram aos seus olhos. Estava tudo como tinha deixado: o malho, a bigorna, a prensa pneumática, a lixadeira e as diversas formas de argila estavam lá, só esperando o seu dono novamente.
— Vocês não vão entrar, não?
O quarteto tremia de frio lá fora, como se estivessem resfriados. O armeiro lhes pediu:
— Entrem, entrem, por favor, irei acender o fogo.
Derrubando as teias de aranhas, o homem de meia-idade foi até algumas toras de lenha e pôs tudo numa enorme fornalha de ferro e cobre, e acendeu o fogo com um sílex.
O grupo avançou em cima do fogo como se nunca tivessem visto uma fagulha. Index voou à frente do grupo e perguntou ao anfitrião:
— Como é que o senhor não sente esse frio, seu Z?
— Bem, você acaba se acostumando. Um homem pode se acostumar a tudo...
Seu olhar ficou distante, as suas memórias dançaram ao redor das chamas da fornalha.
— Seu Z, oi!
— Ah desculpe, Tell, o que foi?
— Como o senhor se tornou o melhor armeiro da Cordilheira de Bashvaia?
— Isto é uma história, longa demais, guri.
Todos se entreolharam, ninguém tinha muita coisa para fazer naquele frio.
— Por favor, conta aí, veio.
— Até eu fiquei curioso, coroa.
— Por gentileza, senhor Z, gostaríamos de ouvir a sua história.
— Senhor Z, ficaria honrado se eu pudesse conhecer a vida do armeiro de minha futura lâmina.
Aquilo de certa forma comoveu o homem, mas ele não tinha nada a dizer, ou melhor, não queria dizer. Muitos o julgavam uma lenda viva, mas no fundo ele era muito comum.
— Não.
— Por que não? Como assim, só não e pronto?
Saragat virou-se para o velho negro de cabelos grisalhos, ele parecia apático.
— Olha, senhor Z, eu sei que pode estar assustado, mas nós estamos aqui. Agora o senhor pode, sei lá, relaxar...
O homem limpou uma lágrima e atiçou o fogo, as memórias ainda estavam vivas.
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