Já fazia 20 minutos desde que ele chegou na minha casa e não parou de falar. Era sábado, dia que não faço nada além de dormir. Não esperava que ele chegasse de repente e ainda me pedisse café — no qual fui obrigada a preparar, porque havia acabado de sair da cama.

Eu estava apoiada na bancada e fumava um Marlboro, deu tempo para buscar um cigarro, mas não para escovar os dentes.

Meus cabelos enrolados estavam desgrenhados e o sol de meio-dia batia forte na sala. O cara pediu para que eu ligasse o ar, enquanto puxava o seu colarinho da camisa.

Eu disse que não tinha um.

Ar condicionado é caro e eu quero continuar a fumar meu Marlboro.

— Tá, entendi. — Disse como se eu tivesse o escutado. — Pra quê você veio aqui mesmo?

Ele ficou chocado com a pergunta e olhou para os meus pés alvos sem chinelos, depois pras minhas pernas longas que o short não cobria e por fim os meus olhos.

— Você foi cancelada.

Bati o cigarro no cinzeiro e dei uma tragada pra não dar um chute nele. Ele me acordou por causa disso?

— Podem me cancelar. — Disse

— Mas não vai ficar triste?

Ri. — Não, não me importo.

— Mas as pessoas vão te amar menos.

— Tudo bem, contato que minha mãe ainda me ame...

E eu tinha a certeza que ela já não me amava, olha, eu me tornei uma mulher toda errada e minha mãe é narcisista.

— Não te incomoda por não ser 100%?

— Que porra tá falando?

— Estou falando se não te incomoda ter a aprovação de todos.

— É impossível agradar a todos. — Disse como se fosse óbvio e ele suspirou.

— Tanta gente pira quando perde um como se tivesse perdido todos. Não sabem lidar com a reprovação de uma pessoa, quando querem ser aceitos por todos.

— Mas tem muita gente no mundo... não?

Ele riu.

— Você não tem ego, mulher?

— Claro que eu tenho, só não me importa a opinião dos outros.

— Não se importa em ser cancelada?

— Ouvi por aí que é algo tenso, mas acho que aguento.

Assim como aguentei minha mãe e o salário medíocre de todo mês que me impede de comprar um ar condicionado — pelo menos o mundo agradece.