Grãos de Areia a Beira Mar escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 8
Capítulo 8




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Os passos de Shuri eram lentos e delicados, porém decididos, ela deixou seus ouvidos se encherem pelo canto das mulheres, o estalar de suas línguas em gritos de celebração, o som dos tambores. Estavam orgulhosos dela, aparentemente, mesmo ela se casando com o homem que tinha tirado seus entes queridos. Esperava, naquele momento derradeiro, que seu povo entendesse a intenção do coração dela.

Ela então se voltou para frente, esperando que Namor chegasse até ali. Shuri o avistou então, com o que um convidado estrangeiro usaria em Wakanda. Namor, por sua vez, se rendeu aos costumes da superfície temporariamente, respeitando os costumes da terra que era sua aliada.

Seu peito geralmente exposto ostentando apenas suas joias, estava coberto por manto e túnica verdes, da tribo do rio, o mais próximo do mar que ele encontraria ali. Caminhou como um servo humilde, lembrando que devia sua vida à mulher que se tornaria sua esposa. Que tecnicamente já estava casada com ele.

Palavras foram entoadas pelos sacerdotes, separadas e juntos, cantadas e recitadas. Namor não sabia exatamente o que era cada uma delas, mas sabia seu significado, já que Shuri havia explicado o que aconteceria antes. Uma série de bençãos e pedidos de sorte e fortuna, uma chama foi acesa sob a pira na frente deles, simbolizando que estariam juntos eternamente daquele momento em diante.

O sacerdote principal tocou a cabeça de Shuri e depois de Namor, com braços cruzados, olhos fechados e um momento de silêncio.

Era difícil olhar um para o outro, havia vergonha e receio inicialmente, mas depois, genuína fascinação. Havia beleza e mistério nos tons de castanho dos olhos de ambos. Shuri não conseguiu deixar de reparar nos traços do marido, um queixo forte, o nariz delineado, olhos com ternura, admiração.

Namor notou na esposa um brilho no olhar, pequeno, mas disposto a aumentar, uma altivez nobre, com o queixo mesmo trêmulo erguido para cima, orgulhoso, sem baixar a cabeça. Os pequenos cachos que caíam para fora do lenço lilás em sua cabeça, enfeitando sua testa. Notou os brincos dela, presentes dele. Ver que ela os estava usando o deixou contente.

Despertaram do pequeno transe quando o sacerdote retirou a mão da cabeça deles, um sinal que estava feito e teriam que se beijar agora.

Se movimentar para fazer o gesto pareceu estranho a Namor. Tocou o queixo de Shuri hesitante, como se pedisse licença. Ela inclinou os lábios para frente, lhe dando permissão.

Ele pressionou os lábios contra os dela tempo suficiente para que arrancasse a reação da plateia, soltando-os com certa pressa. Parte de Shuri esperava algo mais elaborado e o sentimento de decepção a deixou surpresa. Não entendia o que estava sentindo.

Voltando ao seu senso de responsabilidade, seu esposo tomou a iniciativa de segurar a mão dela e passar por todo caminho de volta, apresentando-se aos convidados como casados. Sem trocarem mais palavras, logo Shuri e Namor estavam no centro do lugar de honra aos noivos, recebendo homenagens e presentes.

Quando os músicos encheram o palácio com o tilintar dos instrumentos, a maioria dos convidados começou a dançar, o que foi observado com curiosidade pelos Talokani que estavam ali, inclusive seu rei.

Desfazendo um longo silêncio, Shuri se virou para o marido.

—Não há nada parecido com isso em Talokan? - ela perguntou.

—Não é como se tivéssemos equilíbrio em mar aberto para fazer os mesmos movimentos repetitivos com tanta graciosidade - confessou ele, observando encantado - mas o movimento da água é ótimo para um bom jogo de bola.

—Não sabia que jogava - sua esposa comentou surpresa.

—Não jogo, apenas aprecio quando posso - ele respondeu, não sabendo exatamente porque se sentiu constrangido.

—Talvez pudesse experimentar, o jogo, a dança - Shuri o incentivou.

—Seria esse um comando de minha esposa e rainha? - ele ousou lhe dar um sorriso de lado, tentando tomar conta da situação outra vez.

—Não sei, não quero ser esse tipo de esposa, mas para dizer a verdade, é tradição que os noivos dancem, lembra que meu irmão fez isso no casamento dele, não lembra? - ela explicou.

—Oh não, se tenho algum favor com minha esposa, peço que me poupe de tamanho vexame, não quero parecer um tolo na frente do seu povo - ele se pôs em posição de defesa.

—Olha Namor, seguir um costume wakandano na verdade vai fazer você parecer bem pra eles - ela gesticulou de forma descontraída, em frente aos convidados.

—Isso é... interessante - ele escolheu que palavra usar, tomando um pouco da bebida que tinham lhe servido, tentando ganhar tempo; tempo, era tudo que precisava - me dê um pouco mais de tempo até que consiga lidar melhor com a ideia.

—Tudo bem - ela concordou, sem conseguir deixar de sorrir - não vou ser tão cruel assim com você.

—Agradeço, minha rainha - ele assentiu  para ela, sorrindo outra vez.

—Shuri, pode me chamar de Shuri - ela deixou claro, vendo aquele tipo de sorriso como de alguém amigo, e amigos se tratavam pelo primeiro nome - afinal já sou sua esposa e te chamo de Namor o tempo todo.

—Shuri então - seu marido concordou, considerando aquilo um progresso.

Infelizmente, ele não teve muito tempo para se preparar para a dança. Observou o príncepezinho, T'Challa, chamado de Toussaint pela família, se aproximar da tia com insistência.

—Vem, tia Shuri, você precisa dançar! - ele pediu.

—Ah mas eu ainda não dancei com meu marido, é tradição os noivos dançarem - Shuri corrigiu.

—Eu passarei minha vez ao príncipe - Namor entrou na brincadeira dela - mas prometo não escapar de sua tradição.

Rindo do comentário, Shuri se levantou e acompanhou Toussaint, segurando as mãos um do outro e chutando para os lados em direções opostas, balançando os ombros, mexendo a cabeça para cima e para baixo. Ela podia não ser tão graciosa quanto os outros convidados, mas ao menos parecia estar se divertindo. Ver Shuri contente deixou Namor igualmente contente.

Com coragem, ele se levantou e foi até a esposa, tocando o ombro do menino que agora era seu sobrinho, um sinal claro de que a vez dele tinha chegado. Toussaint correu para outro canto com um jeito travesso, e Namor segurou as mãos da esposa. Shuri sentiu um leve tremor ao sentir os dedos dele se fecharem contra as palmas dela, lhe passavam a estranha sensação de segurança.

—Eu vou seguir o que você fizer - declarou ele.

—Boa escolha - ela devolveu, vendo o que ele queria fazer.

Shuri fez o mesmo que fez com Toussaint e riu de Namor, que para ela, era um pouco lento, mas estava pegando o jeito da coisa. Um tempo depois dentro daquela dança, fez com que ele esquece que era o centro das atenções, dos olhares que estavam ali. O mundo tinha se transformado nele, Shuri e as risadas dos dois, a batida dos corações deles. Eram a prova viva de que seu casamento tinha cumprido o propósito de fazer seus dois povos amigos.

Diante daquela vista, T'Challa se tranquilizou, Shuri encontraria felicidade daquela forma.


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