Beijos doces e afetuosos marcavam a manhã dos soberanos de Talokan, mesmo quando assuntos sérios os aguardavam antes de sair.

Namor se ocupou com os guerreiros naquela manhã, inspecionando Namora treinar uma leva de jovens recrutas, dava para ver que eles estavam um pouco temerosos por ver seu rei de perto, mas Namor os brindou com uma expressão calma, aprovando o que estavam fazendo.

Depois que sua prima terminou o trabalho, ela achou que era uma boa oportunidade para conversar com ele sobre algo que estava pensando a um longo tempo.

—Você me parece diferente, Ku'kul'kan, com todo respeito - ela iniciou a conversa, direta.

—Dê detalhes sobre isso - ele demandou, fazendo ideia de onde ela queria chegar, mencionaria Shuri muito em breve na conversa.

—Está mais calmo e relaxado, paciente, não conversamos sobre estratégias militares há um bom tempo - Namora explicou - espero que a rainha não o tenha desmotivado desses assuntos.

—Se me permite corrigi-la, prima, está levemente errada - ele apontou, ainda assim de bom humor - estou aqui hoje justamente por estratégias militares, queria ver como meus novos guerreiros estão se saindo e a rainha não me influenciou a nada, na  verdade, como prevíamos, o casamento fortaleceu nossa aliança com Wakanda, a antiga princesa deles está bem e protegida aqui, continuará assim enquanto a protegermos.

—E você a protege porque a ama - Namora disse em voz alta o que era bastante notório nos últimos tempos.

—Amo - Namor confirmou sem pestanejar - essa aliança nos trouxe algo que não prevíamos, mas não é menos apreciado por isso.

—Se está satisfeito, então que seja - ela compreendeu - só peço que não perca seu compromisso para com seu povo.

—Jamais - ele rebateu sem pestanejar - Talokan é meu povo.

—Devo lhe dar um outro conselho - ela ousou dizer e seu primo lhe fez um gesto para que prosseguisse - você viu gerações do nosso povo nascerem e morrerem, a rainha é uma mulher mortal e seus descendentes correm o risco de ser como ela, não se perca quando eles se forem.

—Namora, sei que descendentes meus são esperados, mas não há nada assim por agora, essa verdade me atormenta vez ou outra, mas se a algo que minha rainha tem me ensinado, é valorizar o presente, é o que estou fazendo - ele lhe explicou calmamente.

—Fique bem, primo - foi o que Namora desejou, entendendo a posição dele, tocou a testa dele com a sua e voltou aos seus afazeres.

Namor sabia que um dia sentiria a falta de Shuri, mas agora não era tempo para isso. Pensando justamente em sua amada, ele foi à superfície, ver como ela estava.

Shuri ocupava-se com as últimas informações que tinha levantado sobre Talokan, atualizando seu próprio banco de dados sobre o reino. Interrompendo-a, veio uma chamada diretamente de Wakanda.

Não podia acreditar de quem se tratava. T'Challa, rei e Pantera Negra, geralmente ocupado com essas duas coisas, tinha encontrado um tempo para falar com a irmã.

—Eu pensei em ligar, já que você não liga - ele se justificou, bem humorado.

—Ih, nem vem, a gente se falou na semana passada - ela fez questão de lembrar - de qualquer forma, valeu por ligar.

—Não tem de que - seu irmão retomou - eu tenho um motivo especial pra ligar, queria te convidar pra uma visita, você disse que visitaria e não veio.

—Eu sei, eu sei que prometi, mas me adaptar a ser rainha de um reino submerso exigiu mais do que eu imaginava - ela brincou com um fundo de verdade - eu adoraria ir, e acho que podemos ir daqui alguns dias, então, te vejo por aí?

—Acho bom que venha - T'Challa recomendou mais uma vez - você e Namor, se ele quiser.

—Ah ele vai querer, ele já me disse mais de uma vez que adora Wakanda - ela confessou, rindo.

—É bom que ele goste - o comentário surpreendeu T'Challa - bom, espero nos ver em breve, então.

—Eu também maninho, até mais! - ela se despediu, voltando alegremente ao trabalho.

O rei de Wakanda ficou um tanto pensativo depois disso, percebendo requícios da antiga Shuri risonha, esperta e brincalhona que conhecia. De alguma forma, ela havia cumprido sua promessa de encontrar felicidade em Talokan. T'Challa só queria entender melhor como tinha conseguido.

Namor entrou no laboratório, sem nenhum aviso prévio, aproximou-se da esposa enquanto ela estava distraída. Tocou a cintura dela enquanto beijava a bochecha dela, num doce cumprimento. Sentiu-a estremecer levemente sob seu toque, um pequeno susto.

—Não quis assustar você - ele avisou, a abraçando por trás um pouco mais.

—Mais uma das suas tentativas de surpresa, meu amor - ela comentou, se virando para ele.

—O que estava fazendo? - ele ignorou a pequena crítica.

—Falando com T'Challa, ele nos convidou para uma visita - ela explicou - eu disse que iríamos.

—Respondeu por mim? Mas nem sabia se eu tinha algo importante a fazer - ele franziu as sobrancelhas de propósito de forma cômica.

—Eu conheço todos os seus compronissos, Namor, eu sei que não tem nada - ela deu de ombros - além disso, estou com saudade, queria rever alguns amigos e a minha família.

—Quando vamos? - ele sorriu genuinamente dessa vez.

—É assim que se fala! - ela comemorou e o beijou logo em seguida.

Dias depois, estavam de volta a Wakanda, ambos sentindo o ar puro e tão familiar a Shuri, confortada por estar em seu primeiro lar. Aquela definitivamente era uma visita informal, T'Challa e Toussaint vieram recebê-los, sem poupas ou circunstâncias.

—Maninho! - Shuri o esmagou num abraço apertado, a cena arrancando sorrisos de Namor e Toussaint.

—Também estou feliz por te ver, vocês dois - T'Challa se voltou para o cunhado.

—Igualmente, majestade - ele apertou sua mão - Shuri queria vir e insistiu para que eu viesse, confesso que queria vir também, por vontade própria.

—Ela disse que gosta daqui - o irmão dela sorriu - mas venham, vamos poder conversar mais à vontade em casa.

O casal real de Talokan então o seguiu até o palácio. Antes que chegassem lá, Toussaint resolveu saciar sua própria curiosidade.

—Tia, você disse que eu poderia visitar Talokan um dia também, acha que eu poderia ir com vocês quando voltassem? - o menino perguntou, deixando seus tios surpresos.

Antes que Shuri pudesse formular alguma resposta, seu marido foi mais rápido.

—Podemos pensar nisso depois que nossa visita acabar - Namor olhou com bondade e paciência para o pequeno príncipe - você é nosso anfitrião agora, seja o melhor que puder.

—Pode deixar, tio - Toussaint sorriu animado para ele e o termo pegou Ku'kul'kan de surpresa.

Nunca esperou ser chamado assim na vida, mas devido a tudo que tinha mudado, sentir a afeição do sobrinho parecia ser adequado. Ele sorriu novamente para o príncipe e Shuri afagou o braço do marido, orgulhosa.

T'Challa notou o brilho evidente que havia entre os dois. O antigo inimigo se tornou alguém que trouxe sua irmã de volta a ser quem ela era. Por isso, Namor tinha a gratidão do Pantera Negra.