Grãos de Areia a Beira Mar escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 12
Capítulo 12




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Disposta a pôr a mão na massa e garantir um canto que fosse só seu, com a sua cara, Shuri andou sozinha até a praia carregando madeira e corda, começando a criar uma estrutura do zero. O cansaço a venceu eventualmente e ela solicitou às servas que chamassem o equivalente a construtores para servir sua rainha. Os homens ficaram muito honrados e seguindo as instruções dela depois de um dia longo de trabalho, o local estava pronto. Talvez os Talokani tivessem mais força e resistência do que seres humanos comuns, tamanha fora sua rapidez.

Completamente agradecida, ela fez questão de dizer o quão grata estava por sua ajuda. Teve a ideia de recompensá-los com a mesma refeição que ela teve pela manhã, farta e saborosa. Eles quase se recusaram, mas usando de sua autoridade, declarou que era uma ordem de sua rainha. Eles então se sentaram e comeram com ela, fascinados por sua generosidade, pelo claro apreço que ela tinha em estar perto deles.

—Eu quero agradecer de novo pelo que fizeram, ficou mais rápido do que eu esperava, não fazem ideia do que esse lugar significa pra mim - ela explicou com admiração.

—Se permite, grande senhora, o que pretende construir aqui? - um dos trabalhadores ousou perguntar, mesmo se sentindo tímido e até mesmo ousado.

—Ah vai ser meu laboratório pessoal - Shuri contou com alegria - eu tinha um em Wakanda, quer dizer, tenho, posso visitar, mas queria um aqui na minha nova casa, pra me manter ocupada, pra ajudar vocês no que precisarem e aprender com vocês também.

—Minha rainha, a senhora já sabe de tanto, o que mais há para aprender? - outro dos homens perguntou.

—Sempre se tem algo novo para aprender, e Talokan ainda é um mistério pra mim - ela respirou fundo - quero ver de perto como suas casas funcionam, sua tecnologia, conhecer todos vocês de mais de perto.

—Sua presença nos honraria muito, minha rainha - o mais velho comentou sobre o gesto de bondade dela.

Shuri assentiu, sentindo que estava dizendo e fazendo a coisa certa. Ela finalmente se despediu deles, adotando o gesto das mãos abertas, sem esquecer os braços sobre o peito. Seria sempre parte dos dois povos agora.

Dentro da cabana, analisou o bom trabalho que os talokani haviam feito.  Sem mais delongas, ativou suas contas kimoyo e se dirigiu a Griot.

—Olá, Griot, sou eu, está ativo? - ela comandou a IA.

—Ativo e operando, rainha Shuri, espero que tudo esteja bem depois de seu casamento - disse Griot, constatando os últimos acontecimentos.

—Bem, obrigada eu acho - ela respondeu àquilo distraidamente - quero que organize as estruturas de pesquisa e comunicação que foram montadas aqui, ative-as agora.

—Como quiser, rainha - concordou a IA, começando a trabalhar.

Ser chamada por aquele título ainda a fazia estremecer, era meio estranho se lembrar do fato de que agora ela era mesmo uma soberana. Deixando isso para lá, esperou que Griot concluísse sua magia.

—80% de instalação, 90%, ativo e operante - ele confirmou.

—Isso, valeu! - comemorou Shuri, começando a testar os hologramas, seu sistema de navegação tecnológico altamente equipado tinha sido instalado com sucesso, a familiaredade da situação foi reconfortante.

O que diminuiu sua animação foi o fato de não ter ninguém por perto para mostrar seu feito. Pensou em Namor, que tinha se ausentado o tempo todo quando eles deveriam passar tempo juntos. Por outro lado, não podia culpá-lo, era o rei afinal de contas.

Respirando fundo, decidiu fazer uma visita ao seu reino. Deixou-se passar pelas pessoas, que estranharam sua aproximação no início, mas por fim, a acolheram, ainda mais depois dos trabalhadores da manhã terem se aproximado dela.

—Majestade, Talokan agradece sua visita - Kimjayo, o trabalhador mais velho, a cumprimentou - a que devemos sua presença gloriosa?

—Ah nada demais, pra ser franca, me senti solitária, meu marido está cumprindo afazeres que precisaram da atenção dele - Shuri esclareceu, não sabendo ao certo se aquilo era o mais recomendado a se fazer.

—Eu espero que seu laboratório tenha dado certo - o homem comentou.

—Ah sim, está funcionando perfeitamente - ela confirmou.

Shuri então foi movida por sua curiosidade, nadando até o próximo grupo que estava ali por perto, mulheres trançando adornos misturados a cordas e pérolas, um trabalho delicado e perfeito. Desaa vez, ela apenas sorriu em aprovação.

Viu pescadores voltando com suas redes cheias, levando até o estoque de alimento. O grupo de crianças que notou a seguir não percebeu ela estar ali, muito competitivos e concentrados em seu jogo de bola. Nadavam freneticamente tentando roubá-la um do outro, dava para ver que se tratava de dois times. A bola passou pelo aro, um ato que ela entendeu como um ponto marcado.

—Muito bem, meus parabéns! - ela gritou, o que despertou as crianças.

Reconhecendo quem observava seu jogo, mostraram as palmas das mãozinhas trêmulas para ela, rendendo-se com medo.

—Não fiquem assim, está tudo bem, estava apenas admirando o jogo, não vou mais atrapalhar sua diversão - Shuri riu docemente e se despediu com um aceno.

Percebeu que talvez tivesse passado um bom tempo ali, inspecionando a vida cotidiana de seu povo. Agradou-a saber e ver que estavam bem. Retornando ao laboratório, viu que o lugar não estava vazio como tinha deixado. Namor observava tudo ao sei redor, impressionado.

—Oi - ela disse descontraidamente, esperando não assustá-lo.

—Olá - ele devolveu o cumprimento - estava admirando seu trabalho, é magnifíco o que fez.

—Ah obrigada, eu não fiz sozinha - Shuri se sentiu constrangida de repente.

—Entendo, seu aparelho falante me contou sobre a ajuda que teve e como funciona tudo - ele replicou - falando nisso, obrigado por permitir que eu entre aqui, não houve restrições ou algo do tipo.

—É claro, você é o rei e meu marido, me pareceu uma escolha natural - ela deu de ombros.

—Eu espero que tenha terminado seus afazeres, gostaria de falar com você - ele avisou, o que a deixou alerta.

—Pode falar, o que foi? - ela ficou atenta ao que viria a seguir.

—Attuma me disse que guardas lhe reportaram que a viram transitar pela cidade, sozinha, próxima ao povo, isso é verdade? - ele indagou, não parecendo bravo, só ávido por respostas.

—Sim, eu fiz, eu me meti em alguma encrenca por isso? - ela esperava não ter iniciado uma briga.

—Acho que não, é só que, estar presente de modo tão próximo, do cotidiano de nosso povo não é um costume de um soberano - ele citou a questão - te expliquei isso no dia em que nos casamos.

—Eu sei, Namor, me desculpe, não quero infringir suas tradições, mas não me parece certo estar distante, ainda mais eu sendo estrangeira, preciso mostrar que a rainha deles é confiável, é apenas essa minha atenção quando me aproximo - Shuri se aproximou dele conforme falava - eu não me vejo como um ídolo distante, posso ser a protetora e conselheira deles, mas não inacessível.

—Eles a receberam com receio, mesmo assim - Namor acrescentou à conversa.

—É verdade, mas depois eu consegui quebrar o gelo e nos demos bem - ela revirou os olhos ao ver a cara de estranheza dele - desfazer o constrangimento. Olha, Namor, Talokan nunca teve uma rainha e talvez por causa disso, eu tenha o direito de criar novas tradições e essa coisa nova pode ser boa.

Shuri ficou na expectativa da resposta dele enquanto seu marido refletia no que ela tinha dito. Ela tinha razão, ele tinha trazido Shuri até ali e mostrado o reino, era lógico que ela continuasse vendo-o mais de perto, ainda mais como sua rainha. Rendido à esposa mais uma vez, ele decidiu considerar.

—Você tem razão, não ficarei bravo com você por causa disso - ele a olhou enquanto falava, contemplando seu rosto bem de perto, levando-se pelo ímpeto de tocá-lo com afeição.

—Obrigada - Shuri sentiu-se aliviada, a ponto de lhe dar um abraço repentino.

O gesto surpreendeu Namor, mas ele correspondeu, afagando suas costas.

—Me conte como foi sua visita - ele pediu enfim, num tom muito bem humorado.

Passou o resto do dia e grande parte da noite ouvindo Shuri e seus detalhes, quase em transe. Concluiu que ela era boa para Talokan tanto quanto era para ele.

 


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