Grãos de Areia a Beira Mar escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 10
Capítulo 10




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Quando a luz da esfera no centro de Talokan começou a iluminar todo o reino, Namor estava desperto, começando a se preparar para o que viria mais tarde naquele dia. Quando a apreensão abalou seu coração, escolheu se apegar às lembranças do casamento wakandano. Sentiu felicidade, coisa que não sentia há muito tempo, que raramente sentia em toda sua existência, voltada totalmente para seu povo e dedicada a ele.

Tinha sido bem recebido pela família e reino de sua esposa, agora estava de volta ao seu próprio lar, e talvez fosse a vez de Shuri sentir-se apreensiva. Jurou a si mesmo naquele momento que faria seu melhor para que ela se sentisse confortável.

Seus camareiros vieram prepará-lo, enfeitando-o com suas joias, seu elmo imponente na cabeça e um majestoso manto sobre os ombros. Vestido daquela maneira, sentiu mais uma vez o peso da responsabilidade do que estava prestes a fazer.

Shuri, por sua vez, resolveu encarar tudo como seu dever, seguiria seu marido aqui assim como ele a havia seguido em Wakanda. Delicadamente, colocou no pescoço o cordão que ativava seu traje. Um pendente em forma de pantera na cor de jade estava pendurado nele, algo que simbolizava quem ela foi e quem era agora. Apertando o pingente, Shuri foi coberta pelo traje elegante e muito mais prático que o que tinha usado da primeira vez que esteve ali. O capacete com o visor transparente a permitia respirar sem dificuldades. Sua cor era um holograma entre verde e azul, simbolizando o povo do mar. Se precisasse, Griot estava de prontidão ali para atendê-la.

Tendo o tempo de respirar fundo, Namor veio buscá-la, o que a fez estranhar a tradição deles, diferente das dela.

—Olá - ele disse simplesmente, reparando em como ela estava - espero que tenha descansado bem durante esses dias.

—Eu estou bem - ela confirmou - um pouco ansiosa, não sei bem o que esperar, eu sei que conversou comigo sobre como seria a cerimônia aqui, mas ainda assim, dessa vez eu sou o peixe fora d'água.

Namor franziu as sobrancelhas para ela, sem entender muito bem o que ela queria dizer. Shuri acabou dando um sorriso, não uma risada completa, achando melhor se conter, o que o deixou mais desconsertado.

—Quero dizer, alguém que sente que não se encaixa, fora da sua zona de conforto - ela explicou brevemente.

—Entendo, mas se serve de consolo, estarei perto de você o tempo todo, me pergunte o quiser, o que precisar - ele ofereceu ajuda.

—Obrigada - ela agradeceu de coração, naquele momento, percebeu que os dois estavam na mesma exata situação, contando um com o outro para que tudo desse certo, casados por um arranjo com alguém de cultura diferente.

Em seguida, ele ofereceu a mão dele, que sua noiva aceitou, buscando segurança outra vez, e foi o que sentiu no momento. Se apegou a esse sentimento para lidar com o que viria ao longo do dia.

Estava toda população ali, curiosa ao observar aquela moça da superfície prestes a se tornar sua rainha. Ela nadou ao lado de Namor, ainda segurando sua mão. O xamã do reino aguardava por eles.

—Ku'kul'kan! Shuri! - ele os chamou em voz alta, os obrigando a olhar para frente, prestando atenção em suas palavras seguintes.

O tradutor de Shuri funcionou perfeitamente, escutando que a partir daquele dia, os corações deles pertenciam um ao outro, sem nunca abandonarem um ao outro. Se um dia deixassem sua lealdade um para com o outro, estavam sujeitos a sofrer as maldições de seus atos, já que entregavam suas vidas um ao outro daquele dia em diante para sempre. Todo o discurso parecia sombrio e extremo a Shuri, o que a fez estremecer.

Ainda segurando a mão dela, Namor, ou melhor, Ku'kul'kan, como ele era chamado por seu povo ali, se virou para ela.

—Eu tomo você por esposa agora e para sempre, Shuri, filha de T'Chaka, sua vida me pertence, assim como eu entrego a minha a você, por completo - ele declarou a ela.

Toda sua solenidade a comoveu, sentindo a força de suas palavras.

—Eu aceito e entrego a minha vida a você - ela respondeu em Talokani, a única frase que sabia daquela língua até agora, ensaiada e decorada para o casamento.

—Vida longa à Grande Serpente! Vida longa à Rainha de Talokan! - gritou o xamã, ouvindo os gritos de resposta do povo logo em seguida.

Namor ergueu a mão de Shuri com orgulho, o que arrancou mais comemoração de seu povo. Sua união estava feita, agora mais do que nunca, nos costumes dos dois povos.

Não havia presentes ou conversas dessas vez, apenas passar por todo o povo, o que levou muito mais tempo do que Shuri preveu, enquanto eles cumprimentavam seu rei e sua rainha com seu gesto de mãos abertas. Uma saudação contida, os admirando como grandes ícones ao longe. A festa duraria entre eles, mas sem a presença de seus soberanos.

Namor não tomou mais o tempo de Shuri nas profundezas, a levando até a caverna o mais rápido que pôde. Viu claramente o alívio dela em seu rosto, ao recolher seu traje.

—Obrigada por me trazer de volta, eu estava começando a me sentir tonta - ela foi sincera - espero não ter ofendido ninguém ao sair com pressa dessa forma.

—Não, não ofendeu - ele garantiu com um sorriso bondoso e compreensivo.

—Mas não tem uma grande festa esperando por nós ou algo assim? - Shuri ficou esperando por algo do tipo.

—Meu povo vai celebrar nossa união, é verdade, mas não é meu costume estar próximo deles dessa maneira íntima, eles podem pensar que não são dignos de nossa presença, então não vou constrangê-los - ele explicou, o que soou um tanto arrogante aos ouvidos de sua esposa.

Em outras circunstâncias, Shuri teria gritado que tudo aquilo era uma grande besteira e ele era só um homem que sangrava também, apesar de toda sua resistência, mas se lembrava de ser mais prudente. Tinha acabado de se casar em Talokan, não criticaria tão duramente a cultura de seu povo, além disso estava cansada. Essa conversa poderia ficar para um momento mais apropriado.

—Tudo bem, eu entendo - Shuri o respondeu de forma simples e quieta.

—Esses serão nossos aposentos essa noite, ficará mais confortável aqui - ele avisou.

—Espero que seja confortável para você também - ela retribuiu a gentileza.

Assentindo, Ku'kul'kan se virou de costas para ela, indo atrás de uma cortina, se livrando dos acessórios do casamento lentamente. Shuri entendeu que estava na hora de dividir aquele lugar com ele. Aproveitando sua ausência, vestiu um pijama confortável. Não era o que se esperava de uma noiva em sua primeira noite com o marido, mas ela já tinha avisado que não era a típica princesa.

Levada pelo cansaço, deixou se sentar na cama que estava ali. Deitou logo em seguida, tentando se ajeitar no colchão desconhecido. Namor então finalmente apareceu, parecendo alarmado. Shuri notou seu peito em movimento, uma respiração entre cortada, ansiosa, nervosa. Toda sua confiança de instantes atrás desaparecida. 

—Algum problema? - ela ousou perguntar, genuinamente preocupada com ele.

—Eu... - ele balbuciou - nunca estive numa situação como essa antes.

—O que? Eu achei que tivesse uma namorada, várias talvez, durante toda sua vida - ela estranhou aquela declaração.

—Namorada? - foi a vez dele de estranhar o termo.

—Alguém que está cortejando - ela explicou rapidamente.

—Pretendente - ele atualizou o significado, perto de algo que lhe era mais familiar.

—Sim - ele assentiu - nunca compartilhei uma cama com ninguém.

—Tá, tudo bem - Shuri deixou a informação ser processada em sua mente- eu também nunca tive um... pretendente.

—O que acha melhor fazer nessa situação? - Namor entregou o dilema nas mãos dela.

—Podemos dividir a cama e dormir - ela tentou ser prática, não tendo mais energia para aquela discussão.

—Simples assim? - ele ergueu uma sobrancelha para ele.

Ela assentiu docemente. Respirando fundo, Namor se rendeu e se deitou ao lado dela, não olhando diretamente para ela imediatamente, enquanto Shuri ficou olhando para o marido, acompanhando sua reação. Enquanto se ajeitava, sentiu o peso dela ao seu lado. Era estranho, diferente, novo.

—Você está bem? - Shuri quis ter certeza.

—Ficarei - Namor respondeu quietamente, olhando para ela enfim.

Era linda a sua esposa, o admirando com um olhar de bondade, compreensão, algo que nunca pensou ver em alguém da superfície. Shuri era realmente alguém especial.

No momento, Shuri constatou que haveria algo novo sobre seu marido para descobrir todos os dias. Deitado e vulnerável ali ao seu lado, ele era como uma criança, inocente, apesar de suas outras facetas. Teria a paciência e compaixão necessárias com ele, assim como ele estava tendo com ela.

 


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