Eu não sei por onde começar a redigir esse texto. Talvez, primeiro eu diga sobre como você é a vaca mais cruel que eu tive o desprazer de conhecer, e olha que eu já conheci muitas. Eu poderia citar todas às vezes em que eu pensei sobre ser mãe e nossa relação disfuncional assombrou meus pensamentos até que eu viesse a desistir. Posso dizer, também, sobre o medo que eu tenho de ser igual a você quando estou me olhando no espelho e vejo que nossos traços são exatamente iguais mas nossas personas são fatalmente diferentes. Mas o meu favorito é citar todas às vezes em que eu trouxe algum amigo para mais perto do que eu deveria chamar de lar e tive que ouvi-lo falando que sentia pena de como eu era tratada por você. Acho que você nem nota, e essa parte é a que dói mais. Você quer gostar de mim, mas não consegue. Você não me suporta, não a quem eu sou. Como é possível você não ter tido nenhuma expectativa sobre como eu seria e ainda se frustrar com cada aspecto meu?

  Eu cresci rodeada de roupas bonitas, brinquedos divertidos e carinho. Sei que meus avós me amam, que minhas tias me amam, mas nunca tive certeza do seu amor. E eu verbalizei isso tantas vezes que eu ainda me surpreendo de conseguir dizer qualquer coisa. Podem jogar a culpa no meu pai suicida mas a perda dele foi fácil comparada a crescer mediante a constantes críticas. Eu nunca vou ser o suficiente pra você, não é? Não serei magra o suficiente, organizada o suficiente, minhas notas nunca serão boas o suficiente e eu nunca vou ter compreensão, eu entendo. Aceito, até.

Mas agora eu sou adulta, né? Eu consigo compreender que não é sobre mim. Eu consigo relevar. Mas quando eu era criança, você não tinha pena? Tudo bem agora, enquanto eu consigo me defender, enquanto eu consigo me desvincular de você, mas eu era criança. Essa adulta que não acredita que tenha valor algum já foi uma criança que dependia de você. Não do seu dinheiro, mas do seu amor. E você falhou com isso.