As Crônicas de Aethel (II): O Livro das Bruxas escrita por Aldemir94


Capítulo 4
O Fantasma da Floresta




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Dizem que foi durante o governo de Vladimir III – o sanguinário – que a grande floresta negra de Ghalary foi devidamente mapeada, ainda em meados do século XVI.

Apesar disso, eram notórias as histórias de tesouros escondidos em meio aos misteriosos arvoredos, aparições vindas de lugares desconhecidos, assim como grandes dragões, grupos de ladrões violentos e ruínas de um passado a muito esquecido.

Aethel conhecia as narrativas sobre bandoleiros e criaturas vindas do escuro que, desfrutando dos poucos raios de sol que conseguiam ultrapassar as fartas copas verdes, escondiam-se, sempre prontos para atacarem viajantes incautos; mas decidiu continuar sua jornada por aquele lugar sinistro, acompanhado de Mabel e Dipper.

“Não parece muito perigosa” dizia Mabel, mas o jovem imperador não lhe escondia o quão hostil era aquele ambiente:

— Receio que esteja enganada, minha querida Mabel. Eu li que, durante a crise que levou Eden-Ghalary ao interregno, soldados revolucionários costumavam se esconder aqui…

— Deixa eu adivinhar – disse Dipper – nenhum deles foi visto de novo.

— Foi a coisa mais cruel e imprópria que poderia dizer, irmão Dipper – disse Aethel –, até porque sua irmão ficará ainda mais tensa… Mas sim, a floresta engoliu aqueles “filhotes da revolução”, e desde então os monarquistas passaram a dizer “Deus os puniu por traírem o rei”... pelo menos é no que acreditam.

— Acha que eles têm razão? No que você acredita? – perguntou Mabel.

— Acredito na minha espada – respondeu Aethel, sacando a Excalibur da bainha.

Após pensar um pouco, Dipper perguntou sobre o interregno e o que aconteceu com o último imperador, ao que Aethel respondeu, com certa desgosto:

— Não sei bem, muitos documentos da época foram destruídos, nem cheguei a conhecer o imperador Antônio. Imagino que ele deve ter sido, no mínimo, um idiota incompetente… ou não teria deixado metade do mundo furiosa com ele, não é?

— Mas ele não é seu pai? A carta do senado dizia que você era o último da “casa de Ryu”, então ele deve ter sido seu antecessor, certo?

— Sua teoria está correta, jovem Dipper, exceto por uma coisa: Antônio Aureliano e a imperatriz Sophia Menor morreram durante a grande crise, 20 anos atrás; quanto a mim, só tenho 13 anos de idade.

Percebendo o equívoco, Dipper riu um pouco, enquanto Mabel admirava – ou fingia admirar – os grandes carvalhos, pedras cheias de limo, densos arbustos e animais silvestres, que caminhavam em meio aos galhos.

“Quem são seus pais, Aethel?”, perguntou Mabel, enquanto procurava guaxinins, ao que o jovem imperador respondeu:

— Não sei, eu não tenho isso.

— Não lembra de nada mesmo? Nada do seu passado? – indagou Dipper – Tudo que sabemos é que Luna te achou chorando debaixo de uma árvore. Não lembra do que estava fugindo naquele dia?

— De nada – respondeu o monarca – Ás vezes me lembro de conversar com Cornélio em uma sala de aula… acho que conheci ele lá… mas não sei se eu era aluno ou professor, nem se a escola existiu de fato.

— Mas o Cornélio é de verdade! Não foi ele que se atrapalhou no meio da sua coroação? – disse Mabel, segurando o riso.

— Sim, você está certa – respondeu Aethel – mas qualquer memória que eu possa ter que seja anterior ao momento em que conheci Luna é muito… “fragmentada”, como um quebra-cabeças de mil peças que só preservou duas ou três: não importa o quanto você tente montá-las, jamais saberá qual era o desenho original.

— Que dureza – respondeu Dipper – o que será que causou isso? Não poderia ter sido um trauma?

— Se foi um trauma – respondeu Aethel – então prefiro não me lembrar, hahaha.

A conversa estava ficando animada, porém, assim que os três começaram a ouvir uivos de lobos, o imperador pediu que seus dois amigos abaixassem em meio a alguns arbustos e fizesse silêncio, pois as bestas poderiam estar à espreita.

“Estou ouvindo algo” sussurrou Dipper, ao que o jovem rei respondeu positivamente:

— Algo está próximo… sinto como se uma grande tempestade estivesse a caminho. Vamos seguir em silêncio.

Obedecendo ao amigo, Dipper e Mabel permaneceram abaixados enquanto engatinhavam entre os arbustos, buscando se posicionar atrás de duas árvores antigas e cheias de vegetação ao redor de onde se podia ver um grupo de árvores tão antigas, que deveriam ter sido plantadas antes de Atlas se tornar rei dos atlantes.

De repente, Aethel saltou para o meio daquelas árvores antigas e, com a Excalibur na mão esquerda, surpreendeu seu adversário misterioso e o segurou pelo colarinho, enquanto preparava a espada para golpear o inimigo e por fim ao perigo.

“Ai meu Deus! O que está acontecendo!?” gritou uma garota ao lado, com ares de aflição.

Sem abandonar a expressão de fúria, Aethel fitou seu adversário por alguns instantes: um rapaz que deveria ter 13 anos, com cabelos pretos (que fizeram o jovem rei se lembrar de Gael), pele clara e olhos azuis.

  O garoto vestia uma camiseta branca com gola vermelha, uma ilustração oval vermelha na região do peito, uma calça jeans básica e um tênis vermelho, com detalhes avermelhados.

“Espera aí, cara!” disse o jovem, enquanto Aethel o olhava, indagando a razão de um civil estar perambulando por aquela floresta.

De repente, alguém segurou o braço do rei e gritou “deixa o Danny em paz!”, o que fez o monarca sair de seu estado de fúria e virar o rosto para a esquerda, enquanto colocava as ideias no lugar.

Ao seu lado, estava uma garota de pele clara e feições típicas de alguém cuja paixão maior estava no gótico e estranho: a moça tinha belos olhos violetas e brilhantes, um cabelo preto e curto, amarrado em um peculiar rabo de cavalo, bem localizado na parte de trás da cabeça, um pouco acima do couro e muito bem visível, como se fosse uma grande árvore no meio de um campo verde.

A moça usava botas de couro – que lhe davam certo ar de durona –, meia calça lilás, batom lilás, gargantilha e pulseiras pretas, camisa preta e curta, que, assim como seu amigo, também possuía um desenho oval ao centro (embora a cor fosse roxa), lhe deixando com o umbigo a mostra (o que escandalizaria Salazar e todo o restante dos puritanos da ala extremista do senado, sempre desejosos de expandir o império e esmagar “ameaças” – fossem elas reais ou imaginárias).

Enquanto Dipper e Mabel tentavam derrubar a complicada “primeira impressão” e se apresentavam, Aethel não pôde deixar de olhar aquela garota estranha de cima a baixo, ainda em dúvidas se ela e seu amigo eram civis, ou parte das hordas maléficas que deveriam assombrar aquela grande floresta.

As dúvidas do rei eram razoáveis, pois aquela “gótica” era estranha demais para alguém como ele, tão acostumado ao clima formal e nobre da grande capital, Ghalary – centro do mundo civilizado – ou mesmo da gloriosa corte de Arthur, o rei.

“Aethel! Você está sendo mal educado com eles!” disse Mabel, ao que o imperador sentiu-se envergonhado e fez o que estava ao alcance para se retratar:

— Perdoem a fúria… fiquei apreensivo. Por favor, eu sinto muito – disse o rei, enquanto largava o rapaz e se curvava em direção a  sua amiga, segundo a norma de etiqueta dos ghalaryanos. – Sou Aethel, imperador de Eden–Ghalary, rei das terras ao norte, blá blá blá, uma série de títulos tediosos, etc., etc., depois Mabel lhes contará mais. Agora sugiro que partamos desta floresta, pois já estou ficando com medo daqui.

— Você é meio apressado, heim? – respondeu a garota gótica – Olha só, eu sou a Sam Manson, meu amigo assustado aqui é o Danny Phantom. Danny, diz oi.

— Oi… – respondeu Danny, ainda intimidado com a lâmina afiada que, a despeito das palavras do rei, ainda parecia próxima demais de seu pescoço.

— Eu sou Mabel… e esse nerd aqui do meu lado é o meu irmão, Dipper.

Sam e Danny disseram juntos “oi Dipper”, enquanto o jovem rei caminhava em direção a uma série de arbustos, temendo a aproximação de lobos.

Mabel não estava acostumada a ver Aethel tão apreensível, mas logo entendeu a razão dos temores de seu amigo: em uma clareira próxima, os cinco jovens conseguiram avistar um grande lobo negro, com olhos esverdeados e uma coleira de ferro ligada a uma corrente, firmemente segurada por um grande cavaleiro.

Dizer que o indivíduo era grande não deve ser entendido como sinal de valor ou exagero literário: o homem tinha mais de 2 metros de altura, com uma armadura medieval verde, escudo redondo com o relevo de um grande leão rugindo, lança com ponta de ferro, uma espada (que parecia ser bastante pesada) e um elmo, que terminava em um grande tufo de penas verdes e brilhantes.

Quem era aquele homem misterioso, cujas vestes remetiam à guerra, não à exploração de uma floresta? Talvez o senhor de cabelos curtos e castanhos, calças e sapatos marrons, camisa verde, colete também marrom (que Dipper pensou serem do velho Indiana) e óculos retangulares, ajoelhado à frente do grande lobo, pudesse responder.

"Depressa, dr. Gemma!” gritava o grande soldado, ao que o homem respondia “estou fazendo o possível!”, enquanto segurava uma expressão de tristeza e raiva.

Gemma estava analisando uma antiga pedra retangular coberta de musgo, aparentemente tentando decifrar uma inscrição antiga:

— Incrível… esta escrita parece ser um misto de grego arcaico e sumério, com pitadas de linear A! 

— Não importa qual a língua do texto, seu mentecapto! – gritou o soldado – Apenas a tradução é importante; diga logo o que a placa quer dizer!

— Eu… não faço a menor ideia – respondeu Gemma, com franqueza.

— Você é arqueólogo… e não sabe?!

— Isso está além da minha capacidade, preciso de uma equipe de peritos em dialetos antigos… Eu faço pesquisas, não milagres… seu boçal ignorante!

Furioso com a ofensa, o grande cavaleiro verde segurou Gemma pelo pescoço e o levantou, enquanto dizia “um pescoço a menos, nesta terra imunda!”, mas não pôde concluir seu objetivo sinistro, pois neste momento Aethel correu em direção ao gigante, com a Excalibur em punho e uma expressão que parecia clamar por uma boa batalha.

Segurando a grande lança com a mão direita, o cavaleiro atirou-a em direção a Aethel, enquanto sacava sua espada, sempre segurando o grande escudo verde com o braço esquerdo.

Desviando com um salto para a direita, o jovem rei avançou em uma estocada direta, que foi facilmente bloqueada com o escudo, enquanto o cavaleiro tentava golpear o rapaz com um corte partindo do alto, como se fosse um cozinheiro tentando cortar um pedaço de vitela com o cutelo.

Recuando com três passos, Aethel conseguiu evitar o corte, enquanto sua atenção dividia-se entre o adversário e seu lobo.

Novamente erguendo sua grande espada verde, o cavaleiro deu um poderoso corte que, com certeza, teria partido até uma placa de oricalco ao meio, mas que, todavia, fracassou de forma inacreditável; Aethel, que havia movido a Excalibur de baixo para cima, tentando bloquear o ataque do inimigo, acabou partindo a espada verde ao meio!

O grande cavaleiro verde, que até aquele momento havia ignorado quem era seu oponente, logo reconheceu sua identidade e tremeu, ante Aethel – o imperador – e a poderosa espada de Arthur.

“Sopro fantasma” falou o grande guerreiro para seu lobo, que logo abriu a boca e lançou chamas azuis em direção ao rei que, sem escudo ou armadura, foi totalmente coberto.

“Virar fantasma!” gritou Danny, assumindo em seguida uma aparência que fez Gemma ficar bastante surpreso: cabelos brancos como a neve do norte (que tanto cobre as montanhas), um tipo de macacão preto, com botas brancas, luvas e cinto de igual cor.

Além da gola (que também era branca), Danny apresentava o desenho de um “D” branco com rastros fantasmagóricos, além de sua pele ter se tornado levemente bronzeada, como se ele houvesse passeado com Sam por uma praia, em alguma das belas ilhas que, a tão pouco tempo, eram agora governadas por Aethel.

Literalmente voando em direção ao lobo, Danny fechou o punho direito e lançou um incrível raio verde contra a fera, que precisou recuar, permitindo que Sam corresse e resgatasse Aethel.

Tocando em Sam e o rei, Danny tornou-os intangíveis – o que veio em boa hora, pois o cavaleiro verde havia recolhido a lança para atacar os três.

Enquanto isso, Dipper corria até Gemma, que pediu ao rapaz que lhe ajudasse a pegar a placa de pedra:

— Ela não pode cair nas mãos dele!

Sem fazer muitos questionamentos, Dipper deu ouvidos ao apelo do doutor, ajudando-o a segurar a pesada placa de pedra.

Todos, porém, ficaram imóveis quando viram o olhar de Aethel, carregado de tamanho fúria que fez Danny se afastar, enquanto puxava Sam para perto das árvores.

“Vai me desafiar, majestade?” zombou o cavaleiro, ao que o rei respondeu:

— Defenda-se, Cavaleiro Verde.

Estendendo a mão direita, Aethel liberou uma rajada de energia azulada tão poderosa, que lançou o grande cavaleiro a vários metros de distância, fazendo-o partir um grupo de sete árvores.

Enquanto Sam tentava entender o que estava acontecendo, Mabel apontou para o pescoço de Aethel e, apavorada, correu até Danny e sua amiga, trazendo enigmáticas palavras:

— O coracor… ali, no pescoço.

De fato, o jovem imperador portava um tipo de círculo com plumas, pequenas figuras esculpidas – respectivamente, uma coruja, um corvo e uma raposa – e três cintas de ouro, que mantinham todo o conjunto unido.

“Agora eu começo a entender” falava o rei, de forma incompreensível, “este que fez para minhas armas… que grande trivialidade… a feiticeira totalmente impotente”, fazendo Dipper e Mabel tremerem, sendo copiados por Sam e Danny, que viam o clima esfriar e uma grande tempestade se aproximar da floresta.

Os ventos voavam com força, enquanto grandes uivos se ouviam por toda a floresta e a terra começava a estremecer, aos simples sussurros de Aethel:

— Uma jóia para a todos proteger… a unidade que mantém os elos unidos e… espere um minuto… acho que esqueci o que estava falando… Arthur vai ficar zangado se eu me atrasar para o banquete, não é? Esperem… acho que haviam dois camponeses em uma choupana… Deus… mas que lugar tão belo!

Aethel parecia estar mergulhando e seus pensamentos mais profundos, conforme adentrava o campo da insanidade (ou seria da lucidez plena?). Para Gemma, que assistia a tudo como alguém que via, em pânico, o aproximar de um furacão, parecia razoável cuidar da fonte do caos antes de serem todos devorados por ela, o que o motivou a pegar um estranho amuleto redondo, com uma pedra topázio reluzente.

Antes, porém, que o arqueólogo fizesse qualquer coisa, Danny Phantom atirava um grande raio esverdeado em direção a Aethel, que permanecia imóvel, enquanto sua mente parecia divagar pelos mistérios em torno dos quais a humanidade fascinava-se, desde eras mitológicas, quando os próprios deuses andavam junto aos mortais.

“Se atreve a levantar-se contra alguém iluminado?” disse Aethel, enquanto estendia a mão esquerda e puxava Danny, como se esse fosse um clip atraído por uma barra de ímã.

Agarrado o rapaz, Aethel o jogou no chão, enquanto dizia coisas sem sentido:

— A espada que convoca a grande tempestade… um lindo anel cuja história está além do tempo… além do tempo? Que ilusões ele criará para enganar os maus? Minha cabeça dói um pouco… acho que estou delirando… Oh, Mabel… quão tolos são os homens que, na busca do saber, cruzam o limiar da razão e desafiam a Deus… com esses brinquedos que só causam destruição.

“Grito Fantasma!” gritou Danny, fazendo uma poderosa onda de energia sair de sua boca e golpear Aethel com a força de um mijölnir dos deuses, fazendo o confuso imperador cair e se ajoelhar, dando tempo de Mabel e Sam correrem até ele, junto de Dipper (que escondera a grande placa de pedra) e Gemma (porque pareceu certo ajudar).

Sendo fortemente segurado por Dipper e o arqueólogo, que lhe prendiam os braços, Aethel tentou se soltar, mas Sam se posicionou atrás do rapaz, tentando mantê-lo ajoelhado, enquanto ele gritava “a morte aos que levantam as mãos contra o César do império! Assim diz o filho de Zeus!”

Em lágrimas, Mabel abraçou Aethel e tentou remover o coracor, porém, o colar e sua jóia pareciam ter se fixado ao pescoço do jovem:

— Por favor, você tem que sair dessa! – gritava Mabel, enquanto os olhos do rei, literalmente, iluminavam-se.

De repente, uma luz branca e cálida saiu da Excalibur, junto a uma linda voz, doce e agradável, que dizia “Aethel, já se esqueceu de quem você é?”.

Sem entender o que estava acontecendo, o imperador questionava “quem me chama além da veste do tempo e espaço, de onde razão e fantasia dançam conforme a flauta de Pã— aquele que comanda os bosques – ?”, enquanto o brilho da espada aumentava até o ponto de cobrir o grupo por inteiro.

De repente, Aethel se viu deitado próximo a um poço, rodeado de flores e grama verde, onde uma linda mulher ruiva, de olhos azuis, vestido rosa de linho, coroa de flores e pele rosada retirava água: era Nimue, a linda Dama do Lago.

“Meu jovem rei…” disse a Nimue, “eu o chamei até aqui”.

Levantando a cabeça, Aethel viu ao redor Gemma e os outros, adormecidos, mas não entendeu o porquê de estarem ali:

— Eles estão bem? – perguntou o rapaz.

— Eles logo despertarão, meu querido – respondeu a mulher – mas me diga, porque ainda está com o coracor?

— Apenas senti vontade de mantê-lo comigo – respondeu Aethel, cansado – assim ninguém mais poderá usá-lo contra mim.

— Meu querido Aethel, o coracor é poderoso demais até para um mago grande, como Gael. Ficar com ele é arriscar a segurança daqueles que são queridos a você.

— Com ele resisti às chamas do lobo… ele me salvou, minha Dama do Lago.

— Hihihi, ele ajudou mesmo, não foi? – riu a mulher, enquanto mexia em uma mecha de seus cabelos – mas a Excalibur não poderia tê-lo protegido também? O coracor colocou seus amigos em perigo e destruiu sete árvores antigas… a floresta chora por elas.

— Eu sinto muito pelas árvores… Nimue, minha cabeça dói… acho que preciso me deitar um pouco.

Caminhando até o imperador, Nimue recostou a cabeça do rapaz em seu colo, enquanto acariciava seus cabelos castanhos, e cantava uma canção antiga, dos tempos em que Arthur reinava em Camelot, provocando um alívio nas dores de cabeça e fazendo Aethel se livrar de todos os receios e angústias.

Abrindo os olhos, agora mais serenos, Aethel olhou para seus amigos desacordados e, ainda ouvindo a canção da Dama do Lago, perguntou porque sentia-se tão atraído pelo coracor:

— Meu príncipe, você só tem 13 anos… não deve se preocupar com essas coisas.

— Arthur não era muito mais velho do que eu, Nimue.

— Sim, mas Arthur viveu em uma época diferente… em um mundo que era, à sua maneira, “simples”.

— Acho que sim… eu não precisava do coracor… não é?

— O que você acha?

— Acho que não… – respondeu Aethel, fechando os olhos.

Após beijar-lhe a testa, como uma mãe que acalenta o filho, Nimue sussurrou “você começa a ser um rei”...

Quando abriu os olhos, Aethel se viu em meio a grande floresta, dando-se conta de que ainda era segurado por seus amigos, enquanto Mabel o abraçava.

Pedindo tranquilidade a todos, o rei se levantou e retirou o coracor (que voltara a “adormecer”), guardando-o dentro da camisa, em um pequeno bolso.

“Vamos voltar ao palácio” disse o imperador, enquanto virava-se para Danny e Sam:

— Me perdoem por tudo. Por favor, peço que aceitem meu convite para partilharem dos festejos imperiais e do baile, como desculpas pelos infortúnios que lhes causei. O senhor Gemma também está convidado, se desejar. Além do mais, tenho certeza de que há uma história fascinante sobre a pedra antiga; e sobre a curiosa transformação do senhor Phantom.

Enquanto o clima se acalmava, Dipper constatou que o lobo e o cavaleiro verde haviam fugido, o que acabou sendo ignorado por todos, já que nada mais poderia ser feito.

Enquanto todos riam, Aethel guardou a Excalibur e guiou seus amigos para o grande palácio, onde a festa prosseguiria e seus novos amigos teriam voz para contar suas grande aventuras, paixões, dúvidas e qualquer outra sorte de assuntos que, para bem ou mal, serviriam para tornar o tedioso cerimonial em algo mais gratificante e compensador…


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Notas finais do capítulo

Linear A:
Um dos dois sistemas de escrita usados na Creta minoica (o outro é linear B, que já foi decifrado), usada por volta de 1450 a. C. (talvez seja ainda mais antiga).
Assim como a Linear B, a linear A também não foi decifrada.

Oricalco:
Citado na obra de Platão, "Crítias", o oricalco era um metal valioso, usado em Atlântida, inclusive nas paredes do templo de Poseidon e Clito (localizado no centro da mítica cidade).
Não se sabe qual era a composição do oricalco, sendo que, mesmo na época de Crítias, o material era conhecido apenas pelo nome.

Mijölnir:
Na mitologia Nórdica, o mijölnir era o martelo do deus Thor, cujo poder poderia aplainar montanhas. Tinha o formato de uma bigorna. De acordo com o "Edda em Prosa" (importante obra escrita por Snorri Sturluson), o mijölnir foi criado pelos anões Brokk e Eitri, devido a uma aposta com os filhos de Ivaldi (um grupo de três anões)
— aposta cuja origem eram as tramoias de Loki.

Pã:
Antigo deus da mitologia grega, responsável pelos pastores, bosques, campos e pastagens.
Era representado como um ser metade homem (de humano tinha o tronco, braços e cabeça) e metade bode (suas pernas, orelhas e chifres eram de bode).



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