As Crônicas de Aethel (II): O Livro das Bruxas escrita por Aldemir94


Capítulo 24
A Batalha dos Campos Alexandrinos




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Aethel, Trixie, Rosa e Jack estavam a caminho do castelo onde vivia o Cavaleiro Verde, pois o imperador tinha assuntos a tratar com o misterioso guerreiro.

Enquanto o grupo seguia seu destino, o senado via-se em um impasse: Aethel não era casado e, logicamente, não tinha filhos. Tendo isso em mente, era preciso que alguém assumisse o governo na ausência do imperador imediatamente.

Após cuidadosas deliberações, os senadores acharam por bem nomear James Salazar, 2° cônsul do império, “ditador”; dessa forma, o homem poderia combater Juba, evitar os debates intermináveis no senado e garantir a segurança dos súditos do império.

Jazz não gostou nada dessa decisão (ainda que fosse constitucional) e conversou com Atreu sobre os perigos de dar tantos poderes ao cônsul como se o país estivesse em um estado de sítio.

 James reuniu a garota com seus amigos, Danny, Sam, Spud, Tucker, Dipper, Mabel, Beatriz, Roland e Blair, e determinou que “a pátria está em perigo”, justificando sua nova posição e decisões mais imediatas:

— Senhorita Jasmine – disse James, como tranquilidade –, o mundo está desmoronando e Aethel nos deixou para cuidar de assuntos muito importantes. Sei, porém, que ele ama muito você e seus amigos, de modo que tomei a seguinte decisão…

— Decisão? – Questionou a garota – O que pretende fazer?

— A segurança de vocês é nossa prioridade, é claro – sorriu Salazar – Por essa razão, decidi que devem ficar aqui, no palácio, onde estarão em segurança. Será melhor que não saiam mais daqui, pois é perigoso; estamos em guerra, vocês entendem? Deixarei um destacamento de soldados para garantir sua segurança… Na verdade, mudarei todos para um quarto, onde fiquem juntos e se distraiam com jogos, livros, etc.

— Está nos prendendo, 2° cônsul? – perguntou Roland, nem um pouco feliz.

Salazar garantiu que não eram prisioneiros e que, assim que as coisas ficassem pacíficas, todos poderiam sair livremente.

É claro que o grande grupo desagradou-se com as palavras de James, mas foram todos conduzidos por uma guarda armada até um grande quarto, ricamente decorado, onde deveriam passar os próximos dias.

Após garantir a segurança de todos, Salazar ordenou que Atreu marchasse em direção à fronteira leste, aos Campos Alexandrinos, onde deveria montar defesa contra as tropas de Juba III e seu exército.

O senador não pareceu desanimado em marchar contra os franco-armanianos e os exterminar, mas o entusiasmo não era partilhado por Felipe: o general sentia falta do imperador e não gostava dessa história de combater os inimigos sem ele, porém, não tinha escolha.

Antes de partir, no entanto, Felipe pediu que Danny o acompanhasse, devido a sua experiência recém-adquirida no na batalha de Nimrod.

O irmão de Jazz não queria deixar seus amigos, porém, combater Juba no leste seria difícil, e Danny sabia que Aethel precisava dessa vitória.

“Ele está buscando o oráculo e depois vai achar a armadura”, pensou o garoto, “então talvez eu deva ajudar o general com as ‘paradas’ do Juba”.

Tendo decidido isso, Atreu, Felipe e o menino fantasma seguiram com a VII legião, junta da III e IV do norte (anteriormente rebeladas) em busca de deter as ambições do rei da Franco-Armânia.

Foram três dias de marcha ao lado de homens valorosos, carregando seus mosquetes, mochilas de suprimentos, lanças alongadas, armaduras leves e escudos reforçados (nada diferente do que Danny havia visto anteriormente, quando combateu Cláudio).

Felipe era disciplinado e rígido, porém, jamais fora visto pelo garoto sem sorrir ou tratar cordialmente seus homens.

Durante as noites, assim que montavam acampamento, o general costumava comer pão com seus soldados, enquanto os animava com histórias das grandes batalhas do passado, quando o homem ainda era jovem e atrevido.

Danny ria a valer com as narrativas alegres:

— Uma vez me perdi de meu destacamento – disse Felipe – E passei os três dias seguintes comendo raízes e insetos! Quando meu comandante me encontrou, passei as semanas seguintes comendo mel, frutas e tudo o mais que encontrava, hahaha, o que me trouxe um novo problema: eu fiquei tão acima do peso que meu superior encolerizou-se… e me fez passar os três meses seguintes a pão e água!

Os soldados riam até não poderem mais, não apenas pelos “causos” de Felipe, mas por sentirem imensa satisfação em marcharem junto daquele homem que, apesar da idade, mantinha o coração tão jovem quanto o de Aethel.

Todos sabiam o quanto Felipe havia lutado para chegar ao posto de general, porém, também era de conhecimento geral que o cargo não havia lhe sabotado o espírito humilde e o coração alegre; o homem jamais se esqueceu de seus tempos como cadete, e por isso tratava seus subordinados com respeito.

Por tudo isso, os soldados estavam dispostos a marchar e lutar ao lado daquele líder, ainda que arriscando suas vidas.

Atreu não entendia bem aquele sentimento de um general para seus soldados, mas nem por isso se incomodava com isso; independente do que pudesse acontecer, esperava apenas que a VII legião demonstrasse coragem ante o inimigo.

Seguindo com a viagem, o exército chegou até uma pequena cidade chamada Eudóxia, que ficava de frente para um grande campo aberto e coberto de grama: eram os Campos Alexandrinos.

Enquanto montavam as defesas e preparavam seus equipamentos, Felipe contou a Danny o porquê daqueles campos se chamarem assim.

De acordo com o general, muito tempo atrás, um marinheiro romano chamado Probus havia se perdido no Atlântico e, após uma série de infortúnios, acabou vindo parar nos mares ghalaryanos.

Com o consentimento de Ghalary, Probus estabeleceu-se na cidade que, tempos depois, seria chamada de Eudóxia: foi ele quem, alegre com sua boa sorte, nomeou aqueles campos verdes de Alexandrinos.

Acontece que na época em que o romano se perdeu no mar, o imperador de Roma era o bom Alexandre Severo.

Danny ouviu o relato com gosto, mas não deixava de ajudar os soldados a montar tendas, erguer barricadas, auxiliar os hoplitas com suas armaduras e, principalmente, usar o celular para mostrar as imagens que a máquina de reconhecimento feitas por Spud e Tucker haviam coletado.

Era incrível como um objeto tão pequeno pudesse conter uma tela com imagens, vídeos, mapas completos do terreno e até indicações de passagens protegidas pelos bosques próximos: Juba teria uma grande surpresa quando chegasse com suas tropas!

Sorridente, o general reuniu Danny e dois comandantes com uniformes azuis na “tenda máxima” (como os ghalaryanos chamam o abrigo do comandante maior do regimento) e apresentou seus planos:

— Temos à nossa disposição 16.200 homens fortemente armados e prontos para aniquilar o inimigo franco-armaniano – disse Felipe, com confiança –, no entanto, precisamos organizar esse contingente, já que as legiões III e IV do norte nunca lutaram ao lado da VII. Além disso, Cláudio (maldito seja seu nome) tinha um jeito próprio de organizar suas tropas. Considerando isso, façamos o seguinte: Vamos formar uma linha com 1.200 soldados que ficarão atrás das unidades de combate, visando proteger a cidade de Eudóxia. 

Prosseguindo com o plano, Felipe explicou que haveriam, ao todo, quatro linhas de soldados posicionados para deter Juba, no entanto, Danny não entendia muito de exércitos e guerras, de modo que o general fez algumas anotações para ajudar o garoto:

 

Total: 16.200 soldados (legiões III, IV e VII).

 

4° Linhas: cavalaria (500), legionários (1200), cavalaria (500);

3° linha: cavalaria (1000), hoplitas (4.000 separados em quatro grupos), cavalaria (1000);

2° linha: atiradores (3000 distribuídos e três linhas compostas por mil cada);

1° linha: falange macedônica (5.000 soldados).

 

Para simplificar, Felipe desejava dividir seu exército em quatro linhas, que deveriam avançar conforme o combate com os inimigos fosse se intensificando, porém, a última linha (a 4°, composta por cavalaria e legionários) deveria ficar imóvel, protegendo a cidade.

Talvez o leitor entenda tanto quanto o pobre Danny, mas não precisa se preocupar com isso: quando o assunto é guerra, os planos no papel quase sempre mudam de uma hora para outra, segundo a conveniência.

Deixando as explicações tediosas de lado, o importante é saber que Danny ficaria junto de Felipe, que sempre estaria próximo da linha que estivesse mais à frente, para movimentá-la de acordo com a necessidade. Atreu, por outro lado, ficaria próximo a muralha de Eudóxia, para sua própria segurança.

Após terminar de explicar os planos, Felipe e seus homens se prepararam para entrar em batalha no dia seguinte, quando as tropas inimigas chegariam.

De acordo com o celular de Danny, as tropas inimigas cruzariam um rio próximo e chegariam em formação mais simples: soldados armados com sabres e cimitarras, escudos redondos de ferro reforçado, cavaleiros e arqueiros.

Com as imagens do “tijolo mágico” (como Felipe chamou o celular), Felipe viu, chocado, que o inimigo deveria ter algo entre dezoito e vinte mil soldados!

Bastaram algumas horas sinistras de espera, e as tropas ghalaryanas depararam-se com as forças franco-armanianas.

“Deus nos proteja” disse o bom general, quando viu o próprio Juba posicionar suas tropas no lado sul dos Campos Alexandrinos, movendo seus braços de um lado ao outro.

De pé em uma biga coberta de ouro, o rei franco-armaniano esperou seu exército ficar preparado e, sem aceitar dialogar com o adversário ghalaryano, deu ordens para que suas tropas avançassem.

“Sem sobreviventes!” gritava Juba, enquanto seus soldados corriam em direção às unidades de Felipe.

A primeira leva de soldados franco-armanianos era composta por homens de malha, capacetes de aço pontudos, cimitarras com inscrições sagradas (pois os soldados eram muito supersticiosos) e escudos decorados com símbolos geométricos.

Correndo furiosamente, o inimigo do deserto encontrou forte resistência vinda das tropas de Felipe, cujos comandos moviam a primeira linha de defesa, composta pela assustadora falange.

Armados com lanças de sete metros, os soldados ghalaryanos faziam frente aos inimigos, que acabavam sendo espetados pelas pontas de ferros.

Preparando os arqueiros, Juba deu ordens para que uma chuva de flechas descesse contra Felipe, desejando abrir caminho por entre as tropas do general.

Após as primeiras linhas franco-armanianas recuarem, soldados armados com bestas e arcos avançaram e, parando a cerca de quarenta metros, dispararam flechas envenenadas contra as tropas de Felipe.

Neste momento, a presença de Danny se fez valer, e o garoto gritou “virar fantasma!”, logo adquirindo os olhos esmeraldas, cabelos prateados, colante preto e todo o restante daquele uniforme digno de um herói.

Voando rápido, o garoto fantasma lançou uma explosão de raios e ondas verdes que, em uma questão de segundos, fez as flechas caírem.

O rei ficou mudo; como era possível que seu exército estivesse com tanta dificuldade em esmagar o inimigo e tomar a cidade?!

Tentando contornar as defesas, o monarca moveu sua cavalaria em direção ao flanco esquerdo da falange, enquanto seus soldados correriam em direção ao flanco direito: com esse movimento, Juba esperava fechar os soldados de Felipe em uma “caixa” e aniquilá-los.

Mais uma vez o garoto fantasma se encarregou de arruinar os planos do rei, voando em direção a cavalaria e fuzilando-a com raios verdes de energia carregada.

Felipe não podia deixar de rir da situação: aquela batalha deveria ser um massacre para seu exército, porém, Danny Phantom, amigo de Aethel, a estava vencendo quase sozinho!

Furioso, Juba olhou para seus soldados e gritou, como um bárbaro:

— Soldados! Quem me trará a cabeça desse moleque?! Darei mil vezes seu peso em ouro ao homem que me trouxer a cabeça desse porco!

Novamente os guerreiros de Juba avançaram, enquanto sua cavalaria preparava os canhões.

Preocupado, Felipe gritou para Danny:

— Garoto! Detenha os canhões, ou destruirão a falange!

Sem esperar, o fantasma voou como uma águia, fitando aquelas vinte máquinas que já eram carregadas com pesadas balas de metal.

Com tiros de energia certeiros, Danny destruiu as armas, uma a uma, mas não teve tempo de deter a última, que disparou. Felizmente, a bala não tinha grande alcance, logo explodindo no lado esquerdo da falange, a um metro de distância.

Tudo estava correndo bem, porém Felipe recuou a falange e avançou seus atiradores, pois viu que Juba preparava as unidades armadas com mosquetes franco-armanianos.

Essas armas, ao contrário das usadas pelo exército de Ghalary, mediam quase dois metros e eram pesadas de se carregar; o motivo era que suas balas tinham cerca de 4 cm (ao contrário das usadas pelos ghalaryanos, que tinham apenas 20 mm).

Se lhes revelo esses detalhes é porque, aos olhos de Danny e Felipe, eram assunto de extrema importância: a munição dos mosquetes de Juba eram poderosas o bastante para romper um escudo ghalaryano! Seria fácil como atravessar um espelho de banheiro com um martelo de ferro maciço.

Neste momento, houve uma troca de disparos entre os dois lados e, por mais que Danny tentasse derrubar os atiradores adversários, não pôde impedir que vários dos soldados de Felipe ficassem gravemente feridos.

A partir daquele ponto, Juba intercalou tiros de mosquete e graduais avanços com seus soldados, promovendo um recuo das tropas ghalaryanas.

Danny nunca havia visto tantos feridos, então, em um ato desesperado para impedir toda aquela violência, voou até chegar a Juba e exclamou:

— Grito fantasma!

A onda de choque daquele ataque foi tão devastadora, que o campo de batalha inteiro tremeu, como se fosse rachar ao meio; os cavalos se assustaram e a cavalaria dispersou, os arqueiros derrubaram suas bestas e flechas, as cimitarras tombaram e o próprio Juba gritou de pavor, caindo de sua biga com as mãos na cabeça.

“Danny…” disse Felipe, limpando o suor, "você é um presente de Deus”, enquanto sacava seu sabre e gritava, para suas tropas:

— Irmãos! O inimigo caiu! Hoplitas, avançar! Falange, reagrupar! Unidades, marchem!

Seguindo as orientações do general, Os hoplitas correram em direção ao inimigo, atiraram suas lanças nos adversários e sacaram as espadas, dando início ao pesadelo dos franco-armanianos: o avanço disciplinado dos ghalaryanos, quando a vitória já lhes era dada como certa.

Em poucos instantes, braços eram feridos, cabeças eram golpeadas com cabos de espadas, traseiros eram chutados (como ditava a moda ghalaryana), coxas eram mordidas e fuças eram socadas.

“O que faremos, divindade?” perguntaram os oficiais de Juba, ao que o rei, emudecido, respondeu:

— Recuem… vamos esperar a chegada de Cláudio e… entregar a praga ghalaryana como tributo aos deuses.

“Viva Danny! O soldado dos soldados!” gritaram as tropas de Felipe, alegres, “Aethel está conosco, nos protegendo por seu amigo!”, falavam as unidades de Atreu, também partilhando daquela alegria (embora nem houvessem participado da batalha).

Por ordens do senador, as horas seguintes foram dedicadas a cuidar dos feridos, fortalecer as defesas da cidade e descansar.

Apesar da alegria, aquela vitória era temporária e todos sabiam disso: em breve, Juba receberia mais tropas e avançaria com tal ferocidade, que nem as unidades legionárias de Felipe (as tropas mais poderosas de todo o exército) poderiam impedi-lo.

O velho general reconheceu, com desânimo, que precisavam de mais que esforço e poderes de fantasma: precisavam de Aethel e seus milagres.

Enquanto descansavam da batalha, Felipe perguntou  Danny se esse estava bem, ao que o garoto confirmou, logo voltando a sua forma humana:

— Estou um pouco cansado, mas tá de boa – disse o rapaz.

— Agradeço o que fez por nós – disse o general, com um sorriso humilde –, graças a sua ajuda, não tivemos baixas. Mas procure tomar cuidado; Juba já conhece suas habilidades e fará de você um alvo. Se você cair, tudo estará acabado.

Assentindo com a cabeça, Danny se afastou e foi descansar na tenda máxima.

Sentando-se confortavelmente, o garoto ficou pensando em Sam, com seus lindos cabelos negros, olhos violetas e personalidade sincera; será que ela aprovaria o que ele estava fazendo? Apesar do sucesso, o rapaz sabia que tudo poderia, mais cedo ou mais tarde, terminar em tragédia.

"Ficaria preocupada” sussurrou Danny, “mas se eu não estivesse aqui, ela me daria um chute”, concluiu, com um sorriso.

Os próximos dias seriam muito difíceis, mas Felipe e Daniel não se preocupavam: o dia de hoje foi um sucesso e isso era o mais importante…

 

***

 

Muito longe de Eudóxia, nas florestas próximas ao norte, Aethel, Rosa, Trixie e Jake voavam em direção a uma clareira, onde o imperador deu ordens para que pousassem: o castelo antigo do Cavaleiro Verde estava próximo.

Jake, ainda em forma humana, olhou a floresta, mas Aethel, sem esperar, buscou confirmar a promessa dos amigos:

— Lembrem do que combinamos; seguirão minhas ordens sem questionar: se eu disse para ficarem, vocês ficam; se eu disse para me deixarem, vocês vão.

O grupo concordou, mas a insistência do garoto naquelas palavras preocuparam Trixie e Rosa, que voltaram a questionar o porquê de estarem ali; Aethel não respondeu.

Tudo o que se podia ver em seu rosto era um semblante pesado, como se tomado por um misto de tristeza e esgotamento físico.

Trixie segurou a mão esquerda do rei e Rosa sorriu, tentando animar um pouco o ambiente, porém, nem Jack e seus comentários sobre a assustadora floresta conseguiram afastar o clima de tensão.

Atravessando os pinheiros e chegando em uma antiga estrada de pedra, coberta de limo, o grupo prosseguiu até avistarem um grande portão de madeira, sustentado por correntes de ferro que já eram tomadas pela natureza.

De repente, uma menininha apareceu, vinda não se sabe de onde, para cumprimentar o grupo.

Ela tinha cabelos negros como a noite, olhos verdes como turmalinas e pele rosada.

Usando um vestido verde preso com dois cintos dourados, sapatinhos cor de esmeralda e um colar com o relevo de um wyvern,  a menina perguntou o que desejavam, recebendo a resposta de Aethel.

Parecendo aborrecida, ela pediu que o grupo se retirasse, mas o rei não se moveu, de modo que ela, sem conseguir que eles fossem embora, fez um pedido:

— Coloque o medalhão, senhor do mundo – disse a garota, entregando o objeto – e também amarre um dos meus cintos ao seu – encerrou ela, tirando um dos cintos e o dando para Aethel.

O imperador não recusou o presente e prosseguiu seu caminho, enquanto a menina sumia em meio aos pinheiros.

Seguindo para dentro do castelo, Jake tremeu ante o silêncio absoluto: não se ouvia nem pássaros naquele grande pátio de pedra, rodeado de colunas e algumas escadas em péssimo estado.

Cruzando o lugar, o grupo atravessou uma porta de madeira e se deparou com um segundo pátio, cheio de estátuas desgastadas e uma grande fonte em ruínas.

— Não são bem-vindos, vão embora – alguém falou, em voz elevada.

Olhando ao redor, o grupo notou um corvo empoleirado em cima de uma estátua representando Eros e Psiquê.

Trixie estremeceu e Rosa olhou, assustada, enquanto segurava a mão direita de Jake,  que não se fez de rogado e abraçou a namorada.

O único a não se intimidar foi Aethel:

— Guardião, não me despeça. Tenho dois débitos a saldar com vosso mestre.

— Eu o conheço, senhor de Ghalary. Não tem o que fazer aqui, vá embora.

Aethel se recusou a partir e o corvo, sem conseguir seu intento, voou em direção a fonte e pegou um anel de ouro com com a inscrição grega “ΙΧΘΥΣ” (“Ichthus”), para depois oferecê-lo a Aethel:

— Então pegue o anel, “defensor do império” e “ruína de Gael” – disse a ave, aborrecida com o último título – . Coloque-o em sua mão esquerda, no dedo apontador. Desejo-lhe sucesso.

Dizendo isso, a ave voou para a floresta e desapareceu, como se jamais houvesse estado ali.

Trixie tremeu de frio, então Aethel tirou seu gibão, oferecendo-lhe para aplacar um pouco a baixa temperatura, recebendo um sorriso da amiga:

— Valeu, gênio, mas agora você não vai ficar com frio?

— Estou bem – sorriu ele – Só não me deixem, por enquanto. Por favor, fiquem aqui e vigiem, pois gostaria de meditar um pouco. Não se preocupem, pois ficarei bem.

Apesar de não fazer sentido, os amigos concordaram, ao que o rapaz se afastou um pouco, seguiu para uma pequena escada e entrou em um minúsculo quarto em ruínas, onde uma árvore atravessava o chão, passando através da parede destruída.

Ajoelhando próximo ao tronco, Aethel começou a chorar, derramando lágrimas abundantes que molhavam sua camisa e chegavam até a Excalibur.

O jovem rei estava com medo, mas não permitiria que seus amigos o vissem naquele estado: eles precisavam dele, então não poderia demonstrar fraquezas.

Além disso, ver seus olhares preocupados não traria nenhum alívio para as dores do desventurado monarca; Aethel era um imperador, acima de tudo, por isso não queria enfraquecer-se ainda mais.

Enquanto se debulhava em lágrimas, o rapaz percebeu um miado, que logo percebeu pertencer a um gatinho de pelagem negra.

De forma solene, o animal aconchegou-se no colo do garoto, que o afagou com cuidado.

Recostando-se na árvore, o rei lembrou-se dos dias felizes, quando dançou com Mabel em Gravity Falls, cozinhou ao lado de Blair, venceu Cláudio com a ajuda de Jake, Danny e dos outros…

Fechando os olhos, Aethel refletiu sobre possíveis arrependimentos, erros cometidos e por não ter passado tanto tempo quanto gostaria ao lado de Mabel e todos os outros amigos que havia feito.

Deixando os lamentos de lado, o jovem firmou o coração na fé e limpou as lágrimas.

Antes, porém, que saísse do recinto, o gato pulou em seu colo e mordeu a camisa, fazendo um pequeno rasgo.

Aethel repreendeu o felino e tentou afastá-lo, mas o animalzinho avançou e tocou o coração do garoto, deixando uma marca de pata feita de sangue.

O imperador estava cabisbaixo demais para se importar com aquilo, então apenas levantou o gato nos braços e voltou a repreendê-lo:

— Agora minha camisa está arruinada, parabéns – disse o rei, em tom de ironia.

Como se ignorasse a reprimenda, o felino, ainda levantado pelo garoto, lambeu sua testa e bateu as patinhas nas mãos do rapaz, que o libertou.

Depois disso, os dois caminharam até o pátio, onde encontraram Rosa, Trixie e Jake rodeados por lobos ferozes, de pelagem negra e olhos azuis, como a grande coroa da Senhora do Norte.

Olhando para os amigos, que se preparavam para entrar em batalha, Aethel falou:

— Rosa, Trixie… podem continuar, se quiserem, mas eu preferia que não o fizessem. Quanto a você, Jake, meu irmão, peço que fique aqui e espere pelas meninas; não importa o que aconteça, não deve prosseguir conosco, fui claro?

— Aí! Eu dei a minha palavra, não dei? – Questionou o dragão ocidental – Eu disse que ia te obedecer e é o que farei.

— Ótimo – sorriu Aethel, com humildade – Seria um problema se você continuasse… Trixie e Rosa vão reencontrá-lo em breve, então espere, está bem? E não invente de atacar os lobos, eles não tem medo de dragões.

Jake Long concordou, mais uma vez, e Aethel caminhou até um portão de madeira coberto de limo e reforçado com ferro:

— Jake… – começou Aethel – Nos conhecemos a pouco tempo, mas… em algum momento te ofendi ou aborreci?

O jovem dragão negou:

— Ás vezes você é meio mandão, como agora – disse o sino-americano –, e não gosto muito quando você e a Rosa ficam conversando demais, hahaha, me sinto deixado de lado. Também acho esquisito você estar tão próximo da Trixie, vocês estão parecendo irmãos. Mas nunca me senti ofendido por você ou qualquer outra pessoa em Ghalary; você é nosso amigo e confiamos em você,

— Oh… entendo – disse Aethel – Desculpe pelas ordens e… por estar próximo a Rosa. Acho que é o mesmo problema do Danny, mas sou ignorante sobre essas coisas.

Curvando-se com educação, o imperador seguiu com o gatinho no colo, as garotas ao  lado e a alcatéia de lobos para o portão, enquanto refletia sobre o breve diálogo e sussurrava palavras de alento, para tranquilizar as duas garotas…


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