As Crônicas de Aethel (II): O Livro das Bruxas escrita por Aldemir94


Capítulo 15
O Cavaleiro Verde




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No alto das verdejantes colinas próximas à cidade nobre, Ghalary, era possível avistar ao longe uma cadeia de montanhas que se apequenavam na linha do horizonte, à exceção de algumas poucas, mais próximas das planícies.

O Sol já estava se pondo, levando consigo os últimos raios de luz, enquanto os súditos do império começavam a se recolher, após mais um dia de labuta.

Poucos minutos e a Lua já estava a pino, como um grande disco de prata, naquele glorioso céu estrelado, que tanto inspiraria os apaixonados em seus passeios noturnos.

Aethel deu ordens para que seus funcionários descansassem, assim como pediu que seus amigos fossem para suas camas, tendo em vista que o dia fora demasiado cansativo. Ele, porém, por ser o imperador, ficaria acordado por mais algumas horas, trabalhando com alguns documentos e analisando uma série de petições que se acumulavam em sua mesa, como grãos de areia na praia.

Entendendo que seu amigo passaria a noite em trabalho, Sam e Trixie recusaram-se a ir para cama, sendo acompanhadas por Danny, Jake e os outros, em especial Dipper, que tinha esperanças de visitar os arquivos secretos ainda naquela noite.

Suspirando, Aethel pegou uma pilha de cartas e abriu uma delas, de forma aleatória:

—Bem, se é o que desejam… Certo, deixe-me ver o que diz essa carta. Pela simplicidade do envelope, com certeza não é de algum dos nossos aliados ou correspondentes estrangeiros, ela é… do orfanato “Amigos de Ivan”?

—Vai, fala logo - disse Trixie - O que diz aí?

—É das crianças do orfanato, está com duas páginas cheias de assinaturas delas, hahaha. Ao que parece, o orfanato está trabalhando com a paróquia local. Eles estão angariando fundos para a compra de mantimentos que serão enviados para as famílias que sofreram com esses incêndios… As crianças farão uma apresentação teatral retratando a história de José e querem que eu compareça.

—Ah, que gracinha - disse Trixie, com os olhos brilhando - Cara, você tem que aparecer lá! Fala aí, quando vai ser a apresentação?

—Dia 12 de fevereiro… Nossa, já faz quase dois meses que sou rei… Os documentos oficiais já dizem “Ano I do Reinado de Aethel”. Sabem, nunca houve um “Aethel” no trono antes, então às vezes nem o senado coloca numeração depois do meu nome.

—Numeração? - questionou Tucker.

—Sim - respondeu Aethel - Como fazem com outros reis: Ivan I, Vladimir III, Alexandre VII, Númitor II, etc.

Antes que a discussão acerca dos números ganhasse corpo, Felipe, o grande general, apareceu no escritório imperial.

Aethel cumprimentou seu amigo, que usava um uniforme inteiramente branco, com dragonas, botões e alamares inteiramente feitos de ouro.

De acordo com o general, as legiões III, IV e VII do Norte haviam sido trazidas de volta à cidade e agora passavam por inspeção.

Apesar de estar feliz em rever seu rei, Felipe comunicou que o rapaz tinha uma audiência marcada na presença de alguns senadores, de modo que precisava se preparar.

—Audiência? Quem será recebido? - perguntou Aethel.

—Não sei, mas Túlio e Atreu parecem agitados. O 2° consul também estava no salão.

—Mas e a Mabel? - perguntou Dipper - Precisamos ir até os arquivos.

—Sim, você está certo - respondeu Aethel.

—Mas majestade, parece que é algo urgente - disse Felipe - e o senado…

—Ainda temos alguns minutos - interronpeu Aethel - E o nobre senado não se importará em esperar um pouco.

Para chegarem aos arquivos secretos imperiais, Aethel precisou conduzir o grupo por um grande corredor, que os levou até a grande biblioteca imperial.

Jake, Spud, Trixie, Tucker e Danny ficaram boquiabertos com a magnificência do edifício, mas Rosa, Sam e Jazz deram maior atenção àquela extraordinária coleção de livros e obras de arte guardadas no interior da biblioteca.

Na verdade o tempo não era muito, mas Aethel lamentava a situação de Mabel, assim como acreditava que Dipper sentia-se impotente naquela situação toda, então decidiu mostrar um pouco dos arquivos antes da audiência.

Bastou alguns passos para que o grupo desse de cara com Carlos, curador do museu imperial e guardião da biblioteca.

O nobre bibliotecário curvou-se perante Aethel e disse:

—Salve, Aethel, senhor do mundo. Que Deus o guarde e abençoe.

—Salve, nobre Carlos - cumprimentou Aethel - Que Deus ouça suas palavras e lhe encha de graças.

Spud achava engraçada a polidez com que os ghalaryanos se cumprimentavam, mas sua atenção foi roubada pelo grande dragão, que ajudava alguns estudantes a alcançarem alguns livros sobre Sargão, “O Grande”, e alguns estudos sobre Fídias e suas esculturas.

 Após ouvir do imperador que o grupo desejava acessar os arquivos secretos, Carlos ajeitou a gravata borboleta e conduziu todos para uma sala próxima, cuja entrada era permitida apenas com autorização.

Após cruzarem um ambiente com poltronas e uma grande mesa cheia de mapas e livros, o grupo desceu por mais um curto corredor e se deparou com um elevador típico dos anos 20, muito bonito, com grades douradas formando desenhos típicos da arte Nouveau.

O elevador desceu até o nível 12, último de todos, onde o grupo se deparou com um salão que parecia ser tão grande quanto o térreo da biblioteca, na superfície, sendo cheio de livros antigos, salas esterilizadas com estantes abarrotadas de calhamaços, obras de arte e esculturas protegidas por vidros reforçados e apenas oficiais trajados de azul com espadins, alabardas e rifles carregados.

Aethel tirou o anel imperial do casaco e entregou a Dipper, pedindo que ele fosse com Beatriz até os arquivos de que precisavam.

O imperador pegou em uma mesinha próxima uma caneta com tinta dourada e papel, logo escrevendo uma mensagem:

“Eu, Aethel I, da casa de Ryu. Pela graça de Deus, imperador de Ghalary e rei das ilhas que compõem o império, guardião das tradições etc., autorizo Dipper Pines e Beatriz (cujo sobrenome desconheço) a terem acesso a todo e qualquer arquivo do 12° andar que não necessite de minha presença física. Peço ao senhor Carlos e a todos os oficiais aqui presentes que auxiliem Dipper e Beatriz no que for preciso. - Aethel I Ryu; santo imperador, pontífice menor.” 

Caminhando até uma das estantes, pediu à guarda (uma moça de cabelos curtos e negros, uniforme verde com fios de ouro e expressão respeitável) o diário original da imperatriz Sophia, sendo prontamente atendido pela oficial, que conduziu o monarca a um pequeno caderno com capa dura e azul, protegido por um tipo de vidro tão resistente, que nem uma bala de canhão seria capaz de danificá-lo.

Após destrancar a proteção de vidro com uma chave dourada, a mulher pediu que Aethel colocasse duas luvas brancas e pegasse o caderno, sendo prontamente atendida.

Após abrir o diário e olhar suas páginas amareladas, escrita dourada e um estranho cheiro de jasmim, o imperador levou o grupo para uma sala rodeada de vidro e fortemente protegida por guardas:

—Lembrem-se, Dipper e Beatriz. Aqui não é um setor aberto ao público, mas um lugar proibido até ao 2° consul do império; usem luvas, sigam as orientações de Carlos e sejam extremamente cuidadosos com tudo aqui, está bem?

Dipper e Beatriz concordaram, então Aethel perguntou o nome da oficial (o imperador adorava conhecer o nome de todos, mesmo que acabasse se esquecendo da maioria depois):

—Majestade, me chamo Miriam. Sou oficial a serviço do 2° regimento da guarda imperial, designada à uma semana para o setor 12.

—Miriam… Me desculpe, mas você não parece ser de Ghalary… Por acaso seria de um dos mundos além do véu?

—Não, senhor, não sou daqui… - respondeu Miriam, um pouco envergonhada - Vim de um mundo longe de Ghalary, além do véu, como seus amigos. Mas, se me permite perguntar, como soube?

—Foi só um palpite - respondeu Aethel - sua pele levemente bronzeada me diz que você veio de uma cidade litorânea ou passou muito tempo no mar, porém, como a guarda imperial precisa efetuar extensos estudos antes de ser admitida e a vida no mar não costuma dar tanto tempo aos marinheiros, imaginei que a primeira suposição estava mais correta. Quando você falou, percebi um sotaque que jamais ouvi antes, mesmo dos pescadores que entregam os frutos do mar no palácio, sugerindo que, se você pertencia a uma cidade portuária, essa não poderia ser ghalaryana.

—Nossa! Que incrível! - disse Trixie - Anda logo, Aethel, o que mais?

—Hahaha, certo Trixie - disse o imperador - Vamos ver Miriam, você tem olhos castanhos, cabelos negros e bem penteados… adora barras de amendoim e não deve ter muito contato com artefatos mágicos, considerando seu olhar intermitente para a Excalibur; estou certo?

—Meu senhor, perdão - respondeu Miriam - não desejava incomodar, mas essa é mesmo a lendária Excalibur do rei Arthur? Tipo, Merlin, Morgana, espada na pedra e tudo isso?! Me desculpe, mas é emocionante demais ver meus livros de criança ganharem vida desse modo.

—Hahaha, agora sei que não conhece Merlin - disse Aethel - E nunca viu Arquimedes. Está tudo bem, não estou aborrecido, hahaha, só fiquei curioso. Se precisar de algo, pode falar comigo, sou menos assustador do que as sagas contam.

—Péra aí, como é que você sabe que ela gosta de amendoim? - perguntou Trixie.

—Há farelos de amendoim na calça do uniforme, hahaha - respondeu o rei.

Miriam riu junto com o grupo; ficou feliz e se curvou diante de seu rei, que logo prosseguiu:

—Dipper, Beatriz, me ouçam; Miriam dirá aonde poderão ir, está bem? Não desobedeçam suas determinações e fiquem juntos de Carlos.

—Aethel, nós não somos crianças - disse Dipper.

—E portanto - respondeu Aethel - se não seguirem o que estou dizendo, poderão ter problemas graves. Como vocês dois não são mais crianças, já podem ser legalmente implicados caso algo aconteça aqui. Esses são os arquivos secretos do império, Dipper; se cometerem algum erro serão presos, e nem eu poderei libertá-los!

—Ué, mas você não é o imperador? - perguntou Danny.

—No caso de prisão, o assunto estará na esfera jurídica - respondeu o rei -, que está muito além das minhas atribuições; na verdade, se Dipper fosse preso e eu tentasse usar meu poder para libertá-lo, estaria cometendo um crime contra o Estado e poderia até ser processado.

Como não podia demorar-se mais, Aethel se despediu de Dipper, Beatriz e Miriam, mas os outros preferiram ficar e ajudar na busca por informações sobre o pomo de ouro e as anotações de Antônio e Sophia.

Apenas Jazz decidiu acompanhar o imperador até a audiência, onde os senadores estavam reunidos, sendo seguida por Danny e Jake (embora os dois últimos fossem por ordens de Aethel).

Após retornar ao palácio, o imperador percebeu que apenas Dipper e Beatriz estavam com sua autorização, de forma que Carlos e os outros teriam acesso demasiado restrito para serem de grande ajuda.

—Eles vão ficar bem, Dipper e Beatriz poderão acessar os arquivos mais restritos junto com eles.

—Acho que sim… - disse Aethel, fazendo uma pausa.

Acontece que o rapaz, finalmente, estava recordando de quem era seu visitante que pedia audiência: o Cavaleiro Verde.

Como a audiência já fora autorizada, então Aethel não poderia prender o cavaleiro problemático.

Suspirando, o rapaz seguiu até a majestosa sala do trono, onde reuniam-se dezenas de senadores em cadeiras douradas com estofamento aveludado.

Jazz quase não pôde acreditar nos lustres de cristal, janelas grandes, cortinas azuis decoradas com brasões dourados, um grande tapete vermelho que se estendia até uma escadaria de quatro degraus, dando até uma plataforma de mármore onde se podia ver o majestoso trono dourado de Aethel, com braços que exibiam a face de dois leões simpáticos, encosto com estofamento em veludo vermelho e uma águia no topo, de asas abertas.

Para complementar a beleza, haviam placas de ouro, com altos relevos retratando cenas bíblicas, árvores e frutos.

Nas quatro extremidades do salão haviam bandeiras, duas por extremidade: a primeira era a bandeira tricolor do império, a segunda era em formato de flâmula e possuía o brasão da casa de Ryu.

 Após orientar que Jazz e os outros fossem até o grupo de senadores e se sentassem junto a eles, Aethel caminhou solenemente até o trono, onde sentou-se.

Depois de dar sinal para o escrivão, Aethel esperou os nomes de todos aqueles que esperavam ser atendidos naquela noite.

—Majestade - começou o escrivão - Nesta noite há apenas uma audiência; o Cavaleiro Verde aguarda ser atendido.

—Muito bem… - respondeu o rei - Então peça que entre; que tenha início a última sessão de audiências do dia.

Sem esperar mais, um homem alto, de armadura verde, espada na bainha, elmo na cabeça e postura orgulhosa cruzou as portas e adentrou o salão.

Aethel ajeitava a faixa e tirava o pouco de poeira que ainda estava em seu casaco, logo saudando o cavaleiro:

—Cavaleiro Verde, nós o recebemos em paz. Antes de se aproximar, deverá entregar sua espada a um dos soldados; após nossa audiência, ela lhe será restituída, tem minha palavra.

Sem pestanejar, o cavaleiro entregou sua espada, de lâmina verde, a um dos oficiais trajados de azul, que pareceu surpreso com o peso da arma.

Após isso, o homem caminhou pelo longo tapete até o imperador, solicitando o direito de falar, tendo imediata autorização:

—Aethel - começou o homenzarrão - Vocês estão em posse da grande placa de pedra e de meu servo, aquele professor; devolva-os a mim, pela honra antiga dos cavaleiros.

—Ninguém é servo em Ghalary, cavaleiro - respondeu o imperador - Gemma está sob minha proteção. Quanto à pedra, ela é um legado de nossos antepassados e foi encontrada em solo ghalaryano, portanto, não pertence a você.

—Não zombe de mim, garoto - respondeu o cavaleiro - Foram meus esforços que trouxeram o professor e esta pedra para a luz do dia! O que um cavaleiro encontra pelo próprio mérito, desde que não seja por meios ilícitos ou vá de encontro à lei de Deus, pode ser exigido pelo cavaleiro, como disposto nos códigos de honra antigos.

—É verdade… - respondeu Aethel - Como cavaleiro você tem tal direito, não nego isso.

—Exijo apenas o que é meu - disse o Cavaleiro Verde - Chame o professor!

Assentindo com a cabeça, Aethel pediu a um dos guardas que chamassem o doutor Gemma, pois havia uma questão legal que requeria sua atenção.

Após chegar no salão, Gemma cerrou os punhos, mantendo uma expressão de seriedade, logo que viu o cavaleiro.

Sem esperar que o doutor falasse algo, o guerreiro de armadura verde bradou:

—Este homem foi capturado por mim, nas terras além do véu, que não estão sob o controle do Império Ghalaryano: ele é meu escravo, pela antiga lei, e eu exijo que me seja entregue, junto da placa que foi encontrada pelas minhas mãos! Caso sua lei seja um problema, “grande Aethel”, estou disposto a pagar uma quantia pela placa de pedra.

—O que pretende fazer com o distinto doutor? - questionou o rei.

—Ele desvendará o segredo da placa e - riu o cavaleiro - se tentar fugir ou me enganar, vou matá-lo.

—É verdade que Gemma estava sob outras leis, quando você o capturou - disse o rei -, porém, no momento em que vocês adentraram a grande floresta, as únicas leis válidas passaram a ser as de Ghalary: você não tem poder sobre esse homem, Cavaleiro Verde, ele é livre e protegido por mim.

O cavaleiro estava furioso; sabia desde o início que a força da lei dificilmente seria capaz de restituir sua placa preciosa e, embora o doutor estivesse sendo protegido, o frio cavaleiro ainda precisava dele para interpretar as inscrições na pedra.

Mantendo a calma, o cavaleiro entendeu que, se a lei nada pudesse fazer por ele, a honra de Aethel poderia ser útil nas circunstâncias atuais.

—Muito bem, vossa majestade… - disse o cavaleiro - Sabe que se não me entregar o que quero, farei seu povo sofrer: haverá incêndios, mortes na noite, veneno nas águas, poderes sombrios para ameaçar os civis, sempre que o Sol de pôr. Meus servos trarão medo e instabilidade para sua cidade dourada… Está disposto a enfrentar isso?

Neste momento, o sangue de Aethel ferveu e ele se levantou do trono, gritando com fúria:

—Não me faça ameaças, cavaleiro!... É recebido aqui em paz… e nós somos civilizadas.

—Em mim - começou o cavaleiro - Há uma força tão antiga quanto aquela que desafiou Vortigern. Meus ossos são fortes e não se enfraquecem; meu sangue corre como um rio, sem secar; meu nome é segredo para os que não partilham da minha mesa; meus avisos são frios, mas sinceros e firmados na honra da cavalaria. Desde os tempos antigos, antes de Arthur bradar a Excalibur, eu caminhava pela Terra, à procura de desafios dignos de um cavaleiro. Minha armadura é verde, dando-me o destaque na multidão, pois em uma batalha, não desejo ser escondido do inimigo, mas atraí-lo, como uma fera sedenta por caça.

—Diga o que pretende, cavaleiro - disse Aethel.

—Você porta a Excalibur, majestade - disse o homem - E com ela, o dever de seguir o código de honra de Arthur. Portanto, exijo um combate para reaver o controle da pedra e de meu escravo.

—Gemma não é seu escravo, cavaleiro - respondeu Aethel - E a única lei válida aqui é a de Ghalary, não os códigos de Arthur.

—Não serei mais humilhado! - berrou o cavaleiro - Desafio você para um duelo! Agora!

—Vai se acovardar, Aethel? - falou uma voz feminina.

De repente, todos ali viram Nealie, a rainha das feiticeiras, com sua postura confiante e olhar sedutor. Ela não estava feliz com a demora do imperador em encontrar o pomo das hespérides, então decidiu fazer uma “visita”, para lembrar ao jovem o que aconteceria caso não tivesse o que tanto queria:

—Aethel - disse a rainha das bruxas - Porque ainda não encontrou o pomo de ouro?

—Você de novo?! - questionou o rapaz - É incrível que tenha decidido aparecer aqui, depois de tudo que fez; suma da minha frente!

—Nenhuma dama deve ser tratada assim por um homem! - berrou o cavaleiro - Exijo um duelo para defender a honra da mulher.

—Cale-se, cavaleiro - disse Aethel - E quanto a você, Nealie; logo participará de uma interessante cerimônia na fogueira!

—Gente, espera aí! - disse Jazz, para a surpresa dos senadores - Seja qual for o problema, sei que todos podemos chegar a um acordo diplomático.

—Silêncio, sua camponesa estúpida! - gritou o cavaleiro - A magia antiga está neste salão e mentes minúsculas como a sua nunca poderiam compreendê-la.

Neste momento, Aethel sacou a espada e a bradou, com o braço esquerdo, em direção ao cavaleiro terrível, dizendo em seguida:

—Cavaleiro Verde, eu estava disposto a ignorar as antigas leis da cavalaria, em nome da civilidade. Porém, qualquer um que ofenda uma dama, como a senhorita Jazmine, dessa maneira, está pedindo para provar da Excalibur… Vamos para o pátio, cavaleiro, pois iremos duelar lá. 

—Um momento - disse James Salazar, 2° cônsul do império - Nossas leis são claras sobre duelos e assassinatos, grande Aethel. Não posso permitir que o senhor arrisque sua vida e a deste cavaleiro; mesmo que vença, vossa majestade ainda terá que se entender com a justiça por matar um homem.

—Talvez eu tenha me excedido - respondeu Aethel - me perdoe, senhor Salazar. Mas a honra da senhorita ainda precisa ser defendida.

—Olha só - respondeu Jazz - Eu não preciso ser defendida, ok? Afinal, foi só uma ofensa vazia.

De repente, um grande lobo negro, de olhos vermelhos e dentes afiados, entrou no salão e avançou contra Gemma, chocando todos os presentes e fazendo com que os guardas cercassem o cavaleiro e a feiticeira.

Aethel ordenou que os soldados não avançassem, ou poderiam causar um banho de sangue, sendo prontamente atendido.

—Quero retribuição por tudo o que foi dito aqui, majestade - respondeu o cavaleiro.

Antes que o rapaz pudesse dar uma resposta a altura, Jazz chamou sua atenção:

—Humm, Aethel… Temos um probleminha…

Ao olhar para a garota, o rapaz viu uma grande serpente com escamas verdes e presas reluzentes, prestes a mordê-la.

—Nealie… se ela se machucar - disse Aethel, furioso - você vai morrer!

O Cavaleiro Verde não gostou de ver Jazz naquela situação; era um cavaleiro afinal, então segurou com a mão esquerda o pescoço de Nealie:

—Não precisa machucar a garota, Nealie, uma dama não deve se portar assim.

—Meu cavaleiro… - disse a feiticeira - Só desejo que o rei pare de desrespeitá-lo. 

Neste momento, o cavaleiro foi acertado por uma rajada de energia verde, enquanto Nealie olhava ao redor, sem entender o que acontecia.

A serpente tentou morder Jaz, mas a garota estava intangível, de modo que era possível enxergar os assentos dos senadores através dela.

—O grande lobo, que tinha Gemma seguro em suas patas, levantou a cabeça e viu seu amo, o grande cavaleiro, ser atacado por uma rajada de fogo.

Para Aethel, estava claro que Danny e Jake haviam se cansado de aguardar e, quando Jazz ficou em perigo, decidiram agir.

Jake, na forma de dragão, avançou em direção ao cavaleiro, voando como uma flecha, mas o homem agarrou a fera vermelha pelo pescoço com o braço direito e, num movimento rápido, atirou-a no chão com tamanha força, que desnorteou o garoto Long  completamente.

Danny estendeu a mão direita e lançou uma rajada de energia verde fantasmagórica contra o Cavaleiro Verde, mas esse cruzou os punhos, conseguindo receber o ataque sem sofrer danos.

Após ouvir um assobio do cavaleiro, o grande lobo avançou contra o soldado que guardava a espada verde e pegou-a com os dentes, logo correndo e entregando-a ao mestre.

Segurando a arma com o punho direito, o cavaleiro ameaçou cortar a cabeça do dragão, enquanto Danny voava rápido em direção ao inimigo, na tentativa de salvar o amigo da morte certa.

—Basta! - gritou Aethel.

A voz do imperador foi suficiente para que a confusão parasse por completo, mas o cavaleiro não cederia por nada:

—Majestade! Onde está a honra dos ghalaryanos?! Vim aqui exigindo meus direitos, como sua lei e a dos cavaleiros me garante… E o senhor permite essa desonra contra mim?! Esta fera - disse o cavaleiro, apontando a espada verde contra Jake - tentou me matar e, para o agravamento de minha ofença, ainda sou atacado por esta criança vestida de preto e cinza? - terminou o guerreiro verde, agora apontando a lâmina contra Danny. Exijo retratação por esta humilhação!

—E o que você quer? - suspirou Aethel, enquanto caminhava até o cavaleiro.

—A cabeça do dragão e a mão direita do garoto fantasma - respondeu o cavaleiro - ou invocarei os espíritos das antigas batalhas e darei ordens para que venham até você e destruam seu reino.

Após ponderar por alguns instantes, Aethel ordenou que todos os presentes, a exceção de Nealie e o cavaleiro, se retirassem do salão, sendo prontamente atendido (embora Danny tenha precisado ajudar Jake a levantar do chão e carregá-lo até a saída).

Os três ficaram cerca de 40 minutos conferenciando, enquanto os outros esperavam do lado de fora.

De repente, Nealie saiu do salão e comunicou aos outros que Aethel queria ver Gemma, Danny, Jake e Jazz, para comunicar sua decisão acerca do ocorrido.

Os quatro entraram e se aproximaram do rei, acompanhados da feiticeira.

Com um olhar profundamente triste, Aethel olhou para Jake e Danny e lhes explicou a situação:

—Uma audiência na sala do trono é sagrada… Quem for recebido aqui, está sob as proteções do império. Jake… Danny… atacar alguém recebido em audiência oficial é como tentar matar um rei. É um crime muito grave.

—Aethel… - disse Jazz - O que está tentando dizer?

—Algumas leis antigas… - disse o rapaz, pausadamente - consideram atacar um cavaleiro em audiência… digno de morte… Nossas leis também… também são “duras” em casos assim. Isso está além de mim.

—Se esses dois tentarem algo, nós… - falou Danny, olhando para Nealie e o cavaleiro.

—Vocês não farão nada - interrompeu Aethel - Gemma… Jazz… vocês foram ofendidos e por isso estão livres, em nome das leis antigas de hospitalidade e proteção.

—Mas e quanto ao Danny? E o Jake? - perguntou a garota.

—Em algumas sociedades do passado… - disse Gemma - A pena capital é aplicável quando a ofensa é grave…

—Pena capital?! Não… - falou Jazz, em pânico.

—No entanto… - disse Aethel - o Cavaleiro Verde aceitou abrir mão do sangue de Jake e Danny… Também concordou abdicar de Gemma, embora a pedra ainda seja assunto para outro dia.

—Graças a Deus… - disse Jazz.

Neste momento, Aethel pediu que a garota levasse seus amigos para fora, sendo prontamente obedecido.

A porta foi fechada, mas Jazz não pôde deixar de indagar a razão do olhar triste do imperador, considerando que tudo havia acabado, mais ou menos, bem; então abriu um pouco a porta (não foi difícil, já que a maioria dos senadores e guardas estavam distraídos ou já tinham ido embora)...

Talvez ela não devesse ter feito isso.

Naquele momento, Jazz viu que as luzes do salão foram apagadas e tudo ficou iluminado pelos raios bruxuleantes da lua.

Nealie mantinha uma distância de quase cinco metros de Aethel e do cavaleiro que, ajoelhado, indagava ao jovem imperador se estava certo de sua escolha:

—Tem certeza, vossa alteza? Não me importo em reaver meus direitos.

—Tenho, nobre cavaleiro - respondeu o rei - Tomei minha decisão… Não voltarei atrás, tem minha palavra.

De repente, Jazz observou a luz do luar refletindo na lâmina da Excalibur e, para seu choque, viu o momento derradeiro em que Aethel moveu a espada com velocidade, produzindo um indefinível som de corte: dois segundos, um sorriso de Nealie, uma lágrima do rapaz e um fio de sangue.

Como em um pesadelo, a cabeça do Cavaleiro Verde foi ao chão, enquanto Jazz via toda aquela cena, horrorizada…


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Notas finais do capítulo

José:
Filho de Jacó e Raquel, José protagonizou uma das mais interessantes sagas da Bíblia.
Vendido como escravo pelos próprios irmãos, José enfrentou adversidades que vão desde a própria condição de escravizado até a fuga do pecado e posterior prisão por um crime que não cometeu. Porém, como Deus sempre esteve com ele, José consegue vencer todas as dificuldades e prosperar em seus empreendimentos.
Posteriormente, José interpreta dois sonhos de faraó e é elevado por ele a posição de governador do Egito.
A saga de José se encontra no livro de Gênesis, capítulos 37 - 50.

Sargão, o Grande:
Sargão I, o Grande (por volta de c. 2 300 a.C. - falecido mais ou menos em 2 215 a.C.), cujo nome significa "rei legítimo" ou "rei verdadeiro" foi um dos mais célebres reis da Acádia, reconhecido por ter conquistado as cidades-estado da antiga suméria, entre os séculos XXIV a.C. e XXIII a.C.
Líder militar incomparável e enérgico administrador, teria reinado por 56 anos, tendo criado um vasto império que incluiu toda a Mesopotâmia, além de alguns outros territórios.

Fídias:
Fídias (por volta de 480 a.C. - cerca de 430 a. C.) foi um dos mais famosos escultores gregos. Lhe são atribuídas diversas obras, como a grande estátua de Zeus no templo deste deus em Olímpia (reconhecida como uma das sete maravilhas do mundo antigo), porém, nenhuma delas sobreviveu aos nossos dias, salvo algumas esculturas que decoravam o Partenon.
Por outro lado, existem várias cópias romanas de obras atribuídas a Fídias.

Arte Nouveau:
Movimento artístico surgido na Europa no final do século XIX.
Entre seus principais representantes, valem a pena ser destacados Alphonse Maria Mucha (1860 - 1939), com seus belos painéis de "As Estações", e Henri Toulouse-Lautrec (1864 - 1901), com seus quadros e posters.



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