As crônicas da Raposa e do Dragão escrita por marrymarilia


Capítulo 15
Lá e de volta outra vez




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— Fica calma. Não deve ser nada de mais. Eu tomo a responsabilidade de qualquer problema que possa ocorrer. - Lance tentava, em vão, acalmar Iduna que andava de um lado pro outro no quarto, antes de uma audiência com o príncipe Satoru e a princesa Akame. - Eles estão gratos pela nossa ajuda na questão da conspiração, tenho certeza que irão relevar isso.

— Pra você é fácil falar, não foi você que eles chamaram para uma audiência. Estávamos preocupados que o Matheus fosse estragar a missão, mas no fim vai ser eu. Eu menti pra eles, fingi não saber a língua deles e posso ter ofendido a realeza. A Huang Hua vai me matar. – A jovem meio-kitsune estava começando uma crise de pânico. Seu chefe de guarda, observando a situação, tentou acalma-la. Ele se aproximou sem aviso e a abraçou forte. Iduna demorou alguns segundos, mas acabou se acalmando e se entregando aquele abraço.

— Melhor? – Lance perguntou e Iduna fez que sim com a cabeça.

— O príncipe requer sua presença agora, senhorita Iduna. – Um servo chamou pela meio-kitsune que engoliu em seco, mas seguiu para o salão principal, seguida pelo dragão.

Ao chegar no salão, a jovem viu o príncipe e a princesa sentados em seus respectivos lugares, altivos e impassíveis. Ela se dirigiu a frente deles e se ajoelhou em sinal de respeito e submissão, gesto que foi imitado pelo chefe da Obsidiana.

— Imagino que saiba o porquê de ter sido chamada. – Satoru começou sua fala. – Foi informado a nós, pela guarda de Eel que não havia pessoas capazes de entender nihongo, mas me foi dito por minha noiva que a senhorita aqui em nossa frente não só entende como também fala nosso idioma. Então eu me pergunto, como podemos confiar em um aliado que nos esconde coisas como essa? – A pergunta foi direta e sem rodeios. Lance tomou a frente na explicação.

— Sentimos muito, majestades, por não termos dividido essa informação. Quando o relatório de integrantes da missão foi enviado a vocês, não sabíamos que Iduna tinha conhecimento da língua nihongo, e quando soubemos, já estávamos envolvidos com a proteção da princesa e a investigação da conspiração. Então eu decidi que não iríamos revelar essa informação e iriamos usar isso como vantagem para investigar. Qualquer responsabilidade sobre esse assunto é completamente minha e somente eu devo ser punido a respeito dessa conduta. – Lance curvou a cabeça em sinal de respeito e humildade.

— Querido, eu acredito que esconder essa informação foi um estratégia para me proteger da melhor forma, mesmo que não tenha parecido ser algo honesto. Eu confiei e ainda confio na guarda de Eel e gostaria que mantivéssemos a aliança com eles. – Akame falava em favor da guarda e Satoru tendia a ouvi-la, mas quis saber mais.

— Minha noiva tem um bom coração, ela demonstra muita gentileza, mas estou curioso. Senhorita Iduna, como aprendeu nosso idioma já que não morava em Hyogaki nem em Akarui?

— Eu sou meio humana e meio faeiry, nasci na Terra, em um país chamado Japão. Eu acredito que foi desse lugar que seus ancestrais vieram durante o Grande Exílio. Nessa época minha família havia escolhido ficar na Terra, continuamos vivendo lá até os dias atuais. A língua falada ainda é a mesma, apesar de algumas diferenças linguísticas. – Iduna tratou de explicar.

— Quer dizer que você veio da terra dos ancestrais? — Akame parecia maravilhada.

— Sim, Akame-hime.

— Isso é incrível, eu sempre imaginei como estaria o lugar dos nossos ancestrais hoje em dia e agora há alguém que pode nos dizer como é. Nos conte tudo. O que aconteceu depois do Exílio? Qual a história do lugar? O que aconteceu com os faery que escolheram ficar? – O príncipe havia mudado de tom totalmente, de sério e altivo para sorridente e curioso. Então Lance percebeu, mesmo sem entender uma palavra do que diziam, que aquela crise havia passado.

A jovem respondia as questões deles o melhor que podia e a cada resposta que dava, mas perguntas surgiram. Iduna e Lance passaram o resto do dia com o casal real, apesar do dragão ser mais um acompanhante do que participante das conversas já que passaram o tempo conversando em nihongo. Ao final do dia, apesar de estar cansada, a meio-kitsune estava aliviada pelas relações da Guarda e Hyogaki/Akarui ainda estarem de pé. Nos próximos dias seria realizado o casamento entre Satoru e Akame e dessa vez era pra valer. O clima para essa cerimônia estava bem melhor que o da última vez, já que a tensão pelo sequestro da princesa já não estava pairando no ar. Todos os servos estavam animados, mas alguns nobres e membros da corte haviam sumido do palácio. O príncipe e o conselheiro real julgaram que esses haviam fugido depois da prisão da rainha-mãe por serem partidários dela. Assim, uma semana após a cerimônia frustrada, o casamento real finalmente aconteceu, com toda a pompa e circunstância que merecia. Podia-se notar a alegria dos noivos e todos os membros da guarda tiveram o sentimento de dever cumprido.

No dia seguinte, a Guarda de Eel já estava pronta para partir, haviam ficado mais tempo que o planejado na missão e precisavam voltar e reporta-la para Huang Hua. Em gratidão pelo suporte, Satoru deu a guarda copias de livros que contavam a história de seu reino durante o período de isolamento do resto de Eldarya. Iduna imaginou que Shion adoraria aqueles livros. Durante a viagem de volta a cidade de Eel, os cuidados na estrada foram redobrados, já que estavam em um grupo bem menor e mais suscetível a ataques. Após dois dias na estrada, já haviam saído da região mais crítica e já estavam nos limites das terras da guarda. Durante o último acampamento antes do regresso ao QG, Iduna e Matheus acabaram ficando um o primeiro turno da guarda noturna. Após algum tempo de vigília, Matheus falou com a jovem.

— Iduna..., então... - Ele estava sem graça. - Sobre meu comportamento em Akarui, eu sinto muito mesmo, eu exagerei em vários momentos, me perdoa.

A meio-kitsune não esperava aquele pedido, já havia até passado a raiva com o jovem humano sobre esse assunto, mas como viu como aquilo era importante para ele, resolveu responder.

— Tudo bem, estávamos sobre muita pressão. Eu te perdoo, mas se você fizer isso de novo, eu dou um soco no meio da sua boca. - Iduna disse isso com seu sorriso mais amigável, o que fez Matheus engolir em seco.

— Então, já que a gente está falando disso, eu queria te perguntar uma coisa. Durante esse tempo que a gente fingiu ser casado, eu reparei mais em você e... - Ele agora parecia mais envergonhado do que sem graça. - E eu queria saber se você... não gostaria de... virar um casal de verdade comigo. - Aquela proposta pegou Iduna totalmente de surpresa, tanto que ela demorou uns segundo pra processar a informação e responder.

— Hãaa... então... você é cara muito legal e é bonito também, mas eu não te vejo dessa maneira. Não tenho sentimentos por você, sinto muito.

— Mas você está solteira e não gosta de ninguém, certo? A gente podia sair só pra curtir, sem compromisso. - Matheus tentava argumentar.

— Então..., isso não é totalmente verdade... - Iduna estava sem graça de admitir aquilo para o jovem humano e pra si mesma, de certa forma.

— Peraí, o que não é verdade, que você está solteira ou que não gosta de ninguém? – O rapaz insistia em saber de detalhes e a meio-kitsune já estava desconfortável com o interrogatório. Foi quando, de repente, um golpe acertou em cheio Matheus na cabeça, fazendo-o inclinar para frente.

— Seu sem noção, não está vendo que está deixando a Iduna sem graça. Ela já te disse não, os motivos não são da sua conta. – Koori estava em pé logo atrás do rapaz. – Agora vai dormir, já está na hora de trocar a vigia. – Matheus suspirou e se deu por vencido. Se despediu das moças e foi se deitar. – Vai acordar o Lance pra você poder descansar.

— Eu estou bem, posso continuar por mais um tempo. Deixa-o dormir um pouco mais. – Iduna afirmou.

— Você que sabe, mas se eu fosse você não perderia a oportunidade de acordar meu crush como uma princesa adormecida.

— Você não tem jeito, Koori. – Ela disse, com o rosto vermelho. Mas depois de alguns minutos e alguns bocejos, se deu por vencida e foi trocar a vigia com Lance. Ao chegar perto do dragão, via que ele dormia profundamente. Imaginou o quão cansado ele estava. As palavras de Koori vieram a sua mente e ela balançou a cabeça para fazê-las ir embora. Ela não iria beija-lo enquanto ele dormia, mas também não deixou o momento passar em branco, e mesmo achando bem infantil, ela se abaixou ao lado dele, encostou o indicador em sua boca, dando um beijo em seu dedo, e depois encostou o mesmo dedo na boca do dragão. Logo após fazer isso, se sentiu muito boba, mas, como um passe de magica, aquele leve toque fez Lance despertar. Ele não parecia ter percebido o que aconteceu, deixando Iduna aliviada. O chefe da guarda sorriu para ela.

— Já está na hora de trocar a vigia, certo? Pode descansar, eu fico com a Koori.

— Obrigada. Boa noite, então. - A jovem se levantou, ajudando seu chefe de guarda a se pôr de pé. Ainda havia uma tensão entre eles desde a noite do jantar de noivado do príncipe e da princesa. Devido aos acontecimentos dos dias posteriores e o atraso na missão, ainda não haviam encontrado tempo para conversar sobre eles, e quanto mais o tempo passava, mas Iduna ficava tensa em retomar esse assunto. Foi dormir com a cabeça cheia de pensamentos sobre Lance, sobre Matheus, relacionamentos e como tudo era mais simples antes daquela viagem.

Mais um dia se passou e finalmente o grupo de Lance chegou ao QG. Iduna só queria tomar um bom banho quente e relaxar em sua cama, mas ainda precisavam fazer o relatório da missão. Evitando a procrastinação, a meio-kitsune foi direto para a biblioteca e redigiu seu relatório, Koori foi junto, pois também queria se livrar daquela obrigação. Lance foi fazer o relatório diretamente a Huang Hua e Matheus deixou pra fazer o seu no dia seguinte. Após algum tempo na biblioteca, Iduna foi ao salão principal, pegou um lanche rápido, tomou um banho, comeu e deitou pra descansar. Ela só queria dormir em sua cama, relaxando os músculos da tensão da viagem.

O sol já estava alto no céu quando a jovem abriu os olhos e se levantou. Estava com os músculos do pescoço doloridos e pensou ser da tensão que teve durante a viagem. Foi a enfermaria pegar um remédio e Evelyn resolveu fazer um check up completo na guardiã. Os exames não acusaram nada além de fadiga, o que iduna já imaginava, e após o exame seguiu para o salão principal para uma boa refeição, que pela hora já seria o almoço. Estava de folga aquele dia, como era normal aos guardiões que retornavam de missões longas ou difíceis. Ela comia seu prato com calma, apreciando os sabores quando Erika chegou e se juntou a ela.

— Bom dia, Iduna. Soube que vocês retornaram da missão ontem no começo da noite. Foi tudo bem? A Huang Hua disse que vocês passaram mais tempo fora que o previsto.

— No geral foi bem, fora que a princesa se apaixonou pelo Matheus, a rainha fazia parte de uma conspiração e sequestrou a princesa e quase acaba com o casamento. Fora isso, foi tranquilo. - Iduna falava com um tom descontraído que contrastava com a cara de espanto de Erika.

— Nossa! Parece que foi bem complicado, vocês devem estar esgotados.

— Nem tanto, embora não recusaria uma folga bem tranquila.

— Tive uma ideia. - A jovem aengel disse animadamente. - Eu estou de folga hoje, acabei de chegar de uma missão externa também. Por que não passamos o dia na praia? A gente pega uns lanches, chama o pessoal e ficamos lá, descansando e recarregando as energias. Vamos vai, diz que sim. - Erika fez sua melhor cara de ‘cão pidão’

— Calma, não precisa fazer essa cara. Eu aceito. - Iduna concordou com companheira guardiã sem questionar, realmente era uma boa ideia. - Mas eu não tenho biquini.

— Isso é fácil, eu te empresto um ou você pode comprar um na Purriry.

— Certo, vou passar na Purriry depois de comer.

— Combinado! Vou chamar o pessoal, a gente se encontra daqui a uma hora na praia. - Erika engoliu o resto da comida que tinha no prato se saiu animadamente pelo refeitório. Iduna apenas admirou a energia da companheira, terminando calmamente sua refeição.

A meio-kitsune foi até Purriry, que já jogou dezenas de trajes em seu colo, dizendo como todos eram lindos, exclusivos e como caiam bem nela. Iduna sabia que ela dizia isso para todas as clientes, mas fingiu acreditar naquele elogio. Comprou o biquini que queria e mais uma roupa para praia, para deixar a estilista feliz. Foi para seu quarto se trocar e, como ainda tinha algum tempo, foi para salão principal pegar alguns lanches para o passeio a praia. Seguiu para a praia, aproveitando o vento quente que soprava e o calor agradável do dia, pensou que era realmente um dia favorável para aproveitar a praia. Ao chegar, viu que ainda não havia ninguém, então colocou uma toalha na areia, pôs a cesta com o lanche encima e tirou a roupa ficando apenas de biquíni, foi até a beira da água, molhando os pés as mãos, passando a mão na nuca para aliviar o calor. Quando virou para voltar para a toalha e a cesta, viu que Lance já havia chegado, mas era o único até agora. Depois do acontecido entre eles em Akarui, não tiveram oportunidade de falar sobre o assunto, embora muitos olhares já tenham sido trocados entre eles. O coração de Iduna palpitava com o olhar visível de desejo do dragão, e também pela visão do corpo dele sem armadura, apenas com uma bermuda e sem camisa, mostrando seus músculos e cicatrizes. Foi para a toalha e se sentou, ele se juntou a ela, sentando-se ao seu lado. Ela não sabia como seria o resto daquele dia, mas sentia que seria cheio de emoções fortes.


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