Wildest Dreams escrita por ladyenoire


Capítulo 1
Sonhos


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807793/chapter/1

“Diga que você se lembrará de mim

Usando um belo vestido

Olhando para o pôr do sol, querido

Lábios vermelhos e bochechas rosadas

Diga que você me verá de novo

Mesmo que você esteja apenas fingindo”.

                                                             — Wildest Dreams (Taylor Swift)

Chat Noir estava com a mão estendida. O céu estava sem nuvens, o que permitia que o luar e as estrelas iluminassem a sua figura. E com a brisa noturna, que bagunçava levemente seus cabelos perfeitos, ele quase que parecia etéreo.

Marinette colocou sua mão sobre a de Chat, que aproveitou para puxá-la delicadamente para perto dele.

— Eu preciso ir embora agora.

— Não quero que você vá. – ela se surpreendeu ao se ouvir dizendo aquilo, mas ao mesmo tempo, parecia tão certo que essas palavras saíssem de sua boca.

— Também não queria ir. – o herói beijou os nós dos dedos da mão de Marinette e deu um suspiro profundo – Mas eu preciso. Já está tarde. – Chat se aproximou mais ainda e ela recuou surpresa. – Um beijo de boa noite?

Marinette sentiu seu coração acelerar. Já teve a experiência de beijar Chat Noir – embora fosse como Ladybug e em circunstâncias duvidosas –, mas nunca tinha o beijado voluntariamente. E por incrível que pareça, a ideia não pareceu ruim.

O herói permaneceu parado, esperando. E logo a garota se aproximou, assentindo. Ele se inclinou e encostou os lábios nos de Marinette, fazendo o coração dela acelerar e se encher de uma alegria desconhecida.

O beijo de Chat Noir fez com que ela se sentisse nas nuvens, como se estivesse flutuando. Era estranho, porque ela nunca tinha sentido nada pelo parceiro, além de um carinho amigável. Mas agora, uma paixão avassaladora parecia tomar conta do corpo de Marinette.

Quando eles se separaram, Chat Noir pousou a mão enluvada no rosto dela, cuidando para não machucá-la com as garras.

— Boa noite, Marinette.

— Boa n... – Chat Noir começou a desaparecer lentamente. – Espera! – ela estendeu a mão, porém a imagem do herói estava se dissolvendo e não havia nada que pudesse fazer a respeito. – Chat! Volte!

O coração de Marinette estava acelerado com a adrenalina da paixão recém descoberta e com o fato de que Chat Noir estava indo embora. Ela não estava preparada para deixa-lo ir, precisava dele como nunca antes.

E assim que ele foi completamente embora e Marinette achou que seu coração ia explodir com a dor que sentia, ela finalmente abriu os olhos e acordou.

 

*

 

Sonhos! Malditos sonhos!

Marinette colocou o travesseiro sobre a cabeça e abafou um grito. Rapidamente ela se preocupou em ter acordado Tikki com seu ataque repentino de raiva, no entanto a kwami estava dormindo profundamente no travesseirinho ao lado dela.

O corpo de Marinette relaxou e ela deitou encarando o teto e pensando no real problema que estava enfrentando todas as noites. Não, não era nada que Shadow Moth pudesse mandar para atormentar a cidade. Apenas o fato de que estava tendo sonhos constantes com seu parceiro. Sonhos esses em que estava perdidamente apaixonada por ele. O que não era verdade.

Quer dizer, ela não odiava Chat Noir, nem nada do tipo. Longe disso, na verdade. Gostava do parceiro genuinamente e o considerava um dos seus amigos mais queridos. Só que não o amava. Ao menos não como seus sonhos constantes faziam parecer que amava.

 E mesmo que não fosse uma experiência agradável conviver com os sonhos, ela não teria que se preocupar com eles, se não estivessem fazendo com que ela questionasse a maneira como via o seu parceiro. Era estranho estar ao lado de Chat Noir durante as patrulhas, ou até mesmo nas batalhas contra os akumatizados/amokizados de Shadow Moth, e lembrar que na noite passada, beijava o herói apaixonadamente em seu sonho. Embora, ela tivesse consciência de que não podia se desconcentrar nos momentos tensos. Ao menos isso ela conseguia fazer.

Só que, como Ladybug era fácil dar conta desses pensamentos, por mais que seja a maneira na qual ela fique mais próxima de Chat Noir. Salvar a cidade era a prioridade dos dois, então as coisas não eram totalmente esquisitas – eram só um pouquinho. Porém, como Marinette era mais difícil não se deixar levar pelos devaneios.

Marinette levantou da cama, tentando espantar o sono. Tinha medo de dormir novamente e acabar sonhando com Chat Noir e o quanto – não – estava totalmente apaixonada por ele.

 — Você é apaixonada pelo Adrien, não pelo Chat Noir! – sussurrou em tom de repreensão para si mesma e deu um longo suspiro ao passar por uma das milhares fotos de Adrien que ela tinha no quarto. 

Se ao menos estivesse namorando com Adrien, ao menos seria bem mais fácil deixar essa loucura de sonhos com Chat Noir de lado. Ou, quem sabe, ela sequer sonhasse com ele. Mas era muito difícil estar com Adrien, porque ela não tinha coragem de dizer o que sentia por ele e correr o risco de estragar a bela amizade que tinham. E bem, se ele sentisse a mesma coisa, provavelmente já teria dito algo, não é?

A garota balançou a cabeça, afastando os pensamentos torturantes e fez aquilo que fazia quando queria esvaziar a mente: foi até o terraço tomar um ar. Geralmente, quando ela queria esvaziar a mente de verdade, ela ia como Ladybug até o topo da Torre Eiffel e ficava ali sozinha e calada por um tempo. No entanto, acordar Tikki no meio da noite para isso, seria crueldade com a pequena kwami.

O que Marinette não sabia, ao se enrolar em um edredom e ficar encarando a noite do terraço, tentando afastar todos os seus pensamentos, era que ali perto um gato de rua estava fazendo a mesma coisa. Quer dizer, não necessariamente do mesmo jeito e pelo mesmo motivo – e também, não necessariamente um gato de rua. Mas, o ponto é que, Chat Noir pulava de telhado em telhado com um semblante taciturno e uma comportamento levemente lânguido.

Mais cedo naquele dia, Adrien Agreste teve uma briga feia com seu pai – que tem estado com os nervos à flor da pele ultimamente. Natalie, fiel assistente de Gabriel, e alguém que praticamente criou Adrien depois que sua mãe se foi, tinha pedido demissão. Adrien não entendeu bem o motivo, mas sabia que aquilo tinha a ver com seu pai. E assim a briga começou, quando Adrien foi confrontá-lo para que fizesse algo para Natalie ficar.

As poucas brigas que já teve com Gabriel – já que nem sempre era corajoso o suficiente para enfrenta-lo –, sempre terminavam da mesma maneira: Gabriel dava a palavra final, Adrien pedia desculpas e cada um ia para seu quarto. Só que desta vez, Adrien não quis pedir desculpas quando seu pai gritou que a discussão estava encerrada. O garoto insistiu e disse que Natalie era parte de família e não se abandona a família. Foi então que Gabriel disse a seguinte frase: “Sei que você tenta, desesperadamente, procurar uma figura materna, Adrien. No entanto, Natalie não é a sua mãe. E ela nunca será!”.

Adrien sentiu vontade de se transformar em Chat Noir na mesma hora e usar seu poder para destruir a mansão inteira. Mas é claro que não fez isso. Ao invés disso, ele saiu tempestuosamente pela porta do escritório, sem pedir as desculpas costumeiras, e se trancou no quarto, já que não podia fazer mais nada a respeito.

O garoto tinha a perfeita consciência de que Natalie não era a sua mãe e de que ninguém substituiria Emilie. Entretanto, Gabriel não precisava ter dito aquilo.

Quando a noite chegou e Adrien ficou cansado de remoer os pensamentos, ele decidiu se transformar e correr por aí para afastar os pensamentos sobre a briga que teve com o pai. O loiro sabia que não corria risco de ser pego, porque Gabriel não iria até o quarto dele o procurar para pedir desculpas. Não, isso não tinha nada a ver com o pai dele.

Enquanto passava de prédio a prédio, tentando manter sua mente vazia, avistou uma figura peculiar encarando o céu noturno, com uma expressão frustrada.

Chat Noir se aproximou devagar do terraço de Marinette, se perguntando se deveria atrapalhar o momento reflexivo dela. No entanto, aquela garota sempre o fazia sentir bem quando estava como Adrien, talvez ela pudesse ajuda-lo como Chat Noir também. E, quem sabe, dependendo do problema dela, ele também poderia ajuda-la.

— Noite difícil? – Marinette pulou de susto e quando pensou em emitir um grito de susto, a mão de Chat Noir já estava sobre a sua boca – Desculpa por isso, mas não quero que acorde seu pai. Da última vez que ele nos pegou juntos no seu terraço, não foi muito legal. – brincou, lembrando da vez que Marinette estava apaixonada por ele e que o pai dela foi akumatizado, quando descobriu que Chat Noir não retribuía os sentimentos da filha e tinha quebrado o coração dela.

Por mais que a piada tivesse sido engraçada, Marinette só conseguiu emitir um som que era quase como uma risada constrangedora. O herói não fazia ideia do que passava pela cabeça dela agora, porque se fizesse, certamente não teria dito aquilo.

— Desculpado. Claro. O que faz aqui? – perguntou rápido e se afastou do loiro, batendo as costas na grade sem querer.

— O mesmo que você, acho. – ele se escorou ao lado dela, fitando a rua deserta. Por um segundo ela chegou a pensar que eles estavam fazendo o mesmo, de fato, que é esquecer os sonhos incômodos sobre o outro – Tentando não pensar nos meus problemas.

— É, então estamos fazendo a mesma coisa. – a postura de Marinette relaxou. Claro, era totalmente improvável Chat Noir estar sonhando com ela.

— O que aconteceu com você? – ela o encarou – Não precisa me dizer, se não quiser. Eu só... Queria ouvir a sua voz. – o corpo dela ficou rígido de novo – Conversar com alguém me ajuda a não pensar.

Marinette relaxou mais uma vez. Certo, ela precisava ficar calma. Os malditos sonhos com Chat Noir, estavam fazendo ela ver coisas demais, onde não tinha nada.

Tudo bem que o fato de Chat Noir estar aqui com ela no meio da noite, era um tanto quanto improvável. Todavia, ela não deixaria uma coincidência bagunçar seus pensamentos, porque obviamente tinha uma explicação racional para tudo isso. E como o loiro disse, conversar ajuda a não pensar. Talvez pudesse funcionar com ela também.

Podia aproveitar e desabafar sobre seu problema, embora tivesse que omitir uma parte.

 — Eu... Não é nada demais, só que... Eu gosto de uma pessoa. – Chat assentiu, já sabia essa parte da história – E eu tenho sonhado que estou namorando outra pessoa. – bem, agora era mais interessante. – Alguém de quem eu não gosto. Quero dizer, eu gosto dessa pessoa. Só não gosto, do tipo, não amo, entendeu? Claro, eu amo como amigo. Mas não amo, tipo, amo! E aí, isso tá bagunçando a minha cabeça!

— Relaxa! Foi só um sonho. – ele disse com um ar brincalhão.

— É aí que estava o problema, não foi só um sonho. Foram vários sonhos, todas as noites! Parece até...

— Que você se apaixonou por esse outro cara?

— Não! – gritou e colocou a mão sobre a boca na mesma hora. – Não. – se corrigiu, agora falando baixo – Não, eu não estou apaixonada por v... Por esse outro cara.

— Se você está sonhando todas as noites com ele, de uma maneira romântica ainda, acho que sim, você está apaixonada por ele. Ou, ao menos você está se apaixonando. – Chat Noir havia sonhado com Ladybug o suficiente para saber o que estava dizendo. Tudo bem que ele já amava Ladybug quando começou a sonhar com ela, no entanto, sabia que sonhos constantes envolvendo amor, certamente queria dizer alguma coisa.

A expressão de Marinette era indecifrável.

— M-Mas... Eu... – é claro que isso já tinha passado pela cabeça dela, mas ouvir uma confirmação verbal, era demais.

— De qualquer modo, acho que você não precisa ficar se preocupando com isso. – o herói retomou a conversa, vendo que tinha deixado Marinette desconcertada com seu ponto de vista – Pode ser que esse cara também goste de você.

— A não, definitivamente não! – ela riu – Na verdade... Bem, é complicado. – Chat Noir a encarou com um olhar confuso. Ele não fazia ideia de que o cara era ele e que, se for parar para pensar, ele gostava de Marinette também, só que quando ela era Ladybug. O que era um pensamento meio complicado e fazia a cabeça de Marinette doer. Então, ela só o afastou e procurou tratar a situação com simplicidade. Chat Noir não era apaixonado por Marinette. – Você... Não entenderia. Mas chega de falar de mim! Quer contar alguma coisa sobre o que deixou você assim?

Apesar do que Marinette pensava, sim, Chat Noir entenderia a situação. Ou, ao menos, entenderia tanto quanto ela.

— Problema de família. – suspirou – Como você disse, é complicado.

— Isso faz o meu problema parecer uma idiotice. Mas o que eu sei é que, não existe família perfeita, ter problemas é normal. O importante é resolver tudo da melhor maneira possível. E isso depende das duas partes. – o loiro sorriu. Sabia que Marinette conseguiria fazer ele se sentir melhor.

— Seu problema não é uma idiotice. E obrigado pelas palavras, de verdade. – ficaram alguns segundos em silêncio – Mas chega de falar sobre coisas ruins!

— Em minha defesa, você também me perguntou sobre o meu problema. – ele riu – Mas, é claro, podemos falar de outra coisa. Como vai a vida de super-herói? – Marinette, ou melhor, Ladybug tinha uma boa ideia de como ia a vida de super-herói do parceiro. Só que ela não podia dizer aquilo para ele.

— Como vai a escola? – desafiou, depois de fazer um som de tédio.

— Entendi o ponto. Sem falar sobre o cotidiano.

— Podemos falar sobre os seus desenhos. Sei que quer se tornar designer de moda, ou algo assim. Como está indo?

— Bem... Nada mal, na verdade. – Gabriel Agreste já tinha reconhecido o talento de Marinette, sem contar que, Adrien, já tinha usado suas criações várias vezes em momentos importantes. Então, Marinette não poderia querer algo melhor para uma aspirante que não tinha nem saído do ensino médio. – Gabriel Agreste é um dos designers mais famosos e talentosos que conheço e ele tem reconhecido meu trabalho. – comentou animada. Felizmente, não percebeu a careta que o loiro tinha feito, quando ela mencionou seu pai. – Eu e minhas amigas estamos preparando um site, para que eu possa divulgar as minhas criações.

Marinette se viu falando mais do que pretendia. No entanto, era fácil conversar com Chat Noir, sempre foi. E a parte boa, é que a distração que ele causava, fazia até com que ela se esquecesse dos sonhos que estava tendo com ele.

— Isso é ótimo! Fico feliz por você.

— Obrigada, Chat.

— E além de criadora, pretende ser a modelo das suas criações? – a garota sentiu as bochechas esquentarem de leve. Era fácil se acostumar com atenção sendo a Ladybug, mas era muito difícil fazer o mesmo como Marinette.

Tudo bem que ela tinha superado seus problemas de auto estima baixa e agora conseguia falar em público tão bem, que foi eleita a representante da turma no colégio. Só que era diferente ter para si o tipo de atenção que uma modelo tinha – que Adrien, inclusive, tinha.

— Não, acho que não. Esse tipo de coisa, não é pra mim.

— Por que diz isso?

— Ah! Ficar por trás das câmeras é que eu prefiro. Não me dou bem diante delas.

— Deveria tentar. Você é muito bonita, Marinette.

Marinette quase caiu para trás ao ouvir aquilo. Se Chat Noir tivesse dito isso há algumas semanas atrás, a garota só agradeceria e retribuiria o elogio. Só que, depois de tantos sonhos românticos com o herói, um simples elogio não soava como soaria antes.

— O-Obrigad-da. – respondeu sem graça, sentindo seu rosto esquentar ainda mais.

— Estou falando sério. – ele disse, se aproximando. Chat Noir interpretou a maneira que Marinette reagiu a seu elogio, de maneira errada. O loiro achou que sua amiga estava tímida e provavelmente não acreditou que ele achava aquilo de verdade – Aposto que esse cara que você anda sonhando, é o maior sortudo. – Marinette se desequilibrou quando ele chegou muito perto. Embora a grade do terraço fosse alta o suficiente para que ela não caísse por cima dela, Chat Noir a segurou quando ela fez menção de cair – Opa! Tudo bem? – quando o herói puxou Marinette para frente, ela se desequilibrou de novo, tropeçou no pé dele e caiu diretamente nos braços de Chat Noir. – Parece que alguém já está com sono.

— É. – Marinette riu nervosa, enquanto tentava se levantar com o resto de dignidade que tinha sobrado.

— Desculpe por ter mencionado o sonho. Combinamos em não falar nos nossos problemas. – assim que ele disse isso, os olhos de Marinette encontraram os dele e ela ficou totalmente paralisada, como se estivesse hipnotizada.

Ela e Chat Noir ali, próximos, na noite iluminada e estrelada, contra todas as probabilidades. Parecia que estavam dentro do sonho dela, onde aqueles olhos verdes eram mais brilhantes e convidativos do que geralmente eram. Onde ela era loucamente apaixonada pelo herói e sentia vontade de beijá-lo só de encarar seus lábios.

Chat Noir sentiu Marinette o encarar de um jeito diferente e embora não soubesse o que aquilo poderia significar, não parecia nem de longe algo ruim. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas ela foi mais rápida.

— T-Tudo bem. C-Claro. Acho que já vou entrar. – disse, se desvencilhando do toque dele – Mas obrigada, pela conversa e pelo... – apontou com o polegar para o local da quase queda – Você sabe.

— De nada. E sem problemas. Obrigado pela conversa, foi boa. – sorriram um para o outro, enquanto Chat se preparava para pular para o prédio ao lado – Boa noite, Marinette.

— Boa noite, Chat. – em seguida, com um aceno, o herói sumiu entre os prédios, enquanto Marinette se via desejando que ele não fosse embora, assim como quando se separavam nos seus sonhos. A questão era, que dessa vez não era um sonho.

 

*

*

 

Marinette se sentia ingênua por imaginar que depois da conversa com Chat Noir, possivelmente os sonhos constrangedores com ele, poderiam acabar. Só que ela teve outro sonho depois que ele foi embora. Outro bem embaraçoso, envolvendo beijos, salvamentos e desfiles de moda – não, necessariamente, nessa ordem.

Quando foi para a escola naquele dia, estava disposta a contar para Alya o seu problema e aceitar possíveis sugestões de como resolver a situação. A quantidade absurda de sonhos românticos com Chat Noir, já era demais para Marinette aguentar sozinha.

E foi na hora do intervalo que Marinette resolveu despejar a história toda em cima de sua melhor amiga, que, inclusive, conhecia seu maior segredo e não, não era o crush que Marinette tinha em Adrien – até por que o crush, não era nenhum segredo.

— Olha, amiga, pode ser que isso tenha um outro significado. Às vezes a gente sonha com uma coisa, mas que na verdade quer dizer outra. Tipo o que eu faço quando o Nino percebe que eu tô muito brava e ele pergunta “tá brava?” e eu digo “claro que não”, mas todos sabemos na verdade eu tô brava. – Marinette sorriu, não apenas pela história, mas também pela possível explicação que não envolvia romance.

— O que você acha que é?

— Talvez seja o peso do segredo que você esconde dele. Sabe, aquele segredo. – disse baixo. Por mais que estivessem em um local bem afastado e escondido para conversarem à vontade, era melhor prevenir mesmo assim.

— Será?

— Pode ser que você esteja se sentindo culpada por não poder contar a ele. E isso acabou se misturando com o fato de você ter medo de contar pro Adrien que gosta dele.

— É, pode ser que a minha cabeça maluca esteja misturando os segredos. – por mais que essa explicação fosse melhor aos olhos de Marinette, também era desanimador saber que não poderia solucionar a questão tão facilmente. Ou seja, ela não diria a Chat Noir que era a Ladybug, assim como não diria a Adrien que gostava dele mais do que como um amigo.

— Ou pode ser que você esteja mesmo gostando do Chat. – Marinette arregalou os olhos.

— Não! Sem chance!

— Mas ele é um cara legal. Um herói. É bonito, mesmo com a máscara. Aposto que lá no fundo você já se perguntou como seria. – Alya a encarou com uma expressão maliciosa.

É claro que Marinette já tinha se perguntado como seria estar com Chat Noir. O pensamento não se demorava muito na sua mente, que logo voltava para Adrien Agreste. No entanto, era inevitável imaginar um futuro com um garoto que se declarava constantemente para ela.

— Sim, mas...

— Então por que não dá uma chance? – perguntou, sem esperar a amiga terminar a justificativa. – Sério mesmo, Marinette! Eu já disse, e você sabe, o quanto ele é uma pessoa legal e confiável.

— Eu sei. Só que... – se aproximou e falou ainda mais baixo – Como você-sabe-quem, não posso me dar ao luxo de namorar o Chat Noir. Se nós tivermos uma ligação além da parceria, Shadow Moth, ou qualquer pessoa má intencionada, pode usar um de nós contra o outro. Seria a mesma coisa se revelássemos nossas identidades. Um de nós é pego e acabou. – ela pensava muito sobre isso, seu parceiro acreditasse ou não. Porque se ele soubesse quem era a garota por trás da máscara, o peso de ser uma super-heroína seria muito mais leve. Só que Marinette tinha medo dos riscos que ambos correriam, caso as identidades nãos os protegessem mais.

— E se você, como Marinette, desse uma chance a ele? Pode dar certo! – Marinette riu.

— Em primeiro lugar, ele teria que retribuir os meus sentimentos e nós sabemos que ele não retribui. Já vimos como acabou da última vez, meu pai foi akumatizado e tudo mais. – ela revirou os olhos e fez menção de levantar, porém Alya a puxou de volta.

— Ao menos conta pra ele. Conta sobre esses sonhos, deixando de fora esses detalhes constrangedores, e aí vê o que rola.

— Ele vai achar que eu sou maluca! Sem chance de contar para ele!

— Só... Tenta. Vai saber se contar esse segredo ao menos, faça você parar de se sentir culpada. E quem sabe...

— Os sonhos parem.

— Exatamente!

— Ainda não acho que é uma boa ideia, mas...

 

*

*

 

— Cadê o camembert que eu deixei aqui em cima? – Plagg começou a flutuar ao redor da mesa de centro, procurando o pedaço de queijo que tinha deixado para trás, quando Adrien precisou se transformar e ajudar Ladybug a salvar Paris do akumatizado da vez.

— Eu levei para te alimentar em caso de emergência, caso eu precisasse desfazer a transformação mais de uma vez. – o loiro retirou o pedaço de queijo fedido do bolso e jogou para o kwami, que prontamente agarrou no ar.

— Meu precioso! – Adrien revirou os olhos, enquanto Plagg abraçava o alimento e engolia o pedaço de uma vez logo depois.

O loiro voltou sua atenção para a tela do celular, que era o Instagram de Marinette. Ele sentiu que Marinette estava um pouco estranha, quando a visitou como Chat Noir na noite em que brigou com seu pai. E desde então esteve pensando nela. Apesar disso, imaginava que os motivos pudessem ser o fato de ela estar acordada tão tarde e aqueles sonhos que ela mencionou – provavelmente estavam a deixando tão atordoada quanto ela disse que estava.

Adrien deixou a cabeça cair para trás no encosto do sofá. Mesmo aturdida como estava, Marinette conseguiu fazer com que ele se sentisse melhor sobre a briga que teve com o pai, que aliás, sequer dirigiu uma palavra ao filho durante os dois dias que passaram.

Natalie, o motivo da briga, tinha adiado sua demissão. O porquê, Adrien não sabia, mas duvidava que seu pai tivesse persuadido a assessora a ficar a pedido do filho.

Gabriel era uma boa pessoa, mas ninguém ia contra o que ele pensava ser certo. E Adrien sentia falta de como a sua mãe era a única que conseguia fazer isso. Emilie tinha uma voz doce e suave, que fazia Gabriel reconsiderar suas decisões, argumentando com gentileza a favor do que acreditava. E, geralmente, o homem cedia aos argumentos da esposa. Mas agora, tudo era diferente sem Emilie.

Adrien balançou a cabeça e suspirou, tentando afastar os pensamentos melancólicos da mente. Ele olhou o relógio e percebeu que já deveria estar dormindo. Mas, se ele não estava dormindo, será que tinha alguma chance de Marinette não estar também?

*

*

Aparentemente, Marinette não estava acordada. Ao menos, foi o que Chat Noir pensou ao chegar tarde da noite à varanda da garota. Mas o que ele não imaginava, é que abaixo de onde ele estava escorado, triste por não ter a companhia dela, Marinette tinha escutado algo pousar na varanda e estava ponderando entre acordar Tikki, ou verificar o motivo do barulho sozinha.

Acontece, que Marinette não conseguia dormir direito, desde a última visita do herói. Seus sonhos ficavam cada vez piores, a deixando inquieta e com dificuldade de dormir. E a pior parte, isso estava afetando o desempenho dela na escola e como Ladybug. Precisava urgentemente resolver o problema.​

Depois de decidir deixar Tikki ali, já que não adiantaria nada se transformar antes ou depois, enquanto tinha alguém em sua varanda para testemunhar, Marinette se esgueirou sorrateiramente pela janela. Tinha um caminho de tijolos irregulares, pelo qual ela poderia escalar até a varanda e ver quem estava ali. Era perigoso, mas por sorte ela tinha suas habilidades como Ladybug, mesmo sem o traje.

Com cuidado, fazendo o mínimo de barulho possível, ela escalou a parede e deu uma rápida olhada para baixo. A queda não era tão feia, embora cair não estivesse em seus planos.

Quando Marinette estava prestes a espiar, quem o que estivesse ali parou de se mover e ficou em total silêncio. Em seguida, uma cabeça surgiu ali de cima e encarou com dúvida.

— Marinette? – a garota se assustou e soltou as duas mãos da parede. Teria caído se não fosse por Chat Noir, que rapidamente saltou a grade da varanda, usou uma das mãos para segurar-se nela e outra para segurar Marinette. – Vou te puxar para cima!

— Tudo bem. – já recuperada do choque inicial, Marinette respirou fundo e firmou os pés na parede, deixando que Chat Noir a puxasse, enquanto ela apoiava os pés nos tijolos. Assim que parou ao lado do herói, ela pulou por cima da grade, com o loiro logo atrás. – Obrigada.

— O que você estava fazendo ali?

— Eu ouvi um barulho e se fosse uma akumatizado, era melhor que não me visse abrindo a portinhola.

— Entendi. Desculpe por ter te acordado.

— Não, eu não estava dormindo. – eles pararam e se encararam por alguns segundos.

Marinette sentiu as suas bochechas esquentarem só de pensar nos conselhos de Alya sobre contar a Chat Noir sobre os seus sonhos constrangedores.

— Tem certeza que você está bem? – colocou a mão sobre o ombro dela, preocupado.

E naquele momento, olhando para ele sob as estrelas, com a mão de Chat Noir em seu ombro, Marinette soube. Ela soube que estava com vergonha, porque era verdade, ela estava perdidamente apaixonada pelo herói mascarado.

— Na verdade, eu... – ela deixou seus ombros caírem ao sentir a decepção vir. Seria muito mais fácil mentir para Chat Noir, só que ela sabia que não esqueceria aquilo. Que seus sonhos só piorariam e que ela não iria se concentrar mais com Marinette ou como Ladybug. E que isso poderia custar muito caro em ambas as suas duas vidas.

— Têm tido mais sonhos?

— Sim. E... Eu preciso te contar uma coisa.

— O que foi? – o garoto estranhou o tom de voz, mas não se afastou.

Marinette suspirou pesadamente e tomou a coragem que precisava. Pelo menos ser rejeitada por Chat Noir, faria com que a futura rejeição de Adrien doesse menos.

— O garoto com quem eu sonho todas as noites, é você. – ele permaneceu no mesmo lugar, sem tirar a mão do ombro dela. Sua expressão era de surpresa. Marinette tinha deixado o falante Char Noir, sem palavras. Poucas pessoas eram capazes disso.

— Marinette, eu...

— Tudo bem, eu sei que não sente o mesmo. Já passamos por isso. – ela segurou a mão dele, que estava em seu ombro e o encarou com um sorriso terno – Não se preocupe, meu pai não vai ser akumatizado de novo. Eu só quero que saiba que comecei a sonhar com você, sem razão nenhuma. Só que eu não pude controlar os sentimentos que vieram com tempo. E tudo bem, eu estou tranquila quanto ao fato de você não me amar de volta. Eu precisava tirar isso de dentro de mim. – e por incrível que pareça, ela realmente se sentia mais tranquila agora.

— Amar? Você me ama?

— Sim. Você é gentil, engraçado e dá tudo de si para salvar a cidade sempre que possível. E eu ficaria muito triste se ao menos não fôssemos amigos depois disso. Prometo que não vai ser estranho. – ela disse em tom de piada, mas ele permaneceu com a mesma expressão.

— Como eram os sonhos?

— Ah! Bem... Coisas românticas, clichês de modo geral. Mas agora eu vejo que não foram os sonhos que me fizeram amar de você, eles só me fizeram enxergar como eu queria estar com você. – isso também era verdade. Bem lá no fundo, Marinette já amava ele, só não parou nenhum segundo para deixar que a ideia se mostrasse para ela. Seu subconsciente precisou tomar a frente por meio dos seus sonhos.

— Eu... Acho que eu...

— Eu sei, isso é demais para assimilar. Eu vou deixar você ir para casa, já está tarde. – ela se inclinou e beijou a bochecha dele, mas antes de se afastar, com as mãos sobre os ombros de Chat Noir, ela disse baixinho: – Pelo menos, posso encontrar com você nos meus sonhos. E isso basta. Boa noite, Chat.

A declaração atingiu Adrien no estômago com tanta força que ele só conseguiu sair do estado de imobilidade para segurar a mão da garota. Ela parou surpresa e ele se colocou na frene dela.

Foram as palavras mais lindas que já disseram para ele. Ele não imaginou que alguém poderia o amar assim, mesmo que Ladybug pudesse retribuir seus sentimentos intensos.

O herói se perguntou, se aquilo que Marinette descreveu, acontecia com ele também. A necessidade de vir até ela e de como a companhia dela fazia ele se sentir bem, poderia ser o seu subconsciente a empurrando para a garota que, bem lá no fundo, ele amava?

A visão que Marinette tinha de Chat Noir, ali parado próximo na sua frente e com os cabelos balançando de leve com o vento, era exatamente igual as visões que tinha em seus sonhos. E para o loiro, o momento não era muito diferente do que ele considerava um sonho também.

Chat Noir olhou no fundo dos olhos da garota e se sentiu mergulhando naquele sentimento junto com Marinette. Um sentimento que ambos tinham descoberto tão de repente e que parecia tão certo.

Com respirações levemente ofegantes, bochechas vermelhas e os corações acelerados, os dois se beijaram pela primeira vez – ao menos de uma maneira consensual e longe de ser em circunstância duvidosas – no terraço de Marinette, com a lua cheia e as estrelas brilhantes como cenário. E desse beijo os dois, definitivamente, lembrariam. Até porque muitos outros vieram depois dele – e não somente nos sonhos de Marinette e Chat Noir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SIM, EU POSTEI ALGO FINALMENTE!!!!!!!!!!!

Primeiramente, eu planejava postar no meu aniversário (06/10), mas aconteceram uns imprevistos e eu deixei como especial para o dia das crianças. Então, feliz dia das crianças!!!!!!!!

Resolvi trazer uma oneshot (bem longa para os meus padrões de oneshot) bem fofinha e com um tipo de escrita um pouco diferente do que eu estou acostumada a escrever. O que acharam?

E eu sei que vocês possivelmente estão se perguntando o porquê eu sumi e se vou continuar as fanfics que não terminei (ou talvez ninguém esteja se perguntando isso, mas eu vou responder mesmo assim hehe). Não aconteceu nada demais, eu apenas comecei a trabalhar, tendo menos tempo pra me dedicar a escrita, e a minha criatividade não estava ajudando muito também. E sim, eu pretendo continuar as fics em algum momento, só não sei quando...

Enfim, espero que tenham aproveitado esse especial ♥ xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wildest Dreams" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.