Spotlight: Stronghold escrita por Blue Blur


Capítulo 1
Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Em termos de fanfic, ainda não sou bom com descrições (e também me falta paciência com elas). Por isso, para poupar trabalho para mim e para vocês, vou colocar aqui no início logo imagens de referência para os principais personagens que aparecem nesse capítulo.

Stronghold: https://i.imgur.com/yR23w0D.png
Marauder: https://i.imgur.com/ItlG3QY.jpg
Blitz: https://i.imgur.com/Lrn1NgY.jpg
Cab: https://i.imgur.com/NaURj2R.jpg
Nightspin: https://i.imgur.com/ODAULtI.jpg
Nightfall (esquerda) e Snowstorm (direita): https://i.imgur.com/M3r0OmA.jpg
Lunar: https://i.imgur.com/zwnDIRk.png
Flashback: https://i.imgur.com/NHhFdhc.png
Cruxton: https://i.imgur.com/KEwB16q.jpg
Blackjaguar: https://i.imgur.com/3J4tW3x.jpg
Behemoth: https://i.imgur.com/Wear7iS.png
Ursa: https://i.imgur.com/vzs5h78.jpg



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Uma pequena nave se aproximava, numa velocidade perigosamente alta, da órbita do planeta Terra. O atrito entre lataria e atmosfera fez com que o exterior da nave começasse a esquentar rapidamente, até começar a pegar fogo. Uma turbulência de proporções colossais fez a nave inteira sacudir como se fosse ser rasgada ao meio. Na lateral, escrito em hieróglifos cybertronianos, havia um nome que descrevia perfeitamente o que a nave representava para os quatro tripulantes dentro dela: “Esperança”.

— Stronghold! Os escudos estão falhando! Se não mantivermos eles levantados por mais três minutos, o casco vai ceder! – o piloto, um Autobot verde, gritou.

— Já redirecionei toda a energia das armas e do motor auxiliar para o escudo! – Um Autobot azul, o tal “Stronghold”, respondeu, em tom igualmente urgente. – Só restam os módulos de refrigeração, mas se eu fizer isso, a nave vai superaquecer e explodir!

— Já redirecionou a energia do módulo de iluminação interna? – O piloto questionou.

— Marauder, Como espera que eu trabalhe no escuro? – Stronghold reclamou.

Uma explosão foi ouvida do lado de fora da nave. A turbina esquerda havia sido destruída.

— Dê o teu jeito, sucata! Pra tudo tem um jeito, menos pra uma spark apagada, e eu não pretendo ter a minha apagada aqui! – Marauder, o piloto, vociferou.

Stronghold foi fazer o que lhe foi mandado, mas um dos computadores estourou próximo ao rosto dele, fazendo-o cair sentado. Uma Autobot de cor dourada veio com um extintor de incêndio para apagar o fogo.

— Obrigado, Blitz! – Stronghold agradeceu. – Cadê o Cab?

— Tô bem aqui – Um outro Autobot amarelo, mas não dourado, apareceu, logo em seguida, com uma caixa de ferramentas.

— Cab, tente manter o fluxo de energia estável aqui – Stronghold ordenou, cedendo o espaço onde ele estava sentado para que Cab assumisse o controle. – Eu vou consertar a parte que explodiu. Pelo amor de Primus, não deixe o indicador chegar no vermelho, ou eu vou tomar uma descarga de um milhão de volts!

— T-Tá bom... – Cab respondeu, nervoso.

Cab fez o melhor que podia, e Stronghold fez sua parte. O resultado disso foi que Stronghold conseguiu recalibrar o fluxo de energia da iluminação interna para os escudos, o que deixou a nave inteira no escuro, obrigando os Autobots a ligarem seus faróis. 90 segundos haviam se passado, mas pareciam mais 15 minutos.

— Stronghold, a energia dos escudos está em 32% e caindo! Precisamos de mais energia! – Marauder exclamou.

— Não tem mais energia! – Stronghold respondeu – já redirecionei de tudo! Só se começarmos a drenar nosso próprio energon pra botar nesses malditos escudos!

— Nós não vamos conseguir! – Blitz gritou, desesperada.

Marauder, o piloto, encarava aqueles que pareciam serem seus últimos momentos: toda a visão do cockpit estava obstruída por nuvens. Os instrumentos estavam totalmente desorientados. Outro tranco, seguido de outra explosão havia sido sentido do lado direito da nave. Lá se ia a turbina direita. Foi, porém, o destino desta turbina que deu a Marauder uma ideia e um lampejo de esperança.

— Stronghold, os motores!

— O quê?

— Desligue os motores! Redirecione a energia deles para os escudos! As turbinas já eram, então os motores só estão desperdiçando energia!

Stronghold até pensou em questionar, mas ao ver o marcador acusando a energia dos escudos em 15%, ele resolveu cumprir a ordem o mais rápido possível. Quando terminou, a energia dos escudos subiu em um pico, até 29%, mas novamente começaram a cair. Para piorar, com os motores desligados, a nave inteira começou a balançar, como se estivesse desgovernada. Marauder retirou forças de lugares desconhecidos para manter a nave caindo numa trajetória mais ou menos reta.

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Alguns nanocliques depois, saímos do meio das nuvens. No horizonte, vimos o sol nascendo sob aquele mundo desconhecido. O que vimos era totalmente diferente das ruas cromadas e edifícios de aço de Cybertron, mas também era belo, à sua maneira rústica: Havia fluxos de uma substância líquida estranha, de cor azulada, serpenteando pelo solo. Havia uma imensidão verde até onde meus sensores ópticos alcançavam, e também montanhas feitas de rochas. Pareciam com as montanhas que eu já vi em algumas luas, só que numa escala menor, e elas também eram salpicadas do mesmo verde que compunha aquele planeta.

Por um momento, todos nós nos esquecemos que estávamos lutando por nossas vidas, lutando desde Cybertron. Aquilo... aquilo era tão belo que, se nossas sparks se apagassem naquele instante, eu estaria feliz. Acho que todos estaríamos felizes.

— É tão... lindo... – Foi o que eu balbuciei, antes que a nossa nave se colidisse contra o solo e o mundo à nossa volta fosse tragado pelas trevas.

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Meus companheiros todos entraram em estase, menos eu, mas eu seria só uma questão de tempo: minha ótica estava toda comprometida, só o que eu consegui foi ver meus companheiros caídos e alguns cybertronianos estranhos se aproximando carrega-los. Em um deles eu vi, claramente, o símbolo dos Decepticons, e foi aí que eu percebi que tinha que fazer alguma coisa. Vi minha arma caída, não muito longe, e decidi pegá-la, só que um dos estranhos percebeu o que eu tinha em mente e pôs o pé em cima.

— Acredite, você não quer fazer isso.— Ele disse, logo antes de tirar a arma de mim e me colocar de pé, apoiado nele, para que eu andasse.

Eu não sei por quanto tempo eu andei. Minha ótica oscilava entre uma imagem de baixa definição e uma estática a toda hora. Só sei que, no final, fui levado à presença de um outro cybertroniano. Eu julguei que ele era o líder daqueles Decepticons, mas estranhamente, ele não tinha a insígnia dele em lugar nenhum do corpo (não que eu estivesse em condições para fazer uma inspeção apropriada).

— Chefe, achamos esses quatro aqui de uma nave que caiu enquanto fazíamos uma patrulha. – O Decepticon que estava me carregando disse.

— Coloquem-nos com os outros. – O líder deles respondeu.

— O que vão fazer comigo? – Eu questionei.

— Você perdeu muito energon. Ficar se debatendo assim não vai te fazer bem. – O que estava me carregando disse.

Eu e meus companheiros fomos levados para o que parecia ser um hospital de campo. Lá havia outros Decepticons, mas também Autobots, internados juntos. Pelas minhas estimativas, acho que deviam haver 25, 30 cybertronianos lá.

— Iniciando processo de estase – Foi o que ouvi, antes de apagar uma segunda vez.

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Algumas horas depois, Stronghold despertaria novamente, dessa vez, deitado numa grande cama de metal, em espaço aberto, com vários tubos conectados a ele que, por sua vez, estavam conectados a um grande cubo feito de uma substância de aspecto plasmático e cor azul-clara. Stronghold ficaria alguns momentos, encarando aquilo, com uma mistura de dúvida, incerteza e incredulidade. O mesmo transformer negro de antes, que Stronghold identificou corretamente como o líder, estava lá, e como se lesse seus pensamentos, começou a falar.

— Não se preocupe, isso é só energon, nada mais. Tem minha palavra.

— Espera, você disse “energon”? – Stronghold levantou uma sobrancelha de aço. – Tipo, “energon, energon” ou “a nossa versão sintética”?

— Energon de verdade. Igual ao de Cybertron. – o transformer negro respondeu. – A propósito, meu nome é Nightspin. Qual o seu nome?

— Meu nome é Stronghold. Onde você conseguiu esse energon?

— Nós sintetizamos aqui. – Nightspin respondeu.

— Impossível, não existe energon fora de Cybertron!

— Oh, acredite, existe sim. – Nightspin insistiu – Não apenas isso, mas existe bastante energon nesse planeta. Foi assim que construímos este pequeno assentamento.

Stronghold olhou ao redor, para ver que de “pequeno”, aquilo só tinha o nome: o hospital de campo onde estava já era consideravelmente grande. Havia também uma equipe razoável tomando conta daquele lugar. Contando apenas os pacientes e os cuidadores, deveria haver, pelo menos, 50 cybertronianos lá.

— Antes de apagar ontem, eu vi insígnias Decepticons em alguns de seus soldados, mas por algum motivo, eu estou num hospital de campo, recebendo energon puro e natural, ao invés de ter minha cabeça enfeitando alguma viga de aço afiada. Que tipo de Decepticons vocês são? – Stronghold questionou.

— Não somos Decepticons, e nem Autobots. – Nightspin respondeu. – Somos Earthlanders, é assim que nós nos chamamos.

— Earthlanders? – Stronghold não parecia convencido.

— Diga-me, Autobot, por que você está aqui, tão longe do campo de batalha? – Nightspin questionou – Optimus Prime não precisa de você em Cybertron?

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Eram os últimos dias da Guerra em Cybertron. As constantes batalhas entre Autobots e Decepticons arruinaram nosso mundo. Grandes metrópoles foram destruídas; escolas foram fechadas; museus, teatros e outros estabelecimentos culturais, saqueados e depredados. Eras de governo corrupto e demagógico levaram à Grande Rebelião Decepticon, encabeçada por Megatron, que antes disso, era um trabalhador das minas e um gladiador das arenas de Kaon. Megatron dizia que os Primes não eram dignos de serem líderes, nem mesmo eram dignos de se intitularem “Primes”, já que o último portador da Matriz da Liderança, relíquia entregue pessoalmente pelo grande Primus, agora repousava no coração de Cybertron. Com este último argumento, Megatron arrematou para si uma legião de seguidores, dispostos a clamar por uma reforma social em Cybertron.

Então veio Optimus Prime. Diferente dos outros Primes, ele era, de fato, um portador da Matriz da Liderança. Depois de eras, Primus elegia um novo Escolhido para nos liderar. Um Prime de fato e de direito, Optimus era a maior das ameaças aos planos de Megatron, era alguém que deslegitimava sua luta. Megatron acreditava na força das armas, Optimus queria uma reforma por meios pacíficos, e ninguém queria ceder. Isso continuou até que o rastro de destruição chegou à fonte de vida do nosso próprio planeta, o Allspark.

Ninguém sabia o que, de fato, havia ocorrido: Megatron acusava Optimus de ter arremessado o Allspark no espaço, como uma tática de terra arrasada, Optimus acusava Megatron de ter tentado usar o Allspark para sobrescrever a programação biotecnológica dos Autobots, transformando-os em Decepticons. Só o que sabíamos é que tínhamos que abandonar Cybertron. Naves foram preparadas para um êxodo em massa, mas nem à beira de nossa própria extinção nós parávamos de nos matar feito loucos: Megatron impôs um bloqueio que destruía toda nave Autobot que tentava sair. Optimus chegou a invocar Metroplex, um antigo titã adormecido, apenas para quebrar esse bloqueio, levando a mais mortes Decepticons. No final das contas, apenas eles dois escaparam de nosso mundo moribundo. Os outros ficaram para trás.

Eu, Blitz, Cab e Marauder nos conhecemos ocasionalmente, e fizemos de nossos catalisadores nossas sparks para continuarmos ativos: Juntamos todo o energon que conseguimos, construímos a “Esperança” e deixamos tudo para trás.

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— ... e foi isso o que aconteceu conosco. – Stronghold terminou.

— Eu entendo, todos aqui entendem, na verdade – Nightspin começou – O que aconteceu com vocês está se tornando mais frequente do que você imagina: com Optimus Prime e Megatron desaparecidos, energon se tornando cada vez mais e mais escasso, e nosso mundo inabitável, todos estão se fazendo as mesmas perguntas: “Pelo que estamos lutando?”, “Por que ainda estamos lutando?”, “Ainda há algo pelo que lutar?”, e essas perguntas estão levando todos a fazer a mesma coisa: aposentar seus blasters e tocar a vida.

— E é isso que vocês fazem aqui?

— Sim. – Nightspin afirmou – Você ficaria surpreso em ver quantos Autobots e Decepticons estão cansados de destruírem e serem destruídos por líderes que eles conhecem apenas de nome. Por isso, estamos aqui. Neste planeta, que os nativos chamam de “Terra”, não há mais Autobots, nem Decepticons. Apenas Earthlanders.

Stronghold não respondeu. Aquele discurso era um bom discurso, um ótimo discurso. Tão bom que era difícil de absorver. Todo mundo já havia muita coisa na guerra. Como acreditar que alguém largaria a guerra, que era tudo o que muitos conheciam havia eras, por algo tão abstrato quanto “tocar a vida”?

— O que você fazia antes da guerra começar? – Nightspin interrompeu os pensamentos de Stronghold.

— Eu era ferramenteiro. Civil, não militar, mas aprendi uma coisa ou outra sobre munição e explosivos quando a necessidade exigiu. – Stronghold respondeu.

— Esse cubo de energon é por nossa conta – Nightspin disse – Se quiser mais, vai ter que contribuir conosco. Do contrário, é livre para ir assim que se recuperar.

Só um idiota teria escolhido outra coisa.

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Não levou muito tempo para que Stronghold se recuperasse. Quando conseguiu alta (ou seja lá como se chame o equivalente Transformer) ele começou a trabalhar. Stronghold estava sentado numa mesa, mexendo em uma ferramenta, cuja aparência era de um eixo, contendo roda com vários espinhos. Após testar se a roda estava girando bem, ele acoplou aquilo em um braço, contendo dois outros eixos idênticos. Com os três conectados, numa posição triangular, ele energizou o braço, e o aparelho começou a funcionar. Era uma broca portátil, improvisada com três serras menores. Stronghold entregou a máquina para um Earthlander cinza escuro, com detalhes em preto e laranja, que tinha o óptico esquerdo ausente e uma cara de poucos amigos.

— Está pronto, Blackjaguar. Não é uma broca tamanho industrial, mas ainda dá pode ser usada pra minerar energon e também a cara de alguém que tente te atacar numa noite escura. – Stronghold disse.

— Obrigado, Stronghold. – Blackjaguar respondeu, num tom sério, pegando a broca e indo embora, após depositar algumas células de energon por perto.

Um outro robô chegou, cor de latão, enorme e segurando um martelo igualmente grande. Ainda assim, Stronghold não se intimidou com a presença dele.

— Como posso ajudar, Cruxton? – Stronghold perguntou, ainda olhando para o martelo.

— Gostaria de um novo gerador de campo elétrico para meu martelo, e também adicionar umas turbinas para deixar as marteladas mais fortes. – Cruxton respondeu.

— Ah sim, clássico – Stronghold respondeu, já desparafusando a arma. – O campo elétrico é de boas, mas eu acho que os propulsores estão em falta. O Nightspin e o Stormcase chegaram antes.

— Entendo. Trabalhe no campo elétrico. Até você terminar, vou dar um jeito de conseguir propulsores eu mesmo.

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Meu ofício de ferramenteiro foi de grande utilidade naquela comunidade. Meu trabalho não era muito diferente do que eu fazia antes da guerra, e isso era o que eu mais gostava nele. Chega de explosivos, munição ou gambiarra para armas (bom, às vezes esses ainda me rendiam uns cubinhos de energon extras). Finalmente eu havia voltado a trabalhar apenas com martelos, fusíveis, brocas e outras ferramentas de uso civil. Usar as mãos para construir, ao invés de destruir, é uma grande terapia.

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Assim como Stronghold arranjou um trabalho entre os Earthlanders como ferramenteiro, os outros Autobots que viajavam com ele também conseguiram trabalho: Marauder, por ser o maior e mais resistente dos quatro, acabou se tornando patrulheiro e também assistente de Behemoth, um ex-Decepticon verde que era o encarregado de manter a ordem. Cab e Blitz, por serem ex-entregadores, trabalhavam com o transporte de energon. Entre os Earthlanders, havia trabalho pra todo mundo, bastava se voluntariar.

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As coisas só não eram perfeitas porque velhas tensões e preconceitos demoram para serem desfeitos.

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Uma Blitz preocupada estava perambulando pelo acampamento dos Earthlanders, com cara de quem perdeu alguma coisa.

— Com licença, você viu o Cab? Com licença, viu um Autobot, mais ou menos meu tamanho, design de veículo de entregas? Com licença...

Enquanto procurava, deu de cara com Cab, cambaleando, com a lataria arranhada, o para-brisa riscado e todo sujo de terra e grama.

— Cab, pelo amor de Primus, o que aconteceu com você? – Blitz indagou, extremamente preocupada.

— Eu estava voltando, para pegar mais energon pra entregar pros mineradores, quando uma das seekers deu um rasante, aí eu fiquei preso no vácuo dela, perdi o controle e despenquei de um penhasco, mas não se preocupe, eu estou bem.

Cab tentou tranquilizá-la, mas a única coisa que Blitz havia ouvido foi a palavra “seekers” e a frase “despenquei de um penhasco”, e aí ela cegou de raiva. Blitz detestava os seekers, e não era para menos: eles eram a força aérea dos Decepticons, a tropa mais proeminente nas fileiras de Megatron. Blitz perdeu muita coisa por causa deles e agora tudo o que lhe restava era o irmão caçula.

Todos os seekers do acampamento dos Earthlanders eram Fembots, com exceção de Talon, que era um Mech e também irmão de uma delas, a Flashback. Blitz não levou muito tempo para acha-las. Elas gostavam de ficar conversando juntas numa montanha não muito longe, que dava vista para todo o acampamento. Havia duas seekers que eram praticamente gêmeas, em termo de aparência, uma sendo preta, a outra sendo azul. Os nomes delas eram Nightfall e Snowstorm, respectivamente. Nightfall começou a falar assim que notou a presença de Blitz:

— Errr, dá pra dar licença, entregadora? A gente não pediu nada não. Só um pouco de privacidade.

— Muito bonito, hein? Vocês não deviam estar trabalhando agora? – Blitz estava bem mal-humorada.

— A gente já terminou nosso serviço – Nightfall respondeu – não que isso seja da sua conta.

— Ah, é? E por acaso quase mandar meu irmão pra reciclagem é parte do trabalho de vocês?

— Seu irmão? – Dessa vez foi Snowstorm quem se indagou.

— Ora, não se façam de idiotas! – Blitz já estava perdendo a paciência – O entregador, Autobot amarelo, eu estou toda hora com ele.

— Ah, ele é seu irmão? Uma terceira seeker, de cores prata, azul-royal e azul claro se indagou. O nome dela era Lunar.

— Puxa, ainda bem. Seria um desperdício se ele fosse a spark-gêmea dessa desparafusada. – Flashback, a líder das seekers, uma Decepticon azul e prata, com pequenos adornos laranjas e dourados, cochichou de volta para Lunar.

— Aí, o que você falou de mim, projeto de biplano? – Blitz começou a disparar xingamentos.

— Olha aqui, entregadora, você tá muito saidinha pro meu gosto! – Flashback realmente não gostou daquilo. – Aqui ninguém é tua minicon pra você falar desse jeito não.

Para adicionar ênfase à sua fala, Flashback empurrou Blitz para trás, que respondeu sacando um mangual e acertando o rosto de Flashback, fazendo energon escorrer do supercílio esquerdo dela sobre o rosto. Lunar foi socorrê-la, enquanto que as gêmeas realmente odiaram aquilo e partiram para cima de Blitz.

— Sucata Autobot imprestável, vamos te mandar pra reciclagem!

Snowstorm avançou primeiro, apenas para levar um chute de salto alto na viseira, quebrando-a e fazendo a seeker cambalear para trás. Nightfall deu um salto e agarrou Blitz pela cintura, derrubando-a no chão, apenas para que Blitz rolasse por cima dela e começasse a enchê-la de socos.

— Vocês seekers não são nada na terra, só um bando de exibidas e arrogantes feitas de alumínio barato!

Enquanto Blitz continuava batendo na gêmea de preto, uma Decepticon que era um autêntico tanque de guerra – tanto figurativa quanto literalmente – agarrou Blitz por trás e deu uma joelhada na barriga dela, depois uma cabeçada no rosto, e empurrou ela para longe. Blitz começou a tossir e a pingar energon pela boca, ficando caída no chão, por causa das pancadas que recebeu, tão destrutivas quanto bolas de demolição.

— Se você encostar nas minhas amigas de novo, eu arranco seus pneus! – A Decepticon tanque de guerra esbravejou para Blitz, que ao perceber a enorme desvantagem em que se encontrava, foi lamber as feridas em outro lugar.

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— Por que sempre que alguma coisa sai dos eixos, sempre tem uma seeker envolvida? – Nightspin questionou, esfregando os olhos em aborrecimento.

— A culpa é dela! Essa desparafusada chegou xingando todo mundo e depois bateu em mim! – Flashback se queixou, enquanto o médico soldava o supercílio dela.

— Culpa minha? – Blitz respondeu, enquanto um enfermeiro consertava os amassados dela. – Esse projeto de biplano arremessou meu irmão de um penhasco, numa das manobras idiotas dela!

— Eu não fiz nada com teu irmão, sucata!

— Sucata é você, sua imbecil!

— CHEGA, VOCÊS DUAS!!! – Nightspin vociferou! Eu vou falar com o irmão da Blitz sobre o que aconteceu, e depois com as outras seekers. A responsável vai ser punida, e que isso encerre isso, entendeu?

— Sim. – As duas responderam, sem se encarar.

Não era preciso ser nenhum gênio pra saber que as coisas não acabariam ali.

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Certa noite, Stronghold e outros ajudantes estavam montando um ringue. Era a noite de luta, e os Earthlanders adoravam assistir duelos e tentativas de destronar o atual campeão e reivindicar para si o título.

E o título de campeão estava, atualmente, com Ursa, a Decepticon tanque.

— OITO... NOVE... DEZ!!!

Marauder havia acabado de perder a luta contra Behemoth. Depois que o vencedor foi anunciado, ambos saíram do ringue, e Ursa entrou na jogada.

— Oiii, gente! Agora essa é aquela parte da noite: Quem quer me desafiar pelo título?

Ninguém respondeu, por razões óbvias.

— Vamos lá, gente, senão vamos ter que ir pro Battle Royale, e aí eu vou bater em todo mundo.

Era um argumento sólido, mas ainda assim, ninguém se voluntários. Apesar de ser conhecida por ter a spark mole demais pra uma Decepticon, Ursa era uma máquina de demolição num ringue. Até agora, não se sabia de ninguém que havia aguentado três minutos de pé com ela.

— EU DESAFIO!!! – Blitz gritou, levando a multidão a loucura... e também reacendendo velhas rivalidades.

— Manda essa entregadora pra reciclagem, Ursa!

— Mostra pra ela do que Autobots são feitos, Blitz!

— Eu sei do que são feitos: de alumínio barato!

— Olha só quem fala, o cara que leva “Decepção” no nome!

— Projeto de biplano!

— Desperdício de energon!

Stronghold estava assistindo aquilo e não se sentia tranquilo.

— Nightspin, tem certeza de que foi uma boa ideia organizar essa luta?

— A noite das lutas é uma tradição já... essas brigas também. Acredite, seria muito pior se eles não tivessem esse momento para aliviar a tensão – Nightspin respondeu.

— Eu não sei se essas tensões parecem aliviadas – Stronghold ainda tinha dúvida.

— Antes de Earthlanders, todos eles são Autobots e Decepticons com saudade de suas casas, aí ficam assim. Não esquenta, eles nunca foram além de uma boa distribuição de sopapos... até porque sempre confiscamos as armas com antecedência. – Nightspin riu.

— Bom Primus...

*DING*

A luta começou. Para Ursa, aquilo era só um jogo bom para fazer uns amassados removíveis na lataria de alguém, mas Blitz tinha algo diferente em mente.

— Tá rindo de quê, betoneira? – Blitz foi ríspida.

— Ei, calma, a gente tá aqui pra se divertir e divertir os outros – Ursa respondeu.

— Ah, é? Então se divirta com isso!

Blitz desferiu um soco reto, que Ursa evitou facilmente.

— Olha, se você tá aborrecida com as pancadas que eu te dei, desculpa, tá? – Ursa disse com sinceridade – Eu fiquei zangada em ver você batendo nas minhas amigas, mas não tenho nada contra você.

— Você fala demais! – Dessa vez, Blitz acertou um gancho no rosto de Ursa.

— Ei, você conecta bem os golpes – Ursa disse, dando um soco na barriga de Blitz – Mas eu também conecto – Ursa acertou outro gancho no rosto de Blitz.

— Caramba, essa doeu até em mim! – Marauder exclamou.

— Reage, mana! – Cab gritou da plateia.

— Isso não é nem luta! A grandalhona só não empacotou a Blitz ainda pra isso durar mais tempo! – Stronghold exclamou.

— E acredite, isso é uma coisa boa. – Nightspin exclamou – Nem eu iria querer ficar frente a frente com uma Ursa lutando full motivada.

Luta de verdade ou não, os socos de Ursa ainda doíam, e não era pouco: com um uppercut no queixo, Ursa mandou Blitz para a lona.

— QUEDA!!! UM... DOIS... TRÊS...

Ursa se afastou, e foi acenar para a plateia, onde havia uma Flashback torcendo por ela com toda a energia...

— Mandou bem, demolidora! – Flashback gritou, fazendo Ursa sorrir, sem jeito.

...tanta energia que Ursa nem percebeu Blitz ficando em pé de novo, até que esta lhe acertasse um chute alto na lateral da cabeça dela.

— Ei, ela bateu à traição! – Uma das gêmeas seekers gritou!

— A luta estava em andamento! Ursa é quem não devia ter se distraído! – Marauder defendeu a conterrânea.

— Você fala demais, Autobot cretino! Silencia esse processador de voz! – Talon berrou, tacando um cubo de energon vazio pela metade em Marauder.

A briga chamou a atenção do juiz, que acabou se distraindo enquanto as duas lutadoras ainda estavam no ringue.

— Agora acabo com você, três-olhos! – Blitz rosnou, avançando para cima de Ursa, que simplesmente agarrou a oponente e a jogou no meio da plateia, como se ela fosse uma boneca de pano.

O circo estava armado: sons de metal amassando ecoavam, junto com o esvoaçar de faíscas. Nightspin decidiu que já era hora de intervir: ele, Stronghold e mais uma meia dúzia de earthlanders bons de briga começaram a intervir na baderna, descendo sopapos em ambos os lados. Blitz, que já estava agarrada com uma das seekers, parou para olhar aquilo junto com ela:

— Ei, de que lado aqueles ali estão? – A seeker de cor azul royal se indagou.

— São a brigada policial do Nightspin. Acho que a gente passou dos limites – Blitz observou.

— É... e você não devia bater nos outros à traição! – A seeker disse, após ela mesma se aproveitar da distração de Blitz para acertar um soco nela, que a derrubou de vez.

Ursa foi ver onde estava sua oponente, e se deparou com Blitz já desacordada.

— Você estava brigando com ela? – Ursa perguntou para a seeker.

— Sim, mas já empacotei ela.

— Caramba, ela aguentou ser arremessada por mim e ainda conseguiu brigar contigo? Ela é durona.

— Ora, ela não passa de um lixo Autobot que bate pelas costas! – A seeker deu um chute em Blitz.

— Não faça isso, Lunar! Não tá vendo que ela está machucada? – Ursa reagiu dando um soco na seeker azul-royal.

— Ei, qual o seu problema? Eu sou sua amiga, Ursa! – Lunar se assustou.

— E daí?

A briga durou mais um pouco, mas depois todo mundo se lembrou que ali era todo mundo earthlander.

— Caramba, isso foi mais divertido do que eu pensei – Stronghold disse, todo doído e amassado.

— Não disse que é bem melhor do que ficar enferrujando naquela tua oficina? Aparece mais vezes, camarada. – Behemoth disse.

— Ei Talon, sabe um dia em que a tua irmã está livre da patrulha pra ir num encontro comigo? – Cab perguntou, com um tom de gracejo.

— O único encontro que eu vou arranjar é um entre meu punho e tua ótica – Talon riu.

— Ei Blitz, desculpa ter te arremessado. Vem, eu te pago um cubo de energon. Bora parar de brigar, tá bom? – Ursa quis fazer as pazes.

— Ai, tá bom. Desculpa ter te chutado por trás, e por ter batido nas suas amigas mais cedo – Blitz se desculpou.

— Por ter batido nas minhas amigas, beleza, mas me chutar? Eu pensei que você estava polindo minha lataria.

— Engraçadinha você, né? – Blitz riu.

Aquela foi minha última lembrança feliz com os Earthlanders.

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Alguns dias depois, os earthlanders responsáveis pela mineração de energon voltaram com feições preocupadas, carregando sua carga, mas havia algo de errado com ela.

— Chamem Nightspin, depressa! É urgente! – Stronghold exigiu.

Nightspin chegou o mais rápido possível, e ao ver as feições dos responsáveis pela mineração, bem como a de Stronghold, começou a ficar preocupado também.

— O que aconteceu? – Nightspin perguntou.

— Os mineradores trouxeram essa carga para mim. Perguntaram se era normal, mas nunca vi nada como isso. Veja o senhor mesmo.

Nightspin se aproximou para ver a carga. O energon estava com uma cor opaca, sem seu brilho azul-claro normal. Além disso, ao invés de cristais ou líquido refinado, ele estava esfarelando, como se fosse sabão em pó.

— Sinais de sabotagem? Envenamento? Qualquer coisa? – Nightspin perguntou.

— Não achamos nada, senhor – Cab, um dos membros da patrulha, confirmou. Além disso, somos os únicos cybertronianos na Terra. Por que um de nós sabotaria nosso próprio suprimento de energon?

— Somos os únicos cybertronianos, sim, mas não os únicos na Terra. – Flashback havia acabado de retornar, juntamente com sua equipe de reconhecimento. Nós encontramos um posto avançado alienígena.

Venham comigo – Nightspin ordenou, enquanto caminhava para uma sala de guerra improvisada, que na verdade era a mesma sala onde ele planejava a rotina das patrulhas e a defesa interna do assentamento dos Earthlanders. Lá dentro, Flashback começou a mostrar algumas imagens que ela e suas patrulheiras haviam tirado. Nelas, haviam naves de transporte, e também grandes máquinas, em forma de pilastras com brocas, que escavavam o solo, e pareciam injetar algo também.

— Onde vocês acharam isso? – Nightspin perguntou.

— Não muito longe dos postos de coleta de energon. Na verdade, achamos até mesmo nas mesmas montanhas de alguns dos postos, só que em lados opostos, por isso acho que, seja lá quem colocou isso, ainda não nos viu... ainda.

— Também conseguimos isso – Talon, o irmão de Flashback, disse, enquanto entregava um frasco contendo uma substância estranha, de aspecto viscoso e brilhante. Parecia energon, só que púrpura. – Se levarmos isso para a análise, tenho certeza de que o resultado vai bater com as amostras de energon estragado que temos.

Nightspin imediatamente encaminhou as duas amostras para o médico dos Earthlanders, para análise urgente. Até lá, as notícias foram mantidas em sigilo, mas os boatos sobre alguém sabotando as minas de energon não paravam de correr. Em questão de horas, mais ou menos ao meio-dia, no horário terráqueo, o médico dos Earthlanders retornou até Nightspin com um relatório:

— Os resultados deram positivo, senhor. Esta substância foi a responsável pelo envenenamento das nossas últimas remessas de minerais de energon. Mas isso não é tudo, senhor – o médico prosseguiu, mostrando as mãos, que mostravam sinais de corrosão – Enquanto eu tentava analisar as propriedades dessa substância, eu sofri um pequeno acidente, que por si só já demonstra algumas das propriedades dessa substância e suas prováveis funções.

— Seja lá quem está fazendo isso, tem a intenção de nos destruir – Nightspin disse para si mesmo e para o médico, com um tom sombrio em sua voz.

Aquilo era uma declaração de guerra.


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Notas finais do capítulo

Se essa shortfic tiver um bom alcance, estou pensando seriamente em fazer uma continuação, mais longa. Essa continuação vai se passar na mesma cronologia do desenho original de Steven Universo, só que com mudanças grandes no enredo. SE eu tiver um bom alcance, a previsão é que eu lance a continuação no final desse ano.

Informação MUITO importante: Esta história não tem qualquer conexão com minha outra história de SU, "Sangue, Suor, Lágrimas e Estilhaços"



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