Roderick e seus doze irmãos escrita por Wi Fi


Capítulo 10
Legitimidade


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Capítulo levezinho desta vez. Esse foi um dos caps que eu mais demorei para escrever pq não sabia muito como preenchê-lo. Ainda não temos um flashback da Abigail, mas sim a Abigail adulta, e vou explicar como ela se encaixa na vida familiar dos Donne nesse momento. Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807361/chapter/10

1585

Todas as manhãs, com o nascer do sol, os guardas que protegiam o castelo de Gayern se reuniam na Torre Leste da muralha, para descansar e fazer a troca de turnos. Roderick decidiu que seria melhor encontrar Abigail lá do que interrompê-la em seus afazeres.        

Ele conseguiu ouvi-la muito antes de abrir a porta da sala principal. Abigail ria e gritava:

— Vamos seus cabrões, batam a minhas cartas agora, quero ver! Aposto tudo!

Depois de alguns segundos de tensão, a sala explodiu em vivas e xingamentos, provavelmente por parte dos guardas que perderam suas moedas para Abigail. Roderick abriu a porta lentamente, e assim que o primeiro homem o viu, todos se calaram. Os guardas todos puseram-se de pé e ficaram em posição de sentido. Abigail limitou-se a virar sua cadeira para encarar o irmão.

— M-meu lorde, peço desculpas… - balbuciou o chefe, distinguido pelas insígnias costuradas em seu colete – Este é um mero momento de lazer, garanto-lhe que temos homens suficientes no resto da muralha a fazer suas vigílias…

— Descanse, senhor, eu não penso que vocês passam o dia a jogar cartas – Roderick assegurou, gesticulando para que eles se descontraíssem – Vim apenas falar com a minha irmã. Abigail?

Ele indicou a porta com o olhar. A bastarda se levantou, se despedindo dos guardas com um aceno e uma chacoalhada provocativa do saco de moedas que carregava. Roderick andou com ela até um corredor, e parou, mas antes que pudesse falar, Abigail o puxou pelo braço.

— Aqui não – disse – Estes homens são mais fofoqueiros que uma roda de velhas rendeiras. Vamos para outro canto.

Desceram a torre, até o pátio de treinamento, que estava vazio naquelas horas da manhã. Abigail pegou uma espada de madeira do chão, e brincou com ela um pouco, riscando o chão de terra e balançando-a no ar.

Ela tinha ganhado forma desde que começara a treinar. Podia não ser muito mais alta do que as outras mulheres, mas as roupas masculinas que usava para treinar estavam bem ajustadas e revelavam os músculos potentes de seus braços e pernas. Seu cabelo loiro, que escurecera com o passar dos anos – ou com a constante sujeira – estava sempre preso numa trança firme, para não a atrapalhar enquanto trabalhava.

— Então, o que queria dizer?

— Só vim perguntar como vão as coisas – Roderick disse, despretensiosamente – Soube que tiveram uma conversa com Fionna ontem que não correu bem.

Abigail deu um sorriso de escárnio.

— Queres dizer que Fionna te mandou aqui me investigar.

— Investigar não. Eu só queria saber como estás.

— Tu e ela são como piolho e cão, um não faz nada sem o outro estar metido no meio. Não mintas Roderick.

— Está bem – ele suspirou – Mas eu também estou genuinamente interessado. O que aconteceu?

A bastarda deixou sua espada de lado, e cruzou os braços, lábios contorcidos num bico. Ela mudou o peso de um pé para o outro, lentamente, e Roderick quase conseguia ver rodas girando em sua cabeça enquanto ela escolhia o que dizer.

 - Eu aprecio a proposta dela. Nos legitimar, mesmo depois de tanto tempo… querendo ou não, vai nos dar seriedade – recontou Abigail – Devias ter visto o discurso dela. Disse alguma coisa sobre os pequenos tordos-negros sayenos, e não sei mais o quê…

— Os pequenos tordos-negros sayenos, que sozinhos não são nada, mas que juntos afugentam até ursos – Roderick continuou, com um riso – É o mesmo discurso que o pai fazia sempre que tinha que pedir algo a alguém.

— Bem, teve o efeito desejado. Kenna e o Alister concordaram na hora. O Conall, pela carta dele, também deve estar mais do que contente em ter um sobrenome de nobreza.

— Mas tu…

Mais um suspiro pesado.

— O conde nunca quis nada conosco. Ele nunca nos perdoou por simplesmente existirmos – disse, lentamente – Se eu aceitasse ser legitimada, sua maior injustiça seria desfeita, perdoada, sem que ele sequer tivesse o bom caráter para tomar tal iniciativa. Não vou lhe conceder essa dignidade. Tu e Conall são mais meu pai do que ele.

— E não aceitarias a legitimidade e o nosso sobrenome para honrar a mim? – Roderick insistiu.

Abigail deixou sua postura amolecer levemente, mas foi o suficiente para que seu irmão notasse sua expressão envergonhada, como uma criança valentona pega por um adulto.

— Eu sou grata por tudo que fizeste por mim, Roderick. Mas tu cuidaste de nós apesar do conde, não por causa dele. Acolheste-nos porque és boa pessoa, não por causa da nossa relação de parentesco – ela assegurou – Espero que meus serviços como guarda pessoal para ti e para nossos irmãos possa um dia compensar todo o tempo que dedicaste a nós. Mas de novo – eu faço isso porque eu amo vocês, não graças ao nosso pai.

Roderick assentiu, pensativo. Não havia surpresa nenhuma ali. Abigail era a mais arisca dos bastardos, seria esquisito que ela falasse bem e perdoasse as indelicadezas do velho conde. Ela podia ser uma adulta, mas ainda tinha o seu feitio de adolescente abandonada. Era sua barreira de proteção contra o mundo - e sua última rebeldia contra o pai.

— Bom, não posso te forçar a nada. Mas me contento em saber que não guardas rancor contra o resto da família por causa das ações do meu pai – ele disse, cruzando os braços.

Ela deu um risinho seco.

— Não te preocupes, Rod, eu não vou dar uma de Finley e trair a família – Abigail disse, trazendo a voz para um sussurro ao mencionar o nome do irmão renegado – Eu posso odiar o conde, e não ser uma Donne. Mas eu sou sayena, até os ossos. O que me lembra – peguei alguns homens emprestados de castelos vizinhos, para reforçar a guarda no teu casamento. Tudo deverá correr sem incidentes.

— Obrigado, Abi. E tiveste notícias do Conall?

— Sim, uma carta chegou esta semana. Ele está em Weiland, se divertindo com os condes e barões… ou melhor, com suas esposas e filhas, imagino eu. Disse que não chegaria a tempo da festa, aquele vagabundinho ingrato. Depois de tudo que fizeste por nós…

— Não fico ofendido. Eu já tive a idade de Conall, eu teria feito o mesmo – Roderick assegurou - Além disso, mandamos as notícias muito em cima da hora, ele está demasiado longe, aproveitando seu dinheiro suado dos navios.

— E agora, com um sobrenome importante – Abigail ressaltou – És demasiado bonzinho com ele.

Com isso, ela recuperou sua espada, e num gesto rápido, cutucou o peito do irmão. Roderick cambaleou para trás, e levou uma mão ao local atingido, dramaticamente encenando um ferimento.

— Faz anos que não lutamos um contra o outro – Abigail observou, girando a espada de madeira habilmente.

— Eu tenho tido mais o que fazer da vida, não sei se reparaste, minha querida irmã.

— É verdade. E além disso, agora não posso te deixar cheio de hematomas, imagino que sua noiva irá reclamar se te encontrar todo roxo na noite de núpcias.

— Estás muito confiante se achas que conseguirias me bater tanto assim – ele disse, sabendo perfeitamente que Abigail era melhor esgrimista do que ele algum dia já foi.

Ela chiou e cuspiu no chão, pondo os pés na posição de combate.

— Queres descobrir? – perguntou, erguendo uma sobrancelha.

Roderick riu.

— Como eu disse, tenho mais o que fazer da vida. Mas aliás – como anda o teu pombinho? É o William, não é? – provocou o jovem lorde.

O rosto de Abigail ficou vermelho feito uma maçã, e ela deu mais um empurrão em Roderick com a ponta da espada, o que só o fez gargalhar mais.

William não é… ugh, és terrível. Foi o Alister que te contou esta história? Ele é um idiota, eu juro que ainda o vou matar. Só estou a ensinar o William a se defender, já que ele é tão desajeitado que até um ramo o derrubaria.

          - É claro, é claro, nunca duvidaria das tuas boas intenções.

          Um sino tocou, à distância, distraindo Abigail antes que pudesse mudar de ideias sobre poupar Francisca de receber um marido espancado em sua noite de núpcias.

— Bem, se não tens mais nada de importante a dizer, vou voltar para o meu posto – ela disse, com acidez – Vá, até mais, Roderick.

— Até mais, Abi.

Ela marchou de volta para a torre, parando para dar um beliscão no irmão antes. Enquanto Abigail se afastava, um arrepio fez o corpo de Roderick se engessar, tomado por um pensamento sombrio.

Talvez fosse melhor não ter o sobrenome Donne quando a guerra começasse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O casamento está chegando, e com ele, uma aliança política complicada. Quais são as suas expectativas? A Francisca vai ser mencionada mais daqui para a frente. O que vocês acham dela até agora? Confiam na visão apaixonada do Roderick?
E o que estão esperando dos outros bastardos?
Beijinhos e até semana que vem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Roderick e seus doze irmãos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.