O Landau Vermelho escrita por Matheus Braga


Capítulo 3
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807167/chapter/3

Fernanda não conseguiu trabalhar direito pelo resto do dia. Pegava-se vagando em seus próprios pensamentos, recordando fatos e momentos vividos há mais de uma década, todos eles envolvendo Adam Peixoto. De repente, ela sentia como se tivessem se passado poucos dias desde que conhecera Antônio e sua esposa, desde que conhecera os filhos do casal e desde o acidente que vitimara Alan, irmão gêmeo de Adam. Tudo pareceu se repetir em sua cabeça como o replay de um filme especialmente macabro.

Por serem filhos de uma família de boa condição financeira, Adam e Alan não eram muito queridos entre os estudantes do colégio público onde haviam cursado o ensino médio. Eram alvos constantes de chacotas, trotes e provocações, mas eram extremamente elegantes para lidarem com tais situações e estavam sempre juntos, defendendo um ao outro. A única vez em que haviam se separado, ainda que por poucos instantes, resultara em tragédia. Adam havia deixado a sala de aula por poucos minutos para se encontrar com sua namorada na lanchonete do colégio, e os demais estudantes haviam aproveitado o momento para provocar Alan. Ao se ver cercado pelos rapazes da sala, que ameaçavam tirar-lhe as roupas, Alan tentou fugir para o corredor, mas foi empurrado bruscamente por um dos rapazes que o perseguia e caiu por cima do guarda-corpo lateral do edifício, despencando do quarto andar diretamente sobre o Chevrolet Monza do professor de educação física. E por um ato incrivelmente sádico do Destino, Adam e a namorada passavam ao lado do carro neste exato momento.

E a namorada de Adam nesta época era Fernanda.

Ela se lembrava, com uma riqueza incrível de detalhes, de ouvir o grito desesperado de Alan um segundo antes de ouvir o baque surdo de seu corpo ao atingir o teto do carro e afundá-lo como uma lata de refrigerante, fazendo as janelas do veículo explodirem. Lembrava-se dos respingos de sangue que haviam voado para os lados juntamente com os estilhaços de vidro. Lembrava-se do desespero doentio de Adam diante de tal cena. Lembrava-se da ambulância chegando ao colégio e retirando o irmão de seu namorado em uma maca.

E lembrava-se da ligação de Adam poucos dias depois.

Os momentos que passamos juntos foram muito especiais, Fernanda, mas preciso de um tempo só pra mim. Preciso colocar minha cabeça no lugar novamente”, ele havia dito. E então, desaparecera pelos doze anos seguintes.

Até aquela tarde, pelo menos, quando reaparecera do nada e assumira o lugar do pai, como se tivesse apenas saído do país para fazer faculdade ou intercâmbio ou qualquer coisa do tipo.

Tais pensamentos não a deixaram dormir naquela noite. Passou a madrugada inteira com uma expressão reticente no rosto, tentando raciocinar sobre o que poderia ter acontecido ao seu ex-namorado durante todo esse tempo e se teria coragem de chegar até ele para conversar. Quando o sol finalmente despontou no horizonte, Fernanda estava um caco.

Levantou-se às oito da manhã e foi para o banheiro, olhando-se no espelho e não gostando nem um pouco do que via. Seu rosto e cabelo pareciam o cruzamento de uma múmia egípcia com uma vassoura de piaçava. Tirou a roupa e se enfiou debaixo do chuveiro, deixando que a água morna corresse pelo corpo e aliviasse sua tensão. Depois do banho, colocou uma camiseta de malha simples, um shortinho e calçou os chinelos e desceu para tomar café da manhã na padaria da rua de baixo, pois não havia se lembrado de comprar pão no dia anterior. E enquanto caminhava, ela se lembrou de que deveria passar diante da antiga casa de Antônio Peixoto para chegar lá.

O pensamento a fez retardar o passo. Seria a primeira vez que passaria diante da residência desde o falecimento de seu antigo chefe. Não sabia exatamente definir o sentimento que a envolvia naquele momento.

Fernanda morava na Rua França e deu a volta no quarteirão para chegar à Rua Portugal, onde ficava a padaria. A pouco mais de 50 metros do local, passou pela elegante casa de dois andares que outrora havia pertencido a Antônio. O ar de abandono do local era evidente, a não ser pelo Fiat Toro verde que brilhava ao sol da manhã, estacionado diante da porta principal no pequeno pátio ao lado da garagem coberta. Isso indicava que Adam estava no local, mas todas as portas e janelas permaneciam fechadas e as persianas estavam baixadas.

A encarregada não ficou muito tempo ali observando. Terminou seu trajeto até a padaria e pediu um croissant com café com leite para a balconista. E enquanto seu pedido não chegava, ela se pegou novamente pensando em Adam. O que ele estaria fazendo ali? Porque decidira voltar após tanto tempo? Agora que era presidente da Transportes Peixoto, ele ficaria na cidade? Será que moraria na antiga casa do pai?

E o mais importante: será que ele ainda se lembrava dela? De tudo que haviam vivido juntos? E ela perguntava a si mesma se ainda nutria algum sentimento por Adam Peixoto.

Fernanda foi tirada de seus devaneios pelo som do pratinho de porcelana onde um croissant apetitoso repousava batendo no balcão, com um copo de café com leite fumegando ao lado. Esquecendo-se da vida por um momento, pôs-se a comer. Depois, pediu um quindim e um achocolatado para finalizar. Levantou-se, pagou a refeição e saiu, subindo a Rua Portugal de volta.

E então, ela ouviu.

Um som grave, rouco e potente preencheu o ar, chamando a atenção das pessoas que passavam pela rua. Era como o ronronar de um maquinário poderoso tirado de um longo período de hibernação. Caindo em si, Fernanda percebeu que estava diante da antiga residência dos Peixoto mais uma vez, e que o som misterioso vinha da garagem. A encarregada nem teve muito tempo para pensar, pois o portão se abriu e um vulto largo se desenhou na escuridão interior do local, vindo em direção à rua.

Era um carro. Um carro enorme, imponente, com uma grade dianteira de filetes cromados verticais que passava um ar retrô e quatro faróis circulares, dois de cada lado da grade. Era ele quem emitia aquele som, enquanto ganhava a rua vagarosamente. Era exageradamente comprido, e Fernanda pensou por um segundo que o carro nunca mais fosse parar de sair de garagem. Parecia ter quinze metros de comprimento. Sua carroceria, outrora pintada numa elegante cor bordô, agora estava desbotada e manchada, numa cor indefinida entre o rosa e o cor-de-vinho. Sua capota de vinil estava puída e descascada em alguns pontos. Seus pneus de tarja branca estavam murchos, e um deles ameaçava saltar para fora da roda. E o motor, por fim, apesar de seu som entregar toda a potência que se escondia por baixo do capô, dava sinais de sofreguidão: a correia rangia de forma aguda, a ventoinha parecia desalinhada em seu eixo e todas as juntas clamavam urgentemente por uma lubrificação.

E então, após uma curva suave à direita, o Ford Landau 1982 encostou junto ao meio-fio e foi desligado.

E Adam desceu.

Fernanda vacilou por um instante e chegou a pensar em dar as costas e ir embora pelo outro lado do quarteirão, mas ele logo se virou e a notou ali, de pé na calçada com uma expressão de paisagem no rosto. Meio sem jeito, ele acabou por se aproximar dela.

— Oi, Fernanda.

Ela deixou escapar um suspiro. Olhá-lo nos olhos novamente após tanto tempo, após tanto sofrimento e tanta incerteza... Encarar aqueles olhos pretos, tão pretos que nem se podiam distinguir suas pupilas...

— Adam... – Foi tudo o que ela conseguiu dizer antes que se abatesse sobre eles um silêncio constrangedor.

Ambos desviaram o olhar, cada um olhando para um lado diferente e encarando o nada, até que Adam enfiou as mãos nos bolsos da calça e a fitou novamente.

— Então você ainda mora aqui no bairro.

Ela deu uma risada nervosa. Seu cérebro estava a mil, processando as mais diferentes teorias possíveis, tentando focar um pensamento entre milhões, e ele queria falar sobre futilidades.

— Adam, já faz doze anos. – Ela pôs para fora sem pensar muito.

Aquilo esfriou o semblante dele.

— É, eu sei.

Doze anos, Adam. – Ela repetiu, cruzando os braços para evitar uma onda de tremedeira que estava por vir.

Ele assentiu novamente, mordendo o lábio inferior e olhando para os próprios sapatos. Fernanda, por sua vez, continuava o encarando, não exatamente esperando por uma resposta, mas sim pois não sabia mais o que fazer. Sentia os olhos arderem enquanto todo o nervosismo, toda a ansiedade, toda a apreensão, todo o terror que ela havia sentindo naqueles anos vinham à tona e ameaçavam cair em forma de lágrimas.

— Eu cheguei a pensar que você tivesse morrido. – Ela disse, quase num sussurro – Meu Deus, Adam, você não apareceu nem para o velório dos seus pais.

Aquilo chamou a atenção dele. Ele levantou a cabeça novamente para encará-la, e a tristeza estampada em seu olhar era evidente. Ele ainda mordia o lábio inferior.

— Onde você esteve esse tempo todo? – Ela perguntou, num tom aflito.

— Fernanda... – Ele começou, num tom indefinido.

— Não, tudo bem. – Ela o cortou – Não sei se quero saber. Mas seu pai...

— Ele sabia onde eu estava. – Ele respondeu imediatamente e num tom seguro – Sempre soube. Mas eu precisava cuidar de mim.

Ela o encarou por algum tempo, até que por fim assentiu. Não era dessa forma que ela iria se reaproximar dele. Esperaria passar algum tempo e abordaria o assunto novamente. Até lá, no entanto, precisava ter certeza que ele permaneceria por lá.

Fernanda decidiu levar a conversa para outros rumos.

— Sinto muito pelo seu pai. De verdade. – Ela disse, num tom comedido – Vou sentir muita falta dele.

— Obrigado. – Ele devolveu.

— Você pretende ficar por aqui? – Ela arriscou.

Adam a olhou por um segundo, mas depois ergueu a cabeça e encarou o céu.

— Ainda não sei. – Ele foi sincero – Primeiro, eu preciso saber como andam os negócios do meu pai. Quero me colocar a par de tudo antes de tomar qualquer decisão.

Ela fez um movimento positivo com a cabeça, encarando o velho Ford Landau. Resolveu continuar o assunto.

— E esse carro? – Ela perguntou, apontando o sedã com um movimento de queixo e cruzando os braços.

Aquilo colocou um pouco de entusiasmo no rosto de Adam. Ele se virou e recostou-se no veículo, pousando a mão sobre um dos retrovisores.

— Era do meu avô. – Ele respondeu, num tom saudoso – Meu pai não teve coragem de vendê-lo, mas também não tinha disposição para dirigir uma coisa desse tamanho por aí. Então o deixou trancado na garagem.

Fernanda sentiu o tom caloroso implícito na voz dele, e foi inevitável se lembrar das incontáveis horas que haviam passado juntos, falando sobre qualquer coisa que viesse à mente e planejando o futuro. Adam sempre havia sido um sujeito mais reservado, mas falava sobre suas paixões e desejos com tamanha ânsia que contagiava quem estivesse por perto. E, na maioria das vezes, havia sido ela.

— E o que você pretende fazer com ele? – Ela indagou, encorajando-o a continuar falando.

— Vou restaurá-lo, com certeza. – Ele acariciou a capota do veículo com um ar otimista – Mas ainda não decidi se vou usá-lo no dia a dia ou se vou guardá-lo como relíquia.

Ela encarou o Landau com mais atenção, estudando a carroceria comprida e de linhas retas. Agora ele parecia ter saído diretamente de um ferro-velho, onde aguardava um desmanche certo. Mas depois de restaurado, com a lataria polida e novamente pintada em sua cor bordô original, o interior revestido em veludo e madeira de jacarandá refeito e os defeitos mecânicos corrigidos, sem a menor dúvida seria um veículo incrível.

— Tenho certeza que ele vai ficar lindo. – Ela colocou.

Adam se virou para encará-la. Estava com a testa franzida e parecia estar criando coragem para falar algo. Ela percebeu, mas esperou que ele se manifestasse.

— Fernanda, eu... – Ele começou, mas suspirou e não continuou.

— Pode falar, Adam. – Ela devolveu, num tom suave, mas ligeiramente receosa.

Ele levantou a cabeça novamente.

— Você é a única por aqui com quem eu tive certa intimidade, e... Bom, se eu ficar por aqui, não quero ficar sozinho. – Ele passou a língua pelos lábios – Eu posso te chamar para tomar um café qualquer dia desses?

A pergunta pegou Fernanda de surpresa, como um soco no estômago. Ela deixou o queixo cair e ficou encarando seu ex, pensando numa resposta.

Seu cérebro trabalhou rápido. Ele havia sumido por doze anos, sim. Ela precisava de um tempo para voltar a confiar nele, sim. Ela queria saber o que havia acontecido a ele durante todo aquele tempo, sim. Mas no entanto, ela também se lembrou, ele havia tido a hombridade de dizer a ela que estava terminando o namoro para dedicar um tempo a si mesmo, pois precisava superar o trauma da perda do irmão.

Em suma, ela não tinha por que negar.

— Tudo bem. – Ela concordou – Ainda moro na mesma casa, na rua de cima.

Ele abriu um sorriso agradecido, e Fernanda pensou, por um segundo, que poderia tentar reacender o sentimento que havia tido por ele.

— Tudo bem, então. – Ele finalizou – A gente se vê por aí.

 

o—o—o

 

Já passava da meia-noite. A madrugada estava escura e fria. O céu, apesar de limpo, não tinha estrelas, e uma fina neblina descia sobre o bairro Cinco. Àquela hora, o silêncio só era interrompido pelo rugido metálico das máquinas que ainda funcionavam nas indústrias do bairro, pelo rolar constante dos trens de carga que desciam rumo a Vitória pela Ferrovia Centro-Atlântica e pelo som da respiração ofegante de Ramon, que corria desesperadamente pela calçada, contornando um quarteirão e rumando por uma rua escura ladeada por usinas siderúrgicas.

Com uma mochila nas costas, ele havia acabado de largar serviço quando fora surpreendido por seu perseguidor. Mas não era um perseguidor qualquer. Com faróis circulares duplos, uma grade de filetes cromados e um tamanho absurdamente exagerado para um veículo moderno, aquele carro parado do outro lado da rua havia saltado para ele como um touro enfurecido, cantando os pneus traseiros e nem hesitando em subir na calçada para alcançá-lo.

E Ramon havia corrido. Disparara pela calçada estreita e repleta de pequenas árvores decorativas, mas o enorme automóvel havia avançado sobre o pavimento com as rodas direitas e corria assim atrás dele, em diagonal, derrubando as arvorezinhas brutalmente com o para-choque.

Agora, Ramon havia feito uma curva à direita e corria pela rua das usinas siderúrgicas que, apesar de escura, era ampla e poderia oferecer alguma opção de fuga. Ao mesmo tempo em que buscava uma saída para aquela estranha situação, ele tentava imaginar também quem estaria o perseguindo daquela forma doentia. Ele não tinha inimigos, nem desafetos, nem nada do tipo. Também não devia dinheiro a ninguém, nem havia se envolvido em nenhuma briga recente, e nem...

Seus pensamentos foram interrompidos pelo rugir grave do motor do veículo, que havia surgido na curva atrás de si. Ramon virou a cabeça para olhar, notando os faróis dianteiros direitos do carro despedaçados pelos vários choques contra as árvores que havia derrubado e parte da grade amassada, dando-lhe a forma de um sorriso sinistro e mortal.

Era uma perfeita máscara mortuária.

Olhando novamente à frente, Ramon viu uma reentrância no muro de uma das empresas que poderia oferecer-lhe alguma escapatória e não hesitou em correr para lá. A meio caminho, no entanto, percebeu que sua sombra parecia crescer diante de si enquanto o som do motor do misterioso veículo aumentava a cada segundo. Largando a mochila que carregava e esforçando-se ao limite de seu corpo, ele se virou e jogou-se pela reentrância do muro dois segundos antes da carroceria longilínea atingi-lo bem no meio das costas.

Ramon, ofegante, sentiu quando o veículo passou direto pela abertura a poucos centímetros do seu corpo, baforando ar quente e reduzindo a marcha, seu motor roncando em protesto. Esticando a cabeça para olhar, ele viu o veículo ganhar a rua, travar as rodas traseiras numa freada brusca e virar totalmente à esquerda, fazendo a traseira derrapar em 180 graus e deixando a frente apontada diretamente para onde ele estava. Iluminado pela potente luz proveniente dos faróis do carro, Ramon ouviu os pneus traseiros cantando novamente e viu a enorme traseira do veículo baixando sobre as rodas ante a súbita aceleração.

O carro investiu para onde ele estava em alta velocidade. Recuando pela reentrância às cegas, Ramon bateu de costas na parede e viu o automóvel misterioso vir afundar sua frente contra a quina do muro, fazendo se erguer uma nuvem de poeira e lascas de reboco. Os dois faróis esquerdos também foram despedaçados com o impacto, deixando o local em completa escuridão, e a grade de filetes cromados se abriu como a boca de um tubarão desdentado. O motor do veículo falhou com o impacto e morreu, mas foi imediatamente religado.

Ramon, que havia sido atingido em cheio pela poeira, ainda limpava os olhos enquanto o carro recuava de volta para a rua, de ré, manobrando de forma a ficar exatamente alinhado à abertura do muro na qual o rapaz se escondia. Ele percebeu a manobra do veículo.

— O que você quer, desgraçado? — Ele berrou, ainda limpando os olhos e acenando com o punho — Quem é você? O que foi que eu te fiz?

Mas o veículo permaneceu lá, do outro lado da rua, parado na penumbra, como se o encarasse. Daquela forma, parecendo apenas um vulto largo e indefinido emitindo aquele som de motor, era ainda mais assustador. Ramon ficou ainda mais nervoso. Naquele momento, teve plena certeza que estava lidando com uma mente diabolicamente transtornada.

E então, o ronco do motor sendo acelerado se fez ouvir novamente. Uma, duas, três, várias vezes, mas o carro permanecia no lugar. Parecia um animal feroz rugindo para ele, como se demarcasse território, como se quisesse se impor sobre ele, e aquilo pareceu hipnotizar Ramon. Deixando seus pensamentos de lado por um segundo, ele deu atenção àquela cena improvável e sem explicação lógica.

E esse segundo de hesitação foi suficiente para que o carro arrancasse com ímpeto mais uma vez e avançasse contra ele. A realidade o atingiu como um tapa na cara, e a única reação de Ramon foi pular para trás, de volta para a reentrância do muro. No entanto, ele percebeu, aquilo não seria suficiente. E o último pensamento de Ramon em vida foi o de que o rugido do motor daquele carro que se aproximava se assemelhava, e muito, ao urro do Tiranossauro Rex do filme Jurassic Park.

O veículo atravessou a rua perpendicularmente e se jogou contra o muro com violência, sem sequer reduzir a velocidade. Uma nova nuvem de poeira se ergueu, mais lascas de reboco voaram para os lados e uma trinca enorme surgiu na parede. E o corpo de Ramon, atirado de encontro ao muro como um mata-borrão, agora jazia inerte sobre o capô, prensado contra o muro da cintura para baixo e com o pescoço rompido e virado num ângulo impossível.

Por fim, engatando a ré e recuando lentamente de volta para a rua, deixando o corpo do rapaz rolar de qualquer forma para a calçada, o veículo manobrou mansamente, arrancou e sumiu na noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!